quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Grandes matérias esportivas do Jornal da República: “Palmeiras foi o melhor nessa pelada concorrida” (5/11/1979)

Palmeiras foi o melhor nessa pelada concorrida



 

RICARDO KOTSCHO

 

Até que tinha bastante gente no velho Parque Antártica, além de alguns voyeurs nas janelas dos prédios em volta. E os palestrinos mostravam uma animação digna de grande jogo quando seu time entrou em campo. Como se tratava apenas mais um jogo cumpre-tabela-do-Nabi, que não valia mais nada, pelo menos para o time da casa, fiquei perguntando-me que motivos teriam levado aquele povo todo ao estádio ontem à tarde. Na falta de um sociólogo de plantão (que sociólogo largaria os seus livros para assistir um Palmeiras e Comercial?), tive que me contentar com as explicações dos cronistas esportivos a meu lado que, entre um bocejo e outro, procuraram ajudar-me. Um dos motivos mais votados foi o mau tempo, que fez o pessoal voltar antes das praias. Outra razão: as sogras. Sim, ainda não se inventou nada melhor para fugir do encantador domingo à tarde que o velho futebolzinho. Entre ficar em casa assistindo ao Sílvio Santos com a sogra e pegar um futebol, qualquer que seja o espetáculo, os que optaram pelo Parque Antártica viram que haviam escolhido uma pelada muito animada. Onde ia a bola, ia todo mundo atrás.

O Palmeiras só conseguiu chegar ao gol aos 10 do primeiro tempo: Pires cruzou da direita e Motoca cruzou para fora. O momento de maior emoção foi quando o juiz Aragão avançou de dedo em riste para o goleiro Vandeir, que não é nenhum Doca Street e, portanto, só faltou ficar de joelhos sob vossa excelência. Pedrinho acertou um belo chute de primeira aos 15 minutos, que Vandeir colocou para escanteio. O resto é só chutão para todo lado. Aos 25´, Pedrinho levou a defesa do Comercial na corrida, centrou para Jorge Mendonça, que matou no peito e bateu com força: Palmeiras, 1 a 0.

Depois desse gol, Jorge Mendonça tomou uns trancos e foi jogar atrás de Beto Fuscão. O fôlego do Comercial já tinha acabado e era até engraçado ver Carlos Hansen, com seu físico de campeão de festa de cerveja (título disputado palmo a palmo com o lateral Marco Antônio), correr atrás de Pires e Motoca sem achar a bola. O ponta Jáder tem a cor de Pelé, o físico de Pelé, a pose de Pelé, só lhe falta o futebol. Aliás, não só para ele: os que estão em volta fazem muita pirueta para pouco futebol.

Um minuto do segundo tempo: Pedrinho lança Carlos Alberto, que entra sozinho na área, passa pelo goleiro e enfia para o gol vazio: Palmeiras, 2 a 0. Agora não é mais um jogo, o Palmeiras brinca de dois-toques. Nem o relógio do placar aguenta e deixa de marcar o tempo do jogo. Telê olha repetidamente para o placar e para o seu relógio, não consegue entender o que está acontecendo. De repente, Tadeu Ricci aparece sozinho na área do Palmeiras e cabeceia para espanto de Beto Fuscão, fazendo o primeiro gol do Comercial, aos 26 minutos. Quatro minutos depois, Jáder vai marcar o gol de empate, mas Aragão apita impedimento. Pouco importa que Pedrinho estivesse sobre a linha do gol: na hora do aperto, os grandes podem sempre contar com a ajuda do juiz. Os que não encontraram nada melhor para fazer ontem à tarde já estavam deixando o estádio quando o Palmeiras teve o seu último suspiro: depois de três chuveirinhos seguidos sobre a área, a bola vem de Carlos Alberto para a cabeça de Polozi, que acerta no canto esquerdo: Palmeiras, 3 a 1. Que felicidade!

O JOGO FOI ASSIM:

Palmeiras- Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Polozi e Pedrinho; Pires, Motoca e Jorge Mendonça; Jorginho (César), Carlos Alberto e Baroninho (Nei).

Gols: Jorge Mendonça, Carlos Alberto e Nei.

Comercial- Valdeir; Marco Antônio, Carlinhos, Léo e Fantick; Maurício, Tadeu Ricci e Carlos Hansen; Jáder, Vander e Dau (José Roberto).

Gols: Tadeu Ricci.

Juiz: José de Assis Aragão.

Renda: Cr$ 655.290,00, com 11.724 pagantes

 

Enfim, um grande jogador: Pedrinho

Pedrinho foi mais uma vez o melhor zagueiro e o melhor atacante do Palmeiras. Perfeito na marcação, foi à frente e dos seus pés saíram os dois gols. Provou que é o melhor lateral-esquerdo do futebol brasileiro, mas Cláudio Coutinho prefere Marco Antônio (quando Júnior, o novo Nílton Santos que ele descobriu, não pode jogar).

PALMEIRAS

Gilmar- Viu o jogo de graça e tomou gol que ninguém viu.

Rosemiro- Operário da bola, valente, transformou o ponta Dau em seu marcador.

Beto Fuscão- Se tivesse 20 anos e 20 quilos a menos...

Polozi- Tão discreto que só se lembraram dele quando marcou o terceiro gol.

Pedrinho- Melhor em campo, a exceção à regra que confirma a mediocridade que é regra na nova safra de jogadores.

Pires- Errou muitos passes, parece desorientado.

Mococa- A nova promessa do Palmeiras. Continua prometendo.

Jorge Mendonça- Jogou bem e fez um gol até tomar a primeira pancada. Depois sumiu.

Jorginho- Uma promessa de promessa, tipo Vaguinho.

Carlos Alberto- É o chamado centroavante brigador. Mas não achou ninguém para brigar.

Baroninho- De vez em quando acerta um bom chute. Ontem não foi dia.

 

COMERCIAL

Vandeir- Não teve culpa nos gols e salvou outros.

Marco Antônio- Tem que mudar de ramo e de categoria. Quem sabe, como meso-pesado?

Carlinhos- Quando achou a bola, deu uns chutões.

Leo- Acompanhou Carlinhos.

Fantick- Pegou moleza: não tinha a quem marcar.

Maurício- Ficou sozinho no meio da roda, coitado.

Tadeu Ricci- Tinha largado o futebol e voltou. Ninguém sabe por que.

Carlos Hansen- Rapaz robusto, mas muito sem jeito.

Jader- Ganhou o motorádio do avesso. Pior impossível.

Vander- Correu feito um condenado e não viu a bola.

Dau- Bom estilo, sem a bola. Com ela, algo desajeitado.

 

Publicado originalmente no Jornal da República em 5 de novembro de 1979, edição 60

Nenhum comentário: