A advogada Vivian Mendes, 31 anos, é candidata do PT (Partido dos Trabalhadores) a vereadora na
cidade de São Paulo. Seguem as perguntas e respostas ao questionário.
VSP-
Como surgiu a ideia de você ser candidata a vereadora?
Vivi Mendes- Minha
participação na política começou na Faculdade de Direito da USP, onde estudei.
Foi também na graduação que eu conheci a luta do movimento feminista. Quando me
formei, tive a oportunidade de trabalhar na Secretaria Municipal de Políticas
para Mulheres da gestão Haddad, uma das experiências profissionais mais
enriquecedoras que eu tive.
Mesmo sendo militante
do PT, eu nunca tinha pensado em me lançar candidata. Na verdade, eu venho de
uma família sem nenhum envolvimento político e muito menos com o PT. Sou
advogada, atuo na defesa de mulheres que sofreram violência doméstica, e também
com movimentos sociais. Em 2018, muita gente depositou desesperança na urna. E
isso nos fez eleger o pior presidente da história da nossa democracia.
Eu acredito que as
pessoas precisam voltar a acreditar que a política pode fazer a diferença na
vida delas. E que para isso, precisamos renovar a política através dela, e não
negando a política. Minha candidatura representa a ligação entre o que tem de
melhor do legado petista com a atualização necessária que o nosso projeto
precisa. Quero fazer parte do processo de reconstrução da confiança das pessoas
em um projeto real de transformação, que priorize os mais pobres.
VSP-
Quais são seus principais projetos?
VM- Acho que o
principal ponto é propor outra relação de representação para o cargo de
vereadora, que seja menos ligado a um bairro ou uma única região da cidade e
que consiga ter um pé na rua e outro na institucionalidade, para que a gente
consiga pensar em soluções para a cidade, e não só para regiões dela. Não há
nada errado em ter relação mais próxima com um território, mas existem menos
cadeiras do que bairros, então essa lógica nitidamente tem um limite.
Além disso, minha pauta
principal é política para as mulheres; é levar o cotidiano das mulheres para
dentro da câmara e pensar em políticas públicas específicas para as mulheres em
todas as pautas, entendendo que todas as nossas relações são atravessadas por e
imersas em distinções de gênero. Quero
também pautar sustentabilidade e transição ecológica na cidade, em especial
para estabelecermos um marco regulatório para colocar as cooperativas de
catadoras e catadores no centro da gestão de resíduos sólidos na cidade. Isso é
uma proposta que transfere receita do município dos grandes contratos de
empresas para as cooperativas, gera empregos dispersos pela cidade e promove a
reciclagem. Minhas bandeiras podem ser encontradas no www.sitedavivi.com.br
VSP-
A falta de debates televisivos prejudicou os candidatos a vereador?
VM- Acho que não. O
principal prejudicado é o eleitorado, que perde a oportunidade de ver projetos
políticos postos em debate. Em São Paulo isso talvez seja ainda mais grave do
que no resto do país por causa da revisão do plano diretor que ocorrerá no ano
que vem. Projetos de cidade e de sociedade radicalmente distintos se colocam
nessa eleição em um momento que marca o começo de um período de reacomodação do
sistema eleitoral por causa das cláusulas de barreira e do fim das coligações.
O timing não poderia ser pior.
VSP-
Por o quê o PT? Qual é a sua avaliação da candidatura do Tatto a prefeito?
VM- O PT é o primeiro
partido da história do Brasil a se organizar de fora do aparato estatal e de
fora das elites para a disputa do poder político. Nesse sentido, não tenho
dúvidas de que o PT é o único caminho para a democratização da política e do
Estado. Aliás, a socialização da política está no centro do socialismo petista.
Avalio que o programa
de governo do Tatto mostra o acúmulo político de um partido que pensa e atua
sobre a nossa capital há décadas e que foi responsável pelas políticas mais
inovadoras e transformadoras da nossa cidade. Sua candidatura representa essa
política, não apenas um projeto pessoal, como frequentemente se coloca para
desacreditá-la. Acho que, a partir do que nós temos visto em números de
rejeição, desconhecimento, dentre outros, é uma candidatura que ainda tem
bastante espaço para crescer.
VSP-
Muita gente defendeu que o PT deveria apoiar o Boulos desde o primeiro turno. O
que você acha disso? Você não acha que várias candidaturas dividiram a
esquerda?
VM- Acho que esse
discurso é equivocado. Em primeiro lugar, acho que a existência de múltiplas
candidaturas de esquerda não será um problema se houver o mínimo de alinhamento
político e respeito mútuo no discurso, o que acredito que temos visto em São
Paulo até aqui. É natural que as agremiações lancem suas candidaturas num
cenário sem coligações. Em segundo lugar, as coligações são formadas quando
existe um consenso sobre a existência de uma candidatura claramente favorita. É
o caso em Belém e Porto Alegre, em que o PT - e, infelizmente, nem todos os
outros partidos de esquerda - estão apoiando Edmilson e Manuela,
respectivamente. O Rio de Janeiro também poderia ter tido uma frente de
esquerda em torno do Freixo, mas o próprio PSOL apresentou divergências
internas.
Aqui em São Paulo, o
histórico de PT e PSOL não indicava o favoritismo de Boulos, e ainda não vejo
que seja hora de sentar na cadeira. O Tatto tem tirado voto principalmente de
Russomano, e o PSOL nunca disputou esse eleitorado até hoje. Será que uma
retirada do Tatto não ajuda mais o Russomano do que o Boulos? Boa parte dessa
queda do Russomano também tem beneficiado Joyce, Do Val e Márcio França. Acho
que o cenário ainda é muito incerto, com a exceção da banheira de água morna
que é a candidatura do Covas. De resto, ainda vejo muita água para rolar. Voto
estratégico é discussão para a semana do pleito.
VSP-
Qual é a sua avaliação das
medidas do governo estadual e municipal de São Paulo frente a pandemia do
Coronavírus?
VM- Reconheço que o
ineditismo dificulta as reações, e que o governo federal é um grande vetor de
transmissão da covid-19 em todo o Brasil. Dito isso, a reação do PSDB em São
Paulo foi muito ruim. A da prefeitura foi atrapalhada, na melhor das hipóteses,
quando não simplesmente incompetente. A gestão dos transportes foi tragicômica.
Doria, por sua vez, mostrou mais de uma vez que não tem nenhuma vocação para
política. Começou usando a crise para antagonizar com Bolsonaro visando 2022;
recuou depois de ver que não ia ganhar e de se assustar com a reação dos
bolsonaristas. Adotou uma comunicação vacilante e trôpega, ora cedendo às
pressões de prefeitos e empresários, ora tentando sinalizar para o público que
era preciso manter o cuidado. Não ajudou nem uns nem outros. Quando teve a
oportunidade de exercer liderança política, comportou-se como um lobista
tentando equilibrar várias demandas. Foi lamentável.
Em comum, acredito que
ambos poderiam ter utilizado melhor e com mais antecipação a estrutura dos
agentes comunitários de saúde. Cidades como São Francisco, nos EUA, gastaram
milhões de dólares para treinar pessoas para fazer rastreamento de contágio.
Nós tínhamos funcionários públicos que poderiam e deveriam ter sido treinados
para isso desde fevereiro. Mas investiu-se em leitos e hospitais de campanha,
ao invés de investir-se em prevenção e contenção.
VSP-
Quais estão sendo as principais dificuldades da sua candidatura?
VM- Como candidata pela
primeira vez, acho que o primeiro impacto é o quão extenuante é o processo
eleitoral. Rodamos a cidade, falamos com centenas de pessoas. A pandemia
dificulta ainda mais, porque sempre estamos de máscara, lavando as mãos, etc.
Mas o cansaço é recompensado pela energia das pessoas. Sinto que os progressistas estão muito
interessados em discutir política, pensar a cidade, ouvir e serem ouvidos. Felizmente
eu não estou sozinha; tenho muita gente ao meu lado com quem eu milito já há
muito. Conseguimos o maior financiamento coletivo de uma candidata no Brasil
até agora, temos muita gente trabalhando voluntariamente, o que ajuda a superar
os obstáculos financeiros.
VSP-
Qual é a sua expectativa e do PT para as eleições de 2020?
VM- Acredito que
teremos uma demonstração do vigor do partido, e que elegeremos muitas
lideranças novas, bancadas numerosas e diversas, e que daremos mais uma
demonstração de força depois do golpe, da prisão do Lula, e das eleições de
2018. Acredito ainda que a imprensa se concentrará apenas no resultado das eleições
majoritárias.
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