sexta-feira, 11 de agosto de 2023

MERECIDA RECOMPENSA (Placar 931, 8 de abril de 1988)

 Merecida Recompensa (Placar 931, 8 de abril de 1988)

 


Ditinho Souza torna-se o novo titular da ponta-esquerda alviverde depois de um ano de muita luta

 

Por Mário Sérgio Venditti

 

Há um ano, quando veio para o Parque Antártica, Ditinho Souza sabia que tinha uma parada dura pela frente. Emprestado pelo CSA, de Alagoas, chegava para ajudar o Palmeiras a tentar a interromper um longo jejum de conquistas. De quebra, disputaria a camisa 11 com Mauro – aclamado como um dos melhores pontas-esquerdas do estado até então.

 

E ele teve de esperar quase todo esse tempo para ganhar a chance de mostrar sua utilidade ao clube. Isso só aconteceu depois que Mauro caiu em desgraça junto aos torcedores e aos famosos corneteiros alviverdes. Intranquilo, o ex-ponte pretano perdeu o lugar na equipe. O técnico Rubens Minelli, então, resolveu recorrer ao pequeno Ditinho Souza, de 1,66 metro de altura e 62 kg. Não se arrependeu.

 

Entrando no segundo tempo da difícil partida contra o Juventus – na terceira rodada do Campeonato Paulista -, ele abriu o caminho para a vitória de 2 x 1 com uma certeira cabeçada. Rápido e driblador, mostrou-se uma eficiente arma para ser usada em contra-ataques. Ganhou a preferência de Minelli – e também da torcida. Mauro, o ex-titular, acabou trocado pelo ponta-esquerda do Pinheiros, Marquinhos, que pode ir para a Itália em junho.

 

Assim, o caminho está aberto para Ditinho Souza, 23 anos. Ele sabe disso e promete não deixar nada atrapalhá-lo. Nem mesmo o barulho das cornetas de plantão. “Não me deixo influenciar”, garante. “Nunca fui de dar bola para o que dizem”. Se for verdade, o tempo dirá. Mas não será por falta de ânimo que este paulista de Espírito Santo do Pinhal fracassará em sua tentativa de sucesso.

 

Já no final de 1987 ele mostrava tanto empenho nos treinamentos que conseguiu realizar uma façanha. Convenceu os cartolas a pagarem os 2 milhões de cruzados exigidos pelo CSA, mesmo tendo jogado pouquíssimas vezes pelo time titular.

 

VIDA NOVA – Ao receber a notícia de sua contratação em definitivo, o jovem Benedito Luís Souza e Silva teve a certeza de estar começando vida nova. “No Palmeiras, ganho o triplo do que receberia no Nordeste”, comemora. Sua situação financeira, porém, está longe do ideal. Ditinho só anda de ônibus em São Paulo e mora num modesto apartamento alugado no bairro do Bom Retiro. “Não dirijo porque bati o carro do meu pai quando tinha 14 anos e fiquei traumatizado”, justifica.

 

Amassar o carro do velho Benedito foi uma das muitas peripécias do menino Ditinho em sua cidade natal. Sétimo filho de uma família de nove irmãos, surpreendeu a todos ao tentar a sorte no futebol em Alagoas, depois de jogar a Segunda Divisão paulista pelo Ginásio Pinhalense. Menos ao pai – hoje presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade -, que foi seu primeiro técnico no Paineira, um time amador local. Nem agora, que o filho atua como profissional, Benedito abandona os cuidados de antigamente. “Ele não me deixa participar das peladas de rua com a molecada”, conta Ditinho. “Tem medo de que eu me machuque”.

 


Não seria necessária toda essa precaução. Nos dias de folga, o jogador viaja 198 km até Espírito Santo do Pinhal, para rever Thiago, seu filho de 2 anos, que vive com a mãe, Suzana. Fora isso, as maiores atenções, ele sabe, têm de ser dedicadas à carreira. A hora é de continuar mostrando o mesmo futebol voluntarioso e aplicado que lhe garante a posição até aqui. E o recém-chegado Marquinhos pode ajudar nisso. “Com ele na briga”, explica Ditinho, “eu fico mais animado”.

 

Publicado originalmente na revista Placar 931 em 8 de abril de 1988

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