O Palmeiras merecia bem mais que os 2 a 0
Sem fazer muito esforço, a “matriz” demoliu a filial. Dos dois times de verde somente um jogo futebol: o Guarani esteve lamentável
TONICO DUARTE
“É mesmo hoje a matriz
joga com a filial” – dizia o motorista de táxi Antônio Benedito de Jesus,
são-paulino, na porta do Parque Antártica. Matriz e filial, porcão e porquinho,
as torcidas de Palmeiras e Guarani tomam um cuidado redobrado quando os times
se enfrentam. É um perigo – e um vexame – confundir os dois times. Os uniformes
são absolutamente iguais e alguns jogadores são até parecidos, de longo, caso
de Renato e Baroninho.
Ontem foi o dia da
matriz. Nunca foi tão fácil para o Palmeiras vencer o Guarani, e 2 a 0 traduz
muito pouco da superioridade do time de Telê Santana. Quisesse, o Palmeiras
teria aplicado uma goleada histórica na filial e descontaria a final do
campeonato brasileiro do ano passado, o que ainda anda atravessado na garganta
de muitos palmeirenses.
Com 5 minutos de jogo,
chegou o César, lembram dele? O “maluco”, ex-centroavante daquele time que
começava por Leão, terminava por Nei, e tinha Luís Pereira, Ademir da Guia e
Leivinha tinindo. Camisa xadrez apertada na barriga (grande, por sinal),
corrente de prata aparecendo no peito, César ainda é ídolo da torcida. É
abraçado, dá autógrafos, joga beijos para as sociais, como se estivesse
jogando. E tece de lá o prognóstico:
“O meu coração é verde”
– diz, num gesto largo. “Mas é verde de Palmeiras. Amo esse time e hoje nós
vamos dar nessa bugrada de uns cinco, que é pra eles deixarem de ser bestas”.
César se diz um
pé-quente, o que na prática acabou sendo verdade. Logo depois de sua chegada,
Rosemiro aplica um drible em Caíca, cruza para Luís Silvio, e Góes salva um gol
feito. Aos 13 minutos, Baroninho cobra uma falta com extraordinária violência e
a bola choca-se com a quina da trave, para a perplexidade de Neneca. Era o gol
do Palmeiras amadurecendo.
E ele não tardou a
acontecer. Aos 17 minutos, Góes fez uma falta em Jorge Mendonça na entrada da
área, bem como gosta o atacante palmeirense. O próprio Mendonça cobrou com
muito efeito, Neneca soltou, e Luís Sílvio, que vinha na corrida, fez 1 a 0.
Vinte minutos depois,
aos 37 minutos, Jorge Mendonça iniciaria a jogada que acabou no segundo gol.
Ele fez um lançamento longo para Rosemiro. O lateral, que pegou a defesa do
Guarani desprevenida, cruzou e Carlos Alberto mergulhou de “peixinho”, fazendo
2 a 0 para o Palmeiras. Neneca ficou enfezado, foi tomar satisfações com o
bandeirinha Renato de Oliveira Braga. No intervalo, o goleiro do Guarani
utilizaria o microfone de uma rádio para dizer com todas as letras: “Eu paro de
jogar bola, mas ainda estouro a cabeça de um F da P desses!”.
No segundo tempo, o
Palmeiras chutou uma bola na trave através de Baroninho, e nada mais. Estava
muito fácil.
O JOGO FOI ASSIM-
PALMEIRAS 2, GUARANI 0
Palmeiras: Gilmar,
Rosemiro, Beto Fuscão, Polozi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Luís
Sílvio, Carlos Alberto (Nei) e Baroninho.
Guarani: Neneca,
Flávio, Góes, Édson Magalhães e Caíca; Marinho, Renato e Zenon; Capitão, Careca
(Miltão) e Bozó.
Juiz: José Luiz
Guidotti
Renda: Cr$ 843.580,00
Público pagante: 14.924
pessoas
Gols: Luís Sílvio aos
17´e Carlos Alberto aos 37´do primeiro tempo.
Pasmem: até Beto Fuscão
andou dando uma de clássico
PALMEIRAS
Gilmar- soltou uma
bola, mas não teve trabalho. Quando exigido, mostrou-se tranquilo.
Rosemiro- com suas
descidas velozes, sempre levou pânico à defesa do Guarani. Atravessa uma grande
fase.
Beto Fuscão- Tranquilo,
marcou Careca em cima. E ainda encontrou tempo para fazer jogadas clássicas.
Polozi- jogou na sobra,
quer dizer, não jogou. Raramente o ataque do Guarani chegou até ele.
Pedrinho- não tomou
conhecimento de Capitão. Foi à frente, fez uma bela jogada (quase gol) e ainda
sofreu um pênalti.
Pires- grudou em Renato
como um carrapato. E venceu o duelo.
Mococa- sem ser um
craque, anulou Zenon, cumprindo à risca do que havia determinado Telê Santana.
Deu liberdade a Jorge Mendonça.
Jorge Mendonça- não
brilhou, mas de seus pés saíram os dois gols do Palmeiras. Está aprimorando os
lançamentos.
Luís Sílvio- veloz, mas
foi o mais fraco do time.
Carlos Alberto- abriu
espaços e demonstrou um incrível senso de oportunismo ao marcar o segundo gol.
Nei- não chegou a
participar.
Baroninho- um lutador.
E ainda mandou duas bolas na trave do Guarani.
GUARANI
Neneca- inseguro em
relação a sua própria defesa, andou soltando bolas. E uma delas importante: a
do primeiro gol do Palmeiras.
Flávio- muito fraco.
Perdeu a maioria das bolas para Baroninho, sempre vencido pela velocidade do
ponta palmeirense.
Góes- acabou caindo na
armadilha e sendo levado para fora da área por Carlos Alberto. Apelou para a
violência.
Edson Magalhães- ainda
tentou fazer alguma coisa como, por exemplo, faltas. No fim, cansou e também
apelou.
Caíca- completamente
envolvido pelas descidas de Rosemiro, para quem Luís Sílvio abria espaços. E
ele caiu nessa.
Marinho- o único
jogador que se salvou no time do Guarani. Combateu, demonstrou fibra mas, só,
não poderia fazer nada.
Renato- parecia uma
barata tonta. Foi completamente anulado por Pires, que não precisou fazer muito
esforço para tanto.
Zenon- é inconcebível
um jogador com a sua fama – e salário- ter tamanha desconsideração
desconsideração pela torcida. O que Zenon apresentou ontem o coloca no nível de
um cabeça-de-bagre.
Capitão- anulado por
Pedrinho e ainda fugiu das divididas.
Careca- outra droga.
Miltão- lutou, mas é o
jogador de parcos recursos.
Bozó- como sempre, nervosinho.
Limitou o seu já limitado futebol a uma botinada aqui, uma reclamação acolá.
Publicado originalmente
no Jornal da República em 20 de
outubro de 1979, edição 55
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