Nelson Gonçalves
regrava os anos 80
FABIO SCHIVARTCHE
Da Reportagem Local
Aos 78 anos e 78
milhões de discos vendidos, o cantor Nelson Gonçalves assume de vez uma postura
pop e, sem abrir mão de seu estilo dor-de-cotovelo, lança um disco com
regravações de rock e MPB dos anos 80.
O disco “Ainda É Cedo”,
o 128º de sua carreira, chega hoje ás lojas com uma tiragem de fôlego para quem
faz sucesso há mais de 50 anos: 500 mil cópias.
Produzido por
Robertinho do Recife, o álbum revisita músicas que foram sucesso nas vozes dos
Paralamas do Sucesso (“Meu Erro”), Lobão (“Me Chama”), Rita Lee (“Caso Sério”),
Cazuza (“Faz Parte do Meu Show”) e Legião Urbana (“Ainda é Cedo”) etc.
“Quis gravar essas
músicas para fazer uma ponte entre o passado e o futuro”, disse Nelson á Folha,
anteontem, na festa de lançamento do novo disco.
“Ainda É Cedo”, não é a primeira incursão do cantor no meio pop brasileiro. Em 1987, ele dividiu os microfones com Lobão na valsa “A Deusa do Amor”, incluída no disco “Nós”.
A atualização do
repertório, no entanto, não mudou seu estilo de cantar. As palavras continuam
soando com todas as sílabas. “O esmero na pronúncia é uma de minhas marcas”.
Para os fãs do Nelson
da era dó-de-peito, quando ele dividia as atenções com Orlando Silva e
Francisco Alves, o cantor manda dizer que não mudou seu estilo.
“Não fiz um disco de
rock, apenas mudei o repertório de canções escolhidas, dando o meu tratamento
pessoal ás músicas”, afirmou o cantor.
Tratamento pessoal,
nesse caso, é transpor, para as linguagens do bolero e do samba-canção, versos
como os de Herbert Vianna, em seu ska “Meu Erro”.
“O segredo é saber
achar a dramaticidade na letra da música”, disse Nelson, gaúcho de Livramento,
que, mesmo com a idade avançada e a saúde debilitada, sabe levar a vida de bom
humor.
Malandro
Goma no cabelo e, como
todo bom malandro das antigas, vestido de gravata e paletó, Nelson, um
ex-boxeador profissional, relembrou na entrevista seus dias na prisão.
Ele esteve preso na Casa de Detenção, em São Paulo, por um mês, por porte de cocaína, em 1966.
“Cheguei à prisão e
logo dei um soco na cara do preso que mandava no local. Disse que dali em
diante nós dois seríamos os chefes, e todo mundo passou a me respeitar”, disse.
Segundo ele, o nome do
novo disco é uma provocação para as pessoas que pensavam que sua carreira havia
acabado no ano passado, quando ficou dias internado no hospital por causa de
problemas respiratórios. “Quis mostrar que ainda é cedo para parar de cantar”,
afirmou.
O novo disco tem também
músicas de Marisa Monte e Arnaldo Antunes (“De Mais Ninguém”), Caetano Veloso (“Você
é Linda”), Pino Daniele (“Bem Que Se Quis”), Herbert Vianna e Paula Toller (“Nada
por Mim”), João Donato e Abel Silva (“Simples Carinho”) e Luiz Melodia (“Estácio,
Holly Estácio”).
O cantor planeja
excursionar para divulgar o novo disco, a partir de janeiro. Serão dois meses
viajando pelo Brasil para, depois, mostrar o seu trabalho nos Estados Unidos e
Japão.
Além das viagens,
Nelson prepara o repertório de seu 129º disco para 98, só com músicas inéditas
de sua autoria.
ELE
“Na minha turma, eram
mais ou menos uns 50 que cheiravam cocaína. Desse caras, 49 morreram, e só
fiquei eu”.
“Quero ser cremado para
ninguém fazer xixi na minha lápide”.
“Bebo e fumo. Quem
cuida da minha voz é Deus”.
“Nem pagando ponho
óculos escuros. Isso é coisa de bicha!”.
OS
OUTROS
“Maravilhoso. Foi a
melhor regravação da música que já ouvi”.
Dado Villa Lobos, ex- Legião Urbana, autor da
música “Agora É Cedo”, regravada por Nelson Gonçalves.
“Foi uma prova de sua
generosidade, uma abertura dele ao que os mais jovens estão fazendo. A canção
ficou adequada ao canto do Nelson, muito enloquente”.
Arnaldo Antunes, um dos autores da música “De Mais
Ninguém”, incluída no disco de Nelson Gonçalves.
Publicado originalmente
na Folha de São Paulo em 26 de setembro de 1997
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