quarta-feira, 1 de outubro de 2014

“Ninfas Diabólicas”, erotismo feito por um sino-brasileiro

Um filme erótico brasileiro feito por um chinês radicado em São Paulo há 20 anos e que já foi tintureiro e motorista de limousine, deve estrear no próximo mês em todo país. Trata-se de “Ninfas Diabólicas”, fita de mistério, bruxaria, ação e suspense, mas também com forte dose de erotismo. John Doo, o sino-brasileiro que dirigiu o filme, revela duas novas atrizes que certamente vão causar sensação no cinema nacional, Aldine Muller e Patrícia Scalvi, além de trazes de volta o sempre talentoso Sérgio Hingst. Um filme que vai dar o que falar.


Um triângulo amoroso absolutamente inédito, envolvendo bruxaria, demonismo e uma poderosa carga erótica, compõe o tema de “Ninfas Diabólicas”, filme que marca a estreia do diretor chinês John Doo no cinema brasileiro. Totalmente desvinculado dos esquemas estrangeiros, o filme, enfocando um assunto aparentemente banal e já explorado pelo próprio cinema paulista, vai aos poucos tomando um rumo marcado por forte intensidade dramática para, no final, explodir em uma trama surpreendente.



A fita é a estória de um chefe de família ordeiro e pacato (interpretado por Sérgio Hingst), empresário austero e confortavelmente acomodado em se ostensivo Malibu, se vê dominado por duas colegiais que lhe pedem carona na Via Dutra. Mediante lances de extrema sensualidade de uma delas, este respeitável cidadão acaba desviando-se do seu rumo e termina a viagem numa das afrodisíacas praias do litoral norte de São Paulo, onde ocorrem momentos de grande suspense, com cenas de terror, bruxaria e outros ingredientes sobrenaturais que alteram totalmente a estória.



Envolvido pelo mar, pelo calor e pela vegetação luxuriante, Sérgio Hingst começa a ser vítima de uma disputa entre as duas “ninfas”, uma morena (Aldine Muller) e outra loira (Patrícia Scalvi) e despe-se de toda sua moral pequeno-burguesa, aderindo integralmente ao irresistível apelo do sexo. Nesse ponto a estória deixa de ser um triângulo amoroso para se transformar em ação e suspense com cenas de impacto, poucas vezes vistas no cinema brasileiro.



Bonitas e criativas



Depois de “Ninfas Diabólicas” não será mais possível contestar o talento e a beleza das atrizes Aldine Muller e Patrícia Scalvi. Nesse filme do estreante John Doo, as duas conseguiram não só ultrapassar a barreira que discrimina a maioria das atrizes do cinema paulista (entre outras coisas acusadas de pornochanchadeiros) como também avançar num estilo de interpretação dos mais prestigiados pelo cinema internacional, ou seja, um tipo de representação que tem como objetivo principal, o de unir os fenômenos eróticos com os “psicológicos”. Essa afirmação é do crítico e ensaísta cinematográfico Renato Petri, um dos que viram e acreditam muito no sucesso do filme de John Doo.



Em “Ninfas Diabólicas”, Aldine e Patrícia atingem plenamente esse estágio. Elas se transformam em Úrsula e Circe, duas falsas colegiais que pedem carona na via Dutra e leva a primeira vítima (Sérgio Hingst) que de repente vê a possibilidade de um fim de semana repleto de prazeres sexuais, a encontrar tragicamente a morte. De fato, resistir às duas não é fácil. Com suas saias azuis pelas coxas e blusas entreabertas, deixando ver os seis jovens e tenros...



A figura demoníaca de Úrsula é uma personagem elaborada pela própria Aldine Muller. Apesar de seu excelente papel em “Paixão e Sombras” de Walter Hugo Khoury, Aldine considera esse trabalho em “Ninfas Diabólicas” como o mais importante de sua carreira. Uma carreira que não tem dois anos ainda, mas que sempre esteve em ascensão. Tudo o que há de fantástico em Úrsula foi traçado por ela mesma e isso prova o talento de Aldine, que pode render muito mais em filmes sérios e empenhados, diferente das comediazinhas eróticas que ela, ás vezes se vê obrigada a fazer.



Quanto a Patrícia Scalvi, apesar de sua juventude, é uma atriz que traz consigo uma respeitável experiência teatral. No cinema apareceu em dois ou três filmes de nível inferior, porém, campeões de bilheteria. E Patrícia acredita que vai repetir a dose com “Ninfas Diabólicas”. Só que, no papel de Circe – uma diabinha sedutora travestida de colegial – não foi apenas a oportunidade de Patrícia pesquisar e se aprofundar na psicologia do personagem, mas sim, a grande oportunidade de conhecer a psicologia do público cinematográfico brasileiro, buscando saber o que mais o prende na poltrona: se são as belas formas femininas (seios, nádegas de fora, etc.) ou se são as reações normais de seu cotidiano, como o medo, o desejo ou a ânsia de aventura.



O diretor já foi tintureiro



Tintureiro no Canadá, foi apenas uma das muitas atividades na curiosa carreira de John Doo, chinês de 35 anos, mas radicado em São Paulo há mais de 20 anos, que agora estreia como autor e diretor de filme erótico. “Ninfas Diabólicas” estará nos cinemas a partir de julho e John Doo faz questão de esclarecer que seu filme não se trata de nenhuma outra pornochanchada qualquer.



“Pelo contrário, é a estória de um triângulo amoroso totalmente inédito envolvendo bruxaria, demonismo e uma extraordinária carga erótica...É um filme de terror com um elenco do nível de Sérgio Hingst, várias vezes premiado, ou de duas autênticas revelações do cinema brasileiro, Aldine Muller e Patrícia Scalvi”, diz ele, enfaticamente.



Apaixonado pelo cinema desde criança, John Doo, saiu de casa aos 17 anos e foi pedir emprego na equipe de produção de “O Cabeleira”, filme rodado em 1960, na cidade paulista de Mococa, onde acabou substituindo a então “scrip-girl”, Marlene França (hoje atriz de prestígio). Depois veio “Casinha Pequenina”, com Mazzaropi, para que mais tarde, dirigiu, sem assinar “O Puritano da Rua Augusta”.



Mas o que John Doo queria era dirigir filmes de empenho próprio, tornando-se cineasta de estilo incomum. Comum, foi para os Estados Unidos estudar engenharia têxtil, enquanto aceitava trabalhos de mordomo, carregador em supermercado ou motorista de limousine. E foi nessa época, em 1967, que trabalhou como tintureiro na Feira de Montreal, no Canadá, durante seis meses. De volta a São Paulo, vendeu a fiação do pai, montou a Presença Filmes e começou a produzir comerciais de televisão, para finalmente, fazer seu primeiro longa-metragem, “Ninfas Diabólicas”, um filme meio à la Polanski, o cineasta preferido de Doo.



A fotografia de seu filme que reflete fielmente a beleza dos locais onde foi rodado (Ilhabela e Caraguatatuba), foi feita pelo excepcional Ozualdo Candeias, o cineasta brasileiro mais importante da atualidade. O roteiro é de Ody Fraga, outro profissional competente; a música é do famoso maestro Rogério Duprat e a montagem é de Máximo Barro. Além de Hingst, Aldine e Patrícia, participa da fita a nissei Misaki Tanaka, revelada por Walter Hugo Khoury em “Paixão e Sombras” e um elenco auxiliar de primeira linha.



Publicado originalmente na Fiesta Cinema em agosto de 1978

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