sábado, 12 de agosto de 2023

NENÊ A BORDO (Placar 943, 1º de julho de 1988)

 


Nenê a Bordo (Placar 943,1º de julho de 1988)

 

As locomotivas de Ênio Andrade querem atropelar os rivais na reta final e o zagueiro é uma das armas

 

Por Mário Sérgio Venditti

 

Qual a semelhança entre o zagueiro Nenê, do Palmeiras, e a nova novela global Nenê a Bordo? Enquanto a pequena Heleninha inferniza a vida de Ana (Isabela Garcia) e Tonico (Tony Ramos) na telinha, Nenê tira o sossego dos atacantes adversários em campo. Só isso? Não. Ao chegar em casa, depois dos treinos do período da tarde, Nenê liga a televisão e se diverte com as trapalhadas do jovem casal. Com o passar dos capítulos, ele começou a perceber que a sua carreira poderia render também um bom enredo para novela.

 

No começo do ano, Nenê esperou dois meses até os cartolas palmeirenses resolverem realmente contratá-lo. Era muito tititi, que lhe acabou causando uma verdadeira hipertensão. Os dirigentes relutavam em desembolsar 15 milhões de cruzados pedidos pelo Juventus. Mas, para seu alívio, concordaram em pagar. Nenê já havia defendido o Palmeiras por empréstimo na Copa União. “Foi difícil mostrar o meu potencial em apenas três meses”, choraminga.

 

Nesse curto espaço de tempo, porém, recebeu grandes demonstrações de carinho da torcida e quis devolver tudo com seu futebol de raça e coragem. Afinal, amor com amor se paga. Ao voltar a seu berço de origem, a Rua Javari, decidiu que não vestiria mais a camisa do Juventus. E esperou a concretização do negócio com o Palmeiras.

 

Nenê, é verdade, não era bem-amado pelos corneteiros. Sem espernear, superou mais esta roda de fogo. “Todos os jogadores são cobrados no Palmeiras”, conforma-se. “Procuro sempre levar as críticas para o lado positivo”. Iniciou, então, sua escalada. Mostrou seriedade em todas as jogadas, sem plumas e paetês. Nenhum centroavante ousa mais ficar sassaricando a sua frente. Leva vantagem nos lances de corpo a corpo graças a seus 1,87 m e 83 kg. Passou a representar também a figura de um anjo mau aos inimigos nas cobranças de escanteio. Diante de Noroeste e Portuguesa, acertou duas cabeçadas brilhantes que deram a vitória ao Palmeiras.

 

Apesar do apelido infantil, Nílton Rodrigues Felão Júnior, 25 anos, tem uma saúde de cavalo de aço. Com ela, Nenê só pensa em ajudar o Palmeiras a encerrar, com final feliz, a arrastada novela de onze anos sem títulos. Acha que está na hora de parar de encher linguiça. Para isso, avisa que vale tudo – menos cambalacho. As locomotivas de Ênio Andrade querem atropelar os adversários na reta final. E com Nenê a bordo.

 


Publicado originalmente na revista Placar 943 em 1º de julho de 1988

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