Por Leonardo Fuhrmann
Ao
falar sobre Virgílio Roveda, Matheus Trunk faz mais do que contar a trajetória
de um homem (o que já não seria pouca coisa em si, pois todos nós temos grandes
histórias, basta saber contá-las). Ao escolher um técnico como personagem
central de seu livro, ele foge também das maneiras mais óbvias que temos de
conhecer os bastidores do cinema: pelo olhar dos grandes astros protagonistas
ou de diretores criativos que construíram uma forma própria de fazer seus
filmes.
Claro
que é muito mais fácil oferecer ao público a história vista pelos olhos de
alguém que é uma cara conhecida, ainda mais se for um ator ou atriz que aparece
nas novelas da televisão. Por outro lado, os estudantes e estudiosos de cinema
têm uma curiosidade especial sobre a maneira como os grandes criadores pensaram
seus maiores clássicos. Sem desprezar estas duas possibilidades, o livro que
você tem agora em mãos oferece a visão dos profissionais menos conhecidos do
cinema: os técnicos.
Alguns deles vieram da Europa com conhecimento teórico e quando chegaram a São Paulo seguiram fazendo o que gostavam e sabiam fazer. Já haviam outros com pouca formação profissional e que faziam cinema com muita garra e pouco dinheiro e tentavam aprender os segredos da profissão com os mestres estrangeiros. Pessoas que faziam cinema quase que anonimamente, que sofriam com baixos salários e más condições de trabalho e, não poucas vezes, nem recebiam o combinado. Mas, mesmo assim, tinham orgulho de dizer que faziam cinema.
Era
gente que trabalhava na indústria do cinema, que podia fazer um filme com nomes
consagrados como Ozualdo Candeias, Rogério Sganzerla, Luís Sérgio Person ou Carlos
Reichenbach e, em seguida, participar com o mesmo empenho e disposição de uma
produção caça-níqueis até mesmo com enxerto de cenas de sexo explícito.
Profissionais que podiam exercer diversos ofícios durante uma mesma produção e
que podiam subir ou descer na escala de importância das atividades que exerciam
de um filme para outro sem pensar na carreira apenas como uma escalada rumo ao
topo. Aqui está uma contribuição importante para que as histórias desses
trabalhadores não se percam.
Publicado originalmente como prefácio do livro O Coringa do Cinema
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