quinta-feira, 8 de julho de 2021

VSP comenta o cinema brasileiro atual: "Eu, Pecador" (2017)


 Eu, Pecador” *** (Brasil, 2017, documentário, direção: Nelson Hoineff)

O cineasta Nelson Hoineff (1948-2019) era um diretor experiente de documentários quando fez este filme. Algumas vezes conseguiu resultados primorosos como em “Cauby” e algumas vezes errava a mão completamente. No entanto, este doc trata de um personagem muito controverso: o cantor Agnaldo Timóteo. Dono de um vozeirão, o polêmico artista foi um dos recordistas brasileiros de vendas de discos nos anos 1970. De origem humilde, o mineiro iniciou sua carreira como motorista da cantora Ângela Maria, uma das grandes cantoras brasileiras da Era de Ouro (1930-1945). Mas Eu, Pecador aborda muito pouco a carreira e trajetória do cantor. A opção de Hoineff foi centrar a narrativa na frustrada campanha de Timóteo para a vereança do Rio de Janeiro em 2016. Temos os bastidores da luta eleitoral: sua campanha, o corpo a corpo no centro da cidade, as idas aos subúrbios em busca dos eleitores. Os números musicais ajudam mas parece que o diretor só quis abordar as controversas opiniões do personagem central sobre política e sexo. A exploração de muitos vídeos antigos de diversos programas populares de televisão cansa um pouco. Ao final do filme temos uma frustração porque perdemos um grande personagem que merecia um tratamento melhor. Parece que Hoineff preferiu falar de questões mais dos bastidores do personagem e da sua vida pessoal. O filme acaba cansativo, se tivesse vinte ou quinze minutos ao menos teria um resultado melhor. Mesmo assim, Timóteo tem um carisma e tanta polêmica que vale a pena o ingresso. Os números musicais são excelentes. É impressionante como Timóteo consegue ganhar o palco mesmo sendo acompanhado por poucos músicos. Tem-se assim por bem ou por mal um documento valioso sobre a trajetória deste polêmico cantor brasileiro que morreu em abril deste ano de complicações da Covid-19. O diretor Nelson Hoineff morreu jovem e teve uma significativa contribuição na história da televisão brasileira com o programa Documento Especial da TV Manchete. Uma pena ele não ter deixado um livro de memórias ou algum registro sobre sua trajetória profissional.

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