quarta-feira, 4 de novembro de 2020

VSP nas eleições 2020: entrevista com Marcos Dipreto, candidato a vice-prefeito do Rede Sustentabilidade

 

O jornalista, empresário, editor e empreendedor social Marcos Dipreto, 57 anos, é candidato do Rede Sustentabilidade a vice-prefeito na candidatura de Marina Helou do mesmo partido. Seguem as perguntas e respostas ao questionário.

 

Marcos Dipreto- Inicio cumprimentando alunas e alunos da FESP, através de Matheus Trunk (meus colegas, pois também fui aluno FESP) e ao corpo docente e funcionários por intermédio do querido meu professor e diretor Aldo Fornazieri, e dizendo ser muito positivo sua disposição dar conhecimentos à população paulistana, contribuindo para o aumento de repertório e de opções políticas e, de posse desses elementos, ela faça a melhores escolhas nas eleições 2020.

 

VSP-  Fundado em 2013, o Rede Sustentabilidade tornou-se um dos protagonistas da política brasileira. O que essa legenda tem de diferente dos outros partidos progressistas ou de centro-esquerda?

MD- São muitas distinções, e com certeza deixarei de citar alguns elementos importantes deste conjunto que, na minha opinião, faz da Rede Sustentabilidade não só um partido diferenciado, mas também moderno e, por que não, necessário para uma sociedade que se quer preparada para os desafios do século 21.

Começo por nossa fundação; temos origem em um movimento social espontâneo, marcadamente jovem e muito feminino, conectado pelas mídias sociais, engajados nas pautas progressistas como igualdade racial e de gênero, direitos da comunidade LGBTQIA+ e, é lógico, a proposta de promover o equilíbrio entre a economia, o social e uso responsável do meio ambiente e de seus recursos naturais. Por outro lado, outros partidos criados recentemente são muitas vezes apêndices estratégicos de partidos maiores, dissidências de “caciques políticos”, portanto surgem com uma máquina partidária formada e com recursos expressivos, ou de grupos dissociados da realidade social do país. 

Nossa atuação política é guiada para fugir do maniqueísmo do bem, contra o mal, do malvado contra o bonzinho. Nos intitulamos “programáticos”, ou seja, o debate político e a avaliação sobre propostas, projetos e políticas públicas são ações determinadas a partir do que o conteúdo traz de benefícios para a sociedade, sem que levar em consideração preconceitos sobre quem faz a proposta.

Para finalizar, nós da Rede desvinculamos apoios, críticas, elogios ou rejeições, do recebimento de cargos, secretarias, ministérios, etc.

Internamente, somos o que pregamos: não temos presidentes, em cargos de liderança temos, por exemplo, porta-vozes uma posição sempre exercida em dupla, preferencialmente ocupada por pessoas de gêneros, idades, etnia/raça e origens diferente entre elas. Nós buscamos o consenso a exaustão, não temos cacique ou dono do partido, e pregamos que as discussões sejam pautadas antes de tudo pela cordialidade, empatia e generosidade, a chamada amizade cívica.

 

VSP- O senhor é um nome de destaque no cenário de luta contra o preconceito racial. Que iniciativas o senhor quer levar dessa luta para a sua candidatura?

MD- Grato pelo “destaque”. Muito lisonjeiro da sua parte (rsrs).

Eu agrego na candidatura de Marina Helou a prefeitura de São Paulo, por exemplo, informações e experiências de um homem de mais de meio século, que a sociedade dá um lugar social baseado na minha cor de pele.

Através da representatividade, trago também a interlocução com 55% da população, normalmente subrepresentada em espaços de poder ou, quando neles, “quietificados”, mostrando: ser possível ter protagonismo nos mencionados espaços sem deixar de lado seus propósitos, e que lutar contra as desigualdades é vantajoso para aspectos além dos sociais, como o econômico. Minha origem, e a dedicação em formar, informar e desenvolver política e economicamente a população negra, me permite saber confluências e os desencontros entre o Estado e a sociedade não só de negros, mas também dos moradores das periferias.

 

VSP- Quais são os principais projetos do Rede para a cidade de São Paulo?

MD- Nosso plano de governo é muito bom e traz soluções inspiradoras, modernas factíveis e é claro, sempre tendo pontos como a busca pela igualdade de oportunidades, sustentabilidade e a participação popular como norteadores.

Destaco às áreas de saneamento e reaproveitamento inteligente dos resíduos, internet para todos, qualidade absoluta na educação, organização da rede e incentivo ao empreendedorismo e aos pequenos negócios. Mas o que mais me atrai é a premissa de que tudo deve ter como objetivo final as pessoas, a perspectiva é o ser humano e de como torná-lo feliz na cidade de São Paulo. Peço que os paulistanos acessem nosso site, marinahelou18.com.br e lá encontrarão mais detalhes da nossa proposta.

 

VSP- Qual avaliação o senhor faz das medidas do governo estadual e municipal frente a pandemia de Coronavírus?

MD- Para ser sincero e justo, devemos sempre levar em consideração que uma pandemia é algo extraordinário, fora de qualquer parâmetro. Um acontecimento similar, a Gripe Espanhola, aconteceu a cem anos atrás em um mundo em nada parecido com o de hoje. Tenho muitos problemas com engenheiro de obras prontas.

Sobre as medidas, no começo elas foram boas. A preparação do sistema de saúde, evitando um colapso, foi adequada. O modelo de comunicação, com boletins frequentes e com os dados baseados em ciência também foi bom.

O que deixou a desejar foi uma maior ênfase no distanciamento desde o início da pandemia, em especial nas periferias e tratar o assunto da “retomada” de forma confusa. Não tem lógica voltar bares antes das escolas, assim como também é sabido que o melhor é uma retomada em ciclos e em divisão por grupos de atividades.

Minha crítica é sobre o antes da pandemia, na ação do cotidiano da cidade. Se tivéssemos feito projetos de moradia digna nos bairros mais carentes, pensando no desenvolvimento econômico das periferias, a descentralização dos postos de trabalho da cidade, a reestruturação das escolas e a utilização da tecnologia na educação, o fornecimento de internet de forma maciça, com certeza muito sofrimento teria sido evitado.

 

VSP- O Rede é um partido focado no meio-ambiente. Qual avaliação que o senhor faz do ministro Ricardo Salles e do meio-ambiente no atual governo federal?

MD- Horrível na forma, conteúdo, na relação com a sociedade e atrasadíssimo na visão de mundo, em especial na defesa do segundo maior patrimônio do Brasil, os recursos naturais (o primeiro em gente).

Sob a gestão de Salles: liberada a exportação de madeira sem autorização prévia do Ibama; exonerados servidores do Ibama que estavam à frente de atividades de importantes atos de fiscalização; anistia de desmatadores de Mata Atlântica. Um resultado: desmatamento da Amazônia aumentou 30% em 2019 e, nos primeiros meses de 2020, um crescimento de 62%.

Enquanto isso, o Ministro sugere medidas anti-ambientais, escondidas atrás da preocupação e a comoção causadas pela pandemia para encobrir o projeto de destruição da floresta e do modo de viver seus povos, “passando a boiada”. O que mais falar?

 

VSP- Atualmente, o Rede Sustentabilidade não tem nenhum vereador na Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo. Como será o relacionamento da prefeitura com a câmara num eventual governo do Rede?

MD- A Rede tem um grupo de candidatos muito bons, e a eleição do maior número deles facilitará em muito o relacionamento de Marina Helou com a Câmara Municipal.

Outro aspecto, que mencionei na sua primeira pergunta, somos um partido que discute, aprova ou rejeita propostas baseados no bem social que ela causa. Já vimos quando o poder Executivo trata o parlamento de forma democrática, republicana e aberta, a recíproca é verdadeira.

 

VSP- No eventual do governo Marina Helou como será a relação dela com o governador João Dória e o presidente Jair Bolsonaro?

MD- Do mesmo jeito que atua como deputada estadual, Marina Helou sabe da responsabilidade que é ser prefeita da segunda maior cidade da América Latina, entre as dez mais ricas do Mundo, que cuidará de doze milhões de habitantes.

O que for melhor para as pessoas que vivem e trabalham em São Paulo, em especial para as mais carentes, será respeitado e apoiado. Programas pensados nas peculiaridades das regiões, nas diferenças e nos quereres dos paulistanos serão benvindos.

Mas as duas administrações citadas deverão saber que estão falando com uma mulher progressista, antirracista, ambientalista e defensora das pautas sociais.  

 

VSP- Como será a atuação do senhor dentro do governo? O senhor pensa em ser titular em alguma secretaria?

MD- Eu penso primeiro em apresentar à população paulistana uma proposta das mais modernas e inclusivas que foi elaborada para trazer oportunidades, dignidade e felicidade para quem vive e trabalha na cidade de São Paulo.

Tenho certeza que, quanto mais pessoas conhecerem Marina Helou e nosso plano de governo, mais elas saberão que é hora de mudar e nos apoiarão no objetivo para chegarmos a cidade que pode ser modelo de administração pública, positividade e convívio social para o mundo.

 

VSP- Você não acredita que o melhor para a Rede e outros partidos de esquerda ou progressistas não era melhor se unirem em uma única candidatura?

MD- Um dos orgulhos que tenho da Rede é justamente a procura da união entre iguais sem fechar portas para o acolhimento dos pensamentos divergentes.

Nós não temos a pretensão de hegemonia. Antes da decisão de disputar a prefeitura pensamos e agimos muito em prol das propostas e não necessariamente do protagonismo. O problema dessa união está, na minha opinião, na análise de como outros partidos agiram quando no poder, de aderência de fato a luta contra desigualdades e pautas correlatas, o quanto eles realmente defendem o meio-ambiente e, falando destas eleições, quais os apoios que eles desejam, pois fica muito difícil com quem buscou desesperadamente o apoio da chamada extrema direita, mesmo que só para ganhar a eleição, ou de agremiações replicando velhas práticas políticas e candidaturas sem nenhuma inovação.

 

VSP-  Qual a expectativa do senhor e do Rede Sustentabilidade para a eleição de 2020?

MD- Além de ter Marina Helou comandando a prefeitura de São Paulo, ter um bom número de vereadoras e vereadores da Rede eleitos, de forma a renovar de fato a administração e a política de São Paulo.