Playboy entrevista Marcelo Rezende (dezembro de 2014)
Uma conversa franca com o
apresentador do Cidade Alerta, da Record, sobre sua infância pobre, a
juventude hippie, a carreira na televisão, jornalismo policial, drogas,
mulheres, viagra e o dia em que perdeu o emprego por causa de uma transa
A BMW modelo Z4 freia na
cancela do luxuoso condomínio em São Paulo. Dentro do carro, o apresentador
Marcelo Rezende acena após mais um dia de trabalho na Rede Record. Um taxista
acena de volta e diz que ele deveria ser presidente do Brasil. Com posições
políticas fortes, Rezende caiu nas graças da audiência vespertina quando voltou
a apresentar o programa Cidade Alerta, em 2012, limpando a imagem de “o
cara antipático e truculento da TV”, e quebrando o ritmo de suas pautas
violentas com tiradas irônicas. A vice-liderança no horário e os 11 pontos de
média no Ibope corroboram a mudança. “Encontrei um paliativo. Eu brinco, me
divirto, coloco apelido nos repórteres. Transformei meu telejornal num programa
com entretenimento”, explica.
Ao entrar na casa de três
andares, inaugurada há pouco mais de dois anos, volta de seu quarto de bermuda,
chinelo e camiseta – não há fotógrafos ou assessores o rodeando. Enquanto
conversa, prepara uma vasilha com purê de mandioca como guarnição para um de
seus pratos favoritos: bife à milanesa. Apesar de andar diariamente pelo
condomínio, sabe que está acima do peso. Antes de devorar o jantar, abre um dos
vinhos premiados de sua rica adega climatizada com mais de uma centena de
rótulos – paixão que vem desde os anos 1980. Descontraído, fala por mais de
três horas sobre a dicotomia polícia e bandido, paixões, polêmicas e o que
gosta de fazer no tempo livre.
Um dia antes, entretanto,
Marcelo estava elétrico. Era uma manhã de segunda-feira e, em poucas horas, ele
entraria ao vivo para apresentar seu programa de mais de três horas de duração
diária. Pai de cinco filhos com cinco mulheres diferentes, o apresentador
recebeu o jornalista Marco Bezzi em um dos camarins da Rede Record, no
bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Cercado por um fotógrafo e uma
assessora da emissora, na ocasião mediu mais as palavras. Falou exclusivamente
de sua vida antes da televisão. Contou que nasceu em 1953, num cortiço do Rio
de Janeiro, filho do bancário Iaures e da auxiliar administrativa Aurea. Aos 6
anos de idade, foi levado pelo pai para estudar na Escola Granja, onde ele
trabalhava, e que depois seria parte da Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar
do Menor). No semi-internato, Marcelo aprendeu a beber, a cometer pequenos
delitos, e conheceu de perto o mundo da bandidagem. Decidiu virar hippie e se
mudar para Bahia aos 16 anos. Seus pais imaginavam que seu futuro estaria
ligado à marginalidade. E não é que eles acertaram?
Antes de se perpetuar no
jornalismo investigativo, mergulhou no mundo do futebol. Seu primeiro emprego
foi aos 17 anos, como repórter do carioca Jornal dos Sports – isso sem
nunca ter cursado uma faculdade. Depois, passou pelo também carioca O Globo,
onde ficou próximo de seu ídolo Nelson Rodrigues, e depois foi para a revista
PLACAR, onde teve o jornalista Juca Kfouri como chefe. Em 1988, saltou para a
TV. Em mais de 40 anos de carreira, passou por Globo, SBT, Bandeirantes,
RedeTV! e Record. Reportagens como a do escândalo da Favela Naval e a do falso
integrante do PCC no programa do Gugu o consagraram. Contou muitas dessas
histórias no livro Corta Pra Mim (Ed. Planeta), lançado em 2013 e
frequente nas listas de mais vendidos do país. Em duas sessões e mais de seis
horas de conversa, se emocionou algumas vezes quando falou da família. E se
inflamou na mesma intensidade quando comentou as críticas a seu programa. Corta
pra ele.
Você já foi taxado de
reacionário e de ser contra os direitos humanos. Como recebe essas críticas?
As comissões de direitos
humanos são fundamentais para o país, especialmente em momentos de exceção, mas
me perdoe, hoje em dia existem comissões de direitos humanos que só servem para
amparar vagabundos. Você precisa ter comissão de direitos humanos para todos.
Nesses anos de jornalismo investigativo, vi famílias sendo dizimadas, vi
chacinas, vi sequestros, vi todo tipo de barbaridade, mas nunca vi uma família
vítima de um crime receber uma visita da comissão de direitos humanos. E
desafio qualquer um a me mostrar uma imagem. Temos inúmeros exemplos de filhas
sequestradas, levadas para cativeiros, abusadas sexualmente, ameaçadas de
morte, quando não assassinadas... E aí o cara é preso e tem a favor dele a
comissão de direitos humanos. Isso aí é uma esculhambação que chega a fazer a
gente ficar incrédulo.
O jornalismo que você faz não
alimenta a criminalidade?
Imagine uma pessoa que se
formou em jornalismo e saiu para cobrir a Sasha, a Xuxa e do cãozinho “Xuxo”. E
eu sou o sensacionalista? Alguns estereótipos que são criados por falta de
criatividade. O Cidade Alerta reflete o que é a realidade brasileira. Se
eu morasse na Finlândia, ia falar da pesca do salmão; se morasse na Noruega, da
pesca do bacalhau. No Brasil, o povo está pescando tiro. Se fizéssemos como o
avestruz, que esconde a cabeça, estaríamos numa situação ainda pior.
Mas as atrocidades da polícia
não deveriam ter o mesmo espaço nesses programas?
E têm. Um policial, quando
extrapola, é um bandido. Não é que a gente tem mais medo da polícia do que do
bandido, é que a gente não sabe mais quem é quem. O governo, em todos os
níveis, deveria ter mecanismos muito mais rigorosos de fiscalização. Hoje todo
mundo quer ter emprego público. O sujeito não tem a menor afinidade com a
profissão e quer virar juiz ou policial.
Sua proximidade com a polícia
não distorce os relatos do programa?
Tive uns três, quatro amigos
na polícia, mas no momento em que eles atuavam eu me distanciava da pauta. Hoje
não tenho relação nenhuma, tenho alguns conhecidos. Polícia para mim é fonte,
ponto. Não tenho amigo diretor de polícia, secretário de segurança, ministro da
Justiça. Tenho um distanciamento ético. Nos meus 17 primeiros anos cobri
esporte. Na minha frente passaram Pelé, Falcão, Rivellino, Zico, Sócrates,
Júnior, e por aí vai. Fiz alguns bons conhecidos, mas não fiz nenhum amigo. Se
fosse amigo, não poderia analisar uma partida, por mais isento que fosse.
Por falar em isenção, como é
ter como chefe o bispo Edir Macedo?
Vou te dar um exemplo: o Edir
Macedo é radicalmente contra a pena de morte. Numa reunião com os diretores,
ele disse: “O Marcelo é a favor da pena de morte, e ele está errado”. Sabe o
que aconteceu? Nada. Ele nunca me proibiu de falar sobre o assunto. Tanto na
Globo quanto na Record, eu sempre tive liberdade para falar o que bem
entendesse.
Ser a favor da pena de morte é
algo recente na sua biografia, não?
Eu era completamente contra a
pena de morte. Acreditava que o Estado não poderia ser assassino do assassino.
Mas hoje sou a favor em alguns casos, como nos de violência sexual contra
criança e mulher. Para isso não existe recuperação. Pode perguntar para o maior
estudioso do tema, o (psiquiatra forense) Guido Palomba, se ele já viu
alguma vez um maníaco sexual se recuperar. Se ele disser que sim, pago a você o
dinheiro que quiser.
Mas o Estado não deveria dar
educação antes de julgar?
Boa parte dessas pessoas nasce
com o chip com defeito. Por isso também sou a favor de baixarmos a idade penal.
Pega, por exemplo, o caso que aconteceu no Morumbi, quando uns moleques
entraram numa casa e depois de roubar colocaram fogo num casal de velhos para
se divertir. Eles eram menores de idade. Eu tenho que sustentar esses caras? Na
Fenem (como era conhecida até 2006 a fundação Casa), os caras botam fogo
no diretor.
Você frequentou a Febem quando
criança. Como foi essa experiência?
Meu pai era funcionário de um
banco que faliu logo que nasci. A vida era dura porque ele não ganha nada e
minha mãe ganhava muito pouco. Quando completei três anos, meus pais adotaram
meu irmão. A maré era difícil, então fomos morar num cortiço na Tijuca. A casa
era minúscula, não tinha banheiro, não tinha nada. Havia uma cama, um berço e
um fogãozinho de querosene. E meu pai era gordo, tinha 1,80 metro e mais de 160
quilos. As coisas melhoraram um pouco quando eu fiz seis anos. Meu pai arrumou
um emprego de inspetor de alunos no serviço de assistência ao menor na Escola
da Granja, que depois veio a ser parte da Funabem. Eu não era um interno, mas
meu meio social era aquele. Os garotos chegavam com mais idade, não tinham pai
e eram infratores. Sempre digo que bandido eu conheço desde berço, ninguém
precisa me apresentar.
Você tinha amigos que eram criminosos? Tinha contato direto com o crime?
Na década de 1950, mataram uma
mulher em Copacabana chamada Aída Curi (o crime aconteceu em 1958). Uns
caras levaram a garota para cima de um prédio para comê-la, deu alguma confusão
e jogaram a mulher lá de cima. Um deles era um menor de idade chamado Cássio
Murilo. Ele tinha uns 16 anos. Pois o Cássio Murilo foi parar no meu colégio,
virou meu amigo de pipa, de correria. Minha mãe entrou em pânico. Um tempo
depois, ele foi para o Exército e matou um oficial. Outro escândalo. E, de
repente, apareceu em casa para fazer uma visita. Minha mãe quase morreu do
coração. Estou contando para você perceber a facilidade que eu tenho para
entender esse negócio de crime, entender o que é a mente assassina.
Você se metia em brigas?
Nunca fui muito de briga,
sempre resolvi as coisas do meu jeito. Mas tem hora que não dá para segurar.
Havia um garoto que chamávamos de Pai do Circo, porque uma vez estava numa
cidade do interior, foi ver o circo sem pagar e os funcionários deram uma surra
nele. Na noite seguinte, ele voltou, tacou gasolina na lona e meteu fogo com
todo mundo dentro. Ele foi para o colégio, e era folgado. Uma vez foi roubar
minhas bolas de gude e a porrada comeu. A escola estava trocando a cerca por
uma de arrame farpado. Caímos e rolamos pelo arame, saímos esfolados. Cheguei
em casa muito arrebentado. Mas isso criou em mim uma coisa curiosa. Eu sabia
que tinha de resolver meus problemas. E eu resolvia do meu jeito.
Vocês apanhavam muito?
Aparecia gente machucada toda
hora. Os inspetores batiam muito. Lembro de uma briga que um menino maior bateu
num menor. Fui me meter e levei uma porrada, meu olho ficou igual ao de um
desenho animado, daqueles que pulam para fora. Minha avó falou que ia botar
gelo, mas antes perguntou o que eu tinha feito com o cara. Eu disse: “Nada”.
Ela falou: “Então não botar gelo porra nenhuma! Vai lá e dá-lhe uma porrada”.
Peguei um pedaço de pau e dei na cabeça do cara. Quase matei o sujeito. Era
simples assim. Era divertido.
Foi nessa época que você
aprendeu a beber?
Comecei com 10 anos. Na escola
faziam um negócio chamado Maria Louca (uma aguardente típica das prisões
brasileiras). Sempre gostei de beber, e nesse colégio tinha de tudo. Na
época, não existiam cocaína, LSD, essas coisas. Mas existia a maconha.
E sexo, quando começou?
Perdi a virgindade numa zona
do Rio de Janeiro, onde hoje é a Cidade Nova, aos 14 anos. Fui levado por uns
amigos. Pra você ver, gostei tanto que, anos depois, aluguei um apartamento no
mesmo lugar da zona.
Alguns anos depois, você
decidiu dar uma guinada total na sua vida e virou hippie. Por que tomou essa
decisão tão drástica?
Levava uma vida agitada, saía
muito, então decidi aos 16 anos morar em Mar Grande, na Ilha de Itaparica (na
Bahia). Comprei um saco do Exército, botei minhas coisas e fui encontrar
uns amigos da Tijuca, que eram uns outros delinquentes. (Risos). Meu
cabelo vinha até o ombro.
Quantas pessoas ficavam na sua
comunidade?
Umas 12. Vendíamos brincos,
colares, pulseiras. Como eu não tinha jeito para trabalho manual, ia vender com
um cara de apelido Tigrão. Sempre fui muito falante, e conseguia vender bem.
Todo mundo comia todo mundo?
Umas duas garotas da região
namoravam uns quatro rapazes. Mas não era por mal. A vida era assim.
E com relação às drogas, você
experimentou tudo?
Eu gostava de beber, bebia
todos os dias. Mas sempre tive cisma com drogas. Rolava muito LSD, muita
maconha e haxixe. Cocaína aparecia de vez em quando. Mas não era a minha onda.
O que mais vocês faziam para
passar o tempo?
Escutávamos muita música: Pink
Floyd, Jethru Tull, LedZepellin, Alice Cooper, Emerson, Lake & Palmer e
Novos Baianos. A gente se divertia. Mas então eu cismei que não queria mais
ficar lá. Fui morar numa casa que um amigo meu tinha feito em Ponta Negra, no
Rio de Janeiro. Fiquei alguns meses, arranjei uma namorada bem novinha, virgem
ainda, e decidi ficar lá. Virei pescador. Mas quando fiz 17 anos tive um estalo
e decidi voltar a estudar.
Estudar jornalismo?
Não fui tentar recuperar o
tempo perdido. Voltei para o colégio, mas precisava fazer uma prova de
reavaliação. Quem aplicou o teste foi um professor de mecânica que vinha da
Segunda Guerra Mundial, um almirante que morava numa casa de esquina na minha
rua e tinha um carro preto que era o xodó da vida dele. Mas o filho da puta não
queria que ninguém passasse. Eu peguei a prova, olhei, dobrei e entreguei a
folha em branco. Não deixei barato, estava muito puto. Eu e uns amigos da
Tijuca decidimos roubar o carro e dar um sumiço nele. Fui no colégio no dia
seguinte só para ver a cara dele.
E como foi parar no
jornalismo?
Aos 17 anos, fui conversar com
um primo que trabalhava como copidesque (responsável pela revisão e checagem
de texto) no Jornal dos Sports. Pensei em arranjar um emprego de
office boy, mas até limpando privada estava bom. Cheguei na redação e, de
repente, passou um homem com uma lista enorme e uma máquina Olivetti de
escrever. Vi aquele homem de uns 40 anos parado, batendo na máquina antiga, e
decidi ajudá-lo. No outro dia, meu primo me ligou e perguntou se eu queria
trabalhar no jornal. “Aquele cara que você ajudou é diretor geral, e quer que
você venha trabalhar como repórter”. No dia seguinte, comecei ganhando cem
cruzeiros. Mas não me emendei. Um tempo depois, conheci duas garotas e fomos eu
e um amigo para um apartamento em Copacabana. Passamos o domingo todo fodendo.
Na segunda eu ia fazer minha primeira viagem como repórter para entrevistar o (técnico)
Tim. Mas o problema é que a garota era mais gostosa que o Tim, e eu fiquei com
a mulher. Me mandaram embora.
Como você conseguiu um emprego
no jornal O Globo depois disso?
Decidi mudar de vida. Consegui
um emprego como radioescuta da Rádio Globo e logo depois virei repórter de
esportes amadores no jornal. Fiz 21 anos e fui convidado para ser copidesque de
O Globo, que na época era tipo uma entidade. Nesse período, parei tudo.
Parei de beber, de sair... Não a zero, óbvio, mas reduzi 50%. Nem minha família
entendia. Mudei da água para o vinho. Lia o que vinha pela frente.
E como foi que você conheceu o
Nelson Rodrigues?
Eu estou lá trabalhando de
copidesque, nisso senta um cara na minha frente. Quase desmaio. Era o Nelson
Rodrigues! Já tinha lido todos os livros dele, era apaixonado por aquela coisa
dramática e conservadora ao mesmo tempo, tinha um verdadeiro amor pelo que ele
escrevia. Ele senta na minha frente e diz assim: “Garoto da sua idade tem nojo
de chupar boceta”. Eu olhei e disse: “Mas faz tempo que você não vê uma, né?”
Ficamos amigos. Era muito engraçado, ele não enxergava, então íamos para os
jogos de futebol juntos e ele ficava me perguntando do jogo, e eu respondia na
maior inocência. No jornal tem um monte de crônica que ele fala de mim, me
botou o apelido de Marcelinho. Aí ele começa a crônica assim: “Este Marcelinho
é uma besta, ele vai ao futebol e não consegue enxergar o que está vendo”. Era
ele que não via porra nenhuma! Era um jogo que só existia na cabeça dele, o
Sobrenatural de Almeida. E assim foi até ele morrer.
Você também foi colega do João
Saldanha, não foi?
Eu e o João viajávamos sempre
juntos, e também frequentávamos a praia no mesmo lugar, entre o Arpoador e
Ipanema, um lugar chamado Castelinho, que não existe mais. Ali iam os caras
antigos do futebol, Carlinhos Niemeyer, do Canal 100, Sandro Moreira, colunista
importante da época, e jogadores da velha guarda... Eu era o único novo. Aquilo
estreitou nossa amizade. Nas viagens, ele dizia: “Anda, porra! Você escreve
demais!”, porque ele queria me levar para museus, para conhecer as coisas. Eu
respondia: “No dia em que eu for o João Saldanha, vou escrever 30 linhas. Você
pode, eu não posso...” (com a voz embargada.) Quando ele morreu, eu
escrevi umas 20 páginas sobre ele para PLAYBOY (na verdade, 11 páginas em
outubro de 1990). Era um livro que ele me pediu para escrever sobre a vida
dele. Eu tomei o depoimento, parei pela metade, e nesse momento, quando ele
morreu, fui tentar escrever. Mas não conseguia, começava a chorar. Era um
sofrimento. Aí o Juca (Kfouri), que cuidava da PLAYBOY, me ligou pedindo
a história do João. Eu disse: “O que tenho está gravado, mas não vou escrever.
Posso te entregar o que já está mais ou menos escrito, mas o resto é muito
sofrimento”. E o Juca publicou.
O Saldanha era um sujeito bem
irritado, não?
O João era na dele, mas quando
invocava... Certa vez, nós fomos ao Chile acompanhar um jogo do Brasil, isso no
início dos anos 1980, época do (ditador Augusto) Pinochet, com toque de
recolher que, se não me engano, começava às 7 da noite. Aí o João resolveu sair
para beber. “Mas, João, daqui a pouco tem toque de recolher!” E ele: “mas que
toque de recolher o cacete! Esquece isso”. Esquece isso? Era uma ditadura
sanguinária, porra! Como é que eu ia esquecer isso? Mas acabei indo com ele.
Aquela porrada de gente falando mal do Pinochet, e eu só pensando: “Eu vou me
foder, eu vou me foder...” Naquela altura, ele já não bebia muito, porque um
pulmão era um queijo suíço e o outro não existia mais de tanto que ele fumou.
Mesmo assim fomos embora do bar só de manhã. Voltando, na terceira rua apareceu
uma porrada de cara armada, aqueles tambores de lata pegando fogo para mostrar
que era uma barreira policial. “E agora, senhor João Aves Jobim Saldanha, que
porra nós vamos fazer da vida?” Veio um cara e ele dizendo que era “periodista
brasileiro”, começou a conversar com o cara. Veio então o tenente que comandava
sei lá que porra, e ele: “Sou jornalista, está aqui minha credencial, vim
cobrir a seleção brasileira e não sabia de nada”. Isso com a cara mais inocente
do mundo. E não é que o filho da puta fez com que a polícia fosse nos
escoltando até o hotel?
Depois que você virou repórter
policial, esse medo de morrer virou algo comum?
Já fiquei no meio de vários
tiroteios na minha vida. Fiquei em tiroteio na Rocinha, no Borel, na Mangueira.
É óbvio que você pode morrer, mas precisa ter calma e, mais do que isso, não
dar chance ao azar. Muitas vezes, você já está tão envolvido que não presta
mais atenção, mas eu sempre preste. Tem esse livro que todo mundo gosta de ler.
A Arte da Guerra (tratado militar escrito durante o século 4 antes de
Cristo pelo chinês Sun Tzu), que diz que a melhor defesa é o ataque. É
mentira. A melhor defesa e o melhor ataque são você esperar a fragilidade do
outro. Se você sair correndo em cima do seu adversário, pode ser surpreendido.
Ao mesmo tempo, se você ficar acovardado, cede uma série de espaços. Eu sempre
tentei refletir, mesmo na hora em que estava em meio a um tiroteio. Sempre
tentei entender para onde eu ia, em vez de ficar correndo igual um desgraçado
sem saber o caminho. Eu aprendi um negócio com o Armando Nogueira (jornalista
morto em 2010) que é sensacional. Serviu para a minha vida inteira. Eu
tinha entrado na Rede Globo e rolou uma baita enchente no Rio. Fui recrutado,
mesmo sendo do esporte. Estava todo mundo correndo, o armando Nogueira me
segurou pelo braço e perguntou: “Está correndo por quê?” Eu respondi que estava
correndo como todo mundo pelo meu trabalho. Ele disse sabiamente: “Esquece.
Esse povo está correndo sem saber o que quer. Isso é mais encenação do que
verdade. Vai devagar que você vai fazer a mesma coisa com mais tempo e ainda
vai oxigenar melhor o cérebro”. Levei isso para o resto da minha vida.
Você acha que o Tim Lopes deu
chance para o azar?
Uma questão importante para
mim é a seguinte: a minha cara, as pessoas conhecem; a do produtor não deve
conhecer jamais. O Tim ganhou um prêmio com aquela matéria da feira das drogas,
feita no mesmo ambiente em que ele depois foi gravar o funk que leiloava
garotas. Quando o Tim ganhou o prêmio, foi receber. E ele recebeu num Jornal
Nacional, que naquela altura dava uma audiência da porra. E depois ainda
voltou no lugar, porque na real não tinha dado certo na primeira vez. Aí não
teve jeito. Quando ele estava no bar esperando o contato, deu azar, um dos
caras que tinha caído na feira das drogas o reconheceu. Quando eu entrava num
negócio perigoso desse jeito, eu entrava para dar certo na primeira vez, não
tinha a segunda. A segunda eu deixava para daqui a um ano, porque é muito
arriscado.
Você já deu tiro em alguém?
Não, nunca andei armado.
Nunca.
Nem anda com segurança? Não
tem medo de levar um tiro pelas costas, já que mexe com pessoas poderosas, como
no caso da Favela Naval (em que policiais militares de São Paulo foram
flagrados agredindo e roubando moradores de uma favela durante uma blitz)?
Eu acho que Deus protege. Acho
que tenho um pacto com Ele que dá certo. Mas uma vez passei um sufoco e achei
que a coisa ia babar.
O que aconteceu?
Em 1999, eu estava fazendo o Linha
Direta na Globo quando o tocou o celular e era minha ex-mulher, aos
prantos. “Tentaram me sequestrar, tentaram me sequestrar!” Eu tinha comprado
pra ela uma Jeep Cherokee, que era da Sasha (Meneghel), e que a Xuxa
tinha mandado blindar igual um tanque de guerra. Você ia fazer uma manobra numa
curva e ele era pesado. As blindagens de antigamente eram muito pesadas, e pra
cuidar da Sasha, então, imagina? Era pior ainda. Ela dirigiu uns 20 dias, e não
aguentou. Resolvei que queria um outro Cherokee, esse sem blindar. Como eu não
consegui convencê-la, apertei o botão de “que se dane” e comprei. Roubaram o
carro com ela dentro duas semanas depois. Quando cheguei em casa, ela estava
sem a chave, os caras tinham roubado a bolsa, e mulher adora levar tudo na
bolsa, até o gato de estimação se bobear. Por isso, se você quer algo inseguro
é uma bolsa de mulher: tem foto do marido, do filho, conta cheia de endereço, e
por aí vai. Quando acharam o carro, fui atrás do guincheiro que trouxe pra
delegacia. Chamei e disse: “Sabe onde você pegou o carro? Você vai em contar
legal onde é, porque se eu for embora, vai ficar ruim pra você”. Aí o cara
contou que eram uns moleques assim, assado. Ele sabia de tudo. Mandei grampear
o celular roubado e descobri que os caras ligaram para a Região dos Lagos, no
Rio de Janeiro. Peguei o endereço e fui sozinho. “Vocês sabem que eu sou?” Os
caras sabiam. “Sabem aquela Cherokee que vocês roubaram? Tinha uma bolsa, cadê
a bolsa?” Qual era o meu medo? Não era de eles meterem um sequestro lá em casa,
porque eles eram uns merdas, mas sim de entregarem pra alguém mais
profissional. “Nós liberamos tudo, jogamos fora, pegamos dinheiro, cartão de
crédito e o resto jogamos fora”. Eu disse: “Lembra que eu sei quem vocês são,
sei onde vocês moram. Sei onde mora a sua tia. Sei quem é quem nisso aqui”.
Aquele foi o dia em que eu mais tive medo, porque é um medo que você não sente
por você, mas pela sua família.
Você tem cinco filhos, um
menino e quatro meninas, com cinco mulheres diferentes. Nunca pensou em ter uma
família mais “tradicional”?
A vida inteira eu quis ter uma
família e não consegui. Eu fiz cinco filhos com cinco mulheres diferentes, e
não consegui construir aquela família estruturada de domingo. É a antítese do
que eu aprendi e do que sempre tentei. Eu busco ainda, mas meus casamentos
foram muito rápidos – menos o último, que durou 18 anos. A minha filha mais
velha mora em Amsterdã, chama-se Patrícia, e agora está grávida do meu segundo
neto. Na época em que a mãe dela ficou grávida, ela viajou, foi embora, e eu
não queria ter filho. Foi uma coisa meio traumática. Um erro que cometi de não
querer conhecê-la quando ela era pequena, porque intempestivamente fiquei com
raiva. Se eu pudesse refazer a vida nesse aspecto, teria refeito. A minha
terceira filha também só fui conhecer quando ela tinha 20 anos de idade, porque
a mãe dela engravidou, eu não queria que engravidasse, e houve uma absoluta
separação. Cometi dois erros na vida, erros muito graves pelos quais eu não me
perdoo, que foram não querem conhecê-las porque as mães quiseram ter os filhos
e eu não queria ter. Mas também não as obriguei a tirar. Meu erro foi não as
reconhecer imediatamente. Até hoje eu sofro.
Você é a favor do aborto?
Sou a favor. Como você pode
imaginar que as pessoas podem ter domínio sobre o corpo das outras? Não dá para
ser contra. Meu caso era diferente. Só achei que estava acontecendo tudo muito
rápido. Mas a partir do momento em que minhas mulheres ficaram grávidas, dei
todo o apoio. Agora, imagine a situação de uma família em que o homem chega
bêbado em casa e força a mulher a fazer sexo e a engravida. Ou uma mulher que é
violentada na rua. Cada pessoa sabe exatamente as circunstâncias em que aquele
problema lhe aflige. Por isso sou a favor do aborto. Mas sou também
literalmente a favor do controle de natalidade. Acho uma inconsequência um
governo não ter um programa de controle de natalidade, programas educacionais
para que as mulheres possam se proteger. Não é possível as pessoas jogarem
filhos no mundo para ficarem em esquinas e serem criados por avós.
Seu último casamento terminou
de forma traumática?
Terminou em 2011. Mas em 2009
as coisas começaram a ficar feias. Aquela altura eu já estava havia cinco meses
desempregado. Um dia, minha ex-esposa entra no quarto e diz: “Essa casa não tem
dinheiro para nada, não tem dinheiro para champanhe, não tem dinheiro para
carro novo, nem para viajar”. Imagine para um sujeito que passou a vida inteira
trabalhando, de quem as pessoas sempre gostaram, que sempre, graças a Deus, deu
certo, de repente se ver numa encruzilhada absoluta, sem saber o que fazer da
vida. Não tinha emprego. O diretor do SBT foi a minha casa, mas não virou. O
Douglas (Tavolaro, diretor de jornalismo da Record) falava comigo, mas a
resistência a mim ainda era forte na emissora. Na Globo, havia uma barreira
entre os diretores. Estava sentado na minha cama e tinha acabado de receber a
última parcela da RedeTV!. Eu olhei firme para o céu, pois acredito em Deus firmemente,
e disse que já havia feito a minha parte, o Senhor agora corre porque eu não
tenho mais força. A minha sorte é que a RedeTV! foi de uma correção exemplar
comigo. Nós negociamos o pagamento de 2 milhões que eles me deviam em oito
meses, e eles pagaram integralmente, certinho, sem problema. Felizmente, depois
desse período, fui contratado pela Band. Para você ter uma noção, quando me
empreguei na Band, ganhava um sexto do que ganhava antes. Também reduzi minha
vida para um sexto, só queria acabar a casa. Naquele momento, segurando
dinheiro, decidi que precisava reerguer a minha vida. Muita gente dizia que
minha carreira tinha acabado.
Você fala muito em Deus. É
religioso?
Não acredito e não gosto de
religião. Ela divide o homem, ela não leva o homem para um caminho de
agregação. Eu acredito em Deus, em um diálogo com Ele. Não preciso de
intermediário, o que não significa que eu não possa escutar um sermão de um
padre, de um bispo ou um conselho de um espírita. Quer ver uma coisa que eu
acho de abestalhado? A história que se fala do dinheiro que a Igreja Universal
pega dos fiéis. Mas vai pegar de quem? Da Casa da Moeda? De uma máquina de
fazer dinheiro falso? Como é que se fez a construção da Igreja Católica? Com
doações, e pior, doações vendendo indulgência! Com a Santa Inquisição, vendendo
espaços, vendendo alforrias. Assim se fez a fortuna da Igreja Católica. E ela
tem suas marcas, que são difíceis de engolir. A última é a da pedofilia
generalizada. Vai pedir dinheiro pra mim, eu não vou dar. Como também não vou
dar pra Universal.
Você se recusou a falar mal do
Edir Macedo quando estava na Rede Globo. Por que aceitou fazer uma matéria
detonando o Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, na Record?
Porque ela foi brilhantemente
apurada pelo Amauri Ribeiro Júnior e pelo Leandro Santana (produtores da
Record). Quando o Douglas Tavolaro foi à minha casa pedir para eu amarrar a
matéria, não tinha noção de quem era o Valdemiro, apesar de falarem que ele
morava no meu condomínio, cinco ruas para cima. Eu nunca o vi. E tenho uma
encrenca em dizer não para o Douglas. Ele é meu chapa. Mas, se fosse preciso,
eu diria. Minha primeira pergunta foi: “A gente tem prova? Tem prova documental?
Tudo?” As provas eram tão consistentes e robustas que não era mais a igreja,
era um homem desviando dinheiro da igreja pra si mesmo, completamente diferente
da época em que me pediram para fazer uma devasse sobre a Igreja Universal.
Naquela época era uma acusação sobre saco de dinheiro sendo carregado. Tem
dinheiro sendo carregado por todas elas. Amigo, é melhor ter uma igreja do que
um ponto de droga, uma casa de prostituição. Eu não gosto de religião, mas sem
ela ia ser um caos absoluto. A diferença é que a Igreja Universal era uma
história que, pra mim, não tinha consistência. Eu achei, pelo menos. A Globo
não achou. Mas ninguém me obrigou a fazer. Se eu não acho que tenho que fazer,
eu não faço.
Mas a igreja do Edir Macedo é
assim tão diferente da igreja fundada pelo Valdemiro Santiago?
Muito. O Edir Macedo foi
fazendo a igreja, mas ao mesmo tempo foi montando pequenas empresas.
Paralelamente à igreja ele conseguiu se tornar um empresário. O Edir Macedo já
foi investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pelo Gaeco (Grupo
de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), pelo Valdemiro
Santiago. O fato é que até agora ninguém conseguiu condená-lo por nada. Não tem
uma condenação, um processo em julgamento. O Valdemiro Santiago não aguentou o
primeiro tranco. O Edir Macedo já foi investigado umas 60 vezes.
O advogado do Paulo Maluf, por
exemplo, vai dizer que ele continua firme e forte apesar de inúmeras
acusações...
O Maluf resiste por uma única
razão: o mandato que mantém a imunidade dele. O Maluf não pode sair do Brasil,
ele é procurado pela Interpol, pela polícia americana. O Edir Macedo viaja para
onde quiser. Curiosamente, desde quando eu estava na Globo estão tentando
arrumar uma sarna para o empresário Edir Macedo. Tentaram arrumar para o bispo,
mas não conseguiram também. O Templo de Salomão (inaugurado em 31 de julho
deste ano) custou 680 milhões de reais. Você acha que ele gastaria essa
fortuna se pensasse só em dinheiro? Lavar dinheiro também não é uma
possibilidade. Ali é tudo declarado.
Mas o Templo não foi erguido à
margem da lei, sem todos os alvarás necessários?
Não foi. Estive uma única vez
na minha vida com o Edir Macedo. Ele é meu patrão, mas não tenho procuração
para defende-lo. Mas quando ele foi preso há 15 anos, prenderam e não
conseguiram manter preso. Agora é a história de que o Templo não está autorizado.
Se não estivesse, você acha que (o prefeito de São Paulo Fernando)
Haddad estaria lá na inauguração?
Este ano foi ano de eleição...
O (governador de São Paulo
Geraldo) Alckmin tinha mais de metade dos votos nas pesquisas. O Haddad nem
candidato era. Eles não precisariam estar ali no Templo pedindo voto. O Edir
Macedo falou na cara da presidente Dilma que a questão da saúde e da segurança
só Deus pode salvar. Ele convidou a presidente e falou para todo mundo ouvir
aquilo. O Templo por fora é um impacto. Você olha e não tem noção do que é
aquilo, vai revitalizar o (bairro paulistano) Brás. Eu entrei no
santuário e fiquei impressionado com a energia positiva.
Você saiu da Record em 2005
por causa do ex-presidente Lula?
O Cidade Alerta saiu do
ar em 2005 porque o Lula não queria mais, ele interveio junto à Record. Ele
tinha ido viajar para Angola e Japão, onde as colônias brasileiras fizeram
questionamentos forte sobre a insegurança do país, pois assistem ao Cidade
Alerta na Record internacional. Nisso eu leio uma nota na seção Radar, da
VEJA, escrita pelo Lauro Jardim, falando que o presidente foi surpreendido e
que havia uma pressão muito forte em cima da Record. Não é fácil ter uma
pressão do presidente da República.
Ainda mais sendo uma concessão
pública, não é?
E ele é o mandatário. Ele
pediu para tirar o programa do ar. Aquela altura, a audiência batia na casa doa
21 pontos. A pressão era muito forte, e eu sentava mamona nele. Na verdade,
exagerei. Eu concordo, batia com muita violência nele. E o presidente da
Record, na época o Denis Munhoz, foi ao Palácio do Planalto e o Lula reclamou
do Cidade Alerta. Ele propôs tirar o Cidade Alerta do canal
internacional, mas o Lula disse que não, que queria que tirasse do ar. Fiquei
igual a balão no vento. Não estava feliz, e aí me convidaram para fazer o
Hoje em Dia com a Ana Hickmann. Almocei com ela e o Edu Guedes. Todo mundo
diz que saí da Record porque colocaram o Edu Guedes, e não foi nada disso, eu
adoro o Edu. O que me fez sair foi que cada vez era uma coisa. Me mandaram
fazer o Repórter Record, eu fiz um Repórter Record diferente e
não era o Repórter Record. Me mandaram bolar um programa novo, aí não
era mais aquilo. Aí era o Hoje em Dia. Estava parecendo garota de
programa, passando de mão em mão. Qual a vantagem nisso? Fui embora.
Tem alguma coisa de que a
gente goste na TV?
Vai parecer ridículo, mas acho
engraçada a sobrevivência do Silvio Santos. E vou explicar por quê. Ele de
otário não tem nada, é astucioso, sabido. Comete gafes de propósito, tem
acessos de riso, a calça cai. É óbvio que ele sabe o que está fazendo, senão
ele não era o maior comunicador do país. Um outro negócio de que gosto é o Legendários,
do Marcos Mion. É muito legal.
Você brigou com o Gugu no
episódio da falsa entrevista com um integrante do PCC. Por quê?
Quando você quer fazer
audiência a qualquer preço, acaba pagando a conta. E olha, o Gugu paga aquela
conta até hoje. Não porque eu queira. Mas foi um erro brutal de avaliação de
quem fez. Eu vi que era uma farsa, e coloquei no Repórter Cidadão a
farsa do “Domingo Ilegal”. Sentei a mamona nele. Tudo errado: o jeito do
sujeito falar, o jeito de segurar a arma com o dedo em guarda e não no
gatilho... Você viu o estacionamento atrás. Um amigo meu do DEIC (Departamento
Estadual de Investigação Criminal da Polícia Civil de São Paulo) me ligou e
disse que tinha uma fita do irmão daquele cara fazendo uma procissão em
Carapicuíba. O cara se chamava Barney e fazia pegadinha na Gazeta. Coloquei uma
equipe na casa da mãe do Barney e, à noite, mandei ligar o equipamento. Foi
fácil desmascarar.
Você assiste ao programa do
Datena? Muitas pessoas comparam vocês dois.
O que ocorre é que nós somos
diferentes. Ele é um comunicador, que olha aquilo lá e põe uma opinião. Eu sou
um comunicador que olha aquilo lá, mas que fez aquilo e sabe como funciona, eu
sei o mecanismo. A minha vida foi construída fazendo investigação. O Datena é
um comunicador fora de série. Eu sou um comunicador que sabe como aquilo
funciona. Ele diz que não gosta, e eu acredito que ele não aguente mais fazer o
programa (Brasil Urgente, na Band). E por que ele não aguenta? Porque
está há 20 anos fazendo a mesma coisa e o negócio não muda, o repertório vai
encurtando. Eu me divirto porque sei o que está acontecendo, lembro uma
história minha, vou misturando tudo.
Hoje você tem 60 anos, cinco
casamentos nas costas e cinco filhos. Já chegou a hora de usar Viagra?
Eu já usei. Agora não, que
minha vida está tranquila. Logo que saí de um casamento, tomei bastante. Com o
Viagra você pode fazer conta (do divórcio) e trepar ao mesmo tempo. Você
está preocupado e a coisa anda. Quando me separei, não vim morar em casa, fui
para um flat na Rua Amauri (um bairro paulistano de classe alta Itaim Bibi).
Flat tem três coisas: cara separado, executivo de passagem e puta querendo
pegar os dois. O flat era de um amigo que tinha uma balada, o Josephine. Eu
aguentei esse negócio dois meses, tinha momentos na vida em que não sabia o que
estava fazendo, se deixasse, eu vivia na horizontal. Tinha um camarote fechado
com champanhe francês rolando à vontade e um flat na outra esquina da balada.
No início, achei o máximo, levava as meninas que eram capa de revista, mas
cansei. Hoje, namoro uma mulher mais velha.
Quer dizer que você levou
várias capas de revista para o seu flat? Alguma era capa de PLAYBOY?
Não só uma, foram duas! Hoje
elas são minhas amigas, falo com elas, mas não posso dizer nomes. Uma era até
namorada de um cara importante, então é melhor não contar. (Risos.)
Publicado originalmente na
revista “Playboy” em dezembro de 2014
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