Por Jece Valadão
CINEMA
NOVO
No mesmo ano em que nós
filmamos Os Cafajestes, o Glauber estava dirigindo Deus e o Diabo na Terra do
Sol, o Roberto Farias estava fazendo O Assalto Ao Trem Pagador e, em São Paulo,
o Massaini estava produzindo, com direção do Anselmo Duarte, O Pagador de
Promessas.
Quer dizer, num mesmo
ano foram feitos quatro filmes importantes, que deram início a uma deslanchada
do cinema nacional e ao aparecimento do Cinema Novo.
Exclusão
Surgiram diretores como
Bruno Barreto, o Cacá Diegues, o Jabor, o Domingos de Oliveira, entre vários
outros.
Eles fizeram uma
panelinha e eu simplesmente fui excluído por não concordar com o tipo de filme
que eles faziam: um cinema político, de prostesto, de contstação.
Eu sempre quis fazer
cinema-arte, cinema-cultura; ou então, um cinema para ganhar dinheiro.
Cu
de touro
Depois dos Cafajestes,
enquanto eu produzia filmes como Boca de
Ouro, Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja, o pessoal
do Cinema Novo fazia um cinema que mais parecia o Cu do Touro.
Mais sério que cu de touro não existe.
Atuação
A minha exclusão da
panelinha do Cinema Novo tinha um lado engraçado, porque eu atuava, ao lado deles,
no meio político cinematográfico, mas não era aceito no meio cultural. E
cultural, aqui, eu coloco entre aspas...
Discriminação
Fui discriminado por
toda a panelinha do Cinema Novo durante muito tempo, apesar de ter feito filmes
como, com o Nelson Pereira dos Santos; um filme respeitado pelos intelectuais
até hoje.
Reconciliação
com o Cinema Novo
Recentemente fiz as
pazes com o Cacá Diegues. Ele me chamou para fazer Tieta do Agreste e eu fui.
Foi ótimo
reencontrá-lo. Ele é maravilhoso.
O que havia realmente
era uma desinformação, pontos de vista políticos diferentes; mas puramente
políticos.
Eles não entendiam a
minha postura de não querer fazer política e eu não entendia a postura deles de
fazer política através do cinema.
Mas com o tempo isso foi
esclarecido.
Técnicos
e atores
Já os técnicos e atores
gostavam muito de mim, porque eu era o diretor que mais produzia filmes e que,
consequentemente, oferecia mais trabalho para eles.
Ator
Acho que essa
discriminação não tinha nada a ver com a minha qualidade como ator. O Glauber
me achava um ótimo ator. O Nelson Pereira dos Santos também.
Mas em virtude da
discriminação política, houve um afatamento por parte de muitos diretores. Uma
elite de meia dúzia de pessoas.
Chama acesa
Eu não tiro o mérito
que o Cinema Novo tem. O mérito de manter a chama do cinema brasileiro acesa.
Poder
na mídia
O pessoal do Cinema
Novo tinha um poder muito grande na mídia.
Todos eles eram ligados
ao pessoal da imprensa e acabavam exercendo um certo domínio, execrando os
outros cineastas do país.
CHANCHADA
A chanchada, que teve
um valor fundamental no cinema brasileiro, foi execrada pelo Cinema Novo e pela
crítica. Eles achavam a chanchada uma bosta.
Só que através da chanchada foram criados os técnicos, os autores, os artistas, cenógrafos, figurinistas...Os mesmos técnicos que foram usados pelo Cinema Novo.
Só que através da chanchada foram criados os técnicos, os autores, os artistas, cenógrafos, figurinistas...Os mesmos técnicos que foram usados pelo Cinema Novo.
Revisão
crítica
Hoje está sendo feita
uma revisão crítica da chanchada.
Acho que ela foi
fundamental para o cinema brasileiro. Os filmes tinham um público de dobrar o
quarteirão.
Eram filmes ingênuos,
superengraçados.
Originalmente
publicado em: VALADÃO, Jece. Memórias de Um Cafajeste. São Paulo:
Geração Editorial, 1996.
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