Nenê a Bordo (Placar 943,1º de julho de
1988)
As locomotivas de Ênio Andrade querem atropelar os
rivais na reta final e o zagueiro é uma das armas
Por Mário Sérgio Venditti
Qual a semelhança entre o zagueiro Nenê, do
Palmeiras, e a nova novela global Nenê a Bordo? Enquanto a pequena Heleninha
inferniza a vida de Ana (Isabela Garcia) e Tonico (Tony Ramos) na telinha, Nenê
tira o sossego dos atacantes adversários em campo. Só isso? Não. Ao chegar em
casa, depois dos treinos do período da tarde, Nenê liga a televisão e se
diverte com as trapalhadas do jovem casal. Com o passar dos capítulos, ele
começou a perceber que a sua carreira poderia render também um bom enredo para
novela.
No começo do ano, Nenê esperou dois meses até os
cartolas palmeirenses resolverem realmente contratá-lo. Era muito tititi, que
lhe acabou causando uma verdadeira hipertensão. Os dirigentes relutavam em desembolsar
15 milhões de cruzados pedidos pelo Juventus. Mas, para seu alívio, concordaram
em pagar. Nenê já havia defendido o Palmeiras por empréstimo na Copa União. “Foi
difícil mostrar o meu potencial em apenas três meses”, choraminga.
Nesse curto espaço de tempo, porém, recebeu
grandes demonstrações de carinho da torcida e quis devolver tudo com seu
futebol de raça e coragem. Afinal, amor com amor se paga. Ao voltar a seu berço
de origem, a Rua Javari, decidiu que não vestiria mais a camisa do Juventus. E
esperou a concretização do negócio com o Palmeiras.
Nenê, é verdade, não era bem-amado pelos corneteiros.
Sem espernear, superou mais esta roda de fogo. “Todos os jogadores são cobrados
no Palmeiras”, conforma-se. “Procuro sempre levar as críticas para o lado positivo”.
Iniciou, então, sua escalada. Mostrou seriedade em todas as jogadas, sem plumas
e paetês. Nenhum centroavante ousa mais ficar sassaricando a sua frente. Leva
vantagem nos lances de corpo a corpo graças a seus 1,87 m e 83 kg. Passou a
representar também a figura de um anjo mau aos inimigos nas cobranças de escanteio.
Diante de Noroeste e Portuguesa, acertou duas cabeçadas brilhantes que deram a
vitória ao Palmeiras.
Apesar do apelido infantil, Nílton Rodrigues Felão
Júnior, 25 anos, tem uma saúde de cavalo de aço. Com ela, Nenê só pensa em
ajudar o Palmeiras a encerrar, com final feliz, a arrastada novela de onze anos
sem títulos. Acha que está na hora de parar de encher linguiça. Para isso, avisa
que vale tudo – menos cambalacho. As locomotivas de Ênio Andrade querem atropelar
os adversários na reta final. E com Nenê a bordo.
Publicado originalmente na revista Placar 943
em 1º de julho de 1988
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