Palmeiras foi o melhor nessa pelada concorrida
RICARDO KOTSCHO
Até que tinha bastante
gente no velho Parque Antártica, além de alguns voyeurs nas janelas dos prédios
em volta. E os palestrinos mostravam uma animação digna de grande jogo quando
seu time entrou em campo. Como se tratava apenas mais um jogo
cumpre-tabela-do-Nabi, que não valia mais nada, pelo menos para o time da casa,
fiquei perguntando-me que motivos teriam levado aquele povo todo ao estádio
ontem à tarde. Na falta de um sociólogo de plantão (que sociólogo largaria os
seus livros para assistir um Palmeiras e Comercial?), tive que me contentar com
as explicações dos cronistas esportivos a meu lado que, entre um bocejo e
outro, procuraram ajudar-me. Um dos motivos mais votados foi o mau tempo, que
fez o pessoal voltar antes das praias. Outra razão: as sogras. Sim, ainda não
se inventou nada melhor para fugir do encantador domingo à tarde que o velho
futebolzinho. Entre ficar em casa assistindo ao Sílvio Santos com a sogra e
pegar um futebol, qualquer que seja o espetáculo, os que optaram pelo Parque
Antártica viram que haviam escolhido uma pelada muito animada. Onde ia a bola,
ia todo mundo atrás.
O Palmeiras só
conseguiu chegar ao gol aos 10 do primeiro tempo: Pires cruzou da direita e
Motoca cruzou para fora. O momento de maior emoção foi quando o juiz Aragão
avançou de dedo em riste para o goleiro Vandeir, que não é nenhum Doca Street
e, portanto, só faltou ficar de joelhos sob vossa excelência. Pedrinho acertou
um belo chute de primeira aos 15 minutos, que Vandeir colocou para escanteio. O
resto é só chutão para todo lado. Aos 25´, Pedrinho levou a defesa do Comercial
na corrida, centrou para Jorge Mendonça, que matou no peito e bateu com força:
Palmeiras, 1 a 0.
Depois desse gol, Jorge
Mendonça tomou uns trancos e foi jogar atrás de Beto Fuscão. O fôlego do
Comercial já tinha acabado e era até engraçado ver Carlos Hansen, com seu
físico de campeão de festa de cerveja (título disputado palmo a palmo com o
lateral Marco Antônio), correr atrás de Pires e Motoca sem achar a bola. O
ponta Jáder tem a cor de Pelé, o físico de Pelé, a pose de Pelé, só lhe falta o
futebol. Aliás, não só para ele: os que estão em volta fazem muita pirueta para
pouco futebol.
Um minuto do segundo
tempo: Pedrinho lança Carlos Alberto, que entra sozinho na área, passa pelo
goleiro e enfia para o gol vazio: Palmeiras, 2 a 0. Agora não é mais um jogo, o
Palmeiras brinca de dois-toques. Nem o relógio do placar aguenta e deixa de
marcar o tempo do jogo. Telê olha repetidamente para o placar e para o seu
relógio, não consegue entender o que está acontecendo. De repente, Tadeu Ricci
aparece sozinho na área do Palmeiras e cabeceia para espanto de Beto Fuscão,
fazendo o primeiro gol do Comercial, aos 26 minutos. Quatro minutos depois,
Jáder vai marcar o gol de empate, mas Aragão apita impedimento. Pouco importa
que Pedrinho estivesse sobre a linha do gol: na hora do aperto, os grandes
podem sempre contar com a ajuda do juiz. Os que não encontraram nada melhor
para fazer ontem à tarde já estavam deixando o estádio quando o Palmeiras teve
o seu último suspiro: depois de três chuveirinhos seguidos sobre a área, a bola
vem de Carlos Alberto para a cabeça de Polozi, que acerta no canto esquerdo:
Palmeiras, 3 a 1. Que felicidade!
O JOGO FOI ASSIM:
Palmeiras- Gilmar;
Rosemiro, Beto Fuscão, Polozi e Pedrinho; Pires, Motoca e Jorge Mendonça;
Jorginho (César), Carlos Alberto e Baroninho (Nei).
Gols: Jorge Mendonça,
Carlos Alberto e Nei.
Comercial- Valdeir;
Marco Antônio, Carlinhos, Léo e Fantick; Maurício, Tadeu Ricci e Carlos Hansen;
Jáder, Vander e Dau (José Roberto).
Gols: Tadeu Ricci.
Juiz: José de Assis
Aragão.
Renda: Cr$ 655.290,00,
com 11.724 pagantes
Enfim, um grande
jogador: Pedrinho
Pedrinho foi mais uma
vez o melhor zagueiro e o melhor atacante do Palmeiras. Perfeito na marcação,
foi à frente e dos seus pés saíram os dois gols. Provou que é o melhor lateral-esquerdo
do futebol brasileiro, mas Cláudio Coutinho prefere Marco Antônio (quando
Júnior, o novo Nílton Santos que ele descobriu, não pode jogar).
PALMEIRAS
Gilmar- Viu o jogo de
graça e tomou gol que ninguém viu.
Rosemiro- Operário da
bola, valente, transformou o ponta Dau em seu marcador.
Beto Fuscão- Se tivesse
20 anos e 20 quilos a menos...
Polozi- Tão discreto
que só se lembraram dele quando marcou o terceiro gol.
Pedrinho- Melhor em
campo, a exceção à regra que confirma a mediocridade que é regra na nova safra
de jogadores.
Pires- Errou muitos
passes, parece desorientado.
Mococa- A nova promessa
do Palmeiras. Continua prometendo.
Jorge Mendonça- Jogou
bem e fez um gol até tomar a primeira pancada. Depois sumiu.
Jorginho- Uma promessa
de promessa, tipo Vaguinho.
Carlos Alberto- É o
chamado centroavante brigador. Mas não achou ninguém para brigar.
Baroninho- De vez em
quando acerta um bom chute. Ontem não foi dia.
COMERCIAL
Vandeir- Não teve culpa
nos gols e salvou outros.
Marco Antônio- Tem que
mudar de ramo e de categoria. Quem sabe, como meso-pesado?
Carlinhos- Quando achou
a bola, deu uns chutões.
Leo- Acompanhou
Carlinhos.
Fantick- Pegou moleza:
não tinha a quem marcar.
Maurício- Ficou sozinho
no meio da roda, coitado.
Tadeu Ricci- Tinha largado
o futebol e voltou. Ninguém sabe por que.
Carlos Hansen- Rapaz
robusto, mas muito sem jeito.
Jader- Ganhou o
motorádio do avesso. Pior impossível.
Vander- Correu feito um
condenado e não viu a bola.
Dau- Bom estilo, sem a
bola. Com ela, algo desajeitado.
Publicado originalmente
no Jornal da República em 5 de
novembro de 1979, edição 60
Nenhum comentário:
Postar um comentário