terça-feira, 26 de abril de 2016

E assim conheceram as maravilhas do sexo



Por Denise Godinho e Hugo Moura

Era comum, que na Boca do Lixo, os cineastas se preocupassem em como fazer a publicidade dos filmes. Principalmente porque havia grande demanda de produções brasileiras graças à lei da obrigatoriedade, como será explicado mais à frente. Assim, era preciso haver destaque nas portas do cinema para que o espectador escolhesse tal filme e não outro. A falta de recursos para investimentos em publicidade fazia com que os cartazes fossem os únicos responsáveis pela propaganda e, geralmente, eles eram apelativos e podiam até não demonstrar relação com o enredo da produção. Além disso, os pôsteres de filmes da Boca, quando realizados por diretores consagrados, eram ilustrados pelo traço inconfundível de Benício, o artista mais requisitado nessa missão e que intensificava a formosura das belas atrizes da época. Raffaele não havia sequer cogitado o desenhista. Afinal, com que dinheiro ele poderia pensar nisso?

Quando o cineasta teve a ideia de aproveitar a fresta que Império dos sentidos tinha aberto, surgiu também a preocupação em tornar a sua nova empreitada algo chamativo aos olhos dos apreciadores de cinema. Afinal de contas, estes deveriam ser fisgados pelo cartaz ainda antes de comprar o ingresso. A bem da verdade, após sua primeira semana de exibição, Coisas eróticas não necessitaria mais do pôster para chamar a atenção do público.

O único material de divulgação do filme trazia uma morena deitada de costas, tomando sol à beira do que se supõe ser uma piscina. O grande foco é a bunda arrebitada, bem torneada e bronzeada. No alto, com erros estranhos de pontuação, lê-se “...E assim! Conheceram as maravilhas do sexo!...”. Embaixo, o título Coisas eróticas.

Quem das atrizes teria sido incumbida da honra de ilustrar o cartaz? Essa simples dúvida se transformou em um enigma desvendado diversas vezes.



Publicado originalmente em GODINHO, Denise & MOURA, Hugo. Coisas eróticas: a história jamais contada da primeira vez do cinema nacional. São Paulo: Panda Books, 2012.  

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