sábado, 14 de novembro de 2020

VSP nas eleições 2020: entrevista com Vivi Mendes, candidata a vereadora do PT

 

A advogada Vivian Mendes, 31 anos, é candidata do PT (Partido dos Trabalhadores) a vereadora na cidade de São Paulo. Seguem as perguntas e respostas ao questionário.

 

VSP- Como surgiu a ideia de você ser candidata a vereadora?

Vivi Mendes- Minha participação na política começou na Faculdade de Direito da USP, onde estudei. Foi também na graduação que eu conheci a luta do movimento feminista. Quando me formei, tive a oportunidade de trabalhar na Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres da gestão Haddad, uma das experiências profissionais mais enriquecedoras que eu tive.

Mesmo sendo militante do PT, eu nunca tinha pensado em me lançar candidata. Na verdade, eu venho de uma família sem nenhum envolvimento político e muito menos com o PT. Sou advogada, atuo na defesa de mulheres que sofreram violência doméstica, e também com movimentos sociais. Em 2018, muita gente depositou desesperança na urna. E isso nos fez eleger o pior presidente da história da nossa democracia.

Eu acredito que as pessoas precisam voltar a acreditar que a política pode fazer a diferença na vida delas. E que para isso, precisamos renovar a política através dela, e não negando a política. Minha candidatura representa a ligação entre o que tem de melhor do legado petista com a atualização necessária que o nosso projeto precisa. Quero fazer parte do processo de reconstrução da confiança das pessoas em um projeto real de transformação, que priorize os mais pobres.

 

VSP- Quais são seus principais projetos?

VM- Acho que o principal ponto é propor outra relação de representação para o cargo de vereadora, que seja menos ligado a um bairro ou uma única região da cidade e que consiga ter um pé na rua e outro na institucionalidade, para que a gente consiga pensar em soluções para a cidade, e não só para regiões dela. Não há nada errado em ter relação mais próxima com um território, mas existem menos cadeiras do que bairros, então essa lógica nitidamente tem um limite.

Além disso, minha pauta principal é política para as mulheres; é levar o cotidiano das mulheres para dentro da câmara e pensar em políticas públicas específicas para as mulheres em todas as pautas, entendendo que todas as nossas relações são atravessadas por e imersas em distinções de  gênero. Quero também pautar sustentabilidade e transição ecológica na cidade, em especial para estabelecermos um marco regulatório para colocar as cooperativas de catadoras e catadores no centro da gestão de resíduos sólidos na cidade. Isso é uma proposta que transfere receita do município dos grandes contratos de empresas para as cooperativas, gera empregos dispersos pela cidade e promove a reciclagem. Minhas bandeiras podem ser encontradas no www.sitedavivi.com.br

 

VSP- A falta de debates televisivos prejudicou os candidatos a vereador?

VM- Acho que não. O principal prejudicado é o eleitorado, que perde a oportunidade de ver projetos políticos postos em debate. Em São Paulo isso talvez seja ainda mais grave do que no resto do país por causa da revisão do plano diretor que ocorrerá no ano que vem. Projetos de cidade e de sociedade radicalmente distintos se colocam nessa eleição em um momento que marca o começo de um período de reacomodação do sistema eleitoral por causa das cláusulas de barreira e do fim das coligações. O timing não poderia ser pior.

 

VSP- Por o quê o PT? Qual é a sua avaliação da candidatura do Tatto a prefeito?

VM- O PT é o primeiro partido da história do Brasil a se organizar de fora do aparato estatal e de fora das elites para a disputa do poder político. Nesse sentido, não tenho dúvidas de que o PT é o único caminho para a democratização da política e do Estado. Aliás, a socialização da política está no centro do socialismo petista.

Avalio que o programa de governo do Tatto mostra o acúmulo político de um partido que pensa e atua sobre a nossa capital há décadas e que foi responsável pelas políticas mais inovadoras e transformadoras da nossa cidade. Sua candidatura representa essa política, não apenas um projeto pessoal, como frequentemente se coloca para desacreditá-la. Acho que, a partir do que nós temos visto em números de rejeição, desconhecimento, dentre outros, é uma candidatura que ainda tem bastante espaço para crescer.

 

VSP- Muita gente defendeu que o PT deveria apoiar o Boulos desde o primeiro turno. O que você acha disso? Você não acha que várias candidaturas dividiram a esquerda?

VM- Acho que esse discurso é equivocado. Em primeiro lugar, acho que a existência de múltiplas candidaturas de esquerda não será um problema se houver o mínimo de alinhamento político e respeito mútuo no discurso, o que acredito que temos visto em São Paulo até aqui. É natural que as agremiações lancem suas candidaturas num cenário sem coligações. Em segundo lugar, as coligações são formadas quando existe um consenso sobre a existência de uma candidatura claramente favorita. É o caso em Belém e Porto Alegre, em que o PT - e, infelizmente, nem todos os outros partidos de esquerda - estão apoiando Edmilson e Manuela, respectivamente. O Rio de Janeiro também poderia ter tido uma frente de esquerda em torno do Freixo, mas o próprio PSOL apresentou divergências internas.

Aqui em São Paulo, o histórico de PT e PSOL não indicava o favoritismo de Boulos, e ainda não vejo que seja hora de sentar na cadeira. O Tatto tem tirado voto principalmente de Russomano, e o PSOL nunca disputou esse eleitorado até hoje. Será que uma retirada do Tatto não ajuda mais o Russomano do que o Boulos? Boa parte dessa queda do Russomano também tem beneficiado Joyce, Do Val e Márcio França. Acho que o cenário ainda é muito incerto, com a exceção da banheira de água morna que é a candidatura do Covas. De resto, ainda vejo muita água para rolar. Voto estratégico é discussão para a semana do pleito.

 

VSP- Qual é a sua avaliação das medidas do governo estadual e municipal de São Paulo frente a pandemia do Coronavírus?

VM- Reconheço que o ineditismo dificulta as reações, e que o governo federal é um grande vetor de transmissão da covid-19 em todo o Brasil. Dito isso, a reação do PSDB em São Paulo foi muito ruim. A da prefeitura foi atrapalhada, na melhor das hipóteses, quando não simplesmente incompetente. A gestão dos transportes foi tragicômica. Doria, por sua vez, mostrou mais de uma vez que não tem nenhuma vocação para política. Começou usando a crise para antagonizar com Bolsonaro visando 2022; recuou depois de ver que não ia ganhar e de se assustar com a reação dos bolsonaristas. Adotou uma comunicação vacilante e trôpega, ora cedendo às pressões de prefeitos e empresários, ora tentando sinalizar para o público que era preciso manter o cuidado. Não ajudou nem uns nem outros. Quando teve a oportunidade de exercer liderança política, comportou-se como um lobista tentando equilibrar várias demandas. Foi lamentável.

Em comum, acredito que ambos poderiam ter utilizado melhor e com mais antecipação a estrutura dos agentes comunitários de saúde. Cidades como São Francisco, nos EUA, gastaram milhões de dólares para treinar pessoas para fazer rastreamento de contágio. Nós tínhamos funcionários públicos que poderiam e deveriam ter sido treinados para isso desde fevereiro. Mas investiu-se em leitos e hospitais de campanha, ao invés de investir-se em prevenção e contenção.

 

VSP- Quais estão sendo as principais dificuldades da sua candidatura?

VM- Como candidata pela primeira vez, acho que o primeiro impacto é o quão extenuante é o processo eleitoral. Rodamos a cidade, falamos com centenas de pessoas. A pandemia dificulta ainda mais, porque sempre estamos de máscara, lavando as mãos, etc. Mas o cansaço é recompensado pela energia das pessoas.  Sinto que os progressistas estão muito interessados em discutir política, pensar a cidade, ouvir e serem ouvidos. Felizmente eu não estou sozinha; tenho muita gente ao meu lado com quem eu milito já há muito. Conseguimos o maior financiamento coletivo de uma candidata no Brasil até agora, temos muita gente trabalhando voluntariamente, o que ajuda a superar os obstáculos financeiros.

 

VSP- Qual é a sua expectativa e do PT para as eleições de 2020?

VM- Acredito que teremos uma demonstração do vigor do partido, e que elegeremos muitas lideranças novas, bancadas numerosas e diversas, e que daremos mais uma demonstração de força depois do golpe, da prisão do Lula, e das eleições de 2018. Acredito ainda que a imprensa se concentrará  apenas no resultado das eleições majoritárias.

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