Voltei a vender rifas.
Rifas de um relógio. É comovente a crença que os bêbedos tem na loteria, pois a
estes vendia meus cartões. Nessa época conheci um japonês que me passou
retratos pornográficos pertencentes à série “o padre e a freira”. Comecei a
vendê-los à saída dos colégios. Tive sorte. A rapaziada conhecia-me à distância
e comprava-os. Depois, encorajei-me a frequentar escritórios. Tinha também êxito nos salões de barbeiro e em
certas rodinhas que se formavam na praça da Sé. Foi uma das profissões que mais
levei a sério. Mas abandonei quando encanaram o japonês, que, sem favor, era um
fotógrafo de mão-cheia, um artista incompreendido, um gênio oculto.
Terminada essa
experiência, iniciei outra. Vendia estatuetas obscenas, feitas de barro, em
forma de cinzeiro e peso para papel. Tiveram feliz aceitação nos prostíbulos,
bares noturnos, certos escritórios, mas a saída foi momentânea. Em seguida,
criei uma biblioteca circulante de livros pornográficos que alugava a um bom
preço. Esse mister permitiu-me viver com dignidade uns seis meses. Mas a
literatura fescenina é muito pobre nesse país; faltam bons autores,
ilustradores, tradutores e os editores preferem a exploração gangsterina dos
livros didáticos. Resultado: fui acabar retornando ao posto de garçom no
Império. Eu, o príncipe da noite, o Edgard Wallace das roupas íntimas.
Retirado do livro "Memórias de Um Gigolô" de Marcos Rey
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