Por Maria do Carmo
Fernandes
Na década de 30, quando
o cinema sonoro ensaiava os seus primeiros passos e os primeiros cômicos do
cinema mudo, á exceção de Charles Chaplin, começavam a entrar em decadência, a
jovem Anita Ramos chegava em São Paulo, disposta a ser jornalista. Em uma época
em que era raro uma mulher conseguir projetar-se na profissão, Anita foi além
de sua meta inicial: tornou-se crítica de cinema. Por seu pioneirismo, a
Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA – decidiu homenageá-la,
conferindo-lhe o grande prêmio da crítica. Anita Ramos recebeu com surpresa a
notícia. Pensava que já havia sido esquecida. Há muito abandonou a carreira
para se dedicar ao marido, o jornalista Oswaldo Moles, falecido em 1967. De lá
para cá, nunca mais escreveu nem se preocupou em guardar seus trabalhos, dos
quais só conserva uma vaga lembrança.
Quando Anita chegou em São Paulo, em 1935, surpreendeu-se com a efervescência da cidade. A cidade de Franca era pacata e até “monótona”, segundo ela, razão pela qual decidiu morar na Capital. Aqui existia a possibilidade de tornar-se jornalista e, aproveitando a mudança da irmã para cá, resolveu tentar a carreira. Enquanto sua irmã fazia o curso de educação, ela se aventurava pela redação dos jornais em busca de trabalho. Na época, o Correio Paulistano havia sido reaberto, depois dos acontecimentos de 1930, quando vários jornais da situação foram invadidos, depredados e incendiados. E para lá Anita foi, com uma condição: “A senhora fica em experiência por 20 dias, se servir, fica; se não, rua”, sentenciou o redator-chefe, Machado Florence. A incumbência que lhe deu foi de fazer a página feminina, que na época somente era publicada em O Jornal do Rio de Janeiro. “Era a primeira página de um jornal paulista dedicada à mulher e eu só tinha como referência O Jornal. Nova, sem experiência jornalística, fui fazendo por minha conta em risco”, conta Anita. Além da página, fazia o “espelho”, espaço pago pelos exibidores interessados em divulgar os filmes em cartaz nos cinemas. E ela lembra que percorria a rua Aurora e a rua do Triunfo, em busca de anúncios, sobre os quais tinha uma comissão. Daí para a crítica foi um passo. Muito observadora e com “uma memória excelente”, sempre dava destaque para o melhor trabalho, ressaltava detalhes importantes do filme, despercebidos pelo público, falava do enredo e comentava as melhores atuações. “Eu não tinha um método de análise, era muito intuitiva. Dificilmente errava quando dizia que um filme seria premiado”, relembra Anita.
Quando Anita chegou em São Paulo, em 1935, surpreendeu-se com a efervescência da cidade. A cidade de Franca era pacata e até “monótona”, segundo ela, razão pela qual decidiu morar na Capital. Aqui existia a possibilidade de tornar-se jornalista e, aproveitando a mudança da irmã para cá, resolveu tentar a carreira. Enquanto sua irmã fazia o curso de educação, ela se aventurava pela redação dos jornais em busca de trabalho. Na época, o Correio Paulistano havia sido reaberto, depois dos acontecimentos de 1930, quando vários jornais da situação foram invadidos, depredados e incendiados. E para lá Anita foi, com uma condição: “A senhora fica em experiência por 20 dias, se servir, fica; se não, rua”, sentenciou o redator-chefe, Machado Florence. A incumbência que lhe deu foi de fazer a página feminina, que na época somente era publicada em O Jornal do Rio de Janeiro. “Era a primeira página de um jornal paulista dedicada à mulher e eu só tinha como referência O Jornal. Nova, sem experiência jornalística, fui fazendo por minha conta em risco”, conta Anita. Além da página, fazia o “espelho”, espaço pago pelos exibidores interessados em divulgar os filmes em cartaz nos cinemas. E ela lembra que percorria a rua Aurora e a rua do Triunfo, em busca de anúncios, sobre os quais tinha uma comissão. Daí para a crítica foi um passo. Muito observadora e com “uma memória excelente”, sempre dava destaque para o melhor trabalho, ressaltava detalhes importantes do filme, despercebidos pelo público, falava do enredo e comentava as melhores atuações. “Eu não tinha um método de análise, era muito intuitiva. Dificilmente errava quando dizia que um filme seria premiado”, relembra Anita.
Anita Ramos se
considera tímida e frequentou pouco o ambiente artístico. Raros foram os
contatos com os críticos e artistas: conheceu os exibidores. Apesar disso,
acompanhou a ascensão do império hollywoodiano naquele tempo, os filmes de
Joseph von Sternberg, as comédias refinadas de Ernest Lubitsch, os filmes da
depressão norte-americana de Frank Capra eram projetados nas telas dos
principais cinemas da cidade. Greta Garbo e Marlene Dietrich já eram estrelas
famosas. Gary Cooper, Clark Gable, faziam o público delirar. No Brasil, o
cinema ainda engatinhava e por isso Anita se concentrava mais em críticas de
filmes estrangeiros. Humberto Mauro era o maior cineasta e a Cinédia, com suas
comédias musicais e chanchadas, descobria Grande Othelo.
O compositor, escritor, jornalista, radialista e roteirista Oswaldo Moles (1913-1967), marido de Anita autografando seu livro em 1963. Foto retirada do blog Baú do Maga |
Anita Ramos em sua juventude |
Anita Ramos nunca
frequentou uma universidade. Autodidata, aprendeu com os livros que leu: “Sempre
li muito”. Possui uma cultura geral, um vasto mosaico, pouco profundo. Suas
observações são geralmente vagas e amenas, são se preocupando em precisar datas
da época em que trabalhou. Não conta sua idade. “A idade não importa, só lhe
dou uma pista: tenho entre 70 e 80 anos”. Hoje, vai pouco ao cinema e na
televisão assiste a filmes raramente: “Não gosto de filme dublado. Assisto mais
ás novelas e aos noticiários”. Suas maiores paixões são os livros e a música.
Simples, confessa que gosta muito de rezar e cultivar flores.
Publicado originalmente
no “O Estado de São Paulo” em 30 de janeiro de 1983.
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