quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Grandes matérias esportivas do Jornal da República: “A história da venda de Oscar para o Cosmos” (7/12/1979)

A história da venda de Oscar para o Cosmos


Os americanos estavam de olho no zagueiro desde a Copa. Pelé participou da transação

 

JOSÉ MEIRELLES PASSOS

 

Quando o presidente do São Paulo FC, Antônio Leme Galvão, chegou à sede da Ponte Preta, acompanhado do diretor José Douglas Dallora mais no técnico Mário Juliato, a diretoria do clube de Campinas já estava conversando há pelo menos meia hora com o pessoal do New York Cosmos. O assunto era o mesmo: a compra do zagueiro Oscar. O Cosmos ganhou a partida. E, segundo seu principal representante, o economista José Roberto Xisto, o motivo foi simples: objetividade. “Quando o Galvão chegou, os diretores da Ponte pediram licença para atender os são paulinos. Ficamos na sala ao lado, e ouvi aquela conversa mole de sempre, a política do pisa macio. Duas horas de conversa e os caras nem deram preço. Cartola brasileiro é isso aí...”, contou Xisto, ontem à tarde, pouco antes de embarcar para Nova York, Xisto e Edevar Sérgio Nicoletti, ex-goleiro do Santos, são funcionários da Pelé S.A. Na verdade, são os que costuma chamar de “braço-direito” dele. Assim que a direção do Cosmos decidiu pela contratação, deixou tudo na mão de Pelé. “Desde a Copa do Mundo estávamos de olho no Oscar”, disse Xisto. Ele explicou que, a princípio, o time de Warner Bros, só queria comprar “estrelas”, por uma questão de marketing: “Agora, estamos iniciando um processo de reformulação, e vamos montar um verdadeiro time. Um bom time. Talvez a gente até compre mais um brasileiro”.

A conversa com os dirigentes da Ponte Preta foi longa, das 22 horas de quarta-feira até ás 4 da manhã de ontem. Os campineiros pediam 20 milhões de cruzeiros pelo passe, enquanto os norte-americanos dispunham-se a pagar 12 milhões de cruzeiros. Por fim, ambas as partes cederam – se bem que, os gringos tenham levado vantagem: “Acabamos acertando em torno de 16 milhões de cruzeiros (500 mil dólares) e a Ponte concordou ainda em jogar duas partidas nos Estados Unidos, gratuitamente. Nós pagaremos hotel e as passagens”, contou Xisto. Segundo ele, a ideia é promover – numa data a ser fixada, entre abril e outubro do ano que vem – um quadrangular em Nova York, entre Cosmos, Ponte, possivelmente o Ajax da Holanda e mais um clube norte-americano: “Em cada jogo desses a gente consegue colocar pelo menos 40 mil pessoas no estádio”, afirmou o representante Pelé-Cosmos.

Oscar viajará para os Estados Unidos dia 17. No dia seguinte, assinará o contrato (dois anos, a 20 mil dólares – 600 mil cruzeiros – por mês) e será apresentado à imprensa. Dia 19 ele retornará ao Brasil, para providenciar sua mudança. Como abriu mão dos 15% sobre o preço do passe, Oscar ainda fará um acordo com o Cosmos. De qualquer forma, segundo Xisto, ele já tem garantido passe livre após 2 anos, além de uma casa, um carro e “mordomias” durante o tempo que ficar em Nova York.

 

O velho problema da dor na virilha

Ontem, pela manhã, Oscar esteve no Hospital Santa Catarina, onde foi examinado pelo dr. Rafaeli. O problema é a dor na virilha, que o afastou da Seleção há três meses. Uma dor que afeta todos os ligamentos entre as pernas e que, algumas vezes, torna doloroso o simples movimento de descer da cama. Mas, embora os resultados dos exames não tenham sido divulgados em detalhes, sabe-se que esse problema não impedirá a transferência de Oscar, que, na madrugada de ontem, no gabinete do presidente da Ponte, dava até chutinhos no ar, para demonstrar que está em boas condições físicas. O técnico Zé Duarte, no entanto, durante o treino, de manhã, não fazia segredo aos repórteres:

- O jogador não está bom. O problema dele é sério. Talvez demore uns quatro meses para voltar a campo.

Quando percebeu que suas palavras estavam sendo anotadas, Zé Duarte tentou consertar:

- Mas acho que a medicina dos norte-americanos está muito avançada, e o Oscar vai conseguir uma recuperação rápida. Além disso, o campeonato lá só começa em abril.

Já o presidente da Ponte, Edson Aggio, naturalmente não queria nem ouvir falar na virilha de Oscar, temeroso de um revertério nas negociações. A transação, aliás, foi a melhor coisa que poderia acontecer para a nova diretoria do clube, eleita segunda-feira, e que ao tomar posse encontrou uma dívida de Cr$ 6 milhões deixada por Lauro Morais.

(*) Colaborou João Batista Olivi, de Campinas.

 

Publicado originalmente no Jornal da República em 7 de dezembro de 1979, edição 88

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