GATA DE VIDA MANSA
“É la press de Brasil!
É la press de Brasil!”.
Um misto de português, espanhol e inglês saía da voz fanhosa e desafinada do
assessor de imprensa da CBF, Robério Vieira, 40 anos, depois da derrota de 1 X
0 para a Inglaterra, no legendário Estádio de Wembley, no dia 28 de março. Bem
a seu estilo, aos berros e empurrões, ele acabava de conseguir aquilo que
muitos repórteres brasileiros já achavam impossível: liberar a entrada da
imprensa no vestiário da Seleção Brasileira, prática incomum na Europa.
Avesso a etiquetas,
Robério, um cearense arretado de Mombaça, 1,77 m e 108 kg, voz alta e gestos
espalhafatosos, tem o paradoxal apelido de “Gata Mansa”, graças uma leva
semelhança com a cantora Maysa, que fez sucesso nos anos 60. Há nove anos no
cargo, o que comprova suas sete vidas, Gata Mansa é hoje uma figura folclórica
no prédio da CBF, onde conviveu com cartolas de todos os tipos, como o
ex-vice-presidente Nabi Abi Chedid. Apaixonado por uma “cachacinha”, como ele
mesmo diz, é visto com restrições por alguns dirigentes. Principalmente em
viagens. É que, nos aviões, passa o tempo todo com generosas doses de uísque.
“Bebo e com muito prazer, porque é de graça”, assume ele, que nessa vida mansa
conheceu mais de quarenta países.
No exercício de sua
função, porém, mistura eficiência com atitudes de tresloucado. Como aquela em
que botou para correr um repórter chileno de um treino no Brasil durante as
eliminatórias só porque, na semana anterior, o Brasil empatara em 1 X 1 num
jogo tumultuado no Chile.
GAFES DE TROGLODITA
O assessor Gata Mansa
foi um dos principais personagens do cronista Sandro Moreyra. Descontado algum
exagero, as gafes e anedotas sempre tinham um fundo de verade.
- Do alto de uma
sacada, o prefeito de Coimbra mostrava, orgulhoso, a cidade aos dirigentes a
CBF, exaltando suas tradições, seus monumentos e seus castelos:
“Esta cidade é uma das
mais velhas de todo o Portugal”, dizia.
Foi então que Gata
Mansa deu o aparte:
“É muito velha mesmo,
senhor prefeito. E porque não a reforma?”.
- Afastado do cargo por
um breve período na administração Giulite Coutinho, o Gata Mansa tratou de
aprender novos idiomas que facilitassem o seu trabalho. Mas, sincero, confessou
a sua fraqueza:
“Falar muitas línguas
não é comigo não. Já vi que não dou mesmo para ser troglodita”.
- Na excursão da
Seleção pela Europa, em 1983, a delegação voava sobre a Suíça e, de repente,
Gata Mansa constatou admirado:
“Puxa, como são grandes
ao Andes suíços...”
“Muito grandes, de
fato. Basta dizer que eles vêm desde lá do Peru”, ironizou o empresário diretor
Medrado Dias.
Publicado originalmente
na revista Placar, número 1035, 27 de
abril de 1990
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