Merecida Recompensa (Placar 931, 8 de abril de 1988)
Ditinho Souza torna-se o novo titular da ponta-esquerda
alviverde depois de um ano de muita luta
Por Mário Sérgio Venditti
Há um ano, quando veio para o Parque Antártica,
Ditinho Souza sabia que tinha uma parada dura pela frente. Emprestado pelo CSA,
de Alagoas, chegava para ajudar o Palmeiras a tentar a interromper um longo jejum
de conquistas. De quebra, disputaria a camisa 11 com Mauro – aclamado como um
dos melhores pontas-esquerdas do estado até então.
E ele teve de esperar quase todo esse tempo para
ganhar a chance de mostrar sua utilidade ao clube. Isso só aconteceu depois que
Mauro caiu em desgraça junto aos torcedores e aos famosos corneteiros
alviverdes. Intranquilo, o ex-ponte pretano perdeu o lugar na equipe. O técnico
Rubens Minelli, então, resolveu recorrer ao pequeno Ditinho Souza, de 1,66
metro de altura e 62 kg. Não se arrependeu.
Entrando no segundo tempo da difícil partida
contra o Juventus – na terceira rodada do Campeonato Paulista -, ele abriu o
caminho para a vitória de 2 x 1 com uma certeira cabeçada. Rápido e driblador,
mostrou-se uma eficiente arma para ser usada em contra-ataques. Ganhou a
preferência de Minelli – e também da torcida. Mauro, o ex-titular, acabou
trocado pelo ponta-esquerda do Pinheiros, Marquinhos, que pode ir para a Itália
em junho.
Assim, o caminho está aberto para Ditinho Souza,
23 anos. Ele sabe disso e promete não deixar nada atrapalhá-lo. Nem mesmo o
barulho das cornetas de plantão. “Não me deixo influenciar”, garante. “Nunca
fui de dar bola para o que dizem”. Se for verdade, o tempo dirá. Mas não será
por falta de ânimo que este paulista de Espírito Santo do Pinhal fracassará em
sua tentativa de sucesso.
Já no final de 1987 ele mostrava tanto empenho nos
treinamentos que conseguiu realizar uma façanha. Convenceu os cartolas a
pagarem os 2 milhões de cruzados exigidos pelo CSA, mesmo tendo jogado
pouquíssimas vezes pelo time titular.
VIDA NOVA – Ao receber a notícia de sua contratação
em definitivo, o jovem Benedito Luís Souza e Silva teve a certeza de estar
começando vida nova. “No Palmeiras, ganho o triplo do que receberia no Nordeste”,
comemora. Sua situação financeira, porém, está longe do ideal. Ditinho só anda
de ônibus em São Paulo e mora num modesto apartamento alugado no bairro do Bom
Retiro. “Não dirijo porque bati o carro do meu pai quando tinha 14 anos e
fiquei traumatizado”, justifica.
Amassar o carro do velho Benedito foi uma das
muitas peripécias do menino Ditinho em sua cidade natal. Sétimo filho de uma
família de nove irmãos, surpreendeu a todos ao tentar a sorte no futebol em
Alagoas, depois de jogar a Segunda Divisão paulista pelo Ginásio Pinhalense.
Menos ao pai – hoje presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade
-, que foi seu primeiro técnico no Paineira, um time amador local. Nem agora,
que o filho atua como profissional, Benedito abandona os cuidados de
antigamente. “Ele não me deixa participar das peladas de rua com a molecada”,
conta Ditinho. “Tem medo de que eu me machuque”.
Não seria necessária toda essa precaução. Nos dias
de folga, o jogador viaja 198 km até Espírito Santo do Pinhal, para rever
Thiago, seu filho de 2 anos, que vive com a mãe, Suzana. Fora isso, as maiores
atenções, ele sabe, têm de ser dedicadas à carreira. A hora é de continuar
mostrando o mesmo futebol voluntarioso e aplicado que lhe garante a posição até
aqui. E o recém-chegado Marquinhos pode ajudar nisso. “Com ele na briga”,
explica Ditinho, “eu fico mais animado”.
Publicado originalmente na revista Placar
931 em 8 de abril de 1988
Nenhum comentário:
Postar um comentário