DAVID CARDOSO FOI O MAIOR NOME DO CINEMA ADULTO
BRASILEIRO. NESTA EXCLUSIVA A LAURO
MESQUISTA E ANDRÉ MALERONKA ELE
DIZ POR QUE SUAS PORNOCHANCHADAS MEXIAM COM A CABEÇA DO POVÃO – E POR QUE O
CINEMA PORNÔ ATUAL NÃO MEXE COM A DELE
O mato-grossense
David Cardoso encarna como poucos a estrofe de abertura de Mulheres de Martinho da Vila: Já tive mulheres/ De todas as cores/
De todas idades/ De muitos amores. Durante seus 34 de cinema o ator, diretor e
produtor celebrizou-se como o maior astro das pornochanchadas e conheceu – no sentido
bíblico – algumas das maiores musas do Brasil, como Matilde Mastrangi e Nicole
Puzzi. “Nunca na minha vida eu falei pra uma mulher; ‘Transa comigo que o papel
é seu’. Comi a maioria mas nunca desse jeito. Elas queriam dar e eu queria
comer”, diz.
Apesar de ter
estrelado nos populares filmes de Mazzaropi, ter estrelado o clássico Noite
Vazia de Walter Hugo Khouri, e em novelas da Globo e da Bandeirantes, David
ficou conhecido como o astro das pornochanchadas. Segundo ele, que já
participou de mais de 60 filmes nas mais diversas funções (“eu só não fui
maquiador”, diz), os seus filmes faziam sucesso por que mexiam com a cabeça do
povão. Em entrevista exclusiva a ELEELA,
David fala sobre sua trajetória, o estado atual do cinema brasileiro (explícito
ou não), polemiza com os atuais padrões de beleza e de quebra ainda narra suas
aventuras.
Por que você ficou tão marcado com o cinema da Boca do
Lixo?
Eu apareci mais
porque era produtor, diretor e ator. Além disso, eu saía do filme e ia trabalhar
como jurado no programa do Sílvio Santos, do Raul Gil. O Galante e o Massaini
foram muito importantes, mas só trabalhavam na produção. Eu havia feito Cara a Cara com a Fernanda Montenegro na
TV Bandeirantes e O Homem Proibido na
Globo. O Mazzaropi dizia pra eu não fazer televisão não: “Cardoso, não faz
televisão não rapaz. O povo enjoa da sua carta. Quem é que vai pagar ingresso
para te assistir depois?”.
Como você foi trabalhar com cinema?
Quando eu era
estudante de Direito, em São Paulo, eu contei queria trabalhar em cinema pra um
cara no meu trabalho. Ele conhecia o Mazzaropi e fez um bilhete me apresentando
a ele. Eu não dormi nessa noite, era louco por cinema. Cheguei lá no largo do
Paissandu, fui entrevistado, contratado e aprendi a ser continuísta em O Lamparina, produção de Mazzaropi e direção
de Glauco Laurelli. Depois de 45 dias de filmagem, larguei a faculdade. Meu
segundo filme foi Noite Vazia, do Walter Hugo Khouri, como continuísta e ator,
contracenando com Odete Lara e Norma Benguell. São dois diretores completamente
diferentes, aprendi muito com os dois e com muitos outros. Só não fui
maquiador, o resto eu fiz de tudo em cinema.
Quando você começou a trabalhar como diretor?
Demorou um pouco.
Eu tinha receio. O primeiro filme que produzi foi em 1974, chamava-se Caçada Sangrenta e eu chamei o Ozualdo
Candeias para dirigir. O Candeias era um diretor genial. Eu havia trabalhado
com ele em A Herança, um Hamlet brasileiro. Ele fazia um cinema diferente,
hermético.
E por que você nunca atuou em filmes do Mazzaropi?
Você só trabalhou como técnico, para ele, não foi?
Um dia eu cheguei
pra ele e disse: “Mazza, por que você não me chama pra ser galã num filme seu?”.
Daí ele responde: “Cardoso, você só não é galã porque não quer. É só ir á noite
na minha cama, não tem erro”. Não tinha condições. O homem era mais feio que
duplicata vencida. Era um gênio, nunca vai haver outro cara como ele no Brasil
mais. Eu hoje coloco ao lado do Charles Chaplin, do Jerry Lewis e do
Cantinflas. Mas vá ser feio...
Como você saiu do Mazzaropi para as pornochanchadas?
Eu via as comédias
picantes italianas, mas não tenho muita noção de como foi essa minha transformação.
Eu vi que todo mundo era punheteiro, queria ver mulher pelada e bonita. Então
comecei a procurar. Aí foi Helena Ramos, Matilde Mastrangi, Zilda Mayo, Nicoli
Saline que virou Nicole Puzzi, Vera Fischer. Eu lancei todas elas.
E os filmes com elas eram sucessos tremendos...
Modéstia a parte,
eu conseguia deixar o público louco de tesão dentro do cinema. Vou descrever
uma cena pra você. Não tinha sexo explícito. Eu encontro com a Matilde
Mastrangi numa festa de milionários. Saiu num puta carrão e ouço ela falar: “Meu
carro tá quebrado”. E eu: “Também não, mas não faz mal eu te dar uma carona, eu
moro no Morumbi”. Cinco e meia da manhã, a gente no Morumbi vendo São Paulo do
mirante, ela num puta traje a rigor e eu de smoking, e eu apareço com o
primeiro agrado, um beijo e corta pra dentro do apartamento. Eu falo: “Espera
um pouquinho que eu vou trazer um presente pra você, eu não te conheço, mas
gostaria que você viesse aqui”, e dou a caixa pra ela. Corta já pro quarto, ela
tomando banho nuazinha, de costas, aparecia o seio, ela abre a caixa, dá um
close na cara sacana dela, ai abrindo a câmera e mostra um hábito, de freira. Porque
minha tara era comer uma freira. Aí ponho a cabeça embaixo do hábito e ninguém
vê, mas sabe que eu tô chupando a perereca dela. E você só vê a expressão dela.
Aí, eu me debruço em cima da mesa, tinha um uísque de boca larga, o líquido
fica balançando. Eu por trás, transando com ela, só encostado, mas parecia que
eu estava fazendo sexo anal. A cabeça dela vai indo pra frente, ela destampa a
garrafa e põe na boca e o líquido vem vindo, parece é minha porra, e ela diz que
tá gozando. O camarada fica louco, tocando bronha no cinema.
Se você voltasse a filmar, o que faria?
Rodaria uma
história no Pantanal. Eu faria um capataz chucro da fazenda. O filme contraria
a história de quatro francesas – três mulheres e um travesti – que vêm para o
Brasil negociar uma fazenda, e eu transo as três e o travesti. Isso tudo com
uma história cheia de cenas bonitas. Mas eu desanimo quando vejo filmes sendo
vendidos a R$ 2,00, antes de chegar ao cinema, como aconteceu com esse Tropa de
Elite. Devia haver um mecanismo para coibir esse tipo de coisa. Tem ainda uma
meia dúzia de pessoas beneficiadas com essas leis de incentivo, cheia de
brechas para caixa dois de empresário e produtor mal-intencionado. Por isso eu
acabo acompanhando pouco a produção atual.
Uma de suas últimas produções é sobre Aids...
Eu fui o primeiro
produtor, diretor e ator a fazer um filme sobre isso. Foi quando o Rock Hudson
morreu. Perdi US$ 200 mil, foi um tombo, ninguém ia ao cinema para assistir.
Foi bem nessa época que a gente perdeu pro sexo real. Sexo explícito eu nunca
fiz. Eu sempre coloquei isso: pornográfico, eu? Pornográfica é a TV brasileira,
que eu abomino. Eles (da TV) não gostam de mim porque falo demais.
E você acompanha a produção pornô brasileira?
Há anos não
assisto nada disso. Eu já entrei como produtor em três filmes de sexo
explícito. Não vi o filme do Frota, nem da Rita Cadillac. Eu não tenho
motivação nenhuma pra isso. Há 18 anos eu poderia ter continuado, mas meus
interesses eram outros. O que eu acho errado são as pessoas que renegam o que
fizeram, como a Xuxa.
Você viveu a época da liberação sexual. Como você vê a
situação do sexo nos dias de hoje?
Eu acho que
banalizou demais. Há 25 anos atrás, só tinha filme com peito e bunda de mulher,
não podia aparecer a parte da frente. Hoje, pornô é aquela coisa: dois caras
comendo a mesma mulher, uma outra chupando, já começa com um bacanal. Não leva
o sujeito a fantasiar, a criar uma imagem na cabeça dele. Tanto é que todo
mundo pega o vídeo e fica correndo as cenas. Ninguém assiste nada do filme, é
só o visual mesmo e pronto. Na época da pornochanchada, a Matilde Mastrangi fez
um desfile no Gallery (a boate), e leiloou a calcinha dela. Foi um escândalo na
época. Hoje qualquer uma faz. O pessoal posa pelado de perna aberta, socialites
e atrizes globais, aí quando vão entrevistar elas falam: ‘Não, isso aí foi o
Duran que fez, é um ensaio fotográfico’. Mas que ensaio? Perereca é perereca,
cara, pau duro é pau duro! Punheteiro vai querer saber quem é Duran? ‘Não, mas
eu fotografei na África’. Não importa, aí em Moema mesmo faz, em Guarulhos, o
punheteiro não quer saber disso! Você pega dez camaradas e fala: “Você quer comer
quem? A miss Brasil, essa que ganhou segundo lugar no Miss Universo ou a
Giselle Budchen”. Nove entre dez vão querer a miss. Quem é que quer comer osso?
Isso é onda que vocês (imprensa) fazem. A modelo é mais magra que não sei o
que. Não sei como o Leonardo Di Caprio comeu um trem daquele.
E as suas mudanças com a idade?
Eu nunca fumei,
nunca usei drogas. Eu bebo todo dia, duas, três doses de uísque, umas cervejas.
Mas cinco da manhã já tô de pé, tomo meu chimarrão com ervas, e faço uma hora
de esporte. Antigamente eu dava três, hoje dou uma. Fazia supino com 100
(quilos), hoje faço com 80. Mas hoje é outra coisa. Eu vejo meu filho. Ele nem
tem pra que sair. Pra que? Ele pega o telefone e liga, elas vem e ainda trazem
uma pizza. É só você ter grana, ser boa pinta.
Publicado
originalmente na edição 431 da revista Ele
Ela em novembro de 2007
Um comentário:
David Cardoso fala tudo,quer dizer,quase tudo,rs.
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