quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Memórias de um Cafajeste- parte VI: Jece e a Magnus Filmes




Por Jece Valadão

MAGNUS FILMES

Quando fui fazer Os Cafajestes montei uma produtora, que existe até hoje, a Magnus Filmes.

Essa produtora é dona de um estúdio no Rio, onde eu produzi os meus filmes. Hoje, esse estúdio é alugado para outras finalidades.

COMÉDIAS ERÓTICAS

Fui o primeiro a produzir comédia erótica no Brasil. A minha ideia era fazer filmes baseados em textos da literatura brasileira.

Fiz O Enterro da Cafetina e Memórias de um Gigolô, do Marcos Rey; Procura-se uma Rosa, do Pedro Bloch; vários filmes com histórias do Nelson Rodrigues, entre outros.

Memórias de um Gigolô, por exemplo, foi malhado na época, como um filme pornográfico. Algum tempo depois, a Globo apresentou esse mesmo texto, integral, no horário nobre; e até o título permaneceu.

Com esses filmes, fui taxado como produtor pornográfico. O curioso é que todos eles foram baseados na literatura nacional. E fui fiel à eles. De onde eu concluo que se sou um produtor pornográfico, a literatura nacional também o é.

SEXO NO CINEMA

Quando um cara faz uma cena de sexo numa filmagem e fica de pau duro, ele não é ator. É amador. Porque não há condição de você se excitar. É mum negócio muito profissional.

Agora, em filme pornô é condição sine qua non ficar excitado. Mas não são atores que fazem esses filmes. Ator não pode ficar excitado.

Pode até pintar uma cena de romance depois da filmagem. Aí, sai, vai para o motel, para o apartamento...Agora, ali, na filmagem, é impossível.

Ficam mais de cinquenta pessoas em volta: maquiador retocando a sua maquiagem, cabelereiro arrumando cabelo, a figurinista consertando a roupa, o fotógrafo com fotômetro em cima de você, o eletricista, o cameraman, o outro medindo...É impossível qualquer excitação sexual.

AMOR AO CINEMA

Toda a preparação de um filme é altamento excitante, porque você está compondo as pedras de um quebra-cabeça. Depois, vem a filmagem, que é a realização daquele quebra-cabeça.

O acabamento é melhor ainda, porque é uma criação em cima da criação. É a montagem do filme, a mexiagem, a colocação da música; corta aqui, corta ali, burila...
Agora, o mais excitante de tudo é a estreia. É como se nascesse um filho.

E, estreou, você já passa outro filme. Seu filho para o mundo.


Emoções variadas

Essa é a sensação que o cinema dá para quem trabalha com ele. Uma sensação maravilhosa, cheia de emoções variadas.

Originalmente publicado em: VALADÃO, Jece. Memórias de Um Cafajeste. São Paulo: Geração Editorial, 1996.

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