A história da venda de Oscar para o Cosmos
Os americanos estavam
de olho no zagueiro desde a Copa. Pelé participou da transação
JOSÉ MEIRELLES PASSOS
Quando o presidente do
São Paulo FC, Antônio Leme Galvão, chegou à sede da Ponte Preta, acompanhado do
diretor José Douglas Dallora mais no técnico Mário Juliato, a diretoria do
clube de Campinas já estava conversando há pelo menos meia hora com o pessoal
do New York Cosmos. O assunto era o mesmo: a compra do zagueiro Oscar. O Cosmos
ganhou a partida. E, segundo seu principal representante, o economista José
Roberto Xisto, o motivo foi simples: objetividade. “Quando o Galvão chegou, os
diretores da Ponte pediram licença para atender os são paulinos. Ficamos na
sala ao lado, e ouvi aquela conversa mole de sempre, a política do pisa macio.
Duas horas de conversa e os caras nem deram preço. Cartola brasileiro é isso
aí...”, contou Xisto, ontem à tarde, pouco antes de embarcar para Nova York,
Xisto e Edevar Sérgio Nicoletti, ex-goleiro do Santos, são funcionários da Pelé
S.A. Na verdade, são os que costuma chamar de “braço-direito” dele. Assim que a
direção do Cosmos decidiu pela contratação, deixou tudo na mão de Pelé. “Desde
a Copa do Mundo estávamos de olho no Oscar”, disse Xisto. Ele explicou que, a
princípio, o time de Warner Bros, só queria comprar “estrelas”, por uma questão
de marketing: “Agora, estamos iniciando um processo de reformulação, e vamos
montar um verdadeiro time. Um bom time. Talvez a gente até compre mais um
brasileiro”.
A conversa com os
dirigentes da Ponte Preta foi longa, das 22 horas de quarta-feira até ás 4 da
manhã de ontem. Os campineiros pediam 20 milhões de cruzeiros pelo passe,
enquanto os norte-americanos dispunham-se a pagar 12 milhões de cruzeiros. Por
fim, ambas as partes cederam – se bem que, os gringos tenham levado vantagem:
“Acabamos acertando em torno de 16 milhões de cruzeiros (500 mil dólares) e a
Ponte concordou ainda em jogar duas partidas nos Estados Unidos, gratuitamente.
Nós pagaremos hotel e as passagens”, contou Xisto. Segundo ele, a ideia é
promover – numa data a ser fixada, entre abril e outubro do ano que vem – um
quadrangular em Nova York, entre Cosmos, Ponte, possivelmente o Ajax da Holanda
e mais um clube norte-americano: “Em cada jogo desses a gente consegue colocar
pelo menos 40 mil pessoas no estádio”, afirmou o representante Pelé-Cosmos.
Oscar viajará para os
Estados Unidos dia 17. No dia seguinte, assinará o contrato (dois anos, a 20
mil dólares – 600 mil cruzeiros – por mês) e será apresentado à imprensa. Dia
19 ele retornará ao Brasil, para providenciar sua mudança. Como abriu mão dos
15% sobre o preço do passe, Oscar ainda fará um acordo com o Cosmos. De
qualquer forma, segundo Xisto, ele já tem garantido passe livre após 2 anos,
além de uma casa, um carro e “mordomias” durante o tempo que ficar em Nova
York.
O velho problema da dor
na virilha
Ontem, pela manhã,
Oscar esteve no Hospital Santa Catarina, onde foi examinado pelo dr. Rafaeli. O
problema é a dor na virilha, que o afastou da Seleção há três meses. Uma dor
que afeta todos os ligamentos entre as pernas e que, algumas vezes, torna
doloroso o simples movimento de descer da cama. Mas, embora os resultados dos
exames não tenham sido divulgados em detalhes, sabe-se que esse problema não
impedirá a transferência de Oscar, que, na madrugada de ontem, no gabinete do
presidente da Ponte, dava até chutinhos no ar, para demonstrar que está em boas
condições físicas. O técnico Zé Duarte, no entanto, durante o treino, de manhã,
não fazia segredo aos repórteres:
- O jogador não está
bom. O problema dele é sério. Talvez demore uns quatro meses para voltar a
campo.
Quando percebeu que
suas palavras estavam sendo anotadas, Zé Duarte tentou consertar:
- Mas acho que a
medicina dos norte-americanos está muito avançada, e o Oscar vai conseguir uma
recuperação rápida. Além disso, o campeonato lá só começa em abril.
Já o presidente da
Ponte, Edson Aggio, naturalmente não queria nem ouvir falar na virilha de
Oscar, temeroso de um revertério nas negociações. A transação, aliás, foi a
melhor coisa que poderia acontecer para a nova diretoria do clube, eleita
segunda-feira, e que ao tomar posse encontrou uma dívida de Cr$ 6 milhões
deixada por Lauro Morais.
(*) Colaborou João
Batista Olivi, de Campinas.
Publicado originalmente
no Jornal da República em 7 de
dezembro de 1979, edição 88
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