quarta-feira, 13 de junho de 2012

“A Boca formou ótimos técnicos. Mas quase todos estão esquecidos”.


Toni Gorbi está atrás de Jean Garrett no set de A Força dos Sentidos. Na foto é possível ver apenas sua cabeça. Ele está entre o diretor de fotografia Carlos Reichenbach e o assistente de câmera Concódio Matarazzo.

São 65 longas-metragens como técnico. O gaffer e eletricista-chefe Toni Gorbi é um dos raros profissionais formados na Boca do Lixo que conseguem trabalhos no cinema brasileiro atual. O filme mais recente que o técnico trabalhou é E Aí...Comeu?, terceira película do diretor Felipe Joffily. A comédia é estrelada por Marcos Palmeira, Bruno Mazzeo e Emílio Orciollo Neto. O filme estreia nos cinemas de todo Brasil no próximo dia 22. VSP conversou com Gorbi sobre sua carreira e suas memórias sobre o cinema da rua do Triunfo.

Violão, Sardinha e Pão- Como foi o trabalho no E Aí...Comeu?

Toni Gorbi- Foi muito bom. Tudo funcionou perfeitamente. Houve um sincronismo completo entre produção, direção e toda a equipe.

VSP- Quais são as suas expectativas com esse novo trabalho?

TG- Foi uma grande sacada do produtor Augusto Casé da Casé Filmes. É uma produção de baixo orçamento que traz retorno rápido. Com certeza vai ser um sucesso e vão ter muitos outros.

VSP- Sua função no filme é de gaffer. Conte pras pessoas que não conhecem tanto essa área de cinema. Como é o trabalho de um gaffer?

TG- O gaffer é o braço direito do diretor de fotografia. Podemos dizer que é o engenheiro que constrói o projeto do arquiteto. Costumo dizer, que o gaffer é um fotógrafo técnico. Normalmente, quem exerce essa função é uma pessoa mais velha, pela questão do respeito e experiência.

VSP- O senhor é um profissional experiente no meio cinematográfico. Ao todo, em quantos longas-metragens você trabalhou?

TG- É difícil dizer exatamente quantos longas foram... alguns mudaram de nome, e fizeram outra montagem. Em alguns foram colocados cenas de sexo explícito, mas acho que mais ou menos 65 longas e mais ou menos quatro mil filmes publicitários.

VSP- O início da sua carreira foi no Cinema da Boca. Quais são as suas lembranças desse período?

TG- Vim pra São Paulo em 1974. Eu estava trabalhando como operador de máquinas pesadas e mecânico na Transamazônica. Também tinha trabalhando em cursos de terraplanagem. Cheguei a fazer cursos de cinema por correspondência. Tenho os livros até hoje! A minha intenção era trabalhar na área cinematográfica. Passei pela rua do Triunfo, procurando alguma coisa pra fazer. Fiquei sabendo que o Mojica estava precisando de figurantes pra o próximo longa, e fui me candidatar. Logo em seguida fui fazer uma figuração no programa do Sílvio Santos vestido de índio. Depois fui procurar emprego num jornal e vi um anúncio de um curso de arte dramática da Planeta Filmes, do Wilson Rodrigues. Eu gostava mais de iluminação e comecei a construir alguns equipamentos. Com isso, criei a marca Gorbitec. Mas isto é uma longa história.

VSP- O senhor acredita que os técnicos são muito pouco lembrados no cinema brasileiro?

TG- Com toda certeza! O Cinema da Boca formou ótimos técnicos. Mas quase todos foram esquecidos. Dificilmente alguém vai assistir um filme e fica até o final pra ver os nomes dos técnicos. Mas o pessoal de antigamente não se apegava muito com esse negócio de nome. Eu particularmente sempre lutei pra que os técnicos fossem reconhecidos, inclusive participei ativamente do movimento pra montar a ASTIM (Associação dos Técnicos em Iluminação e Maquinaria de São Paulo). Com a tecnologia digital facilitou muito o aprendizado dos novos técnicos. Infelizmente, os mais velhos que não se atualizar vão ser engolidos. No Brasil, tem uma cultura de que o velho não produz mais e tem que aposentar. Isto é um grande erro, porque é o momento que ele está melhor e pode produzir mais com a mente que com os braços. Inclusive, passar o que sabe para os mais novos. Nisto tudo, a figura do gaffer foi esquecida porque ele é um comandante de equipe e não um carregador de peso. Muitos diretores de fotografia não acham que é preciso um gaffer... acham que ele os ofusca, é outro grande erro. Nos Estados Unidos, essa profissão é extremamente respeitável e muitas vezes confundem com o diretor de fotografia. Mesmo assim, o diretor de fotografia não deixa de trabalhar com o gaffer. Mas é uma outra cultura.

VSP- E Aí...Comeu? é uma comédia e pelo que vi no trailer parece muito as antigas pornochanchadas. O senhor concorda com isso?

TG- Não concordo. O E Aí... Comeu? é uma comédia hilariante. Não tem nada de sexo extravagante, tem um elenco de primeira linha com Marcos Palmeira, Bruno Mazzeo, Murilo Benício, José de Abreu, Juliana Alves e muitos outros. Foi um longa muito bem produzido por Augusto Casé, com uma excelente diretora de produção Bia Caldas e sua equipe. Bem dirigido pelo competente Felipe Joffily e muito bem fotografado pelo Marcelo Brasil.

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