quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Memórias do setorista da Boca I: Rodrigo Montana





Coriolano Rodrigues Mineiro. Esse nome não está entre os cineastas mais celebrados do Brasil. Os mais intelectuais podem lembrar-se de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues. Mas Coriolano nunca foi famoso. Sua história sempre esteve nas entrelinhas, nos bastidores. Mas sua história foi um verdadeiro filme: cheio de altos e baixos. Mas ele não era conhecido na Boca do Cinema por seu nome. No quadrilátero ele era conhecido como Rodrigo Montana, o Rodrigo. Nós nos conhecemos no escritório que ele mantinha na rua dos Andradas, centro de São Paulo, na Boca. Lá ele comandava a “Associação São Paulo, a Cidade e o Cinema”. Seu objetivo era fazer o calçadão da fama do cinema paulistano tal qual Hollywood. Mas Montana era maior que qualquer calçadão. Sempre nos encontrávamos nas dependências da sua instituição que só tinha um associado: ele mesmo. É interessante como as pessoas acreditam piamente nos seus sonhos ou fingem bem. Rodrigo era um sonhador. “Você sabe o que é uma boiada? Você sabe o que é o sertão de Mato Grosso?”. Sua escola foi essa. Tinha respeito pelos animais, principalmente cavalos. Ele dizia que conseguia ficar sentado num cavalo e com as próprias mãos pegar uma moeda no chão. Todos os filmes de temática sertaneja ou que tinham cavalos Rodrigo era chamado. Fomos muito próximos, nos víamos a cada quinze dias. O único longa-metragem que ele dirigiu foi “Rodeio de Bravos” de 1982 que nunca foi lançado comercialmente. Os exibidores queriam que o filme tivesse sexo explícito. Montana não aceitou e ficou assim. Sua filmografia foi mais extensa como ator (“no D´Gajão eu morri cinco vezes”) e diretor de produção. Essa última talvez sua melhor atividade dentro do cinema. Montana insistia que ela tinha trazido a moda country pro Brasil e que tinha criado aquele coração nas campanhas do Paulo Maluf. Já fazem sete anos que Montana morreu. E parece que não consigo esquecer dele. Todo dia penso nele. Nunca mais liguei para a irmã dele, a dona Irma. Capaz dela ter morrido também.

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