segunda-feira, 9 de novembro de 2020

VSP nas eleições 2020: entrevista com Flávia Bellaguarda, candidata a vereadora do Rede Sustentabilidade

 

A advogada e ativista climática Flávia Bellaguarda, 32 anos é candidata do Rede Sustentabilidade a vereadora na cidade de São Paulo. Seguem as perguntas e respostas ao questionário.

 

VSP- Como surgiu a ideia de você ser candidata a vereadora?

Flávia Bellaguarda- Essa ideia surgiu de uma trajetória que eu venho trilhando há alguns anos. Fundei duas organizações de impacto social, atuei no ICLEI com a agenda urbana sustentável e tive a oportunidade de me aprofundar no estudo da crise climática - com foco em justiça climática. Tudo isso me fez entender que, se a política não modificar o jeito de desenhar a cidade e fazer políticas públicas, a gente vai entrar em uma situação de caos cada vez pior.

Vendo todo esse cenário, e vendo também que pouquíssimos candidatos - quase ninguém! - têm esse olhar e propõe essa pauta, eu entendi que precisava me candidatar para poder ter um impacto mais significativo.

 

VSP- Quais são seus principais projetos?

FB- Minhas propostas se dividem em três grandes pautas: Meio Ambiente, Educação e Oportunidades para Jovens.

Para o Meio Ambiente, meus projetos incluem garantir a inclusão dos impactos climáticos em todas as políticas e decisões da municipalidade; expandir a arborização do município; melhorar a mobilidade urbana; trabalhar pela inclusão socioeconômica dos catadores de materiais recicláveis e promover a compostagem de 100% dos resíduos orgânicos na cidade de São Paulo.

Para a área de Educação: promover a capacitação dos professores da rede pública municipal para as novas demandas da educação do futuro; incentivar boas práticas sustentáveis nas escolas municipais; monitorar o nível de sustentabilidade das mesmas e garantir a busca ativa de estudantes no pós pandemia.

Por fim, para a área de Oportunidades para Jovens, um dos meus projetos favoritos é a criação do Conselho de Juventude, um grupo de jovens que poderão participar do mandato e do desenvolvimento de políticas públicas; além de qualificar equipamentos públicos existentes com programas de capacitação para jovens com foco em prepará-los para atuar em empregos verdes, empreendedorismo e inovação de impacto.

 

VSP- A falta de debates televisivos para o Executivo prejudicou os candidatos a vereador?

FB-Acredito que sim! É um canal de visibilidade importante. Mas acredito também que seja mais significativo para a parcela mais velha da população, pois os eleitores mais jovens não estão tão ligados na TV como antes, e a Internet acaba suprindo um pouco esse papel.

 

VSP- Por que o Rede Sustentabilidade? Qual é a sua avaliação da candidatura da Marina Helou?

FB- A escolha do partido foi um processo. Conheço muitas pessoas na Rede, então já existia uma certa proximidade, mas cheguei a conversar com outros partidos para conhecer e entender o posicionamento deles, principalmente em relação à pauta de mudança climática. Grande parte deles simplesmente riu da minha cara quando eu falei que queria levar a pauta climática como prioridade.

Optei pela Rede por alinhamento de princípios. É um partido pequeno e, por isso, o desafio para conseguir uma cadeira acaba sendo maior, mas se eu começasse a minha vida política já com esse pragmatismo, estaria construindo algo que não é o que eu acredito.

Fui para a Rede porque é um partido com o qual eu me identifico, é um partido novo, e isso traz uma possibilidade de uma construção democrática diferente. E quanto à candidatura da Marina Helou, é um movimento importante: para ela se fazer conhecida, para ajudar a chapa de vereadores e, principalmente, para trazer pontos muito relevantes para o debate que não são priorizados pelos outros candidatos. Ela é uma pessoa muito consistente no que fala e tem um olhar para a sustentabilidade e a cidade que é muito importante e estratégico. 


VSP- O Rede Sustentabilidade é um partido focado nas questões ambientais. Qual sua avaliação da gestão do ministro Ricardo Salles?

FB-O governo federal caminha para um desmonte da agenda ambiental. Temos visto isso refletido na estrutura do Ibama, nos órgãos fiscalizadores das regiões da Amazônia e do Pantanal, no aumento dos incêndios, enfim, o desmonte é claro e a negação do governo federal em relação ao enfrentamento da crise climática também preocupa muito. Mas, em compensação, essa situação trouxe um certo protagonismo para os estados e municípios - vimos onze estados brasileiros abraçarem a agenda climática - São Paulo é um deles. É fundamental que estados e municípios também desenvolvam políticas públicas de enfrentamento à crise climática, porque as mudanças acontecem no local, não apenas no global.

 

VSP- Quais serão seus principais projetos para a área ambiental?

FB- Meus principais projetos para a área ambiental incluem: a priorização da pauta climática e ambiental como base para todas as políticas e decisões da municipalidade a partir da formação de uma Comissão de Mudança do Clima e Inovação; a arborização do município com foco em áreas mais vulneráveis; a melhoria da mobilidade urbana, com foco na mobilidade ativa, na diminuição da dependência do carro e na transição da frota de transporte público para veículos menos poluentes.

A questão dos resíduos sólidos também é um dos meus focos, com a criação de programas de empoderamento, considerando especialmente o protagonismo assumido pelas mulheres catadoras, que representam 70% da categoria, bem como a compostagem de 100% dos resíduos orgânicos gerados na cidade. Todas essas propostas giram em torno da mitigação dos efeitos da crise climática e de trabalhar com a diminuição das emissões de carbono na atmosfera, para lidar de forma concreta com os problemas que já existem hoje e evitar a piora dos problemas futuros, pensando no desenvolvimento de São Paulo de uma forma sustentável.

Essa pauta é especialmente importante nessas eleições, tanto pela urgência da crise climática que afeta nosso dia-a-dia cada vez mais, quanto pelo fato de que, em 2021, acontecerá a revisão do Plano Diretor de São Paulo - é uma grande oportunidade de repensarmos as medidas climáticas e ambientais que afetam a cidade.

 

VSP- Quais foram as principais dificuldades da sua candidatura?

FB- A pandemia com certeza tem sido um grande obstáculo. A gente não pode encontrar pessoas, fazer rodas de conversa, trocar ideias ao vivo. A interação é quase toda online, o que não surte o mesmo efeito. Outro desafio é a captação de recursos. Eu, como pessoa normal, de classe média, mesmo tendo atuado no terceiro setor por muitos anos, não tenho acesso a certas redes de financiamento, que ainda são muito exclusivas e masculinas. Infelizmente isso causa um impacto significativo na candidatura, mas temos trabalhado muito para criar uma campanha inovadora e produtiva mesmo com recursos limitados, e estou muito orgulhosa do que conseguimos conquistar até agora!

 

VSP- Qual é a sua expectativa e do Rede Sustentabilidade para as eleições de 2020?

FB- A minha expectativa é ganhar as eleições! Estou entre as três candidaturas mais competitivas da Rede, as chances de conseguir uma cadeira são reais, então acredito que estarei no Legislativo ano que vem! E a expectativa da Rede para as eleições de 2020 é fazer uma cadeira em São Paulo, caminhando para uma segunda, dependendo da quantidade de votos da majoritária.