São 65
longas-metragens como técnico. O gaffer
e eletricista-chefe Toni Gorbi é um dos raros profissionais formados na Boca do
Lixo que conseguem trabalhos no cinema brasileiro atual. O filme mais recente
que o técnico trabalhou é E Aí...Comeu?,
terceira película do diretor Felipe Joffily. A comédia é estrelada por Marcos
Palmeira, Bruno Mazzeo e Emílio Orciollo Neto. O filme estreia nos cinemas de
todo Brasil no próximo dia 22. VSP
conversou com Gorbi sobre sua carreira e suas memórias sobre o cinema da rua do
Triunfo.
Violão,
Sardinha e Pão- Como foi o trabalho no E Aí...Comeu?
Toni Gorbi- Foi
muito bom. Tudo funcionou perfeitamente. Houve um sincronismo completo entre
produção, direção e toda a equipe.
VSP-
Quais são as suas expectativas com esse novo trabalho?
TG- Foi uma grande
sacada do produtor Augusto Casé da Casé Filmes. É uma produção de baixo
orçamento que traz retorno rápido. Com certeza vai ser um sucesso e vão ter
muitos outros.
VSP-
Sua função no filme é de gaffer.
Conte pras pessoas que não conhecem tanto essa área de cinema. Como é o
trabalho de um gaffer?
TG- O gaffer é o braço direito do diretor de
fotografia. Podemos dizer que é o engenheiro que constrói o projeto do arquiteto.
Costumo dizer, que o gaffer é um
fotógrafo técnico. Normalmente, quem exerce essa função é uma pessoa mais
velha, pela questão do respeito e experiência.
VSP-
O senhor é um profissional experiente no meio cinematográfico. Ao todo, em
quantos longas-metragens você trabalhou?
TG- É difícil
dizer exatamente quantos longas foram... alguns mudaram de nome, e fizeram
outra montagem. Em alguns foram colocados cenas de sexo explícito, mas acho que
mais ou menos 65 longas e mais ou menos quatro mil filmes publicitários.
VSP-
O início da sua carreira foi no Cinema da Boca. Quais são as suas lembranças
desse período?
TG- Vim pra São
Paulo em 1974. Eu estava trabalhando como operador de máquinas pesadas e
mecânico na Transamazônica. Também tinha trabalhando em cursos de
terraplanagem. Cheguei a fazer cursos de cinema por correspondência. Tenho os
livros até hoje! A minha intenção era trabalhar na área cinematográfica. Passei
pela rua do Triunfo, procurando alguma coisa pra fazer. Fiquei sabendo que o Mojica
estava precisando de figurantes pra o próximo longa, e fui me candidatar. Logo
em seguida fui fazer uma figuração no programa do Sílvio Santos vestido de
índio. Depois fui procurar emprego num jornal e vi um anúncio de um curso de
arte dramática da Planeta Filmes, do Wilson Rodrigues. Eu gostava mais de
iluminação e comecei a construir alguns equipamentos. Com isso, criei a marca
Gorbitec. Mas isto é uma longa história.
VSP-
O senhor acredita que os técnicos são muito pouco lembrados no cinema
brasileiro?
TG- Com toda
certeza! O Cinema da Boca formou ótimos técnicos. Mas quase todos foram
esquecidos. Dificilmente alguém vai assistir um filme e fica até o final pra ver os
nomes dos técnicos. Mas o pessoal de antigamente não se apegava muito com esse
negócio de nome. Eu particularmente sempre lutei pra que os técnicos fossem
reconhecidos, inclusive participei ativamente do movimento pra montar a ASTIM (Associação
dos Técnicos em Iluminação e Maquinaria de São Paulo). Com a tecnologia digital
facilitou muito o aprendizado dos novos técnicos. Infelizmente, os mais velhos que
não se atualizar vão ser engolidos. No Brasil, tem uma cultura de que o
velho não produz mais e tem que aposentar. Isto é um grande erro, porque é o
momento que ele está melhor e pode produzir mais com a mente que com os braços.
Inclusive, passar o que sabe para os mais novos. Nisto tudo, a figura do gaffer foi esquecida porque ele é um
comandante de equipe e não um carregador de peso. Muitos diretores de fotografia
não acham que é preciso um gaffer...
acham que ele os ofusca, é outro grande erro. Nos Estados Unidos, essa
profissão é extremamente respeitável e muitas vezes confundem com o diretor de
fotografia. Mesmo assim, o diretor de fotografia não deixa de trabalhar com o gaffer. Mas é uma outra cultura.
VSP- E Aí...Comeu? é uma comédia e pelo que vi
no trailer parece muito as antigas pornochanchadas. O senhor concorda com isso?
TG- Não concordo.
O E Aí... Comeu? é uma comédia hilariante. Não tem nada de sexo extravagante, tem um elenco de primeira linha
com Marcos Palmeira, Bruno Mazzeo, Murilo Benício, José de Abreu, Juliana Alves
e muitos outros. Foi um longa muito bem produzido por Augusto Casé, com
uma excelente diretora de produção Bia Caldas e sua equipe. Bem dirigido pelo
competente Felipe Joffily e muito bem fotografado pelo Marcelo Brasil.
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