Playboy entrevista Amaury Jr. (junho de 2015)
Uma conversa franca com um dos
maiores e mais longevos apresentadores da TV sobre sexo, drogas, prostitutas,
bebidas ruins, ressacas, vaidade, brochadas, casamento gay, Ana Maria Braga,
lança-perfume e o dia em que o Pavarotti arrotou na cara dele
É impossível não o reconhecer
a quilômetros de distância. Com sua entonação particular, que já rendeu
paródias diversas em programas de humor, Amaury Jr. está há 34 anos no ar como
um símbolo de sofisticação. Quando ele está num evento, é sinal de que parte do
PIB local também está por perto, ou que ali estão as pessoas badaladas ou
aquela é uma das festas mais divertidas da cidade. Por meio de seu programa,
vem documentando as transformações na noite, na política e na sociedade.
Começou com o Flash, breve coluna eletrônica na TV Gazeta, em 1981. O
nome, o tamanho e o formato mudaram com o tempo. Ficou 16 anos na Rede
Bandeirantes, passou pela Record e está há 12 na RedeTV!, por onde vai ao ar
nas madrugadas de terça a sexta e no fim de tarde aos sábados. A desenvoltura
com artistas, políticos e personagens que circulam pela noite, sempre depois do
primeiro drinque, foi se aprimorando. Aos poucos, quebrou preconceitos e
transformou-se em um dos jornalistas mais bem relacionados do país.
Amaury de Assis Ferreira Júnior, nascido em Catanduva, mas criado em São José
do Rio Preto – ambas cidades do interior de São Paulo -, em 1950, ralou
bastante antes de ser conhecido. Entre a mãe, professora do extinto curso de
admissão, que hoje vive com ele, o pai filólogo, já falecido, e o único irmão
Sérgio, Amaury começou cedo a trabalhar. Criança, lia os gibis e revendia na
porta do cinema da cidade. Formou-se em direito para agradar ao pai, mas nunca
exerceu – já era jornalista quando pegou seu diploma. Teve coluna em jornal
diário, fez documentários, promoveu gincanas na TV, criou seu próprio jornal e,
em 1978, veio para São Paulo. Chegou a trabalhar com hard news na TV
Tupi, em revista masculina, rádio e fez de tudo um pouco até emplacar o Flash.
Ali começou a virar o Amaury Jr. Com 21 anos, ainda em Rio Preto, conheceu
Celina, que quatro anos depois virou sua esposa, passou todos esses anos como
sua fiel escudeira na vida e na carreira e hoje trabalha com ele. Com ela, teve
dois filhos, Amaury e Mara Eduarda, que lhe deram quatro netos, com idades
entre 2 meses e 5 anos.
Amaury Jr. conversou com o
editor Jardel Sebba em seu escritório, na região dos Jardins, bairro
nobre paulistano, na sede de sua produtora, a Callme Comunicações, fundada em
1979. Foram três sessões de conversa entre muitos cigarros, de papel ou
eletrônicos. Amaury é afável, simpático e bem mais interessante que o
personagem que o consagrou na TV. Gosta, de fato, de uma boa conversa,
característica essencial para o seu trabalho. Tenta controlar os palavrões, que
são muitos, mas nem sempre consegue. E é de uma gentileza ímpar, quase
sedutora, mesmo quando trata de assuntos ásperos. O melhor das quase nove horas
de conversa você confere aqui.
O seriado global Minha Nada
Mole Vida (2006), com o Luiz Fernando Guimarães, fazia um certo deboche com
o seu jeito no ar. Aquilo nunca incomodou você?
Nunca. E o Amaury Dumbo, do Pânico?
Quer mais pesado que aquilo? Achava o Minha Nada Mole Vida o máximo.
Esse tipo de coisa só faz bem ao programa. Por mais mal que falem.
Mas você viu algum dos seus
defeitos ali?
Eu comprei o DVD, tenho todos,
e assisti a vários. Mas eles falavam de um repórter articulador de jabás, e não
me vi como jabazeiro, nunca. Dou um prêmio para quem provar que cobrei de
alguém para aparecer na televisão. Cara, eu nunca fiz isso! “Ah, mas tem o
batizado da minha filha” Foda-se o batizado da sua filha. “Mas eu pago!” Não
interessa. Eu não faço. Se estou gravando é porque teve interesse editorial.
“Eu quero mostrar a minha cozinha...” Está bem, tem uma tabela na RedeTV! de
infomerciais. Agora tem uns caras querendo que eu vá para Uberaba amanhã porque
tem um leilão de gado, querem que mostre o touro. Eu lá vou mostrar o touro?
Isso não interessa editorialmente, entendeu? Agora, se o Roberto Carlos estiver
lá, vou e faço uma entrevista com ele.
O Washington Olivetto diz: “O
jornalismo do Amaury vai do útil ao fútil. Mas nunca esbarra no inútil. O fútil
não é algo que pode colocar seu trabalho como menor, acessório?
O fútil é sinônimo de lazer.
Você senta num alpendre e começa a jogar conversa fora. Não é futilidade, é
abstração. O que o Olivetto quis dizer ali é que tem futilidade também no
programa. “Puxa, isso custou 1 trilhão de dólares, quem te deu isso?” “Ah, foi
meu marido, no dia do meu aniversário”. Isso é futilidade. Mas se não tiver
isso, fico devendo para a minha telespectadora. Sabe o que elas querem ver hoje?
Roupa de mulher, sapato, se é ou não é Prada.
Você tem uma demanda grande
para futilidade?
Muito grande. Mas futilidade,
na minha cabeça, pode ser uma coisa, na sua, outra, e na dela, outra. Um cara
que é comerciante de joias vai ver com outro olhar que não é o nosso. Para tudo
você encontra alguém interessado. Eu penso muito sobre a quem vai interessar
aquilo. Eu não posso brincar de elitizar demais e nem é o que eu quero. O (dono
da RedeTV!) Marcelo de Carvalho veio numa reunião aqui e eu brinquei com
ele: “Tenho duas entrevistas: uma com o José Saramago, que ressuscitou, e outra
com a Mulher Pêra, que tem uma enorme bunda. Em quem eu vou?” Marcelo: “Na
Mulher Pêra!” Não. Eu vou nos dois! Vou falar com o Saramago porque é pop,
porque é legal, porque é literatura. E vou fazer a Mulher Pêra do meu jeito!
Você se diverte mais com o
Saramago ou com a Mulher Pêra?
Com o Saramago. Da verdade.
Agora, a rigor, o Marcelo tem razão. Quem conhece o Saramago? Eu, você, quem
mais, no universo da televisão aberta?
Posso concluir que a audiência
da TV aberta é uma audiência ignorante?
(Silêncio.) Não é
ignorante. Aí você tem que falar do Brasil de hoje. Tem que falar de todos os
governos que se sucederam e não deram educação. Quem quiser fazer aberta que se
popularize. Quem não quer se popularizar que vá para a TV fechada. Agora, vai
ter muito menos audiência. Minha fórmula é equilibrar os dois. Com o Fernando
Henrique, por exemplo, queria que a (atual) mulher dele falasse, porque
todo mundo quer saber quem ela é.
Um episódio seu curioso foi a
entrevista com o falso filho do dono da Gol, em 2001. Você percebeu onde errou
ali?
Eu não errei. Todo mundo foi
enganado. Eu estava ali, me apresentaram e ele me tratou maravilhosamente bem.
Ficou comigo a festa inteira. Eu o entrevistei duas vezes. Sabia tudo da Gol.
Ele era muito bem preparado. Voei com ele de helicóptero! Ele pilotando!
Depois você refletiu sobre
aquilo?
Depois fiquei mal dois dias,
pensando naquele voo que peguei de helicóptero. Eu falei para ele que queria ir
num voo mais cedo, e ele falou que ia me botar num jatinho. Fiquei animado.
Pensei: “Pô, esse cara vai querer ser o meu patrocinador”. (Risos.)
Apresentei a ele um bando de mulher. E o cara pegava as meninas da minha
produção. Eu falava: “Com salário que vocês têm, olha esse cara!” Porque ele
era simpaticíssimo. E aí, às 7 da manhã, ele foi me dar embarque. Pensei: “Não
é possível, aí tem”. Depois descobri que o cara não pagou ninguém. Mas ele
também não matou ninguém, não roubou, se divertiu, deve ter comido alguém lá...
Quer dizer, um verdadeiro
bon-vivant nunca acordaria às 7h para te dar embarque?
Foi ali que a minha ficha
começou a cair. Voltei no jatinho, cheguei, o Edson Santana me legou: “Chegou
bem, Amaury?” “Cheguei”. “Então eu vou te contar”. Tinha um monte de gente para
quem que ele deu embarque, uns atores da Globo.
Depois você ficou assustado?
Fiquei apavorado. E o
entrevistei depois. Mas quando eu soube, a entrevista com ele não tinha ido ao
ar, então ninguém assistiu sendo enganado. No meio de toda a confusão, com os
jornais falando, eu assumi, “fui enganado mesmo”, e aí pus no ar. Fui enganado,
o cara é genial, e contei a história. Falei: “Agora vocês vão ver o mico que eu
paguei”.
Você se irritou com aquela
situação?
Se tivesse sido só eu, ia me
sentir chateado. Mas uma festa inteira ficou celebrando o cara, eu tinha
companhia nessa desgraça. Mas fiquei chateado com a história, sim. Fiz papel de
bobo mesmo.
Você lembrou de algum episódio anterior em que pode ter acontecido a mesma
coisa?
Em doses muito menores. Lembro
vagamente que o Christopher Reeve para a boate Aquarius e não veio. E aí, eu
não sabia, chegou um cara muito parecido com ele, que tentou se passar por
Christopher Reeve. Aconteceu agora com um rapper que chegou com uns colares de
ouro, com fotógrafo particular, me venderam como se fosse um 50 Cent, e na
festa eu já soube que era uma farsa.
Você tem receio que vire um
esporte tentar te enganar?
Mas agora eu estou muito
esperto. Ninguém me engana mais. E, como é tudo gravado, se for mico não vai
para o ar. Aqui em São Paulo, há uns 10 anos, havia dois velhinhos que estavam
em todas as festas. Todas. Acho que eles viam as colunas, descobriam, faziam
roteiro. E aí eu descobri mais tarde que eles viviam de comer em festa. E eles
recolhiam depois para o almoço do dia seguinte. Eles só comiam nas festas. E
ninguém conhecia os caras, mas achavam que eles eram importantes! (Risos.)
Eu reparava que eles só tinham um terno.
Você teve entreveros com
entrevistados estrangeiros?
Eu estava em Los Angeles em
uma festa benemerente, para a associação de combate ao câncer de Los Angeles. O
Charles Bronson estava lá, ele tinha perdido a mulher com câncer. Eu era fã
dele. Cheguei, me apresentei como jornalista do Brasil, e ele estava puto, de
mau humor. “Brasil? Eu lá vou saber onde fica o Brasil?” Não falo muito bem
inglês, mas estava com uma prima que mora na Califórnia e pedi a ela: “Fala
para esse filha da puta que o Brasil é o país onde os filmes dele têm mais
bilheteria, e que ele está cometendo um crime sem absolvição de não querer
gravar uma mensagem para o Brasil”.
Teve outros assim?
Poucos. O Luciano Pavarotti
também não quis falar aqui no Brasil. Teve um jantar na casa do cônsul da
Itália e a câmera estava do lado de fora para não iluminar muito. A primeira
coisa que ele falou foi: “Que bosta!”, algo assim. Era um buffet, todo mundo se
servindo, e eu já fui encostando para falar com ele. Cara, ele deu um puta de
um arroto na mesa. (Risos.) Caralho, o que é isso? Vai tomar no cu!
Arrotar na minha cara? E todo mundo rindo. Porque a celebridade acha que pode
fazer o que quiser.
E rolou a entrevista com ele?
Não, ele não quis falar.
Você se arrepende de alguma
entrevista que fez?
Olha, me arrependo de não ter
perguntado muita coisa para muita gente. Entrevistei agora a Rosane Collor e
achei que faltou, da minha parte, instigar, sabe? Por outros ângulos. Quando da
penada daquele cara depende o futuro, meu, dos meus filhos e dos meus netos,
quero saber tudo dele. Quero saber como é que ele está de humor, se é veado ou
não é, porque as atitudes dele na horizontal explicam as na vertical. Isso não
é fazer fofoca, é saber o humor do cara. Sabe lá se ele não cometeu um deslize
porque saiu de casa assim? Quantos deslizes já não cometi porque briguei com a
minha mulher? Aí minha decisão é intempestiva e faço uma merda. Não é só o
Collor, é desde o Deodoro da Fonseca. Li sobre a vida de todos os presidentes.
Você gostaria de saber se o
que a presidente Dilma faz na horizontal influi na vertical?
Gostaria de saber mais sobre a
história dela. Não é fácil, acho que ela é mais uma vítima do que culpada por
toda a situação brasileira. Eu não tenho a menor dúvida de que intimamente o
que ela quer é o bem do povo, mas ela não consegue, pô! Lá fora, as pessoas não
tem noção de como o que está acontecendo hoje está maculando o Brasil.
Você teve relações com figuras
políticas como o ex-governador Paulo Maluf. Isso lhe causou algum
constrangimento?
Muito pelo contrário. Fui o
primeiro a entrevistar o Paulo Maluf quando ele saiu do cárcere da Polícia
Federal. Sou amigo dele, mas ele sabe que eu não vou tratá-lo como amigo, vou
tratá-lo como um entrevistado dentro das circunstâncias que ele está vivendo e
ponto. Essa distinção as pessoas fazem. Encontrei agora o Duda Mendonça agora
na viagem. “Vamos falar?” E ele: “Não quero falar. Podemos beber a noite
inteira, mas não vou falar”. Mas se ele sentar comigo, vou fazer as perguntas
que têm de ser feitas. Para mim é tudo fonte.
No governo do PT você passou a
ter menos fontes do que antes?
Muito menos. Eu tinha mais
relação com o Lula quando ele era sindicalista. Uma vez eu brinquei com ele:
“Vou te levar no Gallery”, porque o Gallery era o símbolo máximo, né? Era algo
inverossímil na época o Lula dentro da Gallery. Aquela barba toda desalinhada.
Ele me falou: “Amaury, se você pagar a conta eu vou”.
E foi?
Não, mas foi engraçado. O FHC
sempre pautou coisas legais, mas também o atual ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, é um grande amigo meu. Mas não tem nada mais exclusivo, isso
acabou.
A Luciana Gimenez é sua colega
de emissora. Você não tem curiosidade de perguntar a ela sobre a relação com o
Mick Jagger?
Nem para a Luciana que é minha
amiga, nem para o Marcelo de Carvalho, que é mais amigo ainda. Nunca toquei
nesse assunto.
Não é uma história que
interessaria ao seu público?
Mas eu sou um cara de
hierarquia, o Marcelo é meu chefe e a Luciana é mulher do meu chefe. Encontrei
a Luciana Gimenez no Carnaval com a Vera, mãe dela, e ela me disse: “Estou
grávida e vai explodir uma bomba que você não tem ideia do tamanho dela”. Foi a
única coisa que ela me falou, e fiquei encucado com aquilo. Tínhamos ido comer
um churrasquinho ali atrás do Sambódromo no Rio, eu e a minha mulher, a Luciana
e a Vera.
Se você fosse amanhã para a
Bandeirantes, e deixasse de ser uma questão de hierarquia, teria vontade de
esmiuçar esse assunto?
(Pensativo.) Acho que
sim. Acho que eu ficaria mais à vontade fora da casa dela. A gente se patrulha
bastante. Tive vontade de perguntar para a Rosane Collor sobre a vida sexual
dela, já que ela pediu para mim, fora do ar: “Me arruma um namorado bacana e
rico?” Tive vontade de perguntar: “Separada há tantos anos, não teve um namoro?
Está em abstinência?” Tenho vontade de perguntar, e todo mundo quer saber.
Alguém já reclamou de alguma
coisa depois de ter aparecido no programa?
Já teve uma pessoa que
amanheceu na porta da minha casa pedindo para cortar imagem de insert.
Tem as entrevistas e tem os inserts, e esse cara estava no Passatempo em
São Paulo, com uma mulher que não era a dele. Ele amanheceu na minha porta.
“Preciso falar com você, vai acabar o meu casamento”. Cortei. Deixar para quê?
Ele me manda presente até hoje.
Ele é um cara mais famoso ou
mais rico?
É um empresário, não vou falar
o nome senão tudo o que fiz não vai ter adiantado. Dia desses tive um político
também. Geralmente é algo envolvendo mulher. Ás vezes o cara está conversando
casualmente com a moça, mas a mulher dele não vai entender. Geralmente alguém
telefona: “Amaury, aconteceu isso com um amigo meu...” E eu digo:
“Tranquilize-o”, vou lá na edição, acho o cara e digo: “Corta isso aí. Cortou?
Agora apaga essa porta”.
Você saca quando o cara está
com a amante?
Não, muda tudo. Tem gente para
quem preciso perguntar: “É sua mulher ou trocou?” Eu me atualizo antes de
gravar.
Você se depara com frequência
com profissionais na noite chique paulistana?
Cara, prostituta tem em todos
os lugares. Não consigo mais identificar quem é e quem não é, em todo lugar
tem. E eu não tenho um “putômetro”. E depende do que você interpreta por puta,
né? Não é uma interpretação muito difícil?
Nem tanto...
É muito difícil. Tem putas
maravilhosas que assumem o seu papel e putas que manobram toda uma situação ao
lado do marido. Estas são mais putas que as outras. Estou falando da atitude de
puta. Não é necessariamente ser puta, mas manipular como puta.
E isso também tem muito, pelo
jeito...
Tem puta pra cacete.
E aparecer no seu programa
deve aumentar o valor das moças. Como se prevenir disso?
As pessoas que se aproximam de
mim sempre têm um projeto para divulgar. “Vou fazer um curso de modelo em Nova
York”, de repente é puta. E não tenho absolutamente nada contra puta. As
mulheres manipuladoras são piores do que as assumidas.
Você está falando da esposa
que está ali pela grana?
Estou falando de mulheres que
manipulam, que só estão no casamento por causa do dinheiro, que tomam tudo do
cara. É disso que estou falando.
Você conheceu sua esposa e
casou bem jovem. Foi um grande comedor antes de casar?
Um grande comedor de zona. (Risos.)
A sério?
A minha primeira vez foi com
prostituta. Eu tinha 17, 16 anos. Fui com meu tio, que era advogado em Rio
Preto. Era uma época difícil. Você ia no cinema, pegava na mão e se gabava por
pegar na mão. Meu pai tinha uns dicionários Delta Larousse, aqueles
franceses enormes, e tinha a parte da enciclopédia com a anatomia do corpo
humano. Me masturbei muito em cima da Delta Larousse. Quando caiu um
catecismo de Carlos Zéfiro na minha mão, fiquei enlouquecido.
Depois que você começou a
trabalhar na noite, passou a ser assediado?
Eu saía muito, porque depois
que a TV Tupi fechou, fui trabalhar numa revista de mulher pelada chamada Fiesta.
Era uma revista que vendia. E comecei a querer arrumar a revista porque tinha
mulher com celulite, mas tinha uma venda extraordinária. Aí descobri os cromos
suecos. Aquelas loiras esculturais. Falei: “Puta que pariu! Isso aqui é massa”.
E comecei a trocar a mulherada que eles fotografavam. Quando comecei a arrumar,
a venda caiu. E um dia o dono me chama e falou: “Amaury, não está dando certo,
pode voltar com a celulite”. Era uma coisa que não compreendia, como é que o
público podia preferir a revista com as mulheres piores? Sabe o quê? O cara
passa na rua e vê as moças que estão ao seu alcance. Os cromos suecos eram as
mulheres inalcançáveis.
Mas foi muito assediado?
Olha, inexoravelmente a gente
era. Aí você confunde. Tem uma hora que você começa a confundir, se as mulheres
começam a te assediar para aparecer na televisão ou se é por causa de você.
Como eu era um cara ingênuo, na época eu achava que elas estavam dando em cima
de mim. (Gargalhada.) É brincadeira...
Como era administrar isso?
Teve momentos de puxarem você para o banheiro, por exemplo?
Eu sabia que vinha uma
pergunta dessas... (Risos.) Os fins de noite eram sempre muito
fumadíssimos e bebíssimos. Principalmente bebidíssimos. Mas eu sempre fui meio
assim, primeiro porque era casado, e bem casado. E tinha uma responsabilidade
de não querer destruir meu casamento, que era minha família, sempre prezei
muito isso. Então sempre me esquivei desse assédio agressivo. Claro que tinha,
mas sempre mantive uma distância prudente.
Teve momentos de você achar
que se casou muito cedo?
Ah, teve momentos de fazer
piadas com a minha mulher, porque ela sempre esteve perto de mim. Ela foi muito
compreensiva com os mil boatos que surgiam sobre relacionamentos que eu nunca
tive. Mas eu sempre fui muito alegre. E
isso sempre rentabilizou boas entrevistas, matérias interessantes.
E com um ar de sedução no ar
também...
As pessoas falam isso, até
minha filha brinca: “Meu pai com essa mãozinha de siri”. Siri significa que
você está entrevistando a mulher e a sua mão está visível na câmera. A
tendência do entrevistado é se afastar, é uma tendência natural, sair do campo
de luz, por isso a mão ali. Uma vez eu fui para Dubai e lá as mulheres estão
todas vestidas dos pés à cabeça. Fiquei muito amigo do ministro do Turismo de
lá, e um dia perguntei a ele: “Como é que vocês conhecem as mulheres daqui?” E
ele: “Pegando pela cintura você sabe tudo que precisa saber sobre uma mulher”.
E aí eu brincava que eu pegava na cintura porque um xeique de Dubai me ensinou.
Tinha um pouco de ego seu por
estar na televisão no começo?
Eu era vaidosíssimo. As
mulheres todas que não quiseram me namorar, como ficam agora que estão me vendo?
Claro que tinha isso. Meus desafetos, gente que não queria anunciar no meu
jornal, e agora? Porque eu conduzi a coluna social para a televisão. E na
verdade nunca foi só coluna social, tinha uma moldura de coluna social. Vaidade
eu até ainda tenho, mas perdi essa compulsão de me achar. Você acaba se
achando. Não tenho mais isso. Se eu sair da televisão hoje, provavelmente não
vou precisar de um psiquiatra para administrar. A maioria dos meus colegas vai
precisar.
Você lembra de algum momento
em que seu ego deu uma pirada?
Quando fiz a campanha dos
cigarros Advance, que acordei e São Paulo tinha 500 outdoors comigo
fumando. Onde eu passava, eu me via, comecei a achar que eu era o máximo. Só dá
eu aqui! Na cidade inteira! Conquistei São `Paulo. Sabe aquela coisa?
Isso refletia em que?
Acho que uma qualidade que
tenho é ser um eterno insatisfeito. Você não faz um programa ótimo diariamente.
Mas aqueles que são ótimos, sempre acho que eu fiquei devendo. Acho que isso
faz parte da minha ansiedade, de não ficar satisfeito com tudo. Então nunca me
iludi a ponto de deixar meu ego me dominar. Muito pelo contrário. Quando eu trabalhava
na Bandeirantes, a Rosa Saad, uma das donas de casa falava: “Você precisa ser
mais celebridade. Você dá atenção para todo mundo, fala com todo mundo. Não dá
pra te vender assim”. Eu não vou deixar de ir aonde gosto de ir por causa dessa
merda. Essa merda entre aspas, essa coisa maravilhosa. No começo eu achava
maravilhoso, todo mundo querendo tirar fotos comigo. Uma vez, numa viagem, meu
produtor contabilizou 798 pessoas? Mas hoje eu não me importo.
Você vai fazer 65 anos este
ano. Já experimentou algum remédio para impotência?
Eu tomo Viagra pra caralho.
Estou falando sério. O meu médico é o Miguel Strougi, o maior urologista do
Brasil. Minha próstata está em ordem, e ele me recomenda aquele Viagra diário.
É o Cialis. É um por dia e pronto.
Mas estava precisando,
sexualmente falando?
Olha, depende do dia, da
circunstância, se o ar-condicionado está gostoso, depende do estímulo. Como
todo mundo.
Mas não tinha um problema
crônico?
De vez em quando tomava um
para ter um prazo máximo, legal. Sou muito mais seguro no sexo hoje do que
quando eu tinha 25 anos. Aos 25, na minha época, você tinha muita insegurança.
Sexualmente estou bem ainda. Estou muito bem, ficando melhor.
Antes de surgirem esses
remédios, brochar era algo que te assustava?
Vou falar uma coisa para você:
acho que nunca brochei. Sabe por que eu nunca brochei? Porque se eu não tenho
vontade, eu não para a ação. Eu brocho antes. Ou tem vontade ou não tem
vontade. Tem dias que você está enlouquecido. Tem dia que você não está. Mas eu
sou sexualmente ativo pra caralho, sabe?
Sua energia sexual está em
dia?
De verdade. Estou feliz comigo
mesmo. Aí eu faço exames para ver se está tudo certo e eu estou legal. Está
tudo bem. Deus me abençoou mesmo. A única coisa é isso aqui (apontado para o
cigarro) e o estresse. Eu sofro muito com ansiedade.
Ficar sem sexo te irrita?
Muito. Sem sexo, fico
profundamente irritado. Parece que está faltando um braço.
Tipo um mês sem sexo?
Não. Nunca fiquei um mês sem
sexo. Está louco?
Está casado há 30 anos com a
mesma mulher e tem esse desejo sexual, todo dia?
Normal. Se trair for olhar
bunda que passa, eu traio todo dia. Passar uma mulher gostosa e você não
olhar... É a mesma coisa que você estar num restaurante, entrar um cara usando
um escafandro e você não olhar. O Ciro Bateli uma vez apareceu com uma menininha
de 20 anos. E ele tem 78, 79 . E eu falei: “Pô, você é um tarado sexual. A
menina tem 20 anos!” E ele: “Tarados são vocês, que comem a mesma mulher há 40
anos!” (Risos) O casamento não depende só de sexo, ele é consequência de
carinho, de companheirismo, de decisões, de conquistas. Mas o sexo faz falta.
Na hora que acaba, você pula fora.
Você já deve ter tido muita
tentação. É difícil não comer mulheres como as que você não comeu?
Mas isso é medo. Você vai para
o motel, os caras te conhecem... (Risos.) Para que criar dificuldade? Tô
fora.
Sua mulher é muito ciumenta?
Puta que pariu... Eu sou um
dragão aprisionado! Eu brinco e falo isso para ela. Resumindo o programa:
“Senhoras e senhores, amanhã voltaremos com mais um programa na RedeTV! Mais
uma noite em que não comer ninguém!” (Risos.) O eunuco da RedeTV! (Gargalhadas.)
É verdade que você tem tara em
índia?
Um dos meus tesões é índia
pelada. Uma vez vi um documentário do Amaral Netto com índias muito
interessantes, comecei a alimentar uma tara. Mas agora passou. (Risos).
Como lida com artistas que são
gays enrustidos no ar?
Não dou a mínima bola para
essa direita. Todo mundo tem o seu direito, todo mundo pode gozar do jeito que
quiser. Tem que gozar mesmo. Não faço essa distinção. Conheço um monte de gays
enrustidos. Mas acho que quem é gay devia sair do armário mesmo. Se assumir,
ser feliz. Não tenho nenhum preconceito.
Você é a favor da união civil
entre homossexuais?
Absolutamente. Acho que eles
têm todo o direito. Sou a favor da adoção também. Acho que vai resolver o
monstruoso problema de crianças abandonadas no Brasil, que não têm amparo. Tem
até uma piada muito engraçada: um casal de gays adotou um menino. Um deles
estava tomando banho e o garoto entrou no banheiro e disse: “Nossa, papai que
pinto tão grande”. E o pai respondeu: “É que você não viu o da mamãe”. (Risos.)
Isso não bate na frente com a
sua crença católica?
Não. Sou a favor do aborto e a
Igreja Católica condena. Sou contra o celibato e nem por isso minha fé diminui.
Tem padres que não são do bem, são de bens, passam a mão em dinheiro. Conheço
um monte.
É a favor do aborto?
Sou totalmente. As pessoas têm
livre arbítrio. É pior a família ter um filho indesejável do que abortar.
Quando minha filha ficou grávida, eles nem eram casados ainda, eu perguntei:
“Você quer ter essa criança?”.
Você gosta de beber. O que
bebe hoje?
Hoje só tomo champanhe, vinho
branco e bons prosecos. Fui um grande bebedor de uísque, mas não tomo mais. Me
dei com champanhe, é legal, o teor alcoólico é menor, você pode prolongar seu
poder. Uísque incha muito a gente. Hoje eu não compro mais uísque.
Você chegou a ficar bêbado
durante um programa?
Você já me viu bêbado no ar?
Nunca fiquei bêbado no ar. Uma vez eu entrevistei a Bebel Gilberto e ela
estava. (Risos.) E aí brinco que depois do primeiro drinque as pessoas
ficam mais engraçadas. Eu não fico inconveniente. A minha reação quando tomo um
porre é ficar inconsciente. Vou dormir. A coisa mais inconveniente é nego que
ficar bêbado e invade a câmera para falar de projeto pessoal. Já tive mil
casos. Às vezes é amigo, mas eu digo: “Tira esse cara daqui!” Mas o programa
não é ao vivo, então se eu mandar todo mundo tomar no cu, não vai ao ar, vão
tirar na edição. Se colecionar todas as bobagens que falei, e que eu sei que
eles tiram na edição... Coisas que ficam no arquivo secreto. Falei para o meu
filho: entra lá e descobre tudo.
Mas, em festas, você já teve
reações ríspidas?
Teve um cara de Santos,
coitado, que me encheu o saco e eu dei um safanão nele, está aí no YouTube
isso. Mas me arrependi. O cara veio com uma nota de um real e falou: “Eu quero
ser entrevistado”. Que é aquele negócio de: “Ah, só dá entrevista quem paga”. E
eu estava puto porque estava atrasado e tinha um monte de gente para
entrevistar ainda. Era o baile de aniversário da cidade de Santos. E tinha
artista que eu queria entrevistar que ia cantar e ir embora. E o cara vem com
essa brincadeirinha? Mas, em geral, consigo me manter.
Foi a única vez que você
reagiu fisicamente?
Sim. Teve um cara que me
empurrou uma vez, nem vou falar quem foi. Você não vai levar uma porrada e
ficar quieto. E tem marido ciumento que o olhar dele já uma bronca explícita.
Tem tanta situação cheia de firulas... Um lugar que tem dois inimigos viscerais,
que não podem se ver. Muitos têm raiva de mim porque entrevisto pessoas de quem
eles não gostam. Você odeia o cara, aí me vê com ele e fica com ódio de mim...
Em tantos anos cobrindo noite,
em algum momento você teve medo de virar alcoólatra?
Tive. E recorri aos médicos.
Eu não sou alcoólatra, nunca tive vontade de beber de manhã. Quando bebo sinto
euforia, que é quando me acho o máximo, principalmente quando tem mulher bonita
em volta, e depois apago, não passo pela fase da agressividade. Quando começo a
dormir, durmo em pé. Se ficar um final de semana sem beber, fico numa boa. Há
um ano e meio, quando entrei num processo de depressão, fiquei oito meses sem
beber.
Você tem algum remédio para
ressaca?
Eu compro uma pílula nos
Estados Unidos chamada Mega Hangover, é um Engov gigante, tomo antes de beber.
Você tinha muita ressaca?
Nossa... Me pergunta se
entendo de champanhe, de vinho branco, de prosecco. Na verdade, a minha cabeça
entende no dia seguinte. Amanhece uma harpa paraguaia fodida... Bebida ruim me
faz mal. Quando estou numa festa e percebo que a bebida é ruim, já paro de
beber. O meu sonho era poder levar a bebida de casa para as festas, mas não
pega bem.
Ainda tem festa com bebida
ruim?
Nossa, você nem imagina. Você
conta nos dedos as que servem boas bebidas. O que é explicável, o cara vai
servir Veuve Clicquot a 500 pais a garrafa para 500, mil pessoas?
Uísque ruim deve ser mais
difícil ainda, não?
Fui bebedor de uísque a vida
inteira. E sabe o que fiz muito? Cheirei lança-perfume para cacete lá em Rio
Preto, espirrava na perna das meninas. Era um bloco de cheiradores da cidade, o
Bloco dos Enfermeiras. Mas o lança-perfume era uma viagem intermunicipal, matou
muita gente, eu sei, porque os caras exageravam, mas era uma viagenzinha, você
voltava logo, não é como essas viagens interplanetárias.
Foi sua única experiência com
drogas?
Tomei bolinha para estudar,
para ficar acordado, cigarro e lança-perfume. Mas todo mundo sabia dos perigos,
e era condenado já. Cheguei a ficar mal, sem voltar, e aí fodeu, Você cheira,
cheira, cheira, entra numas de não voltar, você demora para voltar, aí dá
desespero.
Você cobriu a noite numa
época, os anos 80, em que a cocaína estava muito em voga. Era difícil fazer
entrevistas com gente cheirada?
Às vezes é até melhor. O cara
fica mais lúcido. Só se o cara estiver visivelmente fora de si, aí você não
entrevista, é que nem quando o cara está bêbado. Mas eu não sei. Como nunca
experimentei droga, só está aqui (levanta o cigarro), então sempre tive
dificuldade. Mas eu sabia que rolava, como rola até hoje. Acho que ajudava, é
minha dedução.
Hoje o que rola mais?
Ainda tem muita droga, mas
hoje acho que com mais discrição. As pessoas agora se preocupam mais. Antes se
cheirava em cima da mesa, hoje não mais. E a cocaína ainda é a que prevalece,
eu acho.
Você fuma desde quando?
Desde os 15, 16 anos. Não com
essa intensidade. Eu fumo um maço e meio, mas se sair à noite, se beber, aí vai
bem mais. Parei por cinco anos, entre os 35 e os 40. Agora estou alternando com
o cigarro eletrônico.
O fato de nunca ter
experimentado outras drogas tem a ver com a relação tão dependente com o
cigarro?
Tive todas as oportunidades de
provar, foi rigor do meu pai mesmo. Ele revistava, cheirava. Todos os meus
amigos fumavam maconha, mas eu tinha medo. E todo mundo fala que é tão bom o
negócio da maconha que estou louco para provas, mesmo. Vai que de repente dá um
puta barato, te deixa inteligentíssimo... (Risos.) Todo dia falo: “Vou
parar com esta merda (levanta o cigarro) e começar a fumar maconha!” (Risos.)
Seu pai passa uma impressão de
ter sido um homem muito rude. Ou vocês não eram muito próximos?
Não, ele não era rude. Ele era
extremamente exigente e rígido comigo e com o meu irmão na questão da educação,
e de droga, de nos cheirar na hora em que a gente chegava em casa. Nós éramos
próximos. A bronca com o meu pai é uma só. Ele me fazia ler pelo menos um livro
por mês, e ele me fazia contar. Então não adiantava tentar enganar. Meu pai era
um tutor do idioma, ou seja, falar errado para ele era o mesmo que ofender a
Deus. Começou com Monteiro Lobato, aí foi subindo. Isso ajudou o meu
vocabulário. Hoje eu sou um leitor. “Haja vista” aprendi com ele, eu falava
“haja vista” na televisão e ele queria me matar.
Quando ele viu você na
televisão as primeiras vezes, sentiu orgulho?
Ele tinha uma lousa, e todos
os erros que eu cometia na televisão ele anotava na lousa. (Risos.) E aí
ele ligava: “Você viu o que você falou? Não é possível!”
Mas não perdia um programa
seu, pelo jeito...
Se perdia, gravava. E não
deixava passar um erro. Naturalmente ele devia olhar com orgulho, mas a parte
dos meus erros de português, meus eventuais erros de concordância, masculino,
feminino, próclise, mesóclise, o cacete... Ele anotava tudo! Mas me ensinou
coisa que às vezes eu uso. É uma linguagem meio rebuscada, que não tem mais
espaço na televisão. O sonho do meu pai era que eu fosse advogado. Então eu fiz
direito, me formei, mas já estava trabalhando como jornalista na época. Ele
achava que o jornalismo era uma putaria.
Como era a sua vida
profissional em Rio Preto?
Chegou a um ponto lá que eu
tinha uma coluna no jornal diário, no Diário da Região, fazia
documentários que passavam no cinema e tinha um programa de televisão na TV Rio
Preto, que era subsidiária da Globo, fazia gincana entre duas faculdades, todo
sábado, em auditório. Uma coisa engraçada na gincana foi que um dos pedidos que
fiz uma vez foi: “Quem trouxer a sósia mais parecida com a Brigitte Bardot
ganha um prêmio”. E trouxeram uma moça linda, loirinha. Era a Ana Maria Braga!
Ela começou lá.
E vocês namoraram?
A gente era amigo mesmo, saía
junto, ela ia me buscar em casa. A gente ia tomar chope junto. Se ela ainda é
uma bela mulher hoje, você não sabe como ela era naquela época. Ela entrou no
ar nesse dia da gincana e parou no auditório. Era muito bonita.
A gente conversou por quase
nove horas e você pareceu um homem muito mais focado, inteligente e culto do
que dá a entender pelos seus programas. Você é visto por muitos como um cara
folclórico. Sente falta de ser levado mais a sério?
Eu sei disso, e me incomoda um
pouco, sim. Mas não vejo como, dentro desse setor, eu poderia aquirir mais
respeitabilidade ou credibilidade do que consegui, fazendo o que me foi legado
dentro do jornalismo, que é cobrir noite, cobrir festa, conversar com artista.
Cometi muitos exageros lá atrás, e para você mudar uma impressão é difícil. É
aquela velha frase, você nunca tem uma segunda chance de causar uma boa
primeira impressão. Quando comecei, eu não tinha experiência, era mais atirado,
mais metido, tinha mais vontade de fazer, mais ansiedade de ficar famoso, era
tudo mais. Mas com menos conhecimento, menos bagagem, menos envolvimento. Às
vezes penso nisso, já tentei algumas vezes mudar o programa, torná-lo mais
sisudo, mais sério, mas não consigo, as pessoas querem me ver nas festas. Se eu
paro de ir às festas, o público fica enlouquecido.
Então te incomoda não ser
levado a sério?
Eu sou levado a sério. Eu não
gosto desse aspecto de puerilidade, que parece que o que eu faço é descartável,
desnecessário. O que eu cubro é importante. Tem o lado mais jornalístico, como
a entrevista com o FHC, mas se você depender diariamente disso, você não faz. A
última exclusiva com o Roberto Carlos para o meu programa, por exemplo, foram
três dias de altíssima tensão para conseguir gravar 15 minutos. Dody Sirena, o
empresário dele, é meu amigo, o Roberto é meu amigo, mas ele não pode dar
entrevista por causa da Globo. Aí ele me falou: “Quando acabar o show, vai nos
bastidores, bota um pessoal atrás de mim e me surpreende”. (Risos.)
Levei um monte de gente, umas 20 pessoas. De repente: “Roberto?” “Oh,
Amaurizão...”
Publicado originalmente na
revista “Playboy” em junho de 2015
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