segunda-feira, 9 de maio de 2011

VSP Entrevista: Gio Mendes

Um sujeito que rouba cadáveres de idosas para fazer sexo. Mike Tyson agride um repórter cinematográfico na boate Love Story. A rainha do pornô enjoa de fazer sexo com homens. Esses são somente alguns dos casos que o repórter Gio Mendes lida diariamente. O profissional cobre a madrugada de São Paulo há 13 anos. “Eu sempre preferi essa parte do dia porque a maioria dos casos acontece sempre na calada da noite”, explica.

Após uma passagem marcante pelo jornal Diário de São Paulo, Gio foi trabalhar na edição paulista do Meia Hora. A publicação durou sete meses em São Paulo e fechou as portas quando ele voltava da lua de mel. Mas nada que abale a audácia deste homem da madrugada. Poucas semanas depois, Gio já estava começando uma nova fase na sua carreira. Agora, ele é repórter do jornal Agora São Paulo. Ele entrou no jornal dias depois de dar esta entrevista.

Aos 37 anos, Mendes é um cronista da noite de São Paulo. O repórter iniciou sua paixão pelo jornalismo popular por conta de sua paixão pelo Notícias Populares. “Desde criança eu lia o NP. Isso é algo até inusitado. Não me lembro de amigos meus que curtiam jornalismo popular enquanto crianças”.

Nesta entrevista realizada em um tradicional restaurante do centro de São Paulo, este homem de imprensa relembra sua trajetória na sua profissão e conta sobre a biografia do cineasta, produtor e ator Sady Baby que está escrevendo a quatro mãos com o jornalista Fausto Salvadori Filho. “O Sady sumiu nesse intervalo por um problema que ele teve com menores de idade. Estamos esperando ele ressuscitar”, afirma ele dando uma sonora gargalhada.

Violão, Sardinha e Pão- Gio, pra começar fala um pouco sobre o Meia Hora. O que significou essa experiência de trabalho pra você?

Gio Mendes- O Meia Hora foi uma experiência bacana até porque a gente não tinha mais jornalismo popular com o fim do Diário Popular e do Notícias Populares. Em São Paulo, você não tinha nada nesse segmento, pra povão mesmo. Então, quando o Meia Hora veio pra São Paulo, foi gratificante para mim o jornal ter me convidado pra fazer parte desse projeto. Eles tiveram contato com o meu trabalho através do meu blog, o Mondo Cane. Eles viram e gostaram da cobertura que eu fazia de cinema, dos filmes da Boca e de alguns casos policiais que não tiveram muito espaço no Diário. Por isso, alguma coisa eu acabava postando no blog. Mas era muita pouca coisa mesmo. Depois desse primeiro contato com o blog, eles foram ver o meu trabalho no jornal. Coincidentemente isso aconteceu quando o Diário estava pra fazer uma outra mudança radical. Justamente nessa semana eu fiz a cobertura de uns três casos policiais interessantes e isso acabou servindo de portfólio pros caras conhecerem melhor o meu trabalho. 

VSP- Então, quer dizer que num primeiro momento eles conheceram o seu trabalho pelo blog e não pelo jornal.

GM- Sim. Eu achei legal isso, diferente. Porque eu não levava o blog a sério e até hoje eu não levo. Apesar do blog ter muita audiência dos fãs de filme da Boca, pornografia e coisas bizarras. Essas pessoas têm uma simpatia pelo blog. O pessoal do Meia Hora viu o blog, achou que tinha a cara do veículo, a mesma pegada. Eu recebi um convite do Henrique Freitas do Grupo O Dia. Ele falou que estava interessado em contar comigo na equipe dele. Coincidentemente eu estava insatisfeito com as mudanças feitas no Diário... o jornal estava cada vez menos dando espaço para o jornalismo policial. Quer dizer: foi o convite certo na hora certa.

VSP- No Diário, você ficava muito preso ao jornalismo policial. Com o Meia Hora você teve uma flexibilidade maior?

GM- Não, eu acabei fazendo mais polícia mesmo. Mas o legal do Meia Hora era que as matérias que eu fazia pro blog, eu podia fazer pro jornal. Então, eu fiz a cobertura de uma aula de sexo anal da Mônica Mattos via Twittcam. Coisa que eu acho que o Diário não daria espaço e isso saiu no Meia Hora com uma pegada muito legal. Eu lembro que o título foi: “Rainha do pornô enjoa de bilau”, porque a Mônica diz que agora ela só gosta de meninas. Na opinião dela, as mulheres são mais delicadas que os homens. Acho também que ela está de saco cheio do pornô com esse lance de misoginia, com muitos atores maltratando as mulheres em cenas hard, mais pesadas. Então, eu cobria bastante área policial mas tinha espaço pra fazer matérias de comportamento, sexualidade. Eu fiz uma matéria numa casa de balada liberal, que o pessoal vai dançar, se divertir e depois vai pro quarto fazer troca de casais. Foi uma matéria de página dupla.

VSP- Qual matéria você mais gostou de fazer pro Meia Hora?

GM- Teve o lançamento do livro da Elvira Benitez. Ela é uma antropóloga colombiana que fez um trabalho sobre a indústria pornô brasileira que se chama Nos Bastidores do Sexo. Foi bastante divertido fazer essa matéria. Eu vi que o pessoal no Twitter comentou...mas eu não sei se a Elvira gostou. A gente fez uma sacanagem com ela, o título era: “Gringa cai de boca no pornô” (risos). Porque para o público do Meia Hora não interessava falar da análise antropológica dela. Tanto que foi o marido dela que deu esse gancho, dizendo que não se incomodava nem um pouco com o fato da mulher dele ver vários atores nus enquanto entrevistava os atores nos sets de filmagem. Porque, quando ela chegava em casa, ela se satisfazia era com ele.

VSP- Você acha que o Meia Hora foi uma espécie de sucessor do NP?

GM- Olha, hoje em dia seria sim. No Rio de Janeiro, o jornal continua vendendo muito bem, aqui em São Paulo não falaram o motivo do cancelamento. Apenas mencionaram que seria uma decisão empresarial, mas com certeza foi por falta de anúncios. A edição carioca tem muito mais anúncios que matérias e infelizmente um jornal só sobrevive com anunciantes. Só venda em banca não paga as contas de uma empresa jornalística. Um jornal sendo vendido em bancas por um preço baratinho, como R$ 0,50, não era suficiente pro caixa.

VSP- Como é trabalhar com jornalismo assumidamente popular?

GM- É um tipo de jornalismo que eu já tinha feito no final dos anos 90. Isso foi quando eu tive o privilégio de trabalhar no Diário Popular. O Diário Popular até hoje, para mim, foi o jornal que melhor cobria São Paulo. Tudo que acontecia na cidade você podia encontrar no jornal. Quer dizer: na verdade eu senti como se estivesse começando de novo na profissão (ao entrar no Meia Hora).

VSP- Mas você gostou mais de trabalhar no Meia Hora que no Diário de São Paulo?

GM- Sim, logo depois dessa última mudança do Diário, claro. Certamente era muito mais legal trabalhar do no Meia Hora que no Diário de São Paulo. Porque o Diário mudou bastante a linha editorial, a atual direção defende que você não pode fazer o mesmo jornalismo que outras mídias fazem. Eles acham que o povo já viu tudo na televisão...mas eu acho isso uma balela porque isso acontece desde que existe rádio, televisão. Isso não é nenhuma novidade. Só que quando você trabalha no jornalismo impresso você precisa buscar um aprofundamento maior. Isso dá pra fazer até em casos factuais no jornalismo impresso.

VSP- Você se formou na Cásper Líbero em que ano?

GM- 1999.

VSP- O seu melhor professor de faculdade foi o Marcos Faerman?

GM- Acho que foi ele. Porque o Faerman não era um professor propriamente dito. Ele não fazia chamada, ele não estava nem aí. Ele dizia: “Quem tiver interesse em aprender comigo é só ficar na sala de aula. Quem não quiser, pode ir embora porque eu não vou dar nem falta”. O curioso é que até os alunos mais vagabundos ficavam na aula dele. Ele tinha um papo legal, basicamente ficava falando de livros importantes para a formação de um jornalista. Ele também lembrava de algumas coberturas que ele tinha realizado em Porto Alegre e aqui em São Paulo também quando ele trabalhou no Jornal da Tarde, ao lado do Mino Carta, Percival de Souza... Mas o Faerman foi um dos melhores professores mesmo.

VSP- O Faerman foi um dos caras que mais gostava de ser repórter. Muitas vezes, a pessoa que está começando na profissão não quer isso. Como era esse direcionamento dele? Porque ele era um repórter na acepção da palavra.

GM- Sem dúvida. Tanto que ele foi o cara que fez uma mudança radical no jornal-laboratório da Cásper Líbero. O Faerman inclusive me convidou pra participar desse jornal quando ele conheceu um fanzine que eu fazia pro movimento punk. Ele viu esse fanzine, adorou...era um negócio bem rústico mas ele achou que era jornalismo na essência. Até porque o primeiro número do Esquinas de São Paulo sob a batuta dele era sobre tribos urbanas. Então, ele me chamou para escrever sobre o movimento Straight Edge e sobre a banda Cólera, uma das precursoras do movimento punk paulista. E eu entreguei pra ele uma entrevista com o Redson do Cólera com 350 linhas. Daí ele me falou que o espaço no jornal era limitado e não daria pra publicar a entrevista na íntegra. Então, eu tive que enxugar o texto. Eu acho que no final a matéria ficou umas 35 linhas e ele elogiou bastante. O Faerman me falou: “Você vai ser jornalista, bicho. Você conseguiu reduzir o material sem perder o conteúdo do texto originall”. No texto sobre o Straight Edge, eu dei o título de “Politicamente correto”. Isso foi porque os caras o movimento não bebiam, não fumavam, não faziam sexo promíscuo. O Faerman brincou comigo, dizendo que o texto estava politicamente correto e que poderia ser publicado no Jornal da Tarde sem mexer uma vírgula. Isso se ele ainda fosse editor do jornal. O Marcos Faerman era legal, porque as aulas dele não aconteciam somente dentro da sala de aula. Você conseguia conversar com ele no corredor. Ele sempre saia pra tomar uma cerveja.

São 13 anos cobrindo a madrugada. Gio participou de inúmeras coberturas policiais

VSP- Com os alunos?

GM- Com alguns alunos. Ele não tinha frescura, ficávamos até tarde na faculdade fechando o Esquinas de São Paulo.

VSP- É verdade que ele dormia na redação?

GM- Eu não sei se ele dormia. Mas eu acho que sim...eu via ele cochilando no jornal-laboratório (risos). Mas o Faerman era uma figuraça, a gente saia junto pra beber. Ele ia escrever um livro sobre os punks da zona norte de São Paulo, ele já tinha feito um esboço e entrevistado alguns punks antigos como o Ariel, o Zorro. Só que ele infelizmente morreu em 1999 e esse projeto não foi pra frente.

VSP- A morte dele foi no ano em que você se formou ele morreu?

GM- Eu já tinha começado a trabalhar no Diário Popular. Quando ele morreu, eu estava de plantão na madrugada. Não vou lembrar o horário exato...

VSP- Mas você se lembra como você recebeu a notícia?

GM- Lembro. Eu fiquei sabendo por um amigo, o Faerman era tão querido que, quando ele morreu, todo mundo ficou sabendo logo depois.

VSP- Ele morreu muito novo né?

GM- Acho que ele não tinha nem 60 anos. Tão jovem...eu não vou lembrar a causa da morte. Mas ele era um cara que já tinha tido excessos na vida, mas ele dizia que tinha parado com tudo.

VSP- Antes de você entrar no Diário, você também trabalhou na TV Gazeta?

GM- Sim. Eu trabalhei dez meses. Eu já estava no terceiro ano da faculdade de jornalismo. Nessa profissão, você precisa fazer estágio antes de se formar senão fica difícil ingressar na área. Eu relutei um pouco no começo para fazer o estágio porque paga-se muito mal no jornalismo pra iniciante. Nunca quis me sujeitar a fazer estágio sem remuneração. Isso aconteceu com muitos amigos meus que foram trabalhar em veículos grandes, que não pagavam nem a condução do cidadão. Então, eu fiquei relutando. Na época, eu trabalhava como auxiliar administrativo e ganhava um salário razoavelmente bom. Não dava pra abrir mão do salário sem receber nada em troca. Mas um amigo me deu um toque que estavam precisando de um radioescuta na TV Gazeta, no programa Gazeta Meio-Dia da Maria Lídia.

VSP- Como era esse programa?

GM- Era um jornal de debates. Eles chamavam três convidados, pegavam os assuntos mais importantes do dia e as pessoas debatiam tudo. Eu tinha uma remuneração simples lá, mas era algum coisa, me ajudava. Eu não precisava pagar a faculdade porque a TV Gazeta é do próprio grupo Cásper Líbero. Então, eu ganhei essa bolsa...TV não era o que eu pretendia. Eu sempre almejei trabalhar em jornalismo impresso, mas esse foi o primeiro passo. O começo foi um pouco sacrificante porque eu não pagava faculdade, mas tinha que pagar a condução e o almoço. Às vezes, eu voltava pra casa somente pra dormir e depois ia assistir às aulas. Chegou um tempo em que eu só gastava a condução de ir, trabalhava e levava uma marmita fria. Muitas vezes comia a marmita escondido na sala de aula, entrava escondido, tirava um cochilo na sala de aula ou aproveitava pra fazer algum trabalho das disciplinas. Depois eu ia pras aulas. Dessa maneira, eu consegui economizar tanto na alimentação como na condução. Nisso, eu fui agüentando e foi até curioso porque algumas pessoas seguiram o meu ritmo. Algumas garotas bonitas, que você não imagina comendo marmita gelada, começaram a embarcar na minha (risos). Foi bacana...eu fiquei um tempo trabalhando como radioescuta. Eu nunca tinha feito nada na área e eu achei legal porque eu fiquei apenas um mês como radioescuta. Eu sempre fui um cara muito rápido, como eu fiz datilografia algum tempo antes, eu era ágil pra escrever. Então, como eu transcrevia rápido...eles acabaram me promovendo para pauteiro. Quando era radioescuta, eu também ficava sugerindo pautas e o pessoal gostava das minhas ideias porque eu via São Paulo pela óptica de um suburbano. Porque eu já gostava de coisas que tinham pouco espaço na grande mídia como a Boca do Lixo, os Racionais, o punk paulista. As minhas pautas sempre giravam nesse meio do marginalizado. Eu fiz uma sugestão que eles adoraram, sobre os ex-presidiários, se eles tinham condições de ingressar no mercado de trabalho. Acabei até ajudando a produzir essa pauta, incluindo uma música do Racionais, entrevistando presos. Foi quando me colocaram como pauteiro e eu fiquei ali até surgir um curso de jornalismo popular.

VSP- Como foi isso?

GM- Foi um curso realizado na Cásper Líbero em 1998. Eles fizeram esse curso com todos os alunos que iriam entrar no último ano de faculdade. Os 10 melhores colocados ganhavam um estágio no Diário Popular. Eu tirei o primeiro lugar. O que me ajudou muito foram os conhecimentos na área policial porque caíram perguntas sobre o Chico Picadinho, o Maníaco do Parque... Também tinham algumas perguntas sobre conhecimentos gerais sobre a cidade de São Paulo. Como se fosse um vestibular, eu fui bem nessa área. Em esportes eu não fui tão bem mas deu pra encarar. O que pesou na nota final também foi uma redação que eu fiz, que era uma entrevista coletiva com o Vanderley Luxemburgo que fizeram na faculdade. Eu fiz uma matéria que hoje poderia ser publicada no Meia Hora porque eu parti pra sacanagem. Parece que o Luxa dizia que não trocava de cueca e isso era uma espécie de talismã dele.

VSP- Você tentou escrever a matéria em cima de uma coisa inusitada.

GM- Inusitada. Eu quis fugir do lead clássico e partir pra algo que chamasse a atenção. Eles elogiaram tanto o abre da matéria quanto o desfecho, que também era engraçadinho. Com esse texto, eu tirei a nota máxima que ajudou a pesar na pontuação final e determinou que eu fosse o primeiro colocado. Me deram inclusive a liberdade para eu escolher qual área do jornal eu gostaria de trabalhar. Eu falei: “Quero atuar na madrugada”.

VSP- Sempre você quis trabalhar com polícia?

GM- Eu queria trabalhar com polícia e sabia que as coisas aconteciam nessa área de madrugada, na calada da noite.

VSP- Por quê você sempre quis essa área?

GM- Sabe que eu não sei? Desde criança eu lia o NP. É algo até inusitado...não lembro de amigos meus que curtiam jornalismo popular enquanto crianças. Não vou lembrar da época do Bebê Diabo porque eu tinha dois anos de idade. Isso saiu em 75, eu nasci em 73. Mas o NP sempre tinha essas pegadas macabras, eu lembro que eles colocavam umas fotos de Diabo na capa. Eu morria de medo. Mas em compensação eles tinham as fotos das gostosas e eu colecionava os jornais por causa da mulherada.

VSP- O seu pai comprava o jornal?

GM- Não, eu mesmo comprava.

VSP- Ninguém da sua família era ligado a área de jornalismo?

GM- Ninguém é ligado na área de jornalismo. Eles liam jornais, mas como um leitor qualquer. Eu sempre gostei, não sei por quê...achava as histórias policiais mais atraentes. Depois, com o passar dos anos eu fui percebendo que muitas histórias policiais serviram de pano de fundo para escritores como Nelson Rodrigues e Marcos Rey. Isso eu não entendo: o material humano é o mesmo hoje, mas é desprezado. Hoje crime passional não tem espaço na grande imprensa. Isso só tem espaço em veículos mais populares. Mas mesmo assim, isso aqui em São Paulo é muito difícil. Eles só divulgam um crime de acordo com a classe social da pessoa. Curioso que recentemente teve uma chacina onde morreram quatro pessoas num bar da periferia da Zona Sul e isso não virou nota em nenhum jornal. Virou matéria de página inteira no Meia Hora, mas nos outros jornais não teve nenhum registro. Então, você vê: tem alguma coisa errada acontecendo.

VSP- Qual a diferença da cobertura policial do NP pro Datena, por exemplo?

GM- O Datena até respeita a vítima. Ele não respeita os direitos do preso e puxa muito o saco da polícia descaradamente. No Notícias tinham até matérias que eram desrespeitosas com a vítima, mas eles faziam um jornalismo bem-humorado. Isso no começo...com o passar dos anos até o próprio NP mudou. Eles começaram a ficar mais responsáveis na produção das matérias, ainda mais depois do caso Escola Base em que eles pegaram pesado.

VSP- Nesse caso, a matéria principal foi: “Kombi era motel na escolinha do sexo” (risos).

GM- Mas eles faziam isso, eles pegavam uma notícia e tentavam transmiti-la de uma maneira bem-humorada. De uma maneira que os outros jornais não faziam para um público popular. Eles tinham a pegada de carregar nas tintas pra chamar a atenção do leitor nas bancas com aquelas letras garrafais. Alguns colegas sempre dizem que jornalismo sensacionalista quase todos os veículos fazem. Você pega a Globo quando ela vai anunciar um caso de tragédia, de enchente, a chamada é: “Vejam imagens fantásticas de um grande resgate”. Isso é carregar no sensacionalismo né? Na sensação do telespectador. O sensacionalismo não no sentido pejorativo da palavra.

VSP- No Diário, você começou no plantão fazendo ligações pras delegacias?

GM- Isso. Eu fazia radiescuta e foi um trabalho muito legal pra fazer fontes. Não sei se isso é feito ainda hoje nas redações, mas eu ligava pra todas as delegacias de São Paulo. São cerca de 90 delegacias...ligava pra boa parte dos municípios vizinhos como Guarulhos e todo o ABC. Não ligava pra todas as cidades porque às vezes não dava tempo...a nossa prioridade era São Paulo. Eu também ligava para todos os batalhões da Polícia Militar que eram centenas de telefones. Eu ligava todo dia, um por um. Claro que se no meio surgisse um caso bom...

VSP- Sempre tinha alguma coisa?

GM- Sempre tinha. Era impossível não ter algo. Hoje, se nos jornais fizessem esse mesmo tipo de apuração, com certeza iam sempre pegar algo.

VSP- Acabou esse tipo de cobertura em jornal grande?

GM- Esse tipo de apuração não existe mais. Eles ligam pra meia dúzia de telefones, pra sala de imprensa da PM, sala de imprensa do Corpo de Bombeiros. Eles pegam somente as coisas que os caras lá estiverem dispostos a passar.

VSP- Você falava diretamente com o delegado?

GM- Na época, eu falava com alguns delegados. Alguns delegados eram acessíveis e eu perguntava o que estava sendo registrado. Muitos passavam tudo, desde os casos corriqueiros até os casos mais relevantes.

VSP- Você acha que os jornais seguem muito a versão oficial da polícia?

GM- Com a diminuição do material humano nas redações, pro trabalho de rua, eles acabam se limitando a dar a informação oficial. Eles não vão na porta do cidadão pegar a versão dele. Os jornais não fazem esse trabalho. Isso só acontece em casos de repercussão como o do casal Nardoni, o caso Eloá, caso Suzane Von Richthofen, caso Gil Rugai. Nesses casos, a imprensa cai em cima, coloca mais de uma equipe para apurar e não fica divulgando somente a versão oficial.

VSP- Eu acredito que o encerramento da edição paulista do Meia Hora não foi muito divulgada na imprensa.

GM- Olha, saiu no Comunique-se, Portal da Imprensa, no Jornalistas e Companhia. Eles deram um registro né? Esses locais também sofrem do mesmo problema dos jornais, eles não tem equipe pra fazer cobertura do próprio meio. Esses veículos fazem uma apuração simples, só pra noticiar mesmo. Mas que eu me lembre eles não ouviram as causas do fechamento, não insistiram pra conseguir essa informação.

VSP- Não falaram com o pessoal da redação?

GM- Pelo menos comigo não. Mas não foram atrás de números, saber qual era a tiragem do jornal, ouvir os leitores.

VSP- Qual era a tiragem?

GM- 50.000 exemplares. Não sei se vendia os 50.000, mas vendia pelo menos a metade pelo que eu ouvia dizer. Para um jornal de sete meses é um número considerável. Eu não vou saber de todos os jornais de São Paulo... mas era um número bom. Esses veículos também não foram ouvir os jornaleiros. Eles deveriam fazer uma cobertura como um jornal faria. Esse é o problema desses portais voltados para a imprensa.

VSP- Na sua carreira, qual foi o caso policial mais inusitado que você cobriu?

GM- Tem vários casos bizarros, mas nenhum desses teve repercussão. Foi só motivo de conversa de mesa de bar. Um maluco que retirava cadáveres de cemitério pra fazer sexo. O cara só violava cadáveres de mulheres idosas, mais isso o jornal nem noticiou. Acho que hoje o Meia Hora daria até manchete com algo parecido com isso.

VSP- A tara do cara era só com idosas?

GM- Só com idosas (risos). Um gótico...mas um caso que deu repercussão no tempo que eu trabalhei na madrugada foi uma matéria sobre o Pronto Socorro de Santana. Uma paciente morreu logo depois de receber alta do hospital. Ela estava internada. Mas depois ela acabou tendo alta, saiu e acabou caindo morta na frente do hospital. Os funcionários tentaram levar o corpo pra dentro, nesse intervalo já tinha chegado um carro da Polícia Militar e os policiais não deixaram. A PM tinha que preservar o local da morte para a perícia... como foram vários policiais até o local, um deles era fonte nossa e me ligou de madrugava contando do acontecimento. Isso eram umas onze horas da noite, faltava pouco pra fechar a edição e o editor perguntou se daria pra fazer o texto para entrar na edição do dia seguinte. Eu falei: “Daria se eu fosse até o local. Somente por telefone é impossível fechar essa matéria”. Eu fui até o local e consegui fechar essa matéria em 15 minutos. Eu fiz isso correndo, falando rapidamente com a família da vítima, com a polícia e tentando uma posição do hospital. Saiu essa matéria no dia seguinte e repercutiu muito porque depois os outros jornais foram atrás.

VSP- Como foi aquela sobre o Mike Tyson?

GM- Essa também repercutiu. Foi a balada do Mike Tyson no Love Story que só a gente deu. Foi a mesma coisa: uma fonte ligou falando que ele estava no Love Story.

VSP- Uma fonte que trabalhava no Love Story?

GM- (risos) Isso. Uma fonte ligou e a gente estava na Cidade Tiradentes, na zona leste, cobrindo um problema de transporte público e pensamos que fosse brincadeira, trote. Mas o cara assegurou: “Ele está aqui. Pode vir que eu coloco vocês pra dentro”. Daí a gente foi voando e encontrou com o Mick Tyson. Ele tinha acabado de vir da Argentina, onde ele tinha participado do programa do Maradona. No dia, ele estava até com a camiseta da seleção argentinha, que ele tinha ganhado de presente do Dieguito. Nós subimos onde ele estava num camarote com uma turma e aquela galera toda queria tirar foto com ele. Nós nos passamos por fãs dele por dois motivos: meu inglês não é dos melhores e ele já estava bebaço também. O segundo motivo é que ele não gosta de jornalista, então, eu não sabia qual seria a reação dele. Mas o interessante era fazer a cobertura dele numa casa noturna no centro de São Paulo. A gente tinha medo de sair briga pro nosso lado por ele não gostar de jornalista. Mas nós fizemos a matéria.

Mendes e outro repórter escutando a testemunha de um assassinato

VSP- E o Mike Tyson foi legal?

GM- Foi. Nós falamos com ele: “We wanna a picture please”. Mas eu achei estranho porque o nosso fotógrafo estava com um puta equipamento profissional e ele nem desconfiou (risos). Mas saiu uma matéria legal sobre o comportamento dele, a mulherada dando em cima, ele mijando na rua. Ficou legal e foi até chamada de capa do jornal.

VSP- Só vocês deram isso?

GM- Só nós. Isso foi numa madrugada mas algumas horas mais tarde depois deu um problema no Bahamas, onde o Tyson brigou com um cinegrafista amigo nosso. O nome desse cinegrafista é o Carlos Mello e ele teve a câmera quebrada pelo Mike Tyson. O cara tinha recebido autorização do Maroni para entrar no Bahamas pra fazer as imagens do Tyson dentro do Bahamas e o Maroni sabia disso. Ele chegava e perguntava: “Você tá me filmando ao lado do Tyson?”. Isso foi o que o Carlos me contou, porque eu não estava no dia, eu fui aparecer lá depois da confusão quando eu entrei no meu horário pra assumir o plantão. Parece que uma das garotas que estavam no Bahamas viu o cinegrafista filmando de longe e caguetou ele pro Mike Tyson. O Tyson foi como uma fera pra cima dele, pegou a máquina numa mão só e a destruiu como se fosse um tomate. Ele teria dado uma cabeçada no rapaz...isso eu não sei se é verdade. Foi quando o Mello ligou pra polícia pra contar o que tinha acontecido. Nisso, o Tyson já tinha saído do Bahamas e foi novamente pro Love Story. Veio uma viatura da Força Tática da Polícia Militar e levou o Tyson até o 3º Distrito Policial, da Santa Ifigênia. Esse era o DP da área...o Bahamas ficava no Campo Belo e a ocorrência deveria ser registrada na delegacia de lá, o 27º DP. Só que o delegado do Campo Belo não pediu pra ninguém ir atrás do Tyson. Ele somente registrou o BO. Mas alguém da imprensa ligou pra PM contando o ocorrido e levaram ele pro 3º Distrito Policial. O delegado de lá ligou pro 27º DP e o Tyson foi mandado para o Campo Belo, onde ficou a madrugada toda. Por isso, ficaram falando que ele aprontou em São Paulo. Toda a imprensa noticiou e saiu na Globo, Record, em todos os veículos. Eu fiz mais uma matéria junto com o colega de esportes e o Diário de São Paulo deu três páginas sobre o caso. Além da cobertura da detenção, da agressão, nós fizemos os bastidores. Ele saindo escondido pela PM e a turma gritando: “El, el, el, Tyson é da Fiel”. Teve um cara que deu um “pedala Robinho” no Tyson (risos). Esse tipo de coisa era legal nessa época porque você tinha espaço pra cobrir esses bastidores que é ir além do que rádio, jornal e site dão. Você mostra esses bastidores e é com isso que o leitor se diverte. Eu, pelo menos como leitor ,quero ver isso no jornal.

VSP- Tem algum jornalista no qual você se espelha?

GM- Os caras que eu gosto escrevem mais livros. O Ruy Castro, Fernando Morais...eu sempre procuro ler textos antigos desse pessoal. Eu já li boa parte do material do Marcos Faerman e do Percival de Souza.

VSP- E o Caco Barcellos?

GM- O Caco Barcellos eu adoro. Também gosto do Valmir Salaro, que faz TV, mas já trabalhou no Diário Popular...

VSP- Você começou a trabalhar no Diário em que ano?

GM- 1998. Eu comecei no jornalismo em janeiro de 1998 na TV Gazeta e saí de lá em outubro do mesmo ano pra ir pro Diário Popular. Eu fiquei lá até julho de 2010.

VSP- Um tempão. Fala um pouco sobre a importância teve o Diário na sua carreira.

GM- O Diário foi onde eu aprendi mesmo a fazer jornalismo. Foi bom porque eu entrei quando o jornal ainda era Diário Popular e eu peguei essa turma que cobria muito bem São Paulo. Eu trabalhei com o Renato Savarese, o Antonio Leria, o Silvio Lincoln, uma turma bacana. Tinha o Gilberto Lobato como editor, que já tinha sido repórter de rua e isso faz muita diferença. O cara ser editor depois de ser repórter de rua. A gente já teve experiências desagradáveis com editores que não sabiam avaliar o que era notícia. Eu prefiro não citar nomes. Às vezes uma pessoa assim só comete atrocidades. Eu considero o Diário uma bela escola porque os jornalistas de lá tiveram muita paciência pra me ensinar. Logo no primeiro dia de trabalho eles me colocaram pra checar uns casos policiais e me falavam: “Liga lá e vê o que está rolando nesse caso”. Um dia eles fizeram eu ligar dez vezes pro mesmo lugar...sorte que a pessoa do outro lado da linha era paciente e me passou tudo. Acho que se fosse hoje, o cara poderia ter mandado eu me ferrar (risos). Então, o legal foi que eu nem fiquei duas semanas na redação e já me mandaram pra rua. Eu comecei acompanhando o repórter Antonio Leria e o fotógrafo José Patrício.

VSP- É verdade que o primeiro cadáver a gente nunca esquece?

GM- Não sei. Eu sempre morei em periferia, então, antes de entrar no jornalismo, já tinha visto cadáveres a vida inteira. Eu morei no Parque Figueira Grande, do lado do Jardim Ângela. É perto de um local que era conhecido como Curva da Morte, onde os carros passavam e beijavam o poste. Era uma época brava em que os índices de homicídios eram altíssimos em São Paulo. No meu bairro a gente via direto pessoas com faca enfiada no estômago, tiro na cabeça. Quando eu entrei no Diário Popular eu não fiquei chocado com esse universo. Mas tem colegas que não estavam acostumados com isso porque moravam em bairros nobres. Então, a experiência pra eles não foi muito fácil.

VSP- Você chegou a perder muitos amigos de infância?

GM- Não. Somente alguns conhecidos mas que não eram amigos. Alguns foram inclusive capa do Notícias Populares como cadáveres.

VSP- O que você acha do mercado atual na área de jornalismo?

GM- É um mercado ingrato. Tem poucas vagas e está cada vez mais restrito. Existem problemas de salário...pelo menos eu sei que em algumas TVs tem muita exploração da mão-de-obra barata. Eles contratam estagiário pra ganhar 500 reais e fazer função de gente mais capacitada. Quando o cara se dispõe a trabalhar na área de jornalismo, ele deve ter um potencial de querer aprender pra se dar bem na área.

VSP- Muitas vezes a versão da polícia é muito diferente da realidade?

GM- Às vezes tem algumas diferenças. A descrição da ocorrência é algo muito frio. É um resumo do resumo se bobear, e você falando com as pessoas envolvidas no caso logo percebe que não é nada daquilo. O jornalismo policial não é só copiar o boletim de ocorrência. Você tem que ir atrás das pessoas, apurar a história melhor. Infelizmente, a maioria dos veículos pega um boletim segue o scrip e joga  ar, na internet... Alguns jornais tem feito isso em forma de nota. Quando eles investem em matérias mais completas é porque mandaram o repórter sair pra rua.

VSP- Você acredita que ainda existe muito preconceito contra o jornalismo popular?

GM- Eu conheço muita gente da área acadêmica que curtiam o Meia Hora. Mas tem gente que mete o pau, fala que isso não é jornalismo, que é de baixo nível, de mau gosto, limitado... Claro que se for comparar com uma cobertura que a Folha, o Estadão ou O Globo fazem, por exemplo, da Guerra do Iraque não tem nem comparação. O jornal popular vai dar um registro simplório de uma coisa que está acontecendo, de uma maneira diferente.

VSP- Muitas vezes pode ter uma abordagem até irônica.

GM- Sim. Na verdade, pode ser até um resumo somente para informar o leitor do que está acontecendo. Não tem como comparar, é outro tipo de jornalismo.

O ex-jogador Rincón é solto na madrugada paulistana e Gio Mendes cobre o caso

VSP- É outro público.

GM- Outro público. Daí vem aquela história: “Por quê não escrever de uma maneira pra tornar esse público mais inteligente?”. Mas isso não adianta, existem outros jornais e ninguém quer ler. Eu mesmo não tenho paciência às vezes de ler. É muito chato.

VSP- A tiragem dos grande jornais tem diminuído. Você acha que isso é por causa da internet ou é pela baixa qualidade dos jornais?

GM- Olha, pra ser sincero eu não tenho acompanhado muito essa discussão. Eu sei que diminuiu a tiragem de todos os diários. Talvez isso tenha acontecido bastante depois do fenômeno da internet. Hoje eu conheço gente que só vê notícias pelo computador. Eu, particularmente, só leio notícia na internet por causa do trabalho. Em casa, sinceramente, eu não tenho paciência e ainda prefiro ler jornal impresso. Principalmente porque dá pra ler deitado na cama. Leio dentro do busão...

VSP- Quando o Diário Popular se tornou Diário de São Paulo houve muitas mudanças?

GM- Muitas. A primeira mudança radical aconteceu em setembro de 2001 quando as Organizações Globo assumiram a publicação. Eles fizeram uma mudança radical: cortaram tudo de polícia. Não ficou mais nada da área no jornal, nada mesmo. Eles diziam que queriam atingir um leitor B, um público mais elitizado. O Diário Popular era conhecido como o rei das bancas antes dessa época e perdeu o título com a mudança. O leitor antigo que era o trabalhador, o taxista, o policial, deixou de comprar o Diário e migrou pro Agora. Na época, o Agora até sacaneou o Diário, lançando uma propaganda que dizia que o Agora era o rei das bancas. O Agora assumiu esse título que até então era do Diário Popular. Eu continuei de madrugada tentando me adaptar a essa nova linha editorial do Diário. Não podia fazer mais matérias de polícia...eram mais matérias sobre comportamento mas eu acabava cobrindo tudo. Uma coisa que eu sempre falo pro pessoal é que pra você saber o lide de uma matéria você precisa estar no local. Muitas vezes você liga pro policial e ele te passa uma história. Mas você chega no local e é outra coisa dez vezes melhor. Então, eu continuava indo nesses casos só pra olhar. Alguns eu escrevia e outros não. Depois, com o passar de alguns anos eles deram uma pegada mais popular no jornal. Veio um pessoal que era do jornal Extra, do Rio de Janeiro, para tocar o jornal. Aí eu voltei a me divertir na madrugada cobrindo todos os casos policiais e tendo espaço novamente.

VSP- Os leitores dos jornais populares muitas vezes recebem alguma espécie de brinde por comprarem uma edição, tipo CD, livro. Isso é muito criticado, certo?

GM- Quando isso é feito pelos  jornais populares sempre é algo criticado. Mas os jornalões acabam fazendo também. Eles dão coisas mais sofisticadas como CDs de ópera, enciclopédias. Eles usam os mesmos subterfúgios que os jornais populares que dão CDs de pagode, panela de pressão.

VSP- O Quércia foi um bom patrão?

GM- Eu não tinha muito contato com ele. Peguei elevador com ele duas vezes. Ou seja: ele pelo menos batia cartão de ponto lá como outro funcionário qualquer. O pessoal da chefia dizia que ele não influenciava no conteúdo do jornal.

VSP- Na época dele o jornal cresceu?

GM- Nessa época, o Diário foi conhecido como o rei das bancas. Ele trouxe um cara do Rio que fez algumas reformulações na cobertura policial. O jornal começou a colocar boneco que são as fotos criminosos e das vítimas. Isso era raro no veículo. Eu não lembro de ter visto antes. Por causa desse cara o Diário deu uma guinada nas vendas. Tinha o lance dos classificados serem bastante populares e isso vendia bastante. O jornal de domingo vinha com quase 300 páginas.

VSP- O grande concorrente do Diário sempre foi o NP?

GM- Sim. E depois o grande concorrente tornou-se o Agora. Durante muito tempo, o Diário vendeu mais que o NP. Eu sempre gostei muito do Notícias...mas ele era um jornal caro. Com o preço do Notícias você comprava o Diário Popular que tinha bem mais conteúdo. O NP você lia em cinco, dez minutos porque eram dezesseis páginas. O Diário em dias mais recheados vinha com oitenta páginas e cobrindo tudo de polícia. O NP tinha duas páginas de polícia, quando o Diário dava quatro ou mais páginas somente dessa área. Ou seja, tudo que acontecia na cidade estava lá. Tinha até material factual que ficava de gaveta. Os casos menores ficavam engavetados podendo ser publicados dias depois. Mas esse material de gaveta era descartado se aparecesse algo novo em dias mais agitados.

VSP- Fala um pouco o que os seus leitores podem esperar da biografia do Sady.

GM- São quatro anos que eu e o (jornalista) Fausto (Salvadori) estamos pesquisando e entrevistando várias pessoas. O Sady sumiu nesse intervalo por um problema que ele teve com menores de idade. Ou seja: ele é reincidente no mesmo problema que ele teve nos anos 80. Muitas pessoas estão relutando em dar entrevistas pra gente porque não querem aparecer. Talvez elas queiram esconder o passado, não sei. Eu acredito que vai ser um trabalho completo e uma biografia de uma figura ímpar da Boca do Lixo com tudo de bom e ruim da vida dele. Nós não vamos passar o pano na vida do Sady.

VSP- Não vão romantizar?

GM- Não. Vamos falar tudo na lata.

VSP- Quantas pessoas vocês já entrevistaram pra biografia?

GM- Ah, não sei. Mas é um trabalho de fôlego. Até agora foram mais de 20 pessoas, algumas delas entrevistadas várias vezes.

VSP- Você chegou a ir no Sul onde o Sady nasceu?

GM- Ainda não. Essa vai ser a última etapa. Vamos esperar ele ressuscitar primeiro (risos).

VSP- Você acha que ele morreu?

GM- Não, ele somente sumiu.

VSP- O Meia Hora acabou e você acabou de casar. Sua vida mudou muito nos últimos dois meses né?

GM- Casei, voltei de lua de mel, trabalhei duas semanas e fiquei desempregado. Pior foi um colega chamado Evandro Monteiro que ficou desempregado em plena lua de mel, o cara estava viajando. Ele soube que o jornal terminou somente depois que ele voltou de viagem.

VSP- Quantas pessoas tinham na redação do Meia Hora?

GM- Dez pessoas. Mais dois fotógrafos e um rapaz que fazia tratamento de imagem. Então, eram treze pessoas contando editores, subeditores, repórteres e fotógrafos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente, uma verdadeira aula sobre jornalismo popular (e sobre a área em geral) de um dos caras que mais manja sobre o assunto.

Gio, grande brother

Saraiva