VSP- Professor, o senhor sempre fala em conjuntura. A conjuntura da eleição para o Executivo de São Paulo é de continuidade ou de mudança?
Aldo Fornazieri- Na verdade, no início da campanha, se configurava uma conjuntura ambígua, que não era nem de conservação e nem de mudança. Isto porque a avaliação positiva e negativa da gestão Covas se equivaliam. Com isso, era previsível que ele iria para o segundo turno. Mas durante a campanha ele conseguiu melhorar a avaliação da sua gestão, favorecendo sua reeleição.
VSP- Na sua opinião, quais são os fatores que mais colaboraram para o candidato Guilherme Boulos ter ido para o segundo turno?
AF- Penso que a singularidade da chapa, combinando juventude do Boulos,
com a experiência da Erundina e também por serem duas pessoas que se
caracterizam pela virtude da coragem. Além disso, Boulos encarnou, melhor do
que qualquer outro candidato, a ideia da mudança. A defesa de valores foi
importante, junto com propostas que mostram mais sensibilidade social.
VSP- Quais serão as maiores dificuldades para ele no segundo turno contra o Bruno Covas?
AF- Penso que deveria ter um programa mais transformador para a Saúde e, no primeiro turno, ele deveria ter centrado mais as críticas na gestão Covas.
VSP- O fato do PT ter insistido na candidatura do ex-secretário Jilmar Tatto e o PCdoB com o ex-ministro Orlando Silva auxiliou ou prejudicou Boulos?
AF- Penso que ajudou, pois desconcentrou os votos e favoreceu o Boulos. As candidaturas não eram concorrentes, mas complementares. O Tatto não tirou votos do Boulos, mas capturou votos que não iriam para a chapa do PSOL.
VSP- O Bruno Covas apresentou uma candidatura ligada a assuntos da cidade e evitou assuntos polêmicos ou ataques pessoais. O senhor acha que isso colaborou para ele chegar ao segundo turno como o mais votado?
AF- Sim, a eleição é municipal e os eleitores querem soluções para os
problemas da cidade. Penso que a nacionalização das campanhas não ajudam os
candidatos. Comparando com a disputa de 2018 ou com o que está ocorrendo no Rio
de Janeiro, penso que é possível dizer que a disputa em São Paulo segue padrões
civilizados e democráticos.
VSP- O deputado federal Celso Russomanno fracassou em mais uma candidatura ao Executivo paulistano. Na opinião do senhor, qual será o futuro político dele?
AF- Ele tem futuro político como deputado. Ele não tem nem consistência
política e nem base social para ser prefeito.
VSP- Entre os candidatos menores, o deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei, do Patriota quase se igualou ao Russomanno em votos. Qual é a sua visão sobre o futuro político dele?
AF- É um candidato de extrema-direita que capturou o voto bolosnotista
extremado. Existe cerca de 10% do eleitorado que é de extrema-direita.
VSP- Essa eleição de 2020 apresentou algo inédito até hoje que é a pandemia do Coronavírus. O que esse fato representou nessa luta eleitoral?
AF- Penso que a pandemia reduziu o peso da campanha de rua, de mobilização,
de atos de campanha. Mas não dá para dizer que ela elevou a importância da
campanha da TV. Fosse isso, o Boulos não teria ido para o segundo turno.
VSP- Quais fatos mais chamaram a atenção do senhor na eleição da Câmara de Vereadores de São Paulo? O senhor acredita que houve renovação no Palácio Anchieta?
AF- Penso que ficou uma Câmara mais diversificada, mais pluralista. As candidaturas de mulheres e negros avançaram, mas ainda longe do ideal para a representação desses setores. É preciso avançar mais, inclusive com um maior número de eleitos que representem as periferias.
VSP- Qual é a expectativa do senhor para o segundo turno das eleições paulistanas de 2020?
AF- Como a gente está vendo, é uma eleição disputada. O Covas enfatizando mais as questões administrativas e o Boulos apontando mais para a mudança e para valores sociais e humanísticos. Embora Covas tenha uma vantagem, a eleição será decidida na véspera.
Um comentário:
Boa entrevista
Postar um comentário