quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Grandes matérias esportivas do Jornal da República: “O Palmeiras merecia mais do que os 2 a 0” (20/10/1979)

O Palmeiras merecia bem mais que os 2 a 0


Sem fazer muito esforço, a “matriz” demoliu a filial. Dos dois times de verde somente um jogo futebol: o Guarani esteve lamentável

 

TONICO DUARTE

 

“É mesmo hoje a matriz joga com a filial” – dizia o motorista de táxi Antônio Benedito de Jesus, são-paulino, na porta do Parque Antártica. Matriz e filial, porcão e porquinho, as torcidas de Palmeiras e Guarani tomam um cuidado redobrado quando os times se enfrentam. É um perigo – e um vexame – confundir os dois times. Os uniformes são absolutamente iguais e alguns jogadores são até parecidos, de longo, caso de Renato e Baroninho.

Ontem foi o dia da matriz. Nunca foi tão fácil para o Palmeiras vencer o Guarani, e 2 a 0 traduz muito pouco da superioridade do time de Telê Santana. Quisesse, o Palmeiras teria aplicado uma goleada histórica na filial e descontaria a final do campeonato brasileiro do ano passado, o que ainda anda atravessado na garganta de muitos palmeirenses.

Com 5 minutos de jogo, chegou o César, lembram dele? O “maluco”, ex-centroavante daquele time que começava por Leão, terminava por Nei, e tinha Luís Pereira, Ademir da Guia e Leivinha tinindo. Camisa xadrez apertada na barriga (grande, por sinal), corrente de prata aparecendo no peito, César ainda é ídolo da torcida. É abraçado, dá autógrafos, joga beijos para as sociais, como se estivesse jogando. E tece de lá o prognóstico:

“O meu coração é verde” – diz, num gesto largo. “Mas é verde de Palmeiras. Amo esse time e hoje nós vamos dar nessa bugrada de uns cinco, que é pra eles deixarem de ser bestas”.

César se diz um pé-quente, o que na prática acabou sendo verdade. Logo depois de sua chegada, Rosemiro aplica um drible em Caíca, cruza para Luís Silvio, e Góes salva um gol feito. Aos 13 minutos, Baroninho cobra uma falta com extraordinária violência e a bola choca-se com a quina da trave, para a perplexidade de Neneca. Era o gol do Palmeiras amadurecendo.

E ele não tardou a acontecer. Aos 17 minutos, Góes fez uma falta em Jorge Mendonça na entrada da área, bem como gosta o atacante palmeirense. O próprio Mendonça cobrou com muito efeito, Neneca soltou, e Luís Sílvio, que vinha na corrida, fez 1 a 0.

Vinte minutos depois, aos 37 minutos, Jorge Mendonça iniciaria a jogada que acabou no segundo gol. Ele fez um lançamento longo para Rosemiro. O lateral, que pegou a defesa do Guarani desprevenida, cruzou e Carlos Alberto mergulhou de “peixinho”, fazendo 2 a 0 para o Palmeiras. Neneca ficou enfezado, foi tomar satisfações com o bandeirinha Renato de Oliveira Braga. No intervalo, o goleiro do Guarani utilizaria o microfone de uma rádio para dizer com todas as letras: “Eu paro de jogar bola, mas ainda estouro a cabeça de um F da P desses!”.

No segundo tempo, o Palmeiras chutou uma bola na trave através de Baroninho, e nada mais. Estava muito fácil.

 

O JOGO FOI ASSIM- PALMEIRAS 2, GUARANI 0

Palmeiras: Gilmar, Rosemiro, Beto Fuscão, Polozi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Luís Sílvio, Carlos Alberto (Nei) e Baroninho.

Guarani: Neneca, Flávio, Góes, Édson Magalhães e Caíca; Marinho, Renato e Zenon; Capitão, Careca (Miltão) e Bozó.

Juiz: José Luiz Guidotti

Renda: Cr$ 843.580,00

Público pagante: 14.924 pessoas

Gols: Luís Sílvio aos 17´e Carlos Alberto aos 37´do primeiro tempo.

 

Pasmem: até Beto Fuscão andou dando uma de clássico

 

PALMEIRAS

Gilmar- soltou uma bola, mas não teve trabalho. Quando exigido, mostrou-se tranquilo.

Rosemiro- com suas descidas velozes, sempre levou pânico à defesa do Guarani. Atravessa uma grande fase.

Beto Fuscão- Tranquilo, marcou Careca em cima. E ainda encontrou tempo para fazer jogadas clássicas.

Polozi- jogou na sobra, quer dizer, não jogou. Raramente o ataque do Guarani chegou até ele.

Pedrinho- não tomou conhecimento de Capitão. Foi à frente, fez uma bela jogada (quase gol) e ainda sofreu um pênalti.

Pires- grudou em Renato como um carrapato. E venceu o duelo.

Mococa- sem ser um craque, anulou Zenon, cumprindo à risca do que havia determinado Telê Santana. Deu liberdade a Jorge Mendonça.

Jorge Mendonça- não brilhou, mas de seus pés saíram os dois gols do Palmeiras. Está aprimorando os lançamentos.

Luís Sílvio- veloz, mas foi o mais fraco do time.

Carlos Alberto- abriu espaços e demonstrou um incrível senso de oportunismo ao marcar o segundo gol.

Nei- não chegou a participar.

Baroninho- um lutador. E ainda mandou duas bolas na trave do Guarani.

 

GUARANI

Neneca- inseguro em relação a sua própria defesa, andou soltando bolas. E uma delas importante: a do primeiro gol do Palmeiras.

Flávio- muito fraco. Perdeu a maioria das bolas para Baroninho, sempre vencido pela velocidade do ponta palmeirense.

Góes- acabou caindo na armadilha e sendo levado para fora da área por Carlos Alberto. Apelou para a violência.

Edson Magalhães- ainda tentou fazer alguma coisa como, por exemplo, faltas. No fim, cansou e também apelou.

Caíca- completamente envolvido pelas descidas de Rosemiro, para quem Luís Sílvio abria espaços. E ele caiu nessa.

Marinho- o único jogador que se salvou no time do Guarani. Combateu, demonstrou fibra mas, só, não poderia fazer nada.

Renato- parecia uma barata tonta. Foi completamente anulado por Pires, que não precisou fazer muito esforço para tanto.

Zenon- é inconcebível um jogador com a sua fama – e salário- ter tamanha desconsideração desconsideração pela torcida. O que Zenon apresentou ontem o coloca no nível de um cabeça-de-bagre.

Capitão- anulado por Pedrinho e ainda fugiu das divididas.

Careca- outra droga.

Miltão- lutou, mas é o jogador de parcos recursos.

Bozó- como sempre, nervosinho. Limitou o seu já limitado futebol a uma botinada aqui, uma reclamação acolá.

 

Publicado originalmente no Jornal da República em 20 de outubro de 1979, edição 55

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