quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Memórias do setorista da Boca XIV: José Lopes, o Índio


Ele fumava um cachimbo doce. E gostava de máquinas de jogos de azar. Para jogar nessas maquininhas muitas vezes ele ia no fundo dos botecos escabrosos. A verdade é que José Lopes, o Índio, tinha verdadeira adoração por seu cabelo. “Era nele que as moças passavam as mãos”, dizia sorrindo. Sua carreira floresceu durante todo o período da Boca do cinema paulista: início, apogeu e decadência. Foi ator de centenas de produções Seu maior amigo dentro do campo cinematográfico parece mesmo ter sido o ator, cineasta e produtor Tony Vieira (1938-1990). Mineiro de nascimento, Tony trabalhou em circos e com luta livre antes de entrar na área cinematográfica. Mas chegou ao estrelado fazendo faroestes e policiais eróticos de baixo orçamento na rua do Triunfo. Índio esteve ao seu lado em todos os momentos desde o começo até o final. Foi uma amizade verdadeira e profunda. Era comovente ver o Índio lembrando-se das aventuras e desventuras que os dois fizeram juntos. “Fazia um sucesso danado. A verdade é que no Nordeste o Tony Vieira era o rei do cinema como o Roberto Carlos”.

Baiano de nascimento, Lopes trabalhou na TV Excelsior, fez diversos comerciais e chegou a trabalhar até em novelas da Globo. Sempre que precisavam de um apache, tupinambá, caingangue, guarani, xavante, todos os tipos de etnias chamavam ele. Esteve em diferentes películas como “O Bandido da Luz Vermelha” de Rogério Sganzerla, “Iracema- A Virgem dos Lábios de Mel” de Carlos Coimbra, “O Inseto do Amor” de Fauzi Mansur, “Pedro Bó, o Caçador de Cangaceiros” de Mozael Silveira, “A Opção: Rosas da Estrada” de Ozualdo Candeias, “Horas Fatais: Trocas de Cabeças” de Francisco Cavalcanti e Clery Cunha, “O Homem Sem Terra” do mesmo Francisco Cavalcanti, entre muitos outros. Em algumas produções o Índio também dirigiu efeitos especiais para explosões, lutas, coisas assim. Tudo de maneira apaixonada dentro daquele universo da Boca paulista. Após a chegada do sexo explícito, Índio prosseguiu trabalhando em cinema e fazendo seus comerciais. Ninguém vai conseguir ser como ele. Aliás, só José Lopes foi o verdadeiro Índio. Na acepção da palavra.

Um comentário:

Unknown disse...
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