Fauzi Abdalla Mansur,
atualmente com 33 anos de idade, brasileiro de descendência árabe, é diretor de
cinema desde 1969.
Antes de dirigir seu
primeiro filme, tinha tido experiência em teatro como ator e como técnico.
Entrou efetivamente para a direção de sétima arte fazendo assistência de
direção para Carlos Coimbra no filme Madona
de Cedro.
Em 1959, sua estreia
foi em Deu a louca no cangaço,
produção de Nelson Teixeira Mendes. Funcionou como co-diretor. Ainda no mesmo
ano, com o mesmo produtor, dirigiu sozinho 2.000
Anos de Confusão. Ambas comédias de censura livre e sem grandes
compromissos. Em 1970, conservando o mesmo gênero, fez A Ilha dos Paqueras.
Aí, Fauzi parou para
pensar. Sua sedimentação como técnico já estava feita. Havia provado a si mesmo
e à classe, ser capaz de dirigir. E bem. Mas, como sempre acreditou no cinema
como veículo de cultura, de informação, além de diversão, resolveu partir para
algo mais sério, que tivesse uma mensagem, alguma coisa para dizer. Afinal,
queria que o seu cinema cumprisse com os propósitos próprios dessa arte.
E, em 1971, Fauzi Mansur dirigiu o seu elaboradíssimo trabalho: Uma Verdadeira História de Amor, considerada por muitos de seus colegas a sua obra máxima. Depois de Uma Verdadeira História de Amor, o diretor só teve trabalhos brilhantes, sucessos de bilheteria e público, obras dignas de aplauso de um mestre.
Em 1972, viria a ter Sinal Vermelho- As Fêmeas em que lançou
o mito Vera Fischer, sucesso absoluto de bilheteria.
A primeira vez que
Fauzi teve problemas com a Censura (que lhe resultou em cortes de quase um
terço do filme, obrigando-o a enxertar uma estória paralela – o que, por
ironia, veio a enriquecer ainda mais a obra), foi em 1974, quando dirigiu A Noite do Desejo.
Sedução,
qualquer coisa a respeito do amor, aconteceu em 1974, e lhe deu quatro prêmios
no Festival de Cinema do Guarujá (melhor diretor, melhor filme, melhor atriz –
Sandra Bréa, e melhor ator coadjuvante Ney Latorraca).
Finalmente e 1975, ele
termina de rodar seu último trabalho, Ensaio
Geral- A Noite das Fêmeas, para lançamento neste ano. Segundo os “experts”,
promete ser o ponto mais alto do cinema em 1976.
Em 7 anos de carreira,
ele conseguiu um currículo de 7 filmes, todos de pleno agrado. Efetivou-se como
um grande diretor. Um dos maiores do Brasil.
- Partindo do princípio
de que cinema é cultura e informação, o que você propõe em seus filmes?
- Sou uma pessoa muito
preocupada com o homem. Com o seu estado de espírito, o seu “modus vivendi” em
função de uma sociedade falha e injusta que ele mesmo criou. Em meus trabalhos,
dentro do que a atual estrutura permite, coloco em evidência esses problemas de
desencontro psicológico. De deslocação, entende?
- Quais desses
problemas de deslocação você já abordou?
- O poder do dinheiro,
o amor atrofiado, as aspirações (muitas vezes irrealizáveis) das diversas
classes sociais, a ambição, a violência. A maioria desses problemas, como uma
resultante de pressão psicológica que a cidade grande impinge ao indivíduo. Talvez
a crítica mais direta que fiz tenha sido em A Noite do Desejo, e por isso mesmo o filme está interditado pela
Censura em todo o território nacional, e depois de uma curta carreira.
- O que representa a
pornochanchada?
- É um mal necessário.
Não sou contra. Pelo menos está evidenciando o cinema brasileiro. Não vê o que
se publica sobre cinema atualmente? É falando mal- via de regra – mas que
publica, publica.
- Você faria
pornochanchada?
- Não, mas co-produzi
uma, e tive resultado satisfatório. Mas não só de lucros vive o cineasta
brasileiro. Também de satisfação profissional, também da sensação de poder ser
útil a uma coletividade. Nunca faria uma pornochanchada, porque não é do meu
feitio. Ela deve existir, como existem os outros estilos, formas e tendências, isso
para uma maior diversificação, e para que – evidentemente o público tenha mais
opção.
- A pornochanchada
acaba?
- Não acaba porque a
cada dia tem alguém completando 18 anos, e ávido para ver esse tipo de filme. O
que pode acontecer – e isso tem que acontecer – é uma filtração, um
aprisionamento o tratamento técnico e artístico, um melhor nível, enfim. Mas
não vai acabar, não.
- E o filme livre, como
fica?
- Parece que está
abrindo um mercado para o filme livre. Foi feito no Rio uma série com o Renato
Aragão que logrou êxito. Agora, a Brasecran está com o Pedro Bó. É uma fatia do
mercado que tem que ser – por merecimento – desse gênero de filme.
- O cinema brasileiro
se emancipa ou não?
- Para a gente conseguir
essa tão falada emancipação econômica, acho que a forma mais rápida e eficaz é
conseguir ganhar o mercado externo. Se ficarmos só com o interno – ainda assim
com restrições pelo público – essa emancipação pode chegar, mas só a médio ou a
longo prazo.
- Quantitativamente,
crescemos ou não este ano?
- Em número de filmes,
não. O negativo subiu astronomicamente. Você sabe, o produtor sofre com cada
aumento de matéria-prima. O ingresso, que passa a ser controlado pela Sunab,
não sei se é um bom negócio. E a extinção do INC (Instituto Nacional de Cinema)
deixa uma incógnita. A gente não sabe se o órgão sucessor vai ser mais, ou
menos eficiente. Mas haverá uma retratação nas produções esse ano, não tenho
dúvida.
Fauzi Mansur sempre
esteve um olho clínico muito apurado. Sempre soube descobrir valores. Foi com
ele que Vera Fischer teve seu primeiro trabalho (Sinal Vermelho – As Fêmeas); foi com ele que Claudete Joubert se
iniciou em cinema (no mesmo filme); foi com ele que Roberto Bolant fez seu mais
importante filme (Uma Verdadeira
História de Amor); foi com ele que Suely Fernandes estreou no cinema (A
Ilha dos Paqueras).
- É uma pena que a
Suely não tenha tido uma carreira constante. É uma grande atriz, um bonito
rosto, um bonito corpo mas que anda afastada por problemas particulares.
Fauzi sempre teve o
maior capricho de escolher atores. Já dirigiu os maiores nomes do cinema e/ou
televisão do Brasil. Na sua última produção, Ensaio Geral- A Noite das Fêmeas, teve mais uma vez um elenco de
primeira: Carlos Bucka, Antonio Fagundes, Dionísio de Azevedo, Nádia Lippi,
Maria Izabel de Lisandra, Kate Hansen, Ruthnéia de Moraes, Sérgio Hingst,
Francisco Curcio e Hélio Souto, que volta às telas depois de seis anos de
afastamento.
- Você coloca em seus
filmes atores conhecidos para poder ter uma maior renda?
- Não, absolutamente. Exceto
Mazzaropi, ator nenhum do atual cinema brasileiro traz público. Nomes
conhecidos são, em geral, bons atores e bons profissionais. Coloco-os, para ter
uma melhor qualidade artística. E esses atores me permitem associar a técnica à
arte, numa unidade muito positiva. Além da maleabilidade que eles têm, ganha
com vários anos de trabalho.
Publicado originalmente na revista Cinema em Close Up em 1975
Um comentário:
Adoro "A Noite do Desejo".Um dos meus filmes brasileiros favoritos. Gosto muito de "A Noite das Fêmeas", também, e Cio:Uma Verdadeira História de Amor" tem seus pontos altos."Sedução" eu não acho de jeito nenhum, mas soube que já foi exibido no Canal Brasil."Sinal Vermelho" tem uma cópia rolando na internet, dublada em russo(?) ou algo do tipo.
Curiosamente, após esta entrevista(que me parece ter sido realizada na ocasião do lançamento de Sinal Vermelho) Fauzi Mansur passaria a realizar filmes no modelo que convencionou-se a chamar pornochanchada.
Ouvi uma história de que a Cinemateca estava com um projeto de disponibilização das edições da "Cinema em Close Up" na internet, mas isso já faz um tempo.Você também já ouviu falar deste projeto?Sabe se ele vingou?
Postar um comentário