Por Rafael Spaca,
especialmente para o VSP
Mister Sam é D.J. e produtor
artístico desde os anos 1960. Também é músico, radialista, apresentador e
compositor que, entre seus sucessos, estão Conga,
Conga, Conga, Baila Baila Comigo,
Lindo, Tesão, Bonito e Gostosão, Melô do Piripipi, Freak le Boom Boom, entre outros. O que poucos sabem é que ele
trabalhou nos dois primeiros discos dos Trapalhões. Quais foram eles? “Eu fiz a
produção dos álbuns Os Trapalhões volume
1 e 2”, diz ele em entrevista exclusiva.
Violão, Sardinha e Pão- Como e por que
os Trapalhões entraram na sua vida?Porque eu também era
produtor do Wanderley Cardoso na época, e eu ia com ele a todos os programas de
TV. Acontece que quem dirigia a TV Tupi de São Paulo era o Tito De Miglio, a
quem eu já conhecia da Argentina, então a minha entrada Na TV Tupi não tinha
problemas. Foi assim que conheci o Renato e o Dede. E assistindo o programa nas
gravações, comentei com eles que poderíamos fazer o mesmo num estúdio de
gravação e eles também poderiam cantar as musicas.
Mas a capa do volume 1 informa que o
disco foi gravado ao vivo. Isso não procede?
O disco foi gravado ao vivo
dentro do estúdio. Benito de Paula Ao Vivo também foi gravado ao vivo dentro do
estúdio.
Qual a razão de apostar no grupo na música?
Porque eles já eram famosos,
e não precisavam de tocar no radio. Já tinham mídia.
A aposta neles foi exclusivamente
comercial?
Sim!
Os
Trapalhões Vol 1. Ao Vivo Tupi foi gravado em quais
condições?
Nas melhores condições da
época. No estúdio B do Estudios Reunidos que ficavam no prédio da TV Gazeta no oitavo
andar e eram os melhores de São Paulo. Gravamos em quatro canais eu acho.
O contrato firmado entre vocês e a dupla
era vantajoso para todos? Recorda-se dos valores?
Era um contrato típico da
época, os artistas desconhecidos ou novos ganhavam 5% das vendas, os conhecidos
10%. Isso era o que eles ganhavam. Todos os artistas eram iguais.
Quais são as suas principais recordações
da produção do primeiro disco do quarteto?
Foi muito divertido e
engraçado. Fazer as musicas para o Renato e o Dede cantar foi um milagre.
Por que um milagre?
Porque eles não eram
cantores.
Rebu no Galinheiro, A Maternidade e Chililique são algumas das músicas do disco. Elas todas faziam
parte do programa ou foram criadas para o disco?
Nada disso, vocês tem que entender o que eu
fiz. No primeiro LP eu escolhi algumas musicas engraçadas do repertorio da
Copacabana Discos como Rebu no Galinheiro
do Alypio Martins, Chililique do Trio
Nordestino e Quero te Agradar do
Antonio Barros com o Trio Mossoró, e depois gravei vários quadros do programa
de TV, ao vivo no estúdio de gravação. Todo disco tem que ter seus autores, e
eu coloquei o Renato como autor dos quadros de humor. E as musicas já tinham
seus autores. Vocês tem que entender que os Trapalhões estavam começando no
disco, e eu estava começando também a minha carreira no Brasil. Ninguém me
conhecia. Eu já tinha vendido milhões de discos na Argentina, Espanha, no
mercado latino, mais todo em espanhol, aqui eu era um novato, fazendo o que já
tinha feito na Argentina e na America Latina. Mas no Brasil eu tinha que
provar.
Muitas das músicas deste disco foram compostas pelo
próprio Renato Aragão. Como avalia ele como compositor?
Não são musicas, como expliquei antes, são
quadros de humor, que foram criados na gravação. E Renato para humor era ótimo
assim como Dedé.
Você o orientava na composição ou era um trabalho só
dele?
Os quadros de humor eram com ele.
Quais as recordações de Renato Aragão e Dedé Santana
neste trabalho?
Me lembro que eu saia com os dois a procurar
patrocínios para o programa de TV, era uma forma de me entrosar com eles.
Renato Aragão se tornou um empresário bem sucedido com Os Trapalhões. Você já observava esse
forte tino comercial nele?
Sim, pena que não consegui continuar com ele,
já que a Globo era no Rio.
O senhor era o diretor de produção do disco? O que faz
exatamente um diretor de produção?
Na produção de um disco, o produtor e o responsável
por tudo. Eu era funcionário da Copacabana Discos, e não tinha muita verba para
esse primeiro disco, porque só eu acreditava que ia vender. Ninguém mais. Por
isso peguei musicas prontas e não gastei com gravação, só com horas de estúdio,
mais foi tudo muito rápido, em dois dias gravamos tudo.
Vocês usaram algum artificio para qualificar as vozes de
Renato Aragão e Dedé Santana neste disco?
Nada. Nessa época, não existiam esses
truques.
No ano seguinte você produz Os Trapalhões volume dois (Copacabana
Records). Isso foi resultado do sucesso de vendas do primeiro disco ou teimosia
mesmo?
Foi resultado do sucesso primeiro
disco. Já que neste volume dois gastei dinheiro em gravações com Renato e Dedé.
(Eu quis dizer que no primeiro disco coloquei musicas prontas de artistas
conhecidos, e no segundo fiz o Didi e o Dedé cantar). Tive que fazer eles cantar as minhas músicas. Teve
músicos tocando, coral de apoio. Com o Wanderleiy Cardoso fiz A Dança do Psste, eu ainda assinei como
Santiago, o Renato me chamava de Maestro Santiago, acho que ate hoje ele não
sabe que eu sou o Mister Sam, que lançou a Gretchen, o Nahim, Os Black Juniors,
e outros artistas que iam no programa deles. O Dedé sim sabe quem eu sou. E a outra
musica O Trapa Trapa.
Um nome presente nos dois discos é Viana
Jr. Que canta com Renato Aragão e Dedé Santana, quem era ele?
O Viana Júnior era um ator
da TV de apoio dos quatro Trapalhões, como por contrato eu não pude contratar
Mussum porque ele era artista da RCA Victor do grupo Originais do Samba, e
também o Zacarias tinha um contrato com outra gravadora, eu só assinei por três
anos com Dedé e Didi.
Nesse segundo disco praticamente todas
as musicas são composições de Renato Aragão. Fale a respeito.
Não senhor, as músicas são
minhas e do Wanderley Cardoso, só teve duas músicas, as primeiras de cada lado.
Fazer eles cantar foi duro. O resto eram todos quadros de humor.
O volume dois foi feito em estúdio?
Sim igual ao primeiro, só
que já tínhamos oito canais.
Esses discos vendiam bem?
Muito bem, acredito que
entre os dois passamos das 100 mil cópias. Eu pessoalmente levei um cheque ao
Renato no Rio como pagamento de um trimestre.
Quais as suas principais recordações
deste segundo álbum?
Sempre foram lembranças
engraçadas, muito divertidas.
Acreditava que num futuro próximo eles
iriam se tornar o principal grupo de humor do país?
Não sou adivinho.
Se arrepende de ter feito um contrato de
apenas três anos com eles?
Não, era o usual.
Sua convivência com Renato Aragão e Dedé
Santana era boa?
Sim, sempre foi muito boa.
Por que ficou somente nestes dois discos
sua parceria com a dupla?
Porque o Boni chamou eles
para assinar com a Globo, e o Renato me pediu por favor, para eu liberar eles,
já que a Globo queria exclusividade total também para gravar na Som Livre, e de
essa liberação dependia eles assinar o contrato ou não. Então, eu pedi a
diretoria da Copacabana para que eles fossem liberados.
Conte uma história até hoje inédita, uma
revelação de Renato e/ou Dedé que só você viu ou sabe.
É a história que acabei de
contar, eu podia não ter liberado eles, tinham mais dois anos de contrato, e
tal vez não teriam feito o sucesso que fizeram. Pode ser que o Renato me deva
isso, sei lá. Mas nunca mais o vi. Anos depois, conheci um filho dele, na
Paradoxx e pedi pra ele contar ao pai dele quem eu era. Mas ele nada fez, acho
que era o Paulo Aragão. Na realidade eu sou um produtor que gosto do meu
trabalho. Então, nada eu faço pensando em ganhar nada ou ter reconhecimento,
sempre ajudei no que pude, e ás vezes tive que dizer não, quando queria dizer
sim, mais isso e a vida.
Acredita que Renato Aragão não foi
totalmente grato a seu gesto?
Acredito que Renato estava
lutando pela sua vida e futuro, assim como eu também estava.
2 comentários:
Muito boa essa entrevista com o Mister Sam ,parabéns ! eu tenho esses dois discos "OS TRAPALHÕES VOLUME 1 & 2 ,tambem tenho " OS TRAPALHÕES NA TV - SOM LIVRE de 1979 " comprado em sebo há anos .Abraço de Spektro 72.
Excelente entrevista, ótimas revelações, Discos Copacabana era demais
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