quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Um rolê para o outro cinema

Prêmio reúne veteranos da Boca paulistana



Tarde de dezembro. O público chega devagar ao espaço Matilha Cultural no centro de São Paulo. Lá teria início um evento que reuniu cineastas, atores, técnicos, pesquisadores e anônimos que de alguma maneira gostam da antiga Boca paulista. Tratava-se da primeira exibição pública do longa-metragem Rua do Triumpho- o filme do veterano Mário Vaz Filho. Era também a segunda produção do Instituto Ozualdo Candeias, entidade que reúne remanescentes da Boca do Lixo paulista. “Fiquei 2015 todo montando e remontando esse filme. Deu um trabalho do cão”, reclama Marinho.
                
Já o produtor Diomédio Piskator é mais otimista. Presidente do Instituto, ele comemora que a primeira produção da entidade (Memórias da Boca) chega na quarta semana em cartaz no Cine Belas Artes. Piskator afirma que novos projetos devem estrear em breve. “Fazemos tudo de maneira independente. Nossa ideia principal é manter o pessoal ativo”. Misto de documentário e ficção, Rua do Triumpho é um trabalho que sofre com o orçamento controlado. Mesmo assim, existem boas ideias e momentos engraçados. Principalmente quando o foco do filme fica nos suvaquinistas. “Eram aquelas pessoas que carregavam o roteiro debaixo do braço, mas não concluíam nada. Os fazedores de filmes inacabados”, explica Mário Vaz Filho. Ele afirma que conheceu diversos suvaquinistas na rua do Triunfo. Muitos não chegaram a terminar nenhuma produção. “Agitavam, agitavam e acabavam não concluindo nada”, diz rindo.

Rua do Triumpho foi produzido sem nenhum recurso público tendo como protagonistas remanescentes da própria Boca como Clery Cunha, José Lopes (Índio), Zé da Ilha e Franco Lino. A aposta é que o filme chegue a ser exibido no próprio Belas Artes. “Eles possuem um espaço legal pra quem trabalha de maneira independente. Não temos por trás nenhum apoiador”, conta Diomédio.

Após a exibição do longa-metragem, aconteceu a segunda parte do evento. O Instituto Ozualdo Candeias organizou a entrega da primeira edição do prêmio Francisco Cavalcanti, destinado a personalidades do cinema paulista. O evento aconteceu no restaurante e pizzaria Estrela da Ipiranga, local próximo ao Matilha Cultural. Entre as personalidades que receberam a placa estão atrizes como Neide Ribeiro e Débora Muniz. O cineasta Alfredo Sternheim e o professor e montador Máximo Barro também foram homenageados.

 Mas a plateia ficou em êxtase quando o cineasta José Mojica Marins foi receber sua placa. O realizador conhecido pelo personagem Zé do Caixão teve duas paradas cardíacas nos últimos anos e ficou cinco meses internado na UTI do Incor (Instituto do Coração). Mesmo com todos esses problemas de saúde, Mojica recebeu a placa e fez um emocionante discurso. “Eu acho que todos que lutaram tem o seu devido valor. Não importa se estão mortos, se estão afastados. Onde quer que seja, basta que eles fizeram algo pelo cinema e eles precisam ser valorizados”. Aos 79 anos, Mojica prossegue trabalhando nos seus projetos pessoais. Ele inclusive foi tema da minissérie Zé do Caixão exibido no canal pago Space. A filha do diretor, Mariliz Marins, explica que está concluindo uma loja virtual para comercializar produtos referentes ao pai. “Os fãs vão poder comprar camisetas e outros adereços referentes ao mitológico personagem. Vamos inclusive vender uma cachaça Zé do Caixão”. 


Organizador da premiação, Diomédio Piskator afirma que 2016 será um ano importante para o Instituto Ozualdo Candeias. Novas produções devem entrar em cartaz e a segunda edição do prêmio Francisco Cavalcanti será realizada. “Estamos concluindo o São Paulo Zero 15. É um longa-metragem composto por quinze episódios de ficção tendo a cidade de São Paulo como protagonista. São quinze diretores de gerações diferentes num único filme”. Ele espera que o longa-metragem estreie para o grande público no segundo semestre de 2016. 

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