A trajetória profissional de Minami
Keizi (1945-2009) precisa ser mais estudada. O jornalista e editor brasileiro
de descendência japonesa foi responsável pela editoração da revista Cinema em Close Up. Essa publicação
durou três anos e foi o veículo de imprensa oficial do Cinema da Boca. Além de
fotos das atrizes, a revista trazia informações e discussões sobre a sétima
arte nacional. Um dos exemplares trouxe uma longa entrevista com Celso Amorim, então
presidente da Embrafilme. Os dois anuários da Close Up, escritos em 1976 e 77 são itens de coleção para todo
fanático por cinema brasileiro.
Entre os colaboradores da revista estão
nomes que depois contribuíram ativamente para o cinema paulistano como José
Adalto Cardoso, Luiz Castellini, Luiz Gonzaga dos Santos. Todos que trabalharam
diretamente com Minami o reconhecem como uma pessoa amável e humilde. Essa
humildade em demasia talvez tenha sido determinante para os projetos de Keizi
muitas vezes não serem sucessos comerciais. O jornalista era um Ademir da Guia da caneta. Além de sua importância dentro do
meio cinematográfico, Minami foi um dos introdutores do mangá no Brasil.
Foi editor de revistas sensacionais e raras como Pausa Garotas & Piadas. Escreveu dezenas de livros com os mais variados temas (horóscopo, artes
marciais, faroestes). Muitos saiam assinados por diversos pseudônimos e
editoras variadas. Lamento profundamente não ter conhecido pessoalmente ele,
embora tenhamos trocados alguns e-mails. Para homenagear Minami e outros
profissionais do passado, VSP
resgata aqui a sensacional seção de cartas da Cinema em Close Up. O espaço era chamado de “Cartas na mesa”.
Muitos leitores mandavam suas dúvidas e eram respondidos pelos colaboradores da
publicação. Claro que muitas cartas eram inventadas, o que torna tudo ainda
mais engraçado. Abaixo trazemos o texto na íntegra da segunda edição da Close Up,
em 1975. O interessante é ver os elogios dos realizadores da época para Minami
e a equipe da publicação.
Cartas na mesa
Realmente foi uma surpresa muito grande
o número 1 da revista CINEMA EM CLOSE UP, um incentivo para nós, produtores de
cinema, a continuar e aperfeiçoar cada vez mais. E mais um veículo para a
divulgação do cinema nacional. TONY VIEIRA, - produtor, diretor e ator de
cinema.
Gostei imensamente do número 1 da Cinema em close-up e orgulhosa em ter
sido a capa desta maravilhosa publicação. CLAUDETE JAUBERT- atriz de cinema.
Para mim que estou estreando com a fita
TERRA QUENTE, embora já tenha feito outra, é um estímulo e alegria em saber que
há gente interessada em divulgar o cinema nacional. CUSTÓDIO GOMES – ator,
diretor e produtor de cinema.
O número 1 está uma jóia! Sucesso na
certa. Pau na máquina, amigo. RAJÁ DE ARAGÃO – roteirista de cinema.
Era o que faltava no nosso meio, uma
revista que se preocupasse com os filmes brasileiros, informando ao público o
que se passa nos bastidores do cinema. ALEXANDRA MONTESSORI – atriz de cinema.
Nada tenho a criticar e a sugerir. A
linha adotada no número 1 está ótima. FRANCISCO DI FRANCO – ator.
Está ótimo o número 1. Gostei pacas.
Saiu agora, realmente, uma revista de cinema. JEAN GARRETT – diretor de cinema.
Olha, o meu fanatismo por cinema não
chega não chega a tanto, mas não posso deixar de expressar aqui os meus
parabéns. NELSON C. y CUNHA – escritor.
Acho que o povo em geral está de
parabéns, pois ganharam uma revista apta a divulgar o cinema nacional. GERALDO
DO NASCIMENTO – São Paulo-SP.
Explique-me, se for possível,
naturalmente, essa transa do CINEMA: Produção, Direção, Roteiro. Qual é a do
Diretor e a do Produtor? É o Diretor quem faz o roteiro? – E. DA SILVA GOMES –
Rio de Janeiro – RJ
O produtor é quem bota a grana, o diretor
dirige a fita e geralmente um roteirista faz o roteiro. Algumas vezes o próprio
diretor faz o roteiro.
Por que esta chamada porno-chanchada
prolifera no cinema brasileiro? Por que não fazem nenhum filme de arte com
exceção de alguns? CLÁUDIO CARLOSMAGNO- Curitiba- PR
Porque é preciso ganhar “o pão de cada dia” e se o povo quer comédia
erótica, “vox populi...” Todavia, convém reconhecer que o cinema nacional
progrediu muito; antigamente saíamos do cinema e se o produtor ou diretor da
fita estivesse nas adjacências, seria linchado pelos espectadores.
O terror novamente se faz presente,
desta vez não em forma de um exorcista ou bebê-diabo, e sim metamorfoseado em
CINEMA EM CLOSE UP. JOSÉ MOJICA MARINS – ator, diretor e produtor de cinema.
A revista está bem elaborada: para o
público e para os que estão ligados diretamente ao cinema. ARLETE MOREIRA-
atriz.
Além de Sinfonia Amazônica e Piconzé
não sei de nenhum desenho animado brasileiro. Por que não fazem mais desenhos
animados aqui? PAULO SILVA E SOUZA- P. Alegre – RS.
Ipê Nakashima que fez PICONZÉ faleceu
antes de desfrutar o sucesso da fita. Para um segundo da fita são necessários
de 16 a 24 desenhos e uma produção leva pelo menos uns dois anos. Daí podemos
concluir que a produção é caríssima. Mas não se incomode não, Maurício de
Souza; vem aí com seu HORÁCIO, uma super-produção a cores.
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