sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Playboy entrevista Amaury Jr. (junho de 2015)

Playboy entrevista Amaury Jr. (junho de 2015)


 

Uma conversa franca com um dos maiores e mais longevos apresentadores da TV sobre sexo, drogas, prostitutas, bebidas ruins, ressacas, vaidade, brochadas, casamento gay, Ana Maria Braga, lança-perfume e o dia em que o Pavarotti arrotou na cara dele

 

É impossível não o reconhecer a quilômetros de distância. Com sua entonação particular, que já rendeu paródias diversas em programas de humor, Amaury Jr. está há 34 anos no ar como um símbolo de sofisticação. Quando ele está num evento, é sinal de que parte do PIB local também está por perto, ou que ali estão as pessoas badaladas ou aquela é uma das festas mais divertidas da cidade. Por meio de seu programa, vem documentando as transformações na noite, na política e na sociedade. Começou com o Flash, breve coluna eletrônica na TV Gazeta, em 1981. O nome, o tamanho e o formato mudaram com o tempo. Ficou 16 anos na Rede Bandeirantes, passou pela Record e está há 12 na RedeTV!, por onde vai ao ar nas madrugadas de terça a sexta e no fim de tarde aos sábados. A desenvoltura com artistas, políticos e personagens que circulam pela noite, sempre depois do primeiro drinque, foi se aprimorando. Aos poucos, quebrou preconceitos e transformou-se em um dos jornalistas mais bem relacionados do país.


Amaury de Assis Ferreira Júnior, nascido em Catanduva, mas criado em São José do Rio Preto – ambas cidades do interior de São Paulo -, em 1950, ralou bastante antes de ser conhecido. Entre a mãe, professora do extinto curso de admissão, que hoje vive com ele, o pai filólogo, já falecido, e o único irmão Sérgio, Amaury começou cedo a trabalhar. Criança, lia os gibis e revendia na porta do cinema da cidade. Formou-se em direito para agradar ao pai, mas nunca exerceu – já era jornalista quando pegou seu diploma. Teve coluna em jornal diário, fez documentários, promoveu gincanas na TV, criou seu próprio jornal e, em 1978, veio para São Paulo. Chegou a trabalhar com hard news na TV Tupi, em revista masculina, rádio e fez de tudo um pouco até emplacar o Flash. Ali começou a virar o Amaury Jr. Com 21 anos, ainda em Rio Preto, conheceu Celina, que quatro anos depois virou sua esposa, passou todos esses anos como sua fiel escudeira na vida e na carreira e hoje trabalha com ele. Com ela, teve dois filhos, Amaury e Mara Eduarda, que lhe deram quatro netos, com idades entre 2 meses e 5 anos.

 

Amaury Jr. conversou com o editor Jardel Sebba em seu escritório, na região dos Jardins, bairro nobre paulistano, na sede de sua produtora, a Callme Comunicações, fundada em 1979. Foram três sessões de conversa entre muitos cigarros, de papel ou eletrônicos. Amaury é afável, simpático e bem mais interessante que o personagem que o consagrou na TV. Gosta, de fato, de uma boa conversa, característica essencial para o seu trabalho. Tenta controlar os palavrões, que são muitos, mas nem sempre consegue. E é de uma gentileza ímpar, quase sedutora, mesmo quando trata de assuntos ásperos. O melhor das quase nove horas de conversa você confere aqui.

 

O seriado global Minha Nada Mole Vida (2006), com o Luiz Fernando Guimarães, fazia um certo deboche com o seu jeito no ar. Aquilo nunca incomodou você?

Nunca. E o Amaury Dumbo, do Pânico? Quer mais pesado que aquilo? Achava o Minha Nada Mole Vida o máximo. Esse tipo de coisa só faz bem ao programa. Por mais mal que falem.

 

Mas você viu algum dos seus defeitos ali?

Eu comprei o DVD, tenho todos, e assisti a vários. Mas eles falavam de um repórter articulador de jabás, e não me vi como jabazeiro, nunca. Dou um prêmio para quem provar que cobrei de alguém para aparecer na televisão. Cara, eu nunca fiz isso! “Ah, mas tem o batizado da minha filha” Foda-se o batizado da sua filha. “Mas eu pago!” Não interessa. Eu não faço. Se estou gravando é porque teve interesse editorial. “Eu quero mostrar a minha cozinha...” Está bem, tem uma tabela na RedeTV! de infomerciais. Agora tem uns caras querendo que eu vá para Uberaba amanhã porque tem um leilão de gado, querem que mostre o touro. Eu lá vou mostrar o touro? Isso não interessa editorialmente, entendeu? Agora, se o Roberto Carlos estiver lá, vou e faço uma entrevista com ele.

 

O Washington Olivetto diz: “O jornalismo do Amaury vai do útil ao fútil. Mas nunca esbarra no inútil. O fútil não é algo que pode colocar seu trabalho como menor, acessório?

O fútil é sinônimo de lazer. Você senta num alpendre e começa a jogar conversa fora. Não é futilidade, é abstração. O que o Olivetto quis dizer ali é que tem futilidade também no programa. “Puxa, isso custou 1 trilhão de dólares, quem te deu isso?” “Ah, foi meu marido, no dia do meu aniversário”. Isso é futilidade. Mas se não tiver isso, fico devendo para a minha telespectadora. Sabe o que elas querem ver hoje? Roupa de mulher, sapato, se é ou não é Prada.

 

Você tem uma demanda grande para futilidade?

Muito grande. Mas futilidade, na minha cabeça, pode ser uma coisa, na sua, outra, e na dela, outra. Um cara que é comerciante de joias vai ver com outro olhar que não é o nosso. Para tudo você encontra alguém interessado. Eu penso muito sobre a quem vai interessar aquilo. Eu não posso brincar de elitizar demais e nem é o que eu quero. O (dono da RedeTV!) Marcelo de Carvalho veio numa reunião aqui e eu brinquei com ele: “Tenho duas entrevistas: uma com o José Saramago, que ressuscitou, e outra com a Mulher Pêra, que tem uma enorme bunda. Em quem eu vou?” Marcelo: “Na Mulher Pêra!” Não. Eu vou nos dois! Vou falar com o Saramago porque é pop, porque é legal, porque é literatura. E vou fazer a Mulher Pêra do meu jeito!

 

Você se diverte mais com o Saramago ou com a Mulher Pêra?

Com o Saramago. Da verdade. Agora, a rigor, o Marcelo tem razão. Quem conhece o Saramago? Eu, você, quem mais, no universo da televisão aberta?

 

Posso concluir que a audiência da TV aberta é uma audiência ignorante?

(Silêncio.) Não é ignorante. Aí você tem que falar do Brasil de hoje. Tem que falar de todos os governos que se sucederam e não deram educação. Quem quiser fazer aberta que se popularize. Quem não quer se popularizar que vá para a TV fechada. Agora, vai ter muito menos audiência. Minha fórmula é equilibrar os dois. Com o Fernando Henrique, por exemplo, queria que a (atual) mulher dele falasse, porque todo mundo quer saber quem ela é.

 

Um episódio seu curioso foi a entrevista com o falso filho do dono da Gol, em 2001. Você percebeu onde errou ali?

Eu não errei. Todo mundo foi enganado. Eu estava ali, me apresentaram e ele me tratou maravilhosamente bem. Ficou comigo a festa inteira. Eu o entrevistei duas vezes. Sabia tudo da Gol. Ele era muito bem preparado. Voei com ele de helicóptero! Ele pilotando!

 

Depois você refletiu sobre aquilo?

Depois fiquei mal dois dias, pensando naquele voo que peguei de helicóptero. Eu falei para ele que queria ir num voo mais cedo, e ele falou que ia me botar num jatinho. Fiquei animado. Pensei: “Pô, esse cara vai querer ser o meu patrocinador”. (Risos.) Apresentei a ele um bando de mulher. E o cara pegava as meninas da minha produção. Eu falava: “Com salário que vocês têm, olha esse cara!” Porque ele era simpaticíssimo. E aí, às 7 da manhã, ele foi me dar embarque. Pensei: “Não é possível, aí tem”. Depois descobri que o cara não pagou ninguém. Mas ele também não matou ninguém, não roubou, se divertiu, deve ter comido alguém lá...

 

Quer dizer, um verdadeiro bon-vivant nunca acordaria às 7h para te dar embarque?

Foi ali que a minha ficha começou a cair. Voltei no jatinho, cheguei, o Edson Santana me legou: “Chegou bem, Amaury?” “Cheguei”. “Então eu vou te contar”. Tinha um monte de gente para quem que ele deu embarque, uns atores da Globo.

 

Depois você ficou assustado?

Fiquei apavorado. E o entrevistei depois. Mas quando eu soube, a entrevista com ele não tinha ido ao ar, então ninguém assistiu sendo enganado. No meio de toda a confusão, com os jornais falando, eu assumi, “fui enganado mesmo”, e aí pus no ar. Fui enganado, o cara é genial, e contei a história. Falei: “Agora vocês vão ver o mico que eu paguei”.

 

Você se irritou com aquela situação?

Se tivesse sido só eu, ia me sentir chateado. Mas uma festa inteira ficou celebrando o cara, eu tinha companhia nessa desgraça. Mas fiquei chateado com a história, sim. Fiz papel de bobo mesmo.


Você lembrou de algum episódio anterior em que pode ter acontecido a mesma coisa?

Em doses muito menores. Lembro vagamente que o Christopher Reeve para a boate Aquarius e não veio. E aí, eu não sabia, chegou um cara muito parecido com ele, que tentou se passar por Christopher Reeve. Aconteceu agora com um rapper que chegou com uns colares de ouro, com fotógrafo particular, me venderam como se fosse um 50 Cent, e na festa eu já soube que era uma farsa.

 

Você tem receio que vire um esporte tentar te enganar?

Mas agora eu estou muito esperto. Ninguém me engana mais. E, como é tudo gravado, se for mico não vai para o ar. Aqui em São Paulo, há uns 10 anos, havia dois velhinhos que estavam em todas as festas. Todas. Acho que eles viam as colunas, descobriam, faziam roteiro. E aí eu descobri mais tarde que eles viviam de comer em festa. E eles recolhiam depois para o almoço do dia seguinte. Eles só comiam nas festas. E ninguém conhecia os caras, mas achavam que eles eram importantes! (Risos.) Eu reparava que eles só tinham um terno.

 

Você teve entreveros com entrevistados estrangeiros?

Eu estava em Los Angeles em uma festa benemerente, para a associação de combate ao câncer de Los Angeles. O Charles Bronson estava lá, ele tinha perdido a mulher com câncer. Eu era fã dele. Cheguei, me apresentei como jornalista do Brasil, e ele estava puto, de mau humor. “Brasil? Eu lá vou saber onde fica o Brasil?” Não falo muito bem inglês, mas estava com uma prima que mora na Califórnia e pedi a ela: “Fala para esse filha da puta que o Brasil é o país onde os filmes dele têm mais bilheteria, e que ele está cometendo um crime sem absolvição de não querer gravar uma mensagem para o Brasil”.

 

Teve outros assim?

Poucos. O Luciano Pavarotti também não quis falar aqui no Brasil. Teve um jantar na casa do cônsul da Itália e a câmera estava do lado de fora para não iluminar muito. A primeira coisa que ele falou foi: “Que bosta!”, algo assim. Era um buffet, todo mundo se servindo, e eu já fui encostando para falar com ele. Cara, ele deu um puta de um arroto na mesa. (Risos.) Caralho, o que é isso? Vai tomar no cu! Arrotar na minha cara? E todo mundo rindo. Porque a celebridade acha que pode fazer o que quiser.

 

E rolou a entrevista com ele?

Não, ele não quis falar.

 

Você se arrepende de alguma entrevista que fez?

Olha, me arrependo de não ter perguntado muita coisa para muita gente. Entrevistei agora a Rosane Collor e achei que faltou, da minha parte, instigar, sabe? Por outros ângulos. Quando da penada daquele cara depende o futuro, meu, dos meus filhos e dos meus netos, quero saber tudo dele. Quero saber como é que ele está de humor, se é veado ou não é, porque as atitudes dele na horizontal explicam as na vertical. Isso não é fazer fofoca, é saber o humor do cara. Sabe lá se ele não cometeu um deslize porque saiu de casa assim? Quantos deslizes já não cometi porque briguei com a minha mulher? Aí minha decisão é intempestiva e faço uma merda. Não é só o Collor, é desde o Deodoro da Fonseca. Li sobre a vida de todos os presidentes.

 

Você gostaria de saber se o que a presidente Dilma faz na horizontal influi na vertical?

Gostaria de saber mais sobre a história dela. Não é fácil, acho que ela é mais uma vítima do que culpada por toda a situação brasileira. Eu não tenho a menor dúvida de que intimamente o que ela quer é o bem do povo, mas ela não consegue, pô! Lá fora, as pessoas não tem noção de como o que está acontecendo hoje está maculando o Brasil.

 

Você teve relações com figuras políticas como o ex-governador Paulo Maluf. Isso lhe causou algum constrangimento?

Muito pelo contrário. Fui o primeiro a entrevistar o Paulo Maluf quando ele saiu do cárcere da Polícia Federal. Sou amigo dele, mas ele sabe que eu não vou tratá-lo como amigo, vou tratá-lo como um entrevistado dentro das circunstâncias que ele está vivendo e ponto. Essa distinção as pessoas fazem. Encontrei agora o Duda Mendonça agora na viagem. “Vamos falar?” E ele: “Não quero falar. Podemos beber a noite inteira, mas não vou falar”. Mas se ele sentar comigo, vou fazer as perguntas que têm de ser feitas. Para mim é tudo fonte.

 

No governo do PT você passou a ter menos fontes do que antes?

Muito menos. Eu tinha mais relação com o Lula quando ele era sindicalista. Uma vez eu brinquei com ele: “Vou te levar no Gallery”, porque o Gallery era o símbolo máximo, né? Era algo inverossímil na época o Lula dentro da Gallery. Aquela barba toda desalinhada. Ele me falou: “Amaury, se você pagar a conta eu vou”.

 

E foi?

Não, mas foi engraçado. O FHC sempre pautou coisas legais, mas também o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é um grande amigo meu. Mas não tem nada mais exclusivo, isso acabou.

 

A Luciana Gimenez é sua colega de emissora. Você não tem curiosidade de perguntar a ela sobre a relação com o Mick Jagger?

Nem para a Luciana que é minha amiga, nem para o Marcelo de Carvalho, que é mais amigo ainda. Nunca toquei nesse assunto.

 

Não é uma história que interessaria ao seu público?

Mas eu sou um cara de hierarquia, o Marcelo é meu chefe e a Luciana é mulher do meu chefe. Encontrei a Luciana Gimenez no Carnaval com a Vera, mãe dela, e ela me disse: “Estou grávida e vai explodir uma bomba que você não tem ideia do tamanho dela”. Foi a única coisa que ela me falou, e fiquei encucado com aquilo. Tínhamos ido comer um churrasquinho ali atrás do Sambódromo no Rio, eu e a minha mulher, a Luciana e a Vera.

 

Se você fosse amanhã para a Bandeirantes, e deixasse de ser uma questão de hierarquia, teria vontade de esmiuçar esse assunto?

(Pensativo.) Acho que sim. Acho que eu ficaria mais à vontade fora da casa dela. A gente se patrulha bastante. Tive vontade de perguntar para a Rosane Collor sobre a vida sexual dela, já que ela pediu para mim, fora do ar: “Me arruma um namorado bacana e rico?” Tive vontade de perguntar: “Separada há tantos anos, não teve um namoro? Está em abstinência?” Tenho vontade de perguntar, e todo mundo quer saber.

 

Alguém já reclamou de alguma coisa depois de ter aparecido no programa?

Já teve uma pessoa que amanheceu na porta da minha casa pedindo para cortar imagem de insert. Tem as entrevistas e tem os inserts, e esse cara estava no Passatempo em São Paulo, com uma mulher que não era a dele. Ele amanheceu na minha porta. “Preciso falar com você, vai acabar o meu casamento”. Cortei. Deixar para quê? Ele me manda presente até hoje.

 

Ele é um cara mais famoso ou mais rico?

É um empresário, não vou falar o nome senão tudo o que fiz não vai ter adiantado. Dia desses tive um político também. Geralmente é algo envolvendo mulher. Ás vezes o cara está conversando casualmente com a moça, mas a mulher dele não vai entender. Geralmente alguém telefona: “Amaury, aconteceu isso com um amigo meu...” E eu digo: “Tranquilize-o”, vou lá na edição, acho o cara e digo: “Corta isso aí. Cortou? Agora apaga essa porta”.

 

Você saca quando o cara está com a amante?

Não, muda tudo. Tem gente para quem preciso perguntar: “É sua mulher ou trocou?” Eu me atualizo antes de gravar.

 

Você se depara com frequência com profissionais na noite chique paulistana?

Cara, prostituta tem em todos os lugares. Não consigo mais identificar quem é e quem não é, em todo lugar tem. E eu não tenho um “putômetro”. E depende do que você interpreta por puta, né? Não é uma interpretação muito difícil?

 

Nem tanto...

É muito difícil. Tem putas maravilhosas que assumem o seu papel e putas que manobram toda uma situação ao lado do marido. Estas são mais putas que as outras. Estou falando da atitude de puta. Não é necessariamente ser puta, mas manipular como puta.

 

E isso também tem muito, pelo jeito...

Tem puta pra cacete.

 

E aparecer no seu programa deve aumentar o valor das moças. Como se prevenir disso?

As pessoas que se aproximam de mim sempre têm um projeto para divulgar. “Vou fazer um curso de modelo em Nova York”, de repente é puta. E não tenho absolutamente nada contra puta. As mulheres manipuladoras são piores do que as assumidas.

 

Você está falando da esposa que está ali pela grana?

Estou falando de mulheres que manipulam, que só estão no casamento por causa do dinheiro, que tomam tudo do cara. É disso que estou falando.

 

Você conheceu sua esposa e casou bem jovem. Foi um grande comedor antes de casar?

Um grande comedor de zona. (Risos.)

 

A sério?

A minha primeira vez foi com prostituta. Eu tinha 17, 16 anos. Fui com meu tio, que era advogado em Rio Preto. Era uma época difícil. Você ia no cinema, pegava na mão e se gabava por pegar na mão. Meu pai tinha uns dicionários Delta Larousse, aqueles franceses enormes, e tinha a parte da enciclopédia com a anatomia do corpo humano. Me masturbei muito em cima da Delta Larousse. Quando caiu um catecismo de Carlos Zéfiro na minha mão, fiquei enlouquecido.

 

Depois que você começou a trabalhar na noite, passou a ser assediado?

Eu saía muito, porque depois que a TV Tupi fechou, fui trabalhar numa revista de mulher pelada chamada Fiesta. Era uma revista que vendia. E comecei a querer arrumar a revista porque tinha mulher com celulite, mas tinha uma venda extraordinária. Aí descobri os cromos suecos. Aquelas loiras esculturais. Falei: “Puta que pariu! Isso aqui é massa”. E comecei a trocar a mulherada que eles fotografavam. Quando comecei a arrumar, a venda caiu. E um dia o dono me chama e falou: “Amaury, não está dando certo, pode voltar com a celulite”. Era uma coisa que não compreendia, como é que o público podia preferir a revista com as mulheres piores? Sabe o quê? O cara passa na rua e vê as moças que estão ao seu alcance. Os cromos suecos eram as mulheres inalcançáveis.

 

Mas foi muito assediado?

Olha, inexoravelmente a gente era. Aí você confunde. Tem uma hora que você começa a confundir, se as mulheres começam a te assediar para aparecer na televisão ou se é por causa de você. Como eu era um cara ingênuo, na época eu achava que elas estavam dando em cima de mim. (Gargalhada.) É brincadeira...

 

Como era administrar isso? Teve momentos de puxarem você para o banheiro, por exemplo?

Eu sabia que vinha uma pergunta dessas... (Risos.) Os fins de noite eram sempre muito fumadíssimos e bebíssimos. Principalmente bebidíssimos. Mas eu sempre fui meio assim, primeiro porque era casado, e bem casado. E tinha uma responsabilidade de não querer destruir meu casamento, que era minha família, sempre prezei muito isso. Então sempre me esquivei desse assédio agressivo. Claro que tinha, mas sempre mantive uma distância prudente.

 

Teve momentos de você achar que se casou muito cedo?

Ah, teve momentos de fazer piadas com a minha mulher, porque ela sempre esteve perto de mim. Ela foi muito compreensiva com os mil boatos que surgiam sobre relacionamentos que eu nunca tive. Mas eu sempre fui muito alegre.  E isso sempre rentabilizou boas entrevistas, matérias interessantes.

 

E com um ar de sedução no ar também...

As pessoas falam isso, até minha filha brinca: “Meu pai com essa mãozinha de siri”. Siri significa que você está entrevistando a mulher e a sua mão está visível na câmera. A tendência do entrevistado é se afastar, é uma tendência natural, sair do campo de luz, por isso a mão ali. Uma vez eu fui para Dubai e lá as mulheres estão todas vestidas dos pés à cabeça. Fiquei muito amigo do ministro do Turismo de lá, e um dia perguntei a ele: “Como é que vocês conhecem as mulheres daqui?” E ele: “Pegando pela cintura você sabe tudo que precisa saber sobre uma mulher”. E aí eu brincava que eu pegava na cintura porque um xeique de Dubai me ensinou.

 

Tinha um pouco de ego seu por estar na televisão no começo?

Eu era vaidosíssimo. As mulheres todas que não quiseram me namorar, como ficam agora que estão me vendo? Claro que tinha isso. Meus desafetos, gente que não queria anunciar no meu jornal, e agora? Porque eu conduzi a coluna social para a televisão. E na verdade nunca foi só coluna social, tinha uma moldura de coluna social. Vaidade eu até ainda tenho, mas perdi essa compulsão de me achar. Você acaba se achando. Não tenho mais isso. Se eu sair da televisão hoje, provavelmente não vou precisar de um psiquiatra para administrar. A maioria dos meus colegas vai precisar.

 

Você lembra de algum momento em que seu ego deu uma pirada?

Quando fiz a campanha dos cigarros Advance, que acordei e São Paulo tinha 500 outdoors comigo fumando. Onde eu passava, eu me via, comecei a achar que eu era o máximo. Só dá eu aqui! Na cidade inteira! Conquistei São `Paulo. Sabe aquela coisa?

 

Isso refletia em que?

Acho que uma qualidade que tenho é ser um eterno insatisfeito. Você não faz um programa ótimo diariamente. Mas aqueles que são ótimos, sempre acho que eu fiquei devendo. Acho que isso faz parte da minha ansiedade, de não ficar satisfeito com tudo. Então nunca me iludi a ponto de deixar meu ego me dominar. Muito pelo contrário. Quando eu trabalhava na Bandeirantes, a Rosa Saad, uma das donas de casa falava: “Você precisa ser mais celebridade. Você dá atenção para todo mundo, fala com todo mundo. Não dá pra te vender assim”. Eu não vou deixar de ir aonde gosto de ir por causa dessa merda. Essa merda entre aspas, essa coisa maravilhosa. No começo eu achava maravilhoso, todo mundo querendo tirar fotos comigo. Uma vez, numa viagem, meu produtor contabilizou 798 pessoas? Mas hoje eu não me importo.

 

Você vai fazer 65 anos este ano. Já experimentou algum remédio para impotência?

Eu tomo Viagra pra caralho. Estou falando sério. O meu médico é o Miguel Strougi, o maior urologista do Brasil. Minha próstata está em ordem, e ele me recomenda aquele Viagra diário. É o Cialis. É um por dia e pronto.

 

Mas estava precisando, sexualmente falando?

Olha, depende do dia, da circunstância, se o ar-condicionado está gostoso, depende do estímulo. Como todo mundo.

 

Mas não tinha um problema crônico?

De vez em quando tomava um para ter um prazo máximo, legal. Sou muito mais seguro no sexo hoje do que quando eu tinha 25 anos. Aos 25, na minha época, você tinha muita insegurança. Sexualmente estou bem ainda. Estou muito bem, ficando melhor.

 

Antes de surgirem esses remédios, brochar era algo que te assustava?

Vou falar uma coisa para você: acho que nunca brochei. Sabe por que eu nunca brochei? Porque se eu não tenho vontade, eu não para a ação. Eu brocho antes. Ou tem vontade ou não tem vontade. Tem dias que você está enlouquecido. Tem dia que você não está. Mas eu sou sexualmente ativo pra caralho, sabe?

 

Sua energia sexual está em dia?

De verdade. Estou feliz comigo mesmo. Aí eu faço exames para ver se está tudo certo e eu estou legal. Está tudo bem. Deus me abençoou mesmo. A única coisa é isso aqui (apontado para o cigarro) e o estresse. Eu sofro muito com ansiedade.

 

Ficar sem sexo te irrita?

Muito. Sem sexo, fico profundamente irritado. Parece que está faltando um braço.

 

Tipo um mês sem sexo?

Não. Nunca fiquei um mês sem sexo. Está louco?

 

Está casado há 30 anos com a mesma mulher e tem esse desejo sexual, todo dia?

Normal. Se trair for olhar bunda que passa, eu traio todo dia. Passar uma mulher gostosa e você não olhar... É a mesma coisa que você estar num restaurante, entrar um cara usando um escafandro e você não olhar. O Ciro Bateli uma vez apareceu com uma menininha de 20 anos. E ele tem 78, 79 . E eu falei: “Pô, você é um tarado sexual. A menina tem 20 anos!” E ele: “Tarados são vocês, que comem a mesma mulher há 40 anos!” (Risos) O casamento não depende só de sexo, ele é consequência de carinho, de companheirismo, de decisões, de conquistas. Mas o sexo faz falta. Na hora que acaba, você pula fora.

 

Você já deve ter tido muita tentação. É difícil não comer mulheres como as que você não comeu?

Mas isso é medo. Você vai para o motel, os caras te conhecem... (Risos.) Para que criar dificuldade? Tô fora.

 

Sua mulher é muito ciumenta?

Puta que pariu... Eu sou um dragão aprisionado! Eu brinco e falo isso para ela. Resumindo o programa: “Senhoras e senhores, amanhã voltaremos com mais um programa na RedeTV! Mais uma noite em que não comer ninguém!” (Risos.) O eunuco da RedeTV! (Gargalhadas.)

 

É verdade que você tem tara em índia?

Um dos meus tesões é índia pelada. Uma vez vi um documentário do Amaral Netto com índias muito interessantes, comecei a alimentar uma tara. Mas agora passou. (Risos).

 

Como lida com artistas que são gays enrustidos no ar?

Não dou a mínima bola para essa direita. Todo mundo tem o seu direito, todo mundo pode gozar do jeito que quiser. Tem que gozar mesmo. Não faço essa distinção. Conheço um monte de gays enrustidos. Mas acho que quem é gay devia sair do armário mesmo. Se assumir, ser feliz. Não tenho nenhum preconceito.

 

Você é a favor da união civil entre homossexuais?

Absolutamente. Acho que eles têm todo o direito. Sou a favor da adoção também. Acho que vai resolver o monstruoso problema de crianças abandonadas no Brasil, que não têm amparo. Tem até uma piada muito engraçada: um casal de gays adotou um menino. Um deles estava tomando banho e o garoto entrou no banheiro e disse: “Nossa, papai que pinto tão grande”. E o pai respondeu: “É que você não viu o da mamãe”. (Risos.)

 

Isso não bate na frente com a sua crença católica?

Não. Sou a favor do aborto e a Igreja Católica condena. Sou contra o celibato e nem por isso minha fé diminui. Tem padres que não são do bem, são de bens, passam a mão em dinheiro. Conheço um monte.

 

É a favor do aborto?

Sou totalmente. As pessoas têm livre arbítrio. É pior a família ter um filho indesejável do que abortar. Quando minha filha ficou grávida, eles nem eram casados ainda, eu perguntei: “Você quer ter essa criança?”.

 

Você gosta de beber. O que bebe hoje?

Hoje só tomo champanhe, vinho branco e bons prosecos. Fui um grande bebedor de uísque, mas não tomo mais. Me dei com champanhe, é legal, o teor alcoólico é menor, você pode prolongar seu poder. Uísque incha muito a gente. Hoje eu não compro mais uísque.

 

Você chegou a ficar bêbado durante um programa?

Você já me viu bêbado no ar? Nunca fiquei bêbado no ar. Uma vez eu entrevistei a Bebel Gilberto e ela estava. (Risos.) E aí brinco que depois do primeiro drinque as pessoas ficam mais engraçadas. Eu não fico inconveniente. A minha reação quando tomo um porre é ficar inconsciente. Vou dormir. A coisa mais inconveniente é nego que ficar bêbado e invade a câmera para falar de projeto pessoal. Já tive mil casos. Às vezes é amigo, mas eu digo: “Tira esse cara daqui!” Mas o programa não é ao vivo, então se eu mandar todo mundo tomar no cu, não vai ao ar, vão tirar na edição. Se colecionar todas as bobagens que falei, e que eu sei que eles tiram na edição... Coisas que ficam no arquivo secreto. Falei para o meu filho: entra lá e descobre tudo.

 

Mas, em festas, você já teve reações ríspidas?

Teve um cara de Santos, coitado, que me encheu o saco e eu dei um safanão nele, está aí no YouTube isso. Mas me arrependi. O cara veio com uma nota de um real e falou: “Eu quero ser entrevistado”. Que é aquele negócio de: “Ah, só dá entrevista quem paga”. E eu estava puto porque estava atrasado e tinha um monte de gente para entrevistar ainda. Era o baile de aniversário da cidade de Santos. E tinha artista que eu queria entrevistar que ia cantar e ir embora. E o cara vem com essa brincadeirinha? Mas, em geral, consigo me manter.

 

Foi a única vez que você reagiu fisicamente?

Sim. Teve um cara que me empurrou uma vez, nem vou falar quem foi. Você não vai levar uma porrada e ficar quieto. E tem marido ciumento que o olhar dele já uma bronca explícita. Tem tanta situação cheia de firulas... Um lugar que tem dois inimigos viscerais, que não podem se ver. Muitos têm raiva de mim porque entrevisto pessoas de quem eles não gostam. Você odeia o cara, aí me vê com ele e fica com ódio de mim...

 

Em tantos anos cobrindo noite, em algum momento você teve medo de virar alcoólatra?

Tive. E recorri aos médicos. Eu não sou alcoólatra, nunca tive vontade de beber de manhã. Quando bebo sinto euforia, que é quando me acho o máximo, principalmente quando tem mulher bonita em volta, e depois apago, não passo pela fase da agressividade. Quando começo a dormir, durmo em pé. Se ficar um final de semana sem beber, fico numa boa. Há um ano e meio, quando entrei num processo de depressão, fiquei oito meses sem beber.

 

Você tem algum remédio para ressaca?

Eu compro uma pílula nos Estados Unidos chamada Mega Hangover, é um Engov gigante, tomo antes de beber.

 

Você tinha muita ressaca?

Nossa... Me pergunta se entendo de champanhe, de vinho branco, de prosecco. Na verdade, a minha cabeça entende no dia seguinte. Amanhece uma harpa paraguaia fodida... Bebida ruim me faz mal. Quando estou numa festa e percebo que a bebida é ruim, já paro de beber. O meu sonho era poder levar a bebida de casa para as festas, mas não pega bem.

 

Ainda tem festa com bebida ruim?

Nossa, você nem imagina. Você conta nos dedos as que servem boas bebidas. O que é explicável, o cara vai servir Veuve Clicquot a 500 pais a garrafa para 500, mil pessoas?

 

Uísque ruim deve ser mais difícil ainda, não?

Fui bebedor de uísque a vida inteira. E sabe o que fiz muito? Cheirei lança-perfume para cacete lá em Rio Preto, espirrava na perna das meninas. Era um bloco de cheiradores da cidade, o Bloco dos Enfermeiras. Mas o lança-perfume era uma viagem intermunicipal, matou muita gente, eu sei, porque os caras exageravam, mas era uma viagenzinha, você voltava logo, não é como essas viagens interplanetárias.

 

Foi sua única experiência com drogas?

Tomei bolinha para estudar, para ficar acordado, cigarro e lança-perfume. Mas todo mundo sabia dos perigos, e era condenado já. Cheguei a ficar mal, sem voltar, e aí fodeu, Você cheira, cheira, cheira, entra numas de não voltar, você demora para voltar, aí dá desespero.

 

Você cobriu a noite numa época, os anos 80, em que a cocaína estava muito em voga. Era difícil fazer entrevistas com gente cheirada?

Às vezes é até melhor. O cara fica mais lúcido. Só se o cara estiver visivelmente fora de si, aí você não entrevista, é que nem quando o cara está bêbado. Mas eu não sei. Como nunca experimentei droga, só está aqui (levanta o cigarro), então sempre tive dificuldade. Mas eu sabia que rolava, como rola até hoje. Acho que ajudava, é minha dedução.

 

Hoje o que rola mais?

Ainda tem muita droga, mas hoje acho que com mais discrição. As pessoas agora se preocupam mais. Antes se cheirava em cima da mesa, hoje não mais. E a cocaína ainda é a que prevalece, eu acho.

 

Você fuma desde quando?

Desde os 15, 16 anos. Não com essa intensidade. Eu fumo um maço e meio, mas se sair à noite, se beber, aí vai bem mais. Parei por cinco anos, entre os 35 e os 40. Agora estou alternando com o cigarro eletrônico.

 

O fato de nunca ter experimentado outras drogas tem a ver com a relação tão dependente com o cigarro?

Tive todas as oportunidades de provar, foi rigor do meu pai mesmo. Ele revistava, cheirava. Todos os meus amigos fumavam maconha, mas eu tinha medo. E todo mundo fala que é tão bom o negócio da maconha que estou louco para provas, mesmo. Vai que de repente dá um puta barato, te deixa inteligentíssimo... (Risos.) Todo dia falo: “Vou parar com esta merda (levanta o cigarro) e começar a fumar maconha!” (Risos.)

 

Seu pai passa uma impressão de ter sido um homem muito rude. Ou vocês não eram muito próximos?

Não, ele não era rude. Ele era extremamente exigente e rígido comigo e com o meu irmão na questão da educação, e de droga, de nos cheirar na hora em que a gente chegava em casa. Nós éramos próximos. A bronca com o meu pai é uma só. Ele me fazia ler pelo menos um livro por mês, e ele me fazia contar. Então não adiantava tentar enganar. Meu pai era um tutor do idioma, ou seja, falar errado para ele era o mesmo que ofender a Deus. Começou com Monteiro Lobato, aí foi subindo. Isso ajudou o meu vocabulário. Hoje eu sou um leitor. “Haja vista” aprendi com ele, eu falava “haja vista” na televisão e ele queria me matar.

 

Quando ele viu você na televisão as primeiras vezes, sentiu orgulho?

Ele tinha uma lousa, e todos os erros que eu cometia na televisão ele anotava na lousa. (Risos.) E aí ele ligava: “Você viu o que você falou? Não é possível!”

Mas não perdia um programa seu, pelo jeito...

Se perdia, gravava. E não deixava passar um erro. Naturalmente ele devia olhar com orgulho, mas a parte dos meus erros de português, meus eventuais erros de concordância, masculino, feminino, próclise, mesóclise, o cacete... Ele anotava tudo! Mas me ensinou coisa que às vezes eu uso. É uma linguagem meio rebuscada, que não tem mais espaço na televisão. O sonho do meu pai era que eu fosse advogado. Então eu fiz direito, me formei, mas já estava trabalhando como jornalista na época. Ele achava que o jornalismo era uma putaria.

 

Como era a sua vida profissional em Rio Preto?

Chegou a um ponto lá que eu tinha uma coluna no jornal diário, no Diário da Região, fazia documentários que passavam no cinema e tinha um programa de televisão na TV Rio Preto, que era subsidiária da Globo, fazia gincana entre duas faculdades, todo sábado, em auditório. Uma coisa engraçada na gincana foi que um dos pedidos que fiz uma vez foi: “Quem trouxer a sósia mais parecida com a Brigitte Bardot ganha um prêmio”. E trouxeram uma moça linda, loirinha. Era a Ana Maria Braga! Ela começou lá.

 

E vocês namoraram?

A gente era amigo mesmo, saía junto, ela ia me buscar em casa. A gente ia tomar chope junto. Se ela ainda é uma bela mulher hoje, você não sabe como ela era naquela época. Ela entrou no ar nesse dia da gincana e parou no auditório. Era muito bonita.

 

A gente conversou por quase nove horas e você pareceu um homem muito mais focado, inteligente e culto do que dá a entender pelos seus programas. Você é visto por muitos como um cara folclórico. Sente falta de ser levado mais a sério?

Eu sei disso, e me incomoda um pouco, sim. Mas não vejo como, dentro desse setor, eu poderia aquirir mais respeitabilidade ou credibilidade do que consegui, fazendo o que me foi legado dentro do jornalismo, que é cobrir noite, cobrir festa, conversar com artista. Cometi muitos exageros lá atrás, e para você mudar uma impressão é difícil. É aquela velha frase, você nunca tem uma segunda chance de causar uma boa primeira impressão. Quando comecei, eu não tinha experiência, era mais atirado, mais metido, tinha mais vontade de fazer, mais ansiedade de ficar famoso, era tudo mais. Mas com menos conhecimento, menos bagagem, menos envolvimento. Às vezes penso nisso, já tentei algumas vezes mudar o programa, torná-lo mais sisudo, mais sério, mas não consigo, as pessoas querem me ver nas festas. Se eu paro de ir às festas, o público fica enlouquecido.

 

Então te incomoda não ser levado a sério?

Eu sou levado a sério. Eu não gosto desse aspecto de puerilidade, que parece que o que eu faço é descartável, desnecessário. O que eu cubro é importante. Tem o lado mais jornalístico, como a entrevista com o FHC, mas se você depender diariamente disso, você não faz. A última exclusiva com o Roberto Carlos para o meu programa, por exemplo, foram três dias de altíssima tensão para conseguir gravar 15 minutos. Dody Sirena, o empresário dele, é meu amigo, o Roberto é meu amigo, mas ele não pode dar entrevista por causa da Globo. Aí ele me falou: “Quando acabar o show, vai nos bastidores, bota um pessoal atrás de mim e me surpreende”. (Risos.) Levei um monte de gente, umas 20 pessoas. De repente: “Roberto?” “Oh, Amaurizão...”

 

Publicado originalmente na revista “Playboy” em junho de 2015

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