LUCÉLIA- Entre vinte e dois e vinte e quatro anos. Pequena, carnuda, ancas amplas e fartos peitos. Um out-door do Biotônico Fontoura. A mais bonita, falante e agitada das servas. Seu antebraço e calcanhares, porém, eram revestidos duma pele de segunda, pigmentada e áspera. Outra desvantagem sócio-glandular: suava demais e cessava logo o efeito de seu desodorante.
AURORA-Trintona, loura e sardenta. Uma das serviçais mais antigas da Mansione e a mais querida da madame. Soube que tivera um caso com o antigo motorista. Olhos grandes, ventas largas, pescoço incrivelmente fino e bunda chata. Função: copeira.
DURVALINA- Cozinheira de mão cheia: baixa, magra e escura. A senhora Paleardi a contratara numa feira de produtos baianos, no Ibirapuera, depois de comer um vatapá. Soube depois que era uma falsa baiana, na verdade, mineira do Triângulo, mas, boa cozinheira, ficou e ficou também seu apelido: Gabriela.
MAGALI- Arrumadeira, vinte e poucos anos, tão comum como seu próprio nome. Apaixonada por guarânias e pelo garçom. Detestava (invejava?) Lucélia. Não seria tão indesejável, se não fossem os dentes acavalados e gengiva de solo dupla.
CÉLIA- Também arrumadeira. Ex-rainha de forrós e bailecos, dez mil horas de dança em Vila Sofia. Cantara em todas as Horas da Peneira do rádio e da televisão, passara trincomonas em diversas colegas e, afinal, criara juízo, convertendo-se à religião mórmon, após vulcânica paixão por um norte-americano negro de Salt Lake City.
GINO- Já referido, cinqüentão, mordomo, chefe de toda a camuflagem. Ex-croupier dos cassinos Mito e das Carpas, homem da maior confiança de Duílio, porém, não da simpatia da mulher. Formado em mordomia pela Metro Goldwin Mayer. Mentira que só sabia dizer “prego” em italiano: nascera em Venosa, Basilicata. Patrão anterior: Don Corleone.
RANULFO- Trinta e poucos anos, garçom, amante enrustido de Magali. Descobri a ligação partindo de simples observação: ambos gostavam de guarânias e principalmente de “Luar de Ipacaraí”. Jamais falava quando no interior da Mansione: alguém lhe dissera que o peixe morre pela boca e ele tinha cara de tainha.
BENTO- Soturno serviçal de meia-idade, encarregado da manutenção das áreas verdes da Palhoça e quadras esportivas. Noutros tempos fora leão-de-chácara de inferninhos e estivador em Santos. Não gostava de papo, a não ser com a falsa baiana.
OMAR- Turcão, quarenta anos, espécie de despenseiro e garçom auxiliar nas festas do casal. Campeão de dominó da famulagem. Grande consumidor de estórias em quadrinhos. Como Bento e Ranulfo, não me topava.
Os demais eram faxineiros, diaristas, pedreiros, eletricistas e os guardas, funcionários de empresa especializada. Digamos, extras sem fala, apenas pontas, figuração à base de cachê, no filme colorido e cinemascópico dos Paleardi.
Retirado do livro Malditos Paulistas de autoria de Marcos Rey
A seção Cantinho do Marcos Rey será publicada sempre no VSP destacando a obra e a trajetória deste importante autor paulista
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