Por Alexandre Pereira
Conheci
o jornalista, palmeirense e fã de Nelson Gonçalves, Matheus Trunk há
uns cinco anos quando decidi linkar meu blog no dele. Na época,
impressionado com a qualidade da revista eletronica Zingu, editada for
este doente de coração, tudo que
eu desejava era poder acessar aquele conteúdo sem ter que recorrer ao
google e outros mecanismos de busca. Um clique no meu próprio espaço
virtual e todas aquelas histórias, sobre cartazes de cinema,
futebolistas do passado e sambas perdidos poderiam ser recuperadas de
maneira organizada e inteligente.
Da união virtual veio uma
troca de telefones e o encontro na vida real. O local deste contato não
poderia ser mais emblemático, um boteco decadente e ainda heroicamente
preservado numa daquelas travessas que circundam o Largo do Paissandu.
Rapidamente percebi que não estava diante de um jornalista
qualquer. Eu que durante décadas convivi com centenas deles, sabia a
diferença do aspirante esforçado e deslumbrado em relação a um craque da
matéria como é o caso deste historiador apaixonado por cinema. Já dizia
o grande Nelson Rodrigues que sem paixão não se chupa nem um picolé. O
que Matheus faz neste imperdível "Coringa do Cinema" (Giostri Editora,
2013) é digerir o sorvete, mostrar o palito premiado e nos apresentar a
fábrica onde ele foi produzido.
Ao usar a figura de Virgílio
Roveda, um emblemático técnico do cinema da boca, como uma espécie de
agulha que costura grande parte da história do esquecido cinema
paulistano, o autor consegue em pouco mais de 150 páginas elencar
perfis, viajar em lembranças e recuperar histórias que beiram quase a
ficção. Uma incrível maneira de dizer que muitas histórias do cinema
nacional ainda clamam para serem escritas.
Caso, por alguma
miopia mercadológica, este livro não alcance seu devido lugar no mercado
editorial ele já estará ao lado de obras como "O Mundo Funk Carioca" de
Hermano Vianna e os romances de José Salles,nosso Ed Wood do
Belenzinho, como um tesouro que precisa urgentemente ser descoberto.
"Coringa do Cinema" é portanto mais que uma cinebiografia é antes
de tudo uma fotografia de nossa amnésia cultural onde as imagens
congeladas no papel insistem em desafiar qualquer tentativa de
acomodação. Pesquisadores, colecionadores, arquivistas e amantes da
sétima arte: comecem à esfregar as mãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário