terça-feira, 3 de novembro de 2020

VSP nas eleições 2020: entrevista com Henrique Áreas, candidato a vice-prefeito do PCO

 

O cientista social e bancário Henrique Áreas, 35 anos, é candidato do PCO (Partido da Causa Operária) a vice-prefeito na candidatura de Antônio Carlos Silva do mesmo partido. Seguem as perguntas e respostas ao questionário.

 

VSP- Como você iniciou sua militância no PCO?

Henrique Áreas- Ingressei no PCO como militante no movimento estudantil no último ano do curso de Ciências Sociais da Unicamp. Foi no ano de 2007, quando as universidades estaduais paulistas (USP, Unesp, Unicamp e Fatecs) iniciaram uma onda de greves com educação com ocupação que tomaram conta do País até o ano seguinte. Comecei a contribuir para o jornal partidário. Depois de formado, com um ano e meio de militância no partido, ingressei no concurso dos Correios e passei a militar no movimento operário.

 

VSP- Quais são as maiores dificuldades de militar numa legenda política que praticamente não tem espaço na grande mídia?

HA- Certamente que a falta de espaço na grande imprensa atrapalha, mas não acho que um militante revolucionário deva ter alguma ilusão, por menor que seja, nessa imprensa que defende os interesses dos capitalistas. Um partido como o PCO deve buscar seus próprios meios para divulgar sua política, ter uma imprensa própria, independente. Também entendo que a pouca visibilidade é um sinal que a política do PCO é realmente revolucionária e portanto incomoda essa imprensa capitalista.

 

VSP- Por que o PCO nunca foi chamado para nenhum debate televisivo?

HA- A imprensa precisa esconder as ideias revolucionárias, na realidade ela procura atender a esquerda mais radical e até mesmo a esquerda em geral. No caso do PCO, há uma perseguição pois os partidos de direita não querem ninguém levantando coisas que ela considera inconvenientes nos debates. Nem bem a campanha começou e isso já ficou claro em alguns casos em que nossos candidatos foram censurados por falar “fora Bolsonaro”.

 

VSP-Para o grande público, quais são as diferenças de ideologia do PCO e outras legendas de esquerda como PSTU, PCB, PCdoB, UP e PSOL?

HA- É uma pergunta um pouco complexa para ser respondida em poucas palavras, mas em linhas gerais o PCO é o único partido que tem de uma maneira clara em seu programa a defesa de uma revolução comunista, de necessidade da tomada do poder do Estado pela classe operária, por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo. Nesse sentido, o PCO é o único que defende claramente que as eleições não irão resolver o problema do povo e denuncia o caráter fraudulento delas. Por isso usamos as eleições apenas como uma tribuna para levantar o programa e as palavras de ordem do partido, que nesse momento é a luta para derrubar Bolsonaro e todo o regime golpista e a luta para a restituição dos direitos políticos de Lula para que ele seja candidato em 2022.

 

VSP- Quais são os principais projetos do PCO para a cidade de São Paulo?

HA- O PCO tem uma série de pontos em seu programa que diz respeito aos municípios, mas nesse momento achamos que sem derrubar esse regime golpista que está aí; que sem derrubar um presidente da República fascista inimigo dos trabalhadores, qualquer discussão sobre melhorias nas cidades não apenas é inócua como é enganar a população.

 

VSP- O que mudou na candidatura de 2016 para 2020?

HA- Nada de fundamental. O que houve foi um aprofundamento do golpe de Estado. Em 2016 foi o primeiro ano do golpe e já naquela eleição a nossa principal preocupação era denunciar os golpistas e chamar o povo a se mobilizar. Esse ano, temos essa mesma preocupação, com o agravante de que lutar contra o golpe é lutar para derrubar Bolsonaro.

 

VSP- Como você analisa as medidas dos governos estadual e municipal para a pandemia do Coronavírus?

HA- Praticamente não houve nenhuma medida real. A criação de mais leitos, investimentos em equipamentos, testes em massa, monitoramento da pandemia nos bairros: nada disso foi feito. A única coisa que foi feita foi a propaganda pela quarentena para passar a impressão de que alguma coisa estava sendo feita. A própria quarentena foi muito parcial, atingiu principalmente setores da classe média e da burguesia. Para boa parte dos trabalhadores ela nunca existiu: os trabalhadores dos transportes, para os operários da maior parte dos supermercados, entregadores e várias outras categorias. Para milhões de companheiros, nunca houve o direito ao isolamento social.

 

VSP- Qual é a avaliação do PCO para o atual momento da Venezuela?

HA- A Venezuela sofre há anos com a investida dos países imperialistas, em particular os Estados Unidos. Querem fazer lá o que fizeram aqui: derrubar um governo legítimo, apoiado pelo povo, para colocar um fantoche que serve aos interesses dos capitalistas como é o governo Bolsonaro. Até agora, o povo venezuelano resistiu. Essa resistência é o resultado, entre outras coisas, da mobilização e do armamento do povo, que é uma política que o PCO defende no Brasil. Só o povo armado é capaz de se defender.

 

VSP- Como o PCO se relaciona com as religiões? Existem militantes religiosos na legenda?

HA- Em primeiro lugar, a doutrina do PCO é o materialismo histórico, portanto, como doutrina somos ateus. Mas isso não impede que existam religiosos no PCO. Ser ateu não é condição para ser do PCO pois entendemos que a religião é um problema de foro íntimo. Todos que concordam com os fundamentos da política do PCO são bem vindos, desde que a religião não se constitua um impedimento para essa política. Do ponto de vista geral, o PCO defende a completa e irrestrita liberdade religiosa, justamente por se tratar de uma questão de foro íntimo, o Estado não deve nem favorecer nem perseguir nenhuma religião. Isso não tem nada a ver com ser conveniente com a intromissão de religiosos na política, que na realidade são políticos que usam a religião para enganar e explorar o povo.

 

VSP- O plano de governo do PCO praticamente não fala nada sobre a cidade de São Paulo. Por que isso?

HA- Pelo mesmo motivo que foi citado na pergunta de número 5. Achamos que falar um “plano de governo” municipal nesse momento, embora o PCO tenha propostas para todos os problemas relativos às cidades, é uma enganação do povo se dissermos claramente que é preciso derrotar o golpe que acometeu o País em 2016. E para derrotar esse golpe é preciso derrubar Bolsonaro e lutar pelos direitos políticos de Lula e por sua candidatura à presidência em 2022 como parte da luta para unificar a esquerda contra os golpistas.

 

VSP- Você não acredita que o melhor para a esquerda e os partidos progressistas não era se unir em uma única candidatura?

HA- A questão da unidade de esquerda nunca foi um tema simples. A unidade só tem sentido se tem um objetivo prático comum. Pode-se, e essa é nossa proposta, fazer uma frente da esquerda para lutar contra Bolsonaro. Mas de um modo geral, devido à política errada da esquerda, as eleições não servem para lutar. Não será por meio das eleições essa luta portanto não faz sentido uma unidade que serviria apenas para diluir o programa dessas organizações, cada um muito diferente do outro.

Nós propomos uma unidade em torno da candidatura do Lula em 2022, mas não simplesmente como uma frente eleitoral, mas porque essa é uma luta real pelos direitos políticos de Lula e porque Lula é um nome capaz de estabelecer uma unidade real e não meramente eleitoral por conta de sua enorme popularidade. Além disso, essa candidatura, individual de Lula, com a qual não concordamos, mas com o fato de que ele é um elemento capaz de mobilizar o povo e derrotar o golpe.

 

VSP- Qual é sua expectativa e do PCO para a eleição de 2020?

HA- Que as eleições possam servir para o fortalecimento do partido, ou seja, que o partido cresça em números de militantes ao menos nas principais cidades do País. Mais ainda, que as eleições servem também para impulsionar a luta real, nas ruas, pelo “fora Bolsonaro” e pelos direitos políticos de Lula.