quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Filmes perdidos da Boca: Campineiro, o garotão para madames (1981)



O português Agostinho Martins Pereira (1924-) é um dos últimos remanescentes vivos da produtora Vera Cruz. O realizador ficou conhecido no meio cinematográfico por dirigir dois longas-metragens do comediante Amácio Mazzaropi: A Carrocinha e Gato de Madame. Mas no início da década de 1980, Agostinho dirigiu seu derradeiro trabalho na sétima arte. Trata-se da comédia maliciosa Campineiro, o garotão para madames, película produzida pelo galã e ex-cantor da noite Deni Cavalcanti. Deni queria incomodar certas pessoas. Por isso, colocou o nome de um notável político do interior de São Paulo em um dos principais personagens da fita.



Campineiro foi rodado quase inteiramente numa mansão no bairro da Granja Viana, na Grande São Paulo. Foram 60 dias de trabalho para equipe técnica e atores. No elenco feminino, os destaques foram as presenças de Zélia Martins (“maior mulher do Brasil”, que interpretou a milionária rica), Iara Stein e Célia Artacho. Nos coadjuvantes, é interessante notar a presença de Kléber Afonso como o mordomo afeminado. O filme estreou comercialmente em 16 de março de 1981 em uma sala no Cine Art Palácio, conceituada casa cinematográfica de São Paulo. Os jornais mal deram atenção ao longa-metragem dirigido por Agostinho. Na Folha de São Paulo, o crítico Orlando Fassoni apenas escreveu que acreditava que Campineiro era uma produção “altamente duvidosa”. O jornal chegou a publicar uma sinopse da película: “pornodrama sobre dois amigos – um campineiro, outro pelotense – que deixam o interior e vem à capital, encontrando a sorte em casa de rica mulher”.   



O longa-metragem não teve o resultado esperado nas bilheterias. Parece que foi um verdadeiro fracasso. Em agosto de 1981, Campineiro estava sendo exibido em cinemas de segunda linha no interior de São Paulo. Um exemplo é que o filme ficou em cartaz no Cine Yara em Águas de Lindóia (cidade da região de Campinas localizada a 163 quilômetros da capital). O maior destaque da sala não era o filme e sim um show de strip tease ao vivo antes das exibições.


Qual é o legado de Campineiro para o cinema brasileiro? Difícil afirmar. Passados diversos anos, assistir o filme parece ser algo impossível.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Matheus,acompanho seu excelente blog há tempos, nunca postei comentário antes. Finalmente, deixo um.
Qual o legado que esse filme deixou? Bem, temos de deixar de lado a idéia de que todo filme feio na Boca ou " à la Boca" tem valor, por ser popular, cru , feito na raça etc. Se permite a leviandadede de rotular um filme sem tê-lo assistido, me parece uma obra rasa e esquecível, feita apenas para chocar umas madames e hipócritas de classe média da época.
Repito: nem todo filme feito em SP nos anos 70 e 80 merece o mesmo tratamento que a Superfêmea tem, apenas ficando num exemplo notório e extremo (de qualidade).
Abraço,
Alex B

Matheus Trunk disse...

Caro Alex, como vai? Apareça sempre por aqui. Concordo com você que não é todo filme feito em SP nos anos 1970 e 1980 que são acima da média. Porém, acho que o Brasil precisa tratar a memória cultural de maneira séria. Por isso, deveríamos ter acesso a esses filmes. Justamente para vermos e dizermos: "É ruim. É bom". Somente ter acesso. E isso infelizmente não acontece.

Anônimo disse...

Perfeita, Matheus, sua resposta a meu comentário, eu ignorei completamente esse lado do drama que é a memória do cinema nacional, que a postagem expõe.
E que nosso Palmeiras saia das trevas e expulse a corja do mumu para sempre!!!
Abraço.

Anônimo disse...

Prezado Matheus, olhando jornais antigos por questões nada relacionadas ao cinema brasileiro, encontrei uma nota em uma edição do jornal "A Tribuna do Ribeira" de dezembro de 1981 sobre as filmagens nos municípios de Registro e Cajati do filme "A Quadrilha da Vingança", dirigido por José Geraldo Damaceno, estrelando o ator Djalma Dias.

Tentei encontrar alguma outra referência sobre a fita e nada. Alguma informação?

Bruno.