CORINTHIANS 2, BOTAFOGO 0
Ah, se não fosse o
bandeirinha de Nabi...
Um gol de Vaguinho em
impedimento abriu as portas para uma vitória que parecia impossível. Será que
agora Matheus faz as pazes com Nabi?
RICARDO KOTSCHO
Os muito fanáticos que
me perdoem, mas desta vez o Corinthians não pode colocar a culpa no Nabi. Se
ele não tivesse mandado um certo Márcio Campos Salles, devidamente acompanhado
do bandeira vermelha Douglas Gonçalves Las Casas para apitar o jogo de ontem de
manhã contra o Botafogo, não haveria mandado de segurança que desse jeito. Já
desclassificado e sem nenhuma motivação, o time de Ribeirão Preto deu um banho
de bola no primeiro tempo, perdeu vários gols e seu meio-campo envolveu
completamente o do Corinthians. Até que, aos 42 minutos, um lançamento de
Caçapava alcançou Vaguinho em escandaloso impedimento. A dupla Campos Salles-Las
Casas mandou a jogada prosseguir e, depois do gol, embora o bandeirinha tivesse
sido encurralado na lateral do campo, xingado de todo jeito, quase levando uns
tapas, o juiz não teve coragem de mostrar sequer um cartão amarelo. Durante
toda a partida, a dupla que Nabi mandou para o Pacaembu fez o possível para
ajudar o Corinthians, invertendo arremessos laterais e faltas, marcando perigo
de gol cada vez que o Botafogo se aproximava da área, sem o menor
constrangimento. Se Matheus não fizer as pazes com Nabi agora, nunca mais.
Descendo as ladeiras do
Pacaembu com suas enormes bandeiras, gritando Corinthians duas horas antes do
jogo começar, a torcida que sozinha lotou o estádio parece que está perdendo a
paciência. Em 25 minutos de jogo, com Caçapava perdido em campo, o Corinthians
só havia dado um chute a gol – uma falta mal cobrada por Sócrates.
Colocado no meio de
toda em sucessíveis triangulações do Botafogo, Palhinha valeu-se das suas
imunidades de presidente do sindicato dosa jogadores e deu uma violenta pancada
em Zé Cláudio, obrigando Campos Salles a lhe mostrar o cartão amarelo.
A coisa estava tão feia
que ainda no primeiro tempo a torcida já estava pedindo Piter no lugar de
Vaguinho, o amigo de Matheus que o técnico nenhum tem coragem de tirar do time.
E não é que o
Corinthians voltou para o segundo tempo disposto a desonroso resultado, fazendo
cera? Talvez a brincadeira de tocar a bola para o lado e para trás fosse mesmo
até o final, se aos 7 minutos, o destino não viesse ajudar Jorge Vieira (até
aí, nada indicava que Teixeira não fosse mais o técnico do Corinthians). Romeu
se machucou e o Corinthians passou a jogar oficialmente sem ponta-esquerda,
entrando Geraldão em seu lugar. O Botafogo dá mais um susto na calada torcida
do Corinthians aos 12 minutos, com um chute de Zito lá do meio do campo, que
Jairo ficou só vendo passar raspando a trave. Mas, a partir daí, o time acorda:
Geraldão faz todo o ataque se mexer mais. Ele só não consegue dar jeito na
defesa e, aos 19 minutos, o pequeno e ciscador Osni consegue cabecear sozinho
dentro da área, enquanto Zé Eduardo fica catando mosca. Ainda bem que a bola
vai em cima de Jairo, que amortece a cabeçada na sua elegante camisa
azul-maravilha.
A torcida se levanta
aos 22 minutos e não é para xingar ninguém. Em sua primeira boa jogada na
partida, Sócrates acerta uma meia-bicicleta que Altevir rebate de susto. Como
seu antecessor Teixeira, Jorge Vieira resolve atender aos apelos da torcida e
coloca Pites no lugar de Vagunho aos 27 minutos. Matheus pode não gostar, mas a
torcida gosta – e Piter entra com tudo.
Logo na sua primeira
jogada, ele recupera a bola no meio do campo e lança Geraldão caído pela
esquerda. Piter é uma espécie de talismã da torcida e dos técnicos do
Corinthians. Embora entre sempre no final do jogo, é um dos artilheiros do
time, com 9 gols. Longe de ser o que se costuma chamar de craque, Piter é o
tipo do jogador que agrada à torcida do Corinthians, como Geraldão: sua a
camisa e vai em todas.
Essa mesma torcida que
grita o nome de Piter, um salário-mínimo do futebol, não perdoa Sócrates. De
uns tempos para cá, depois de algumas passagens pela seleção do capitão
Coutinho, o Doutor não acerta nem suas célebres jogadas de calcanhar. O que
estará acontecendo? Sócrates é um desses malabaristas da bola, fino estilista,
que não adapta a esse campeonato engana-trouxa.
Ao receber um passe de
Geraldão, livre na ponta-esquerda, Sócrates centra para fora como um Vaguinho
qualquer e a fiel torcida não perdoa: chamam-no de “sem vergonha”, de
“mercenário”, e outros bichos.
A situação só não ficou
ainda pior para o Corinthians porque, aos 41 minutos, quando muita gente já
estava indo embora, Palhinha acertou a bola na trave, pegou o rebote e levantou
para a área: Piter vinha entrando pelo meio e acertou um belo sem-pulo no
ângulo, estufando a rede. No fim, apesar da vitória, ficou um nó na garganta da
grande torcida: até os mais fanáticos já devem ter percebido que seu time está
melhor de advogado (Eurico de Castro Parente, o homem das liminares que, aliás,
é são-paulino) do que de bola. Nas arquibancadas, jazia uma faixa: “Nabi,
comida de porco é lavagem, não dinheiro da Fiel”. Porco, como se sabe, é o
apelido carinhoso dado ao Palmeiras. Mas o dinheiro da Fiel, ontem, foi mais
uma vez jogado fora.
Os heróis estavam no
banco
Pites e Geraldão, que
entraram no segundo tempo, foram outra vez os melhores do Corinthians. Será que
isso já não é malandragem de técnico: escala dois pontas lamentáveis como
Vaguinho e Romeu, depois saca os dois e ganha fama de grande estrategista? Seja
lá como for, quem garantiu mesmo a vitória ontem foi o bandeirinha Douglas
Gonçalves Las Casas: não marcando o impedimento de Vaguinho, lance que
praticamente decidiu o jogo, ele fez jus mais que ninguém ao Motorádio. Pode
passar no Parque São Jorge e pegar.
Corinthians
Jairo - Apesar do
tamanho, ainda meio inseguro. Cada vez que ele sai do gol, é um ano de vida que
o torcedor perde.
Zé Maria- Na peitada,
imbatível. Com a bola nos pés, um perigo para as duas torcidas: nunca sabe o
que vai acontecer.
Amaral - Sem saber se
dava cobertura a Zé Eduardo ou Zé Maria. Na dúvida, andou dando uns chutões.
Salvou a pátria corintiana.
Zé Eduardo – Procurou
sempre acertas na medalhinha: muito pontapé para pouco futebol. Péssimo na
entrega da bola.
Vladimir – O melhor da
defesa, foi também mais ponta do que Romeu. Esse, ninguém pode chamar de
mercenário.
Caçapava – Voltou com
uma saúde de fazer inveja. Só falta achar um lugar em campo para não correr à
toa.
Basílio – Parece que
entrou em campo contra a sua vontade. Domingo de manhã não deve ser seu forte.
Bom de rasteira, levou cartão.
Palhinha – Adepto do
jogo na horizontal. Jogou mais deitado do que de pé. Quando grita, o juiz
apita. Perdeu dois gols feitos.
Vaguinho – Do jeito que
vai, nem Matheus o segura no time. Deu lugar a Geraldão, que, no peito e na
raça, ganhou a torcida.
Sócrates – Vai mal o
Doutor. Parece que enjoou da bola e, quando a torcida pegou no seu pé,
perdeu-se de vez.
Romeu – Só quando se
machucou e foi substituído é que se percebeu que havia entrado em campo. Píter
entrou em seu lugar e fez a festa.
Botafogo
Altevir – Sempre bem
colocado, deu segurança à defesa.
Wilson Campos- Bom no
desarme e no apoio, cansou no segundo tempo.
Ney – Sem muita firula,
manteve a bola sempre longe da área.
Edson – O mesmo que
Ney: discreto e eficiente.
Beto – Anulou Vaguinho
e passou mal quando entrou Piter.
Miro – No começo, deu
boa cobertura à defesa: quando viu que o Corinthians não queria nada, foi à
frente tentar o gol.
Osmarzinho – O melhor
do Botafogo. Tomou conta do meio do campo, fez bons lançamentos e criou chances
de gol.
Zé Cláudio – Completou
bem o meio de campo, mas mostrou receio na hora de ir à frente, deixando Osni
sozinho.
Paulo César – Foi
anulado por Vladimir e saiu para o meio, sem êxito.
Osni – Bom no drible
curto, ciscou demais e perdeu boas chances de gol.
Zito – Pegou uma moleza
(Zé Maria) e não soube aproveitar. Fraco.
O JOGO FOI ASSIM:
Corinthians- Jairo; Zé
Maria, Amaral, Zé Eduardo e Vladimir; Caçapava, Basílio e Palhinha; Vaguinho
(Píter), Sócrates e Romeu (Geraldão).
Botafogo- Altevir;
Wilson Campos, Ney, Édson e Beto; Miro, Osmarzinho e Zé Cláudio; Paulo César,
Osni e Beto.
Juiz- Márcio Campos
Salles (péssimo, assim como seu bandeira vermelha Douglas Gonçalves Las Casas).
Renda – Cr$
2.357.520.000, com 40.706 pagantes (todos corintianos).
Gols- Vaguinho
(impedido), aos 42 minutos do primeiro tempo; e Piter aos 41 minutos do segundo
tempo.
Cartões amarelos- Zito, Palhinha (que fica fora do próximo jogo) e Basílio.
Publicado originalmente
no Jornal da República em 19 de
novembro de 1979, edição 72
Nenhum comentário:
Postar um comentário