Playboy entrevista
Cláudio Humberto
Uma conversa franca com o
porta-voz do presidente Collor sobre bater e levar, poder, imprensa e
televisão, Leonel Brizola, Jô Soares, drogas e a sua capacidade de se indignar.
Só a lista telefônica de
São Paulo, a maior do continente, gasta 59 de suas 2020 páginas com o sobrenome
Silva. E Cláudio Humberto Rosa e Silva consegue ser “o pior dos Silva”, na
avaliação do corrosivo colunista Tutty Vasques, da Revista de Domingo do
Jornal do Brasil. É o que pensa certamente a maioria dos brasileiros,
especialmente os Silva, quando vem surgir na televisão o marcante bigodinho
circunflexo desse alagoano de Maceió. Depois do plim-plim da Globo, a voz do
secretário da Imprensa do Palácio do Planalto é o sinal de maior audiência do
país – e sinal de confusão. Com o carrancudo general Medeiros, no governo Figueiredo,
Cláudio Humberto é a face dura do regime. Não demite, como o general, mas
desmonta e desmoraliza com uma crueldade que só o civil Carlos Lacerda, no
passado conseguia igualar. Sacando com rapidez de sua cartucheira de adjetivos.
O porta-voz de Fernando Collor atira primeiro e só depois pergunta: “Está bom
ou quer mais?”.
Ele chama jornalista de “moleque”,
jurista de “analfabeto”, deputado de “mentiroso”, governador de “ladrão”,
sindicalista de “malcheiroso”, empresário de “incompetente”. É o que seria, por
exemplo, o Myke Tyson no cargo de porta-voz do presidente Bush: ao toque da
campainha, Cláudio Humberto sai de seu canto e bate duro, bate forte para
derrubar o adversário logo no primeiro round. Ás vezes, não espera nem o toque
da campainha de Collor para bater. Na verdade, rebater, pois Cláudio Humberto só
fecha a cara – e o punho - quando alguém bate no chefe. Na vida privada, esse
psicólogo de 37 anos é um homem de vida pacata, que combina a paixão forte e a
racionalidade permanente, típicas do ariano de 19 de abril, Dia do Índio e dia
de nascimento de Getúlio Vargas. Recebe poucos amigos em seu apartamento funcional
(da Radiobrás) na 311 Sul de Brasília, uma cidade que ele detestou, vinte anos
atrás, e hoje adora: “Para ser o melhor lugar do mundo, só faltam as praias de
Maceió”, lamenta. Na sala de jantar, cercado por quadros de Siron Franco, Mabe,
Fukuda e um imenso óleo (O Tio Imprevisto) de seu ídolo no jornalismo, Mino
Carta, o arauto da porrada colorida passa ali os únicos momentos em que leva
sem bater – nos treinos de judô com Tiago, de 6 anos, filho de seu segundo
casamento, com Taís, uma bela morena e ex-jogadora de vôlei da seleção alagoana
que Cláudio Humberto sacou, com olho de águia, na redação do jornal de Maceió que
ele chefiava e onde Taís, nove anos mais jovem, estreava. Com a primeira
mulher, Crisales, vivem as duas filhas – Manuela, 13, e Humberta, 11 anos.
Quando não está apanhando
do filho, Cláudio Humberto está passeando com ele e seus dois melhores amiguinhos,
Guilherme e Artur, filhos de um vizinho que ele não conhece mas imagina ser um
grande sujeito – o deputado Luiz Gushiken, do PT de São Paulo. Em casa,
tragando um portentoso Hoyo de Monterrey cubano, que pode ser notado por vizinhos
não tão próximos, Cláudio Humberto se delicia pilotando sua parafernália de som
e imagem que inclui um telão onde só não vê novela. Ali, ele projeta seus filmes
favoritos, De Volta para o Futuro, Indiana Jones (que Freud certamente explicaria)
e, “nos momentos de recaída intelectual”, qualquer um de Akira Kurusawa. Até em
japonês ele tem uma versão de Imagine, em vídeo-disc, que todos os discos dos
Beatles. O porta-voz de “Indiana Collor” joga um tímido tênis eventual, uma ou
duas vezes por semana, no horário do almoço substituído por uma escapada até a
quadra do Planalto, mas é um roqueiro da pesada. Gosta de Léo Jaime, Titãs, Lobão,
Joe Cocker, Bruce Springsteen, com uma concessão moderada a Frank Sinatra.
Recebe pouco e sai menos
ainda. Numa dessas saídas, para um almoço dominical no Lake´s Baby Beef,
restaurante que o porta-voz recomenda pela cozinha mas nunca pela conta,
Cláudio Humberto recolheu os cheques de uma despesa de quatro casais e cinco
crianças e pagou tudo com o seu American Express. A conta e a história acabaram
saindo no jornal que ele menos aprecia – A Folha de S. Paulo – e o levaram a cancelar
todos os seus cartões. Agora, só usa dinheiro: “Voltei a Idade Média”, diz. Com
o Plano Collor, ele quase deixar de usar parte dos 15.000 dólares mensais que
recebeu por um ano e meio de campanha para presidente acabou bloqueada, na
forma de cruzados, com o plano do chefe que bateu e levou a economia de milhões
de brasileiros. Vive com um salário de 500 mil cruzeiros (a mulher, repórter de
um jornal local, o BSB, não ganha a metade como repórter do Caderno de Cidades)
e algumas rendas do período alagoano.
O homem que bate na
esquerda viu amigos presos, no regime militar, quando ainda era militante da
esquerda independente. Um desses companheiros de juventude e ideologia, Renan Calheiros,
se afastou quando, como líder do governo, rompeu com o presidente: “Eu me
imaginava seu amigo. E ele disse que a amizade com o porta-voz era decorrente
da convivência dele. E eu achava que isso não tinha nada a ver com amizade”, lembra,
ainda magoado. O homem que bate na Igreja partidária foi, surpreendentemente,
editor durante dois anos de O Semeador, o jornal da arquidiocese de Maceió que
ele, para o espanto do bispo conservador, semeava com fotos e textos dedicados
aos papas da Teologia da Libertação – dom Pedro Casaldáliga, dom Tomás Balduíno
e dom Hélder Câmara. “Era mais contundente que O São Paulo, de Dom Evaristo Arns,
orgulha-se até hoje.
Jornalista de oposição ao
prefeito Collor, Cláudio Humberto é hoje o jornalista mais poderoso junto ao
presidente Collor. Pelo menos um dos ministros foi escolhido com base num
dossiê pedido a ele pelo presidente e encomendado – para o espanto da classe –
a um jornalista. Cláudio Humberto é, sem dúvida, um dos secretários de imprensa
mais fortes da história da República. Ele entra no gabinete do presidente, no
terceiro andar do Planalto, sempre que necessário e sobre e desce umas 50 vezes
ao dia as escadas que ligam Collor a sua sala, no segundo andar. Chega ao
Palácio antes do Presidente, por volta das 8h, e vai embora depois, ás 9 ou 10
da noite. No dia em que o Presidente desce a rampa e sai mais cedo, a sexta-feira,
Cláudio Humberto já contabilizou umas jornadas de 132 telefonemas, de
jornalistas a ministros. Ao sair de casa, de manhã cedo, já leu o clipping da
Radiobrás com a primeira página e o resumo das principais notícias e colunas dos
mais importantes veículos da imprensa brasileira. “Já saio de casa irritado”,
brinca.
O trabalho continua no
fim de semana, graças ao espírito esportivo do chefe. A mídia das camisetas,
uma das marcas do marketing agressivo de Collor, é uma responsabilidade direta
do porta-voz, que precisa de muita criatividade e rapidez para nunca deixar o
Presidente na incômoda condição de descamisado diante das câmeras de TV, que
amanhecem todo santo domingo na porta da Casa da Dinda. Com a agilidade de uma
produtora mágica da agência Propeg, chamada Fabrícia Laport, Cláudio Humberto
bola a camiseta, fala ao telefone, recebe o esboço pelo fax do Palácio, aprova
e vai dormir descansado. A equipe de Fabrícia trabalha de madrugada e, de manhã
cedo, a indumentária é entregue na casa do Lago Norte, quando o Presidente
ainda dorme. A resposta de Collor ao rompimento de Renan, por exemplo, veio
através de uma camiseta (“O tempo é o senhor da razão”) confeccionado com a
velocidade de um jet ski: “O Renan rompeu no sábado, decidimos fazer a camiseta
ás 10 da noite e, ás 7 da manhã de domingo, ela foi entregue na Casa da Dinda.
Um trabalho fantástico”, lembra Cláudio Humberto, que vestiu o Presidente com o
“Roxo de Paixão pelo Brasil” para amenizar o impacto do viril desabafo do chefe
no comício de Juazeiro do Norte.
Na segunda semana de abril,
Cláudio Humberto abriu sua agenda, sua casa e sua vida a PLAYBOY para uma
conversa de nove horas, em cinco sessões diferentes, com o editor-contribuinte
Luiz Cláudio Cunha, para a seguinte conversa:
PLAYBOY- Para ser
porta-voz de Collor, é preciso ter aquilo roxo?
CLÁUDIO HUMBERTO ROSA E
SILVA- É preciso ter aquilo tão roxo quanto o do Presidente.
PLAYBOY- Secretário, se
eu bater, levo?
CLÁUDIO HUMBERTO- Experimente.
PLAYBOY- O senhor bate
desde criancinha?
CLÁUDIO HUMBERTO- Brigão
eu nunca fui, mas devo ter sido autoritário no relacionamento com os amigos e
os colegas. Acho que era autoritário porque o meu apelido, durante boa parte de
minha infância, era “Delegado”.
PLAYBOY- Não era “Porta-Voz”,
não?
CLÁUDIO HUMBERTO- Suponho
que este apelido não terá sido injusto. Eu era o dono da bola, o líder das
brincadeiras e, com certeza, não levava desaforo para casa.
PLAYBOY- O que o senhor
queria ser na vida?
CLÁUDIO HUMBERTO- Num
primeiro momento eu me entusiasmava com aquelas reportagens da revista Manchete
sobre a Academia Militar das Agulhas Negra. Eu queria ser militar. Isso
coincidiu mais ou menos com o golpe de 1964. Tinha 10 anos de idade justamente
nessa época em que sonhava com a farda. Era ainda muito criança, mas percebi
que aquilo estava errado. Meu pai, que sempre teve senso crítico muito aguçado,
era um homem de esquerda.
PLAYBOY- Era comunista?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não,
mas sempre foi simpatizante da esquerda. Sempre votou na oposição. E oposição em
Alagoas, na época, era militar no PCB. Meu pai chegou a ser militante, sem ser
comunista. Na província, você só tinha duas opções: integralismo ou comunismo.
Meu pai sempre rejeitou o fascismo, com muita firmeza, e passou por comunista
um tempo, sem ser militante.
PLAYBOY- E foi preso?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não,
mas foi perseguido e obrigado a sair de Alagoas. Em 1964, eu via meu pai, indignado
com o golpe, com a quebra do processo constitucional. Lembro claramente da
cassação de um nosso vizinho, o prefeito de Maceió, Sandoval Caju, um homem
muito popular na cidade e virtual candidato a governador pelo PTB nas eleições
de 1966. Seria um nome imbatível nas urnas. Eu e meu pai íamos com ele às
inaugurações da prefeitura e me emocionava vê-lo saudado, na praça, por
milhares de pessoas. A cassação do prefeito consternou a todo mundo. E comecei,
aí, a vincular o regime militar a uma coisa negativa. E mudei, então, minha
postura.
PLAYBOY- Mudou para o
quê?
CLÁUDIO HUMBERTO- Passei
a sonhar em ser médico, mas não por muito tempo. Aos 14, 15 anos, meus amigos
eram todos universitários, de esquerda. Começava o processo de turbulência que
culminou em 1968 com o AI-5. Foi quando comecei a conviver com medo que o
regime provocava nas pessoas.
PLAYBOY- O medo apareceu
como?
CLÁUDIO HUMBERTO- A cidade
era muito pequena e, de repente, sabia-se que o filho do sicrano, de beltrano
tinha desaparecido. No início dos anos 70, uma médica famosa em Maceió, Selma
Bandeira, de esquerda, foi presa e barbaramente torturada. Minha experiência
com a repressão começou aí. Eu ajudava na panfletagem junto ao movimento
estudantil. Nos tínhamos uma forma curiosa de distribuir nossos panfletos aos
secundaristas. Quando o estudante chegava na sala e abria sua carteira (sou do
tempo em que havia carteira...), encontrava um pacote com papel de presente,
lacinho, bem embrulhado. Abria e encontrava um panfleto dobrado. Em geral, o
máximo que traziam era um ataque aos lambe-botas do regime ou a algum diretor
autoritário.
PLAYBOY- Escrito no mais
autêntico estilo Cláudio Humberto?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu não
redigia, só entregava. Era apenas panfletagem, absolutamente romântica, mas
acabou incomodando muito o regime. Um dia, em 1970, início do governo Médici,
houve um black-out em Maceió, durante alguns minutos, e todos os dirigentes do
DCE da universidade foram sequestrados, simultaneamente. Entre eles, o
presidente e líder do movimento, Denis Agra, que já foi meu amigo. Sumiram e reapareceram
três meses depois no DOI-CODI do Recife – todos eles terrivelmente debilitados
física e psicologicamente pela violência da tortura, acusados de coisas
inacreditáveis e absolutamente mentirosas. Como, por exemplo, a suposta
intenção de envenenar o reservatório de água da cidade. A prisão dessas pessoas
me chocou muito. Minha irmã namorou o irmão de um deles, dos que mais sofreram.
Participou de sessões de tortura, pessoalmente, um delegado do DOPS enviado de
São Paulo e chamado Sérgio Fleury, A repressão imaginou ter desbaratado uma
cédula comunista violentíssima. Não era ada disso. Eram apenas alguns meninos panfletando
contra a ditadura. Isso é uma coisa que me marca até hoje.
PLAYBOY- Marcou como?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu
fiquei mais amargo. Até me embruteceu, do ponto de vista da tolerância. Produziu
em mim, como na minha geração, a sensação de que só havia bons e maus neste país.
Aquele maniqueísmo que distorce a realidade que dividia o mundo entre pessoas inteiramente
boas ou inteiramente más. Esse sentimento me atrapalhou a vida um bom tempo e
só fui me recuperar disso muito recentemente. Naquele tempo, meados de 1973, eu
comecei a pensar na carreira diplomática. Imagine! A impressão que tenho, até
hoje, é a de que o Itamaraty é uma das nossas melhores escolas de formação
profissional do serviço público. A Universidade de Brasília estava inaugurando,
em 1974, o curso de Relações Internacionais, que seria paralelo ao do Instituto
Rio Branco. E vim para Brasília.
PLAYBOY- Mas a diplomacia
não o colocaria a serviço do regime que tanto o indignava?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu
acharia que estava a serviço do país, não do governo. Via a diplomacia como uma
atividade bonita. Fiz o vestibular, passei, mas a minha vida na capital era
angustiante. Não me adaptei a Brasília. Gostava muito da cidade, mas as
pessoas...Tudo era muito estranho.
PLAYBOY- Por quê?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu
sentia a cidade tensa, havia muita polícia na rua. Cruzava com muita frequência
com a tropa de choque. Em Maceió não tinha disso. As pessoas eram muito
fechadas. A cidade era um peso muito forte. Eu tinha uma certa resistência pela
cidade. Nunca manifestei interesse, nem a mim mesmo, em passear pela Esplanada
dos Ministérios, nem em conhecer o Palácio do Planalto. Eu vivia nos fundos de
uma casa da 711 Sul e morava só.
PLAYBOY- Era mais duro,
então?
CLÁUDIO HUMBERTO- Muito
mais. E, meu amigo, eu era duro mesmo. Passei os primeiros meses, aqui, fazendo
uma única refeição por dia. Meu pai me mandava uma mesada, com extremo sacrifício,
e para economizar eu comia uma única vez, sempre ás 15 horas – e isso me sustentava
o resto do dia. Comia no restaurante do SESC, graças à liberalidade de um funcionário,
ou na pizzaria Roma. Tempos depois, consegui um emprego de secretário de um
subprocurador da República, chamado Arnaldo Setti, pai do jornalista Ricardo Setti,
hoje chefe de redação do O Estado de S. Paulo.
PLAYBOY- Como era a sua
vida em Brasília?
CLÁUDIO HUMBERTO- Só
frequentava cinema, sempre só. Namorei duas ou três garotas, mas nada de
marcante. Tinha alguns colegas na escola e no trabalho. Minha vida era muito pobre
em termos de amizade. O domingo era o pior dia. Eu acordava e saía. Olhava para
um lado e outro da Avenida W-3, que durante a semana era o lugar mais
movimentado da cidade, e não via nada, ninguém. Absolutamente deserto. Parecia
uma cidade fantasma. Quarteirões adiante, até onde a vista alcançasse, não
havia um único carro, uma pessoa se movendo. Nada. Eu pensava: “Ué, foram embora
e não me avisaram”. O país ainda vivia no embalo do slogam “ame-o ou deixe-o”.
Antes de terminar o primeiro semestre da UnB, tranquei a matrícula e saí.
Brasília não me fazia muito bem e, em 1975, voltei a Maceió para fazer o
vestibular de Psicologia.
PLAYBOY- Por que
Psicologia?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu
tinha uma namoradinha de adolescência e decididos juntos, meio malucamente, fazer
o curso. Voltei a fazer parte do movimento estudantil, no diretório acadêmico,
como integrante da esquerda independente.
PLAYBOY- Independente do
quê?
CLÁUDIO HUMBERTO-
Independente de partidos. Seja Moscou, Pequim ou Albânia. Era simplesmente esquerda,
contra a situação vigente. Eu achava que a ligação com partida era uma coisa
meio idiota, que aprisionava. Não tinha uma atuação pública. Sempre fui um
pouco inibido. Meu desempenho era mais na articulação, nas ideias. Escrevia
muito, redigia documentos. Meu texto sempre foi apreciado.
PLAYBOY- Quem inspirou o
seu texto?
CLÁUDIO HUMBERTO-
Graciliano Ramos, sem dúvida. Ele me fascinava não só pelo estilo seco e
contundente, mas porque eu sabia que Graciliano não era daquele jeito. Meu pai
o conhecia bem. Eu tentava imaginar como é que um sujeito tão mal-humorado, tão
carrancudo, podia escrever coisas tão deliciosas. Os relatórios do prefeito
Graciliano Ramos, publicados em Viventes das Alagoas, são das coisas mais saborosas
da literatura brasileira. O governador de Alagoas era um jornalista, Costa
Rego, e os prefeitos tinham então a saudável obrigação de apresentar um
relatório ao governador. De repente, o prefeito de Palmeira dos Índios produzia
um texto em que dizia, por exemplo, no item “cemitério”, o seguinte: “No
cemitério municipal, enterrei tantos mil-réis. É pouco, reconheço. Mas ali
residem os únicos munícipes que não reclamam”. Graciliano foi descoberto nesse
relatório. Li toda a sua obra. Me identificava muito com ele. No jornalismo, fui
leitor da imprensa alternativa, colecionei o Pasquim desde o número 1, mas os
textos que mais me influenciaram foram os de Mino Carta e Alberto Dines. Sempre
quis escrever como eles escreveram.
PLAYBOY- O senhor tinha
fama de brigão na faculdade?
CLÁUDIO HUMBERTO- Meu
relacionamento com os amigos e colegas sempre foi baseado em muita
cordialidade. Como Graciliano, sou duro nas palavras. Prefiro falar, em vez de
sair na porrada.
PLAYBOY- Um talento natural
para porta-voz?
CLÁUDIO HUMBERTO- Nunca
tive um comportamento agressivo. Na adolescência, incorporei um princípio de
meu pai que me acompanha até hoje. Ele me ensinou a nunca perder minha
capacidade de indignação. Sempre me dizia que era preciso ficar indignado pelo
menos umas três vezes ao dia, para manter o senso crítico sempre afiado. E
desde então eu fico catando coisas, no dia-a-dia, para me indignar.
PLAYBOY- Houve um tempo,
em Alagoas, em que o senhor era indignado contra Fernando Collor, não?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu assumi
a chefia de reportagem da Tribuna de Alagoas, um novo jornal, que, dois anos
depois, seria comprado pelo senador Teotônio Vilela. Quando comecei lá, por
volta de 1979, estava assumindo o novo prefeito de Maceió, Fernando Collor. O
principal jornal do Estado, a Gazeta de Alagoas, pertencia à família Arnon
de Mello e, naturalmente, apoiava o governo municipal. Por uma razão meramente
de mercado, então, a Tribuna optou por atacar o governo. Era para vender
jornal...
PLAYBOY- E vendeu?
CLÁUDIO HUMBERTO- Vendeu
muito. O jornal passou rapidamente a segundo de Alagoas, aumentando a tiragem
de 4.000 para 10.000 exemplares. Nosso estilo era o de “peladeiro” – do pescoço
para baixo, era canela. Valia tudo. A gente atacava os problemas da cidade,
comuns a qualquer cidade do planeta. Era uma opção de marketing, não havia nada
de tão grave assim. Eu tinha um texto agressivo e qualquer notícia mais forte
no jornal era sempre atribuída a mim. Mas eu era apenas o chefe de reportagem.
Acima de mim tinha os fechadores, o chefe de redação, o editor, o diretor...
PLAYBOY- Os ataques do
jornal deixavam o prefeito Collor roxo?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não. E
o que mais nos irritava é que o prefeito ignorava olimpicamente os nossos esperneios.
Ele não passava recibo, mas não deixava sem resposta. Uma notícia merecia uma
carta imediata ao diretor do órgão público citado na reportagem. Nada ficava
sem resposta. Já o então governador, hoje senador, Guilherme Palmeira
geralmente acusava o golpe, nunca teve muito talento nessa esgrima.
PLAYBOY- E isso é talento?
CLÁUDIO HUMBERTO- Digo
com autoridade de quem foi estilingue: não há nada mais que incomode o
estilingue do que uma vidraça que desdenha da pedrada. Com ele, o estilingue
funcionou ao contrário. O jornal da família sempre se referia a ele como Fernando
Mello ou, no mínimo, o nome completo – Fernando Collor de Mello. E aí o meu
jornal, só de pirraça, começou a tratá-lo por Collor. O nome acabou pegando e
ele adotou. Ou seja, o que começou com uma sacanagem do jornal virou uma boa
ideia para o prefeito.
PLAYBOY- Foi nessa época
que o senhor conheceu o Collor?
CLÁUDIO HUMBERTO- Meu
primeiro contato pessoal foi ainda no Jornal de Alagoas, antes de passar
para a Tribuna. Um dos entrevistados da edição de domingo era o prefeito
e lembro que o que me incomodou muito foi exatamente o desempenho dele – foi ótimo.
Entrou na redação elegante, descontraído, bem-humorado, e tirou de letra todas
as nossas provocações. Só voltei a encontrar Fernando Collor, já deputado
federal, em outubro de 1983, nos corredores da Câmara em Brasília. Um mês antes,
tinha falecido o pai dele, senador Arnon de Mello, que foi um personagem da
maior importância na história de Alagoas. E o nosso jornal, de oposição,
decidiu fazer uma edição especial, que acabou saindo muito melhor do que a
edição da Gazeta, o jornal da família. Isso nos trouxe um duplo
problema: fomos acusados de tratar bem um adversário e quase provocamos a demissão
em massa da redação da Gazeta, por incompetência. Por isso, o deputado
Collor me cumprimentou, elogiou a edição e disse que, se soubesse que
aconteceria aquilo, teria pedido que pelo menos naquele dia fossem trocadas as
redações da Gazeta e da Tribuna.
PLAYBOY- Foi um convite?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não,
foi apenas um gesto de gentileza. Meu jornal passou todo o tempo descendo pau,
todo dia, no prefeito. Em 1982, ele enfrenta as urnas e sai delas como o
deputado mais votado em Maceió, concorrendo pelo PDS e numa eleição onde o PMDB
teve 74% dos votos na capital. Aquilo tudo mexia com a gente. Será que o povo
estava errado? Então, no início de 1986, eu estava fora do jornalismo – a Tribuna
tinha fechado e eu trabalhava na reitoria da Universidade, quando Collor me
convidou para jantar. Ele tinha acabado de ingressar no PMDB, estava querendo
modernizar seu jornal e me convidou para trabalhar. Eu, da chamada esquerda Independente,
diretor do sindicato, fiquei tão espantado com o convite que pedi tempo para pensar.
Um idiotice completa: eu, desempregado, estava sendo convidado pelo deputado mais votado de Alagoas, dono da maior rede de
comunicação do Estado, e tive a arrogância suficiente para pedir dez dias de
prazo para uma resposta. Cheguei a passar uma semana de dúvida no Recife.
PLAYBOY- Qual era a
dúvida?
CLÁUDIO HUMBERTO-
Política. Para mim, era uma espécie de escândalo trabalhar com Collor. Minha mulher,
que apesar de muito jovem é sensata, disse que era bobagem e lembrou que não
havia nada melhor do que um bom jornalista ser convidado para trabalhar numa
boa empresa. Apesar disso, fui ao sindicado – imagine !- submeter o convite aos
companheiros.
PLAYBOY- Aprovaram?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não
houve um deles que não recomendasse não aceitar o convite. Pelo contrário.
Todos disseram que era politicamente bom – todos aliás muito oportunistas.
Queriam alguém ali para lhes garantir espaço político e, eventualmente,
emprego. Decidi aceitar o convite. Alguns meses depois, Collor foi indicado como
candidato a governador pelo PMDB e aí a Tribuna de Alagoas, que tinha
voltado a circular em maio de 1986, dirigida pelos mesmos companheiros que me
recomendaram aceitar a oferta da Gazeta, na primeira edição publicou uma
nota dizendo que eu havia sido comprado pelo esquema do Maluf. Em 1985, Collor havia
votado no candidato do seu partido, o PDS, no Colégio Eleitoral. Ai eu entendi
que não havia mudado simplesmente de emprego. Eu tinha feito uma opção política.
Saí daquele grupo quando descobri o que significava exatamente a expressão “esquerda
burra”. Eles exerciam o mais autêntico fascismo. Eu constatei isso alguns meses
depois, na campanha eleitoral.
PLAYBOY- O que aconteceu?
CLÁUDIO HUMBERTO- No dia
5 de agosto de 1986, fiz uma coisa que nunca fazia. Fui almoçar em casa. Acabara
de me mudar para uma espécie de sítio, a uns 10 quilômetros do centro. Era uma
área de lazer com uma piscina e uma casa rústica, tipo galpão, quase uma
dependência de empregada, com três cômodos. Era tão longe e precária que as
duas empregadas se demitiram. Então, para ajudar a Taís a cuidar do Tiago, que
faria 2 anos três semanas depois, fui almoçar em casa. O garoto tinha trocado
de roupa, me distraí fazendo a barba e, subitamente, Tiago despareceu. Coisa de
um minuto. Dei um grito e imaginei o pior. Corri para fora e vi de longe sua
roupa vermelha boiando na piscina, de bruços e gritei de novo: “Meu Deus!”. Ateu
convicto, graças a Deus, até então nunca tinha sentido a necessidade de apelar
para pensar a alguma entidade para me proteger de uma tragédia. Mergulhei na
piscina e fiquei ainda mais desesperado – o corpo dele, inerte acompanhava a
marola que se formou. Os olhos estavam entreabertos, o coração não batia. Tentei
a respiração boca a boca e não sabia como era isso. Não sabia se soprava, se
aspirava. A caminho do hospital, percebi alguns sinais de vida. Quando entreguei
meu filho ao médico, ele achou que o Tiago não sobreviveria. Era um caso em
mil. Passou três dias na UTI, praticamente em coma.
PLAYBOY- Sobrevivia com
aparelhos?
CLÁUDIO HUMBERTO- Monitorado
permanentemente. Eu ficava ali, ia e noite, ao lado dele. Lembro que, depois de
passar mais de 24 horas sem dormir, tenso com a expectativa, cochilei e caí por
cima do Tiago. Acho que esbarrei num daqueles fios que o monitoravam. Era o fio
do batimento cardíaco E ouvi então, aquele barulhinho uniforme de
morte...biiiiiiii. Entrei em pânico, achando que o meu filho tinha morrido. Fiz
tanto barulho que ele acabou acordando Só então percebi que estava bem. Mas, o
que mais me machucou, nisso tudo, além do próprio afogamento, foi no dia
seguinte o jornal onde eu havia trabalhado e onde estavam os meus melhores
amigos publicou uma nota cujo título era “Bem Feito”. De repente, eu descubro
que algumas daquelas pessoas, que eu considerava as mais dignas, as mais puras
do ponto de vista ético e humanitário, era as mais cruéis com quem já tinha
convivido.
PLAYBOY- E o senhor
reagiu?
CLÁUDIO HUMBERTO- Quase
todos eles, como eu, eram membros da diretoria do Sindicato dos Jornalistas e
fui lá reclamar contra aquela brutalidade, sem tamanho. E uma dessas pessoas,
de quem eu mais gostava me explicou: “A questão, companheiro, é política...”.
Esse sujeito tinha contraído câncer e o que mais doeu foi me lembrar que, ao
saber que ele estava doente, eu chorei. Pela eloquência com que defendeu a
oportunidade daquela nota, eu compreendi que ele era o autor. Desse dia em
diante nunca mais voltei ao sindicato.
PLAYBOY- E aí o senhor
trocou de profissão?
CLÁUDIO HUMBERTO- Foi
exatamente nesse momento. Minha prioridade passou a ser outra. Não era mais a
produção de notícias, era a produção de fatos. E com Fernando Collor conheci a
capacidade permanente de conservar sempre a iniciativa. É o princípio de que o
ataque é a melhor defesa, inclusive a defesa de suas ideias, de seu projeto
político. Essa coisa do “bateu-levou” começou aí...Essa história de oferecer a
outra face é um erro brutal, em política. O Getúlio Vargas explicou o sucesso
ao Otávio Mangabeira lembrando que, em política é preciso ter inimigos. E emendou:
“Se você não tem, faça-os”.
PLAYBOY- E o senhor os
fez entre os jornalistas?
CLÁUDIO HUMBERTO- É, fiz
parte do grupo de trabalho que preparou a reforma administrativa do governador
eleito Fernando Collor. E eu, que era o virtual secretário de Comunicação, propus
a extinção da secretaria. Achava um exagero um Estado pequeno ter uma
secretaria para isso. Uma simples assessoria já seria suficiente. E o Sindicato
de Jornalistas considerava a secretaria “uma conquista da categoria”. Comunista
adora emprego público. Só pode ser por isso, porque quando assumi verifiquei
que havia 110 jornalistas – um terço da categoria em Alagoas – empregados na
secretaria e que só apareciam no final do mês para pagar o salário. Demiti-os
todos. Mas o projeto de extinção da secretaria acabou derrotado na Assembleia,
por pressão do sindicato.
PLAYBOY- A “caça aos
marajás” foi sua primeira produção de fatos?
CLÁUDIO HUMBERTO- Nunca houve
essa preocupação de marketing. Para Collor, era apenas o resgate de um compromisso
de campanha. Uma semana antes da posse, em março de 1987, ele ingressou com um
pedido ao Supremo pedindo a suspensão dos vencimentos dos marajás. Eu, que
cuidava da área de comunicação, tive um insight e percebi que só ele atendeu à
expectativa da opinião pública. Aí foi aquela coisa de alagoana orgulhoso do
seu governador...
PLAYBOY- O que o senhor
fazia?
CLÁUDIO HUMBERTO- Comecei
a agredir o mercado. Comecei a pautar. Ligava para os jornalistas, chefes de
redação, colunistas...Fui vendendo o meu chefe. Não conhecia ninguém. Ligava no
peito e me apresentava: “Boa tarde, aqui é o Cláudio Humberto, assessor de
imprensa do governador. Sergipe, não. Alagoas, companheiro”. Pouca gente
conhecia. O governador Miguel Arraes, de Pernambuco, tinha a chamada audiência
inercial eu tanto beneficia a Rede Globo. O que falava era manchete. O meu
governador estava dando um banho de competência e dignidade e ninguém notava.
Achava isso uma injustiça. Aí, eu pegava o telefone e ligava, enchia o saco.
PLAYBOY- E era bem atendido?
CLÁUDIO HUMBERTO- A
petelhada das redação dizia: “Vamos dar espaço ao Collor para – usando a
linguagem deles – aguçar as contradições das classes dominantes”. E abriam
espaço para o governador de Alagoas. E assim a gente foi abrindo picada.
PLAYBOY- Existiria Collor
sem a Rede Globo?
CLÁUDIO HUMBERTO- Sem
dúvida. Se não existisse a Globo existiriam outras emissoras que, isoladas ou
somadas, alcançariam o público da Globo. A cobertura da Globo ao governo de
Alagoas foi tão intensa quanto a do Jornal do Brasil, da Rede Manchete, do SBT.
Agora, é preciso notar que os noticiários da Globo têm em média 78% da
audiência. Se a pergunta se refere a qualquer tipo de envolvimento político entre
o governador e o doutor Roberto Marinho, não havia nenhum.
PLAYBOY- A Globo
descobriu Collor em Alagoas e Collor descobriu Alberico Souza Cruz na Globo?
CLÁUDIO HUMBERTO- Nós dávamos
prioridade no relacionamento do dia-a-dia com o produtor da notícia, com o
repórter, o colunista, o editor de política. Nesse caminho nos pareceu mais
acertado que, na Globo, tivéssemos um contato com o Alberico por ser ele o editor
do Jornal Nacional. Ele era, pelo que sei, a pessoa indicada elo Armando
Nogueira exatamente para manter esse tipo de relacionamento com a classe política.
PLAYBOY- Collor teve participação
na mudança de cúpula do jornalismo da Globo, com a troca de Armando justamente
por Alberico?
CLÁUDIO HUMBERTO- Nenhuma
participação. Na verdade, quem informou o presidente sobre essa mudança fui eu.
Quando eu soube e confirmei, informei a ele. Ele ficou surpreso. Nunca houve
nenhum problema de relacionamento entre o Presidente e o Armando Nogueira.
PLAYBOY- Não houve porque
não se falavam...
CLÁUDIO HUMBERTO- Não se
falavam porque o Armando Nogueira sempre torceu o nariz para a classe política.
Essa tarefa ele atribuiu ao Alberico.
PLAYBOY- Mas, no Colégio
Eleitoral, Collor não torceu o nariz e votou no Maluf contra Tancredo. Isso não
incomodava o senhor?
CLÁUDIO HUMBERTO- O mal
era o Colégio Eleitoral. O que havia de errado na história não era uma ou outra
candidatura, mas o processo de escolha, este sim arcaico e antidemocrático.
Nunca tive ilusões quanto à pretendida beatificação do doutor Tancredo. Eu o
achava mais simpático que o Maluf. Nunca identifiquei divergências políticas ou
ideológicas entre eles.
PLAYBOY- O senhor está
colocando Maluf e Tancredo no mesmo saco?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não,
eles se colocaram no mesmo saco, o Colégio Eleitoral. Ao participar do
processo, mergulhando voluntariamente naquele saco, Tancredo tornou-se mais um gato.
PLAYBOY- Se Maluf tivesse
vencido, a transação teria seguido o mesmo caminho?
CLÁUDIO HUMBERTO-
Olha...o Maluf, eleito no Colégio Eleitoral, não creio que fizesse um governo
muito pior do que foi o governo Sarney.
PLAYBOY- A briga com
Sarney foi outra jogada de marketing?
CLÁUDIO HUMBERTO- Todo
mundo imagina que o Presidente viva de jogadas. Não é exatamente isso. Tudo o
que o presidente Collor faz e produto de profunda reflexão. Ele tinha audiência
com o Sarney para comunicar a vitória em Alagoas e, por coincidência, ela foi
marcada para o dia seguinte ao anúncio do Cruzado II. Ao ser recebido por
Sarney, Collor disse que estava ali para convidá-lo para a festa da posse mas,
diante da edição do Cruzado II, que ele considerava uma traição à confiança do
povo, não via motivos para comemorar. E cancelou a festa. Pouco antes da posse,
tentou marcar uma audiência com Sarney e não conseguiu mais.
PLAYBOY- A expressão “colorido”
foi uma invenção do acaso?
CLÁUDIO HUMBERTO- Foi
mesmo. Saiu ao natural, quando mandei um cartão para ele no Natal de 1987, com
a frase: “Vamos colorir este país”. Usei no sentido que a palavra tem, com o
sentimento de que o comportamento dele encantava o Brasil inteiro. Mas quem
primeiro usou essa expressão, na imprensa, foi o colunista Luciano Martins no O
Estado de S. Paulo – e não fui eu quem passou para ele.
PLAYBOY- O senhor nunca
temeu que essa candidatura desbotasse?
CLÁUDIO HUMBERTO- Olha,
nunca duvidei que fosse eleito. Nunca. Um dia, no início de 1989, eu liguei
para o gerente do Data-Folha, o Machado, me identifiquei e disse: “Olha, vocês
publicaram uma coisa, uma pesquisa no jornal, falando em Sílvio Santos, Antônio
Ermírio, gato, sapato, quem é, quem não é, e não falaram em Collor. E ele é
candidato”. Aí ele me respondeu: “Olha..essa relação é fornecida pelo editor de
política do jornal e ele não considera séria essa candidatura...”. A primeira
vez que a Folha de S. Paulo publicou o nome de Collor como candidato foi numa inacreditável
pesquisa do Datafolha, publicada na antevéspera de convenção do PMDB dizendo
que Quércia seria o eleito, se fosse candidato. Se Ulysses ganhasse a
convenção, o eleito seria Collor.
PLAYBOY- E a candidatura
de Sílvio Santos? Era séria?
CLÁUDIO HUMBERTO- Aquilo
foi um momento tenso da campanha porque foi uma jogada de meia dúzia de
políticos espertos que se utilizaram dele. O Sílvio Santos me disse, há pouco
tempo, que não percebia a extensão do que estava sendo feito.
PLAYBOY- E o senhor acreditou
nele?
CLÁUDIO HUMBERTO-
Acreditei sim. Ele é muito convincente.
PLAYBOY- Nessa história o
Sarney é inocente?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não.
Ele não era o mentor, mas no mínimo autorizou aquilo. O Sílvio ia dificultar um
pouco, talvez fosse o adversário de Collor no segundo turno, mas não iria mudar
o resultado final.
PLAYBOY- Então, por que
apelar para o depoimento da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro?
CLÁUDIO HUMBERTO- Com o
depoimento dela, revelamos quem era esse cidadão. Coisa, aliás, que a PLAYBOY
já tinha revelado anos antes (julho de 1979), quando Lula era presidente
do Sindicato dos Metalúrgicos...
PLAYBOY- Revelado o quê?
CLÁUDIO HUMBERTO- Lula
tinha revelado suas práticas pouco ortodoxas, do ponto de vista moral e sexual.
A ex-mulher dele apareceu na TV após toda uma campanha em que o PT xingou o pai
de Collor, morto há sete anos, disse que o candidato casou dando “o golpe do
baú”, fez as piores coisas, do mais baixo nível. Isso, os coleguinhas da
imprensa permitiam. O que não podia era o contrário, era alguém ofender o “São
Lula”, como alguns setores da Igreja o tratavam.
PLAYBOY- Miriam Cordeiro
é uma invenção do Leopoldo Collor?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não, a
Miriam é uma invenção do Lula. Foi ele quem fez aquilo que ela denunciou. Sei
que ela, desde o início da campanha, procurava o comitê de São Paulo para
oferecer esse depoimento. E a gente vinha empurrando, evitando, até que chegou
um ponto em que um padre do interior pintou um quadro onde colocava o Lula na
mesa da Santa Ceia. Uma heresia política. Numa campanha tão disputada, onde o
adversário usava mão de agressões tão vis, por que evitar que a ex-mulher
aparecesse como ela queria aparecer? Ninguém aguentava mais ver, na TV, o nosso
candidato sendo tão cruelmente ofendido.
PLAYBOY- Foi a Miriam que
desequilibrou o segundo debate na TV, abalando Lula e levando Collor a se
recuperar do primeiro debate?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu discordo
dessa avaliação. Acho que foi equilibrado e a campanha do Lula teve a
competência, que nós não tivemos, de sair na frente e dizer que ganhara o
debate.
PLAYBOY- Mas Collor estava
mal naquele debate...
CLÁUDIO HUMBERTO- Estava
mal porque morria de dor, estava com um canal de dente aberto e o nervo exposto.
O desempenho não podia ser melhor. No segundo debate, Lula chegou calçando
sapato alto, como se diz no futebol. E Collor não tinha mais aquela dor de dente.
PLAYBOY- Lula ganhou o
primeiro debate no aproveitamento do horário político. Collor ganhou o seguindo
no aproveitamento da Globo?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não,
ele ganhou porque ganhou mesmo. Essa questão da Globo é outra manipulação da
petelhada das redações. Ninguém se lembra da manipulação que foi feita, na Globo
mesmo, no Jornal Hoje, que foi desonesto porque mostrava um equilíbrio que não
houve.
PLAYBOY- E a edição do
Jornal Nacional daquele dia?
CLÁUDIO HUMBERTO- O Jornal
Nacional foi exato. É a mesma coisa que a Globo mostrar os melhores momentos da
luta entre Mike Tyson e Pinklon Thomas, que foi nocauteado aos 90 segundos,
escolhendo três bons de um e de outro, e dizer que aquilo resume a luta. O que
o Jornal Nacional recuperou foi exatamente isso – os melhores momentos do
debate, indicando uma vitória ampla, absolutamente inquestionável, do candidato
Collor.
PLAYBOY- Collor não foi
desonesto quando disse que gostaria de ter um som igual ao do Lula?
CLÁUDIO HUMBERTO- Foi um
momento de bom humor. A verdade é que ele não tinha um equipamento como aquele...
PLAYBOY- O quê? Um três-em-um?
CLÁUDIO HUMBERTO- Pelo
aspecto, parece ser um equipamento sofisticado, que Collor não tinha em casa. O
que ele tinha era um toca-fitas.
PLAYBOY- Collor, pelo
jeito, não se preocupava com som e muito menos com militares. Como é que ele
escolheu os seus ministros fardados?
CLÁUDIO HUMBERTO- Ele
ouviu muita gente desde militares da reserva até os ministros da época. E
acabou optando por três nomes antes mesmo de conhece-los pessoalmente.
PLAYBOY- É verdade que o
general Leônidas Pires Gonçalves tentou continuar no cargo de ministro do Exército?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não soube
que ele pessoalmente pretendesse continuar, mas havia quem defendesse a permanência
dele. Sei, por exemplo, que o ex-ministro Bernardo Cabral é uma dessas pessoas
que consideravam muito simpática essa possibilidade.
PLAYBOY- O Presidente em
algum momento considerou essa possibilidade?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não.
PLAYBOY- Com Leônidas
fora do páreo, Cabral não tentou emplacar o general Wilberto Lima, aquele mesmo
que tinha invadido a CSN em Volta Redonda, matando três metalúrgicos?
CLÁUDIO HUMBERTO- O que
sei é que a candidatura do general Wilberto Lima era uma coisa colocada por
essas pessoas que defendiam a permanência do ministro Leônidas.
PLAYBOY- A área militar
não reagiu bem à indicação de um civil, um jovem de 30 anos, para a Secretaria
de Assuntos Estratégicos (SAE), que sucedeu ao SNI e...
CLÁUDIO HUMBERTO- A
Secretaria não sucedeu ao SNI. O SNI foi extinto e foi criada a SAE, que é uma
secretaria que cuida da macroestratégia...
PLAYBOY-...e, entre outros
assuntos, da área que era do SNI.
CLÁUDIO HUMBERTO- Mas a
secretaria não tem informantes, não grampeia telefones.
PLAYBOY- Não existe mais
escuta telefônica?
CLÁUDIO HUMBERTO- Isso
não existe mais. Acabou. Não há mais grampo, não há escuta, não há mais agentes
bisbilhotando a vida dos adversários do governo. O que há são funcionários da
melhor qualidade intelectual pensando e propondo ao Presidente estratégias para
o país, sobretudo no plano internacional. No plano interno, muito pouco.
PLAYBOY- Secretário, o
senhor fala tudo ao telefone?
CLÁUDIO HUMBERTO- Tudo.
PLAYBOY- Mas tem muita
gente no governo que prefere uma conversa pessoal e evita o telefone. Por quê?
CLÁUDIO HUMBERTO- É porque
hoje é possível a qualquer pessoa grampear telefone com equipamentos que se
vendem pelo reembolso postal.
PLAYBOY- Essa é uma atividade
privativa, secretário?
CLÁUDIO HUMBERTO- Ah, sem
dúvida. Nesse governo é.
PLAYBOY- Então, por que o
presidente Collor possui um scrambler um misturador de vozes, em seu
gabinete de trabalho?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu
imagino que seja por isso. Hoje em dia a indústria de equipamentos de escuta é
popularizada. Você compra qualquer coisa pelo correio...
PLAYBOY- Qual é a função
do porta-voz?
CLÁUDIO HUMBERTO- Meu
parâmetro é o Presidente. Então, quando eu bato – e bato sempre de forma muito
mais amena do que indignação impõe -, eu estou ali...
PLAYBOY- Indignação sua
ou do Presidente?
CLÁUDIO HUMBERTO- De
ambos. Elas se somam. Quando faço isso, estou ali tentando representar...estou
portando a voz mesmo. Mas a voz é dele.
PLAYBOY- O senhor tenta
imitar algo de seus antecessores?
CLÁUDIO HUMBERTO- Acho que,
se pudesse dosar, uma boa média seria a elegância na postura do ministro Carlos
Átila, o fair-play do jornalista Frota Neto e a força política do jornalista
Fernando César Mesquita.
PLAYBOY- A batida é
inspiração de quem?
CLÁUDIO HUMBERTO- É uma
característica pessoal, aprimorada por saudável contaminação na convivência com
o Presidente. Meu trabalho é facilitado pela coerência dele. Eu respondo porque
sei que ele não mudou de opinião sobre o que me disse dois, três anos atrás.
PLAYBOY- Quais as regras
básicas do seu trabalho?
CLÁUDIO HUMBERTO- A
primeira é só falar com a imprensa quando for do interesse do governo. Estou me
lixando para o fato do repórter, no final do dia, estar sem lead para a sua
matéria.
PLAYBOY- E quando for do
interesse da imprensa?
CLÁUDIO HUMBERTO- Então,
a imprensa que trate de se virar. O problema não é meu. É do repórter, do
jornal, do diretor. Eu me manifesto quando for exclusivo interesse do governo e
do país. Se ficar à disposição do pessoal, vão me perguntar sobre a falta de
segurança em São Paulo e, aí, cria-se o problema. A outra regra é saber calar.
PLAYBOY- Calar os outros?
CLÁUDIO HUMBERTO- Saber
calar a própria boca. Numa reflexão que o ministro Antônio Rogério Magri, que
coleciona corujas, descobri que a coruja tem fama de sábia não porque seja sábia,
mas porque é muda. Eu me calo sempre que o momento recomenda imersão.
PLAYBOY- O jornalista
Pierre Salinger, porta-voz de John Kennedy, tinha três regras: não se meter em
polêmica, não usar adjetivos e não ofender ninguém.
CLÁUDIO HUMBERTO-
Certamente por isso nunca ouvi falar nele. Ouvi falar do Kennedy, que tem um
trabalho certamente mais notável do que o porta-voz que o serviu. Eu faço exatamente
as três coisas que ele condena.
PLAYBOY- O que é bom para
a Casa Branca não é bom para o Palácio do Planalto?
CLÁUDIO HUMBERTO- Rigorosamente,
não é. Porta-voz deve se meter em polêmica, na medida em que isso seja de
interesse do governo. Deve usar adjetivos porque esse é instrumento utilizado
pelos adversários. E finalmente, esse governo não oferece a outra face. Bateu,
levou.
PLAYBOY- O senhor
consulta antes a voz ou bate por conta e risco?
CLÁUDIO HUMBERTO- Várias
vezes, por conta, com a certeza de que manifesto o sentimento de indignação do
Presidente. Como nesse caso, respondendo à CUT, dizendo que sua nota era “mentirosa,
irresponsável, cínica, suja e malcheirosa – a cara do Meneguelli”. Respondi na
bucha. Depois, quando o presidente me ligou para dizer que era preciso
responder, eu já tinha respondido.
PLAYBOY- Collor dá o tom
da batida?
CLÁUDIO HUMBERTO- Da
batida, não. Ele dá instruções sobre que declarações eu devo dar. Agora, nem
sempre bato. Sou até uma pessoa muito gentil, de fino trato. Eu procuro, mesmo,
é passar a emoção da indignação. Não posso permitir que um Presidente tão
digno, tão correto, tão patriota, seja ofendido por qualquer vagabundo.
PLAYBOY- Collor bate mais
que o porta-voz?
CLÁUDIO HUMBERTO- Ele
mesmo disse isso, numa entrevista ao Globo, revelando que eu costumo amenizar
as pancadas que ele ordena.
PLAYBOY- O Presidente usa
muito palavrão?
CLÁUDIO HUMBERTO- Ele é
uma das pessoas mais gentis, mais amáveis, menos propensas a explosões que eu
conheço. Ele não...
PLAYBOY- Mas o Brasil
todo ouviu, via Embratel, o sonoro “puta que o pariu” dito por Collor, numa
reunião ministerial, quando bateu com o joelho na quina da mesa.
CLÁUDIO HUMBERTO- Mas o
Presidente é um ser humano. Não conheço ninguém capaz de dar uma joelhada e
reagir com um educado “puxa-vida”. Ninguém diz isso. Diz “puta que o pariu”
mesmo.
PLAYBOY- O senhor tem o
raro talento de frasista capaz de desmontar alguém com duas ou três frases.
Quem é o seu ídolo, nessa área?
CLÁUDIO HUMBERTO- Carlos
Lacerda, sem dúvida, foi o grande gênio. No presente, admiro muito o talento do
jornalista Carlos Brickman, editor da Folha da Tarde. Ele escreve coisas
que eu gostaria de assinar. É brilhante.
PLAYBOY- O senhor nunca
se arrepende do que diz? Um dos políticos de melhor trânsito hoje no Planalto,
o governador Leonel Brizola, ganhou do senhor o apelido de “Escadinha da política”
na campanha presidencial...
CLÁUDIO HUMBERTO- Brizola,
como diz meu amigo Cleto Falcão, agora é um irmão fraterno. Eu disse aquilo no
calor da campanha, obrigado a defender o meu candidato, batendo também. Mudaram
as circunstâncias. Hoje ambos têm responsabilidades.
PLAYBOY- Brizola deixou
de ser o “Escadinha”. O que ele é, hoje, na política?
CLÁUDIO HUMBERTO- O
governador do Rio de Janeiro é uma das pessoas mais competentes da história
política brasileira. Um caso raro de alguém que há trinta anos está na linha de
frente, permanentemente confirmado pelas urnas e sem perder a coerência.
Aprendi com o presidente Collor, desde Alagoas, que é preciso respeitar a
vontade das urnas.
PLAYBOY- O ex-governador
Tasso Jereissati é produto das urnas. Mas foi tratado pelo Planalto como um
reles meliante da área de furtos e roubos...
CLÁUDIO HUMBERTO- Mas,
quando suas empresas fraudaram o fisco, isso não foi aprovado pelas urnas.
Sabe, eu acho que existem três grandes profissionais, hoje, na política
brasileira. O primeiro de todos, é claro, é o meu chefe.
PLAYBOY- Quando diz isso,
o senhor não teme ficar com a palma da mão roxa?
CLÁUDIO HUMBERTO- Collor
é a melhor cabeça política que conheço. É absolutamente brilhante do ponto de
vista da percepção, da sagacidade, da visão. Os outros dois são os governadores
Antônio Carlos Magalhães e Leonel Brizola.
PLAYBOY- Secretário,
vamos admitir o pior. Se o Collor não tivesse passado para o segundo turno, em
quem votaria?
CLÁUDIO HUMBERTO- Muito
antes de ser candidato, ele disse numa entrevista à PLAYBOY (outubro de 1987)
que votaria em Mário Covas.
PLAYBOY- Ao dizer isso,
Collor queria ser vice de Covas?
CLÁUDIO HUMBERTO- A personalidade
do Presidente não estimula uma inferência nesse sentido. Ele não seria vice de
ninguém. Collor jamais será segundo. Em nada. Eu sei que, na época, alguns dos
futuros candidatos estavam entre as opções do governador Collor. Entre eles, o Brizola.
Tenho a impressão que, se ele não fosse candidato, em nenhum momento, é
provável que uma dessas opções fosse o governador Brizola.
PLAYBOY- Trocaria o Covas
por Brizola?
CLÁUDIO HUMBERTO- Antes
de se declarar pelo Covas, ele chegou a dizer a pessoas amigas que Brizola
seria um bom nome para merecer seu voto. Depois, ele acabou optando pelo Covas,
até o momento em que percebeu que faltava ao senador uma coisa fundamental para
avançar em política. O senador Covas não tem olho de águia. Ele tem olho de peixe
morto.
PLAYBOY- Qual é a
diferença?
CLÁUDIO HUMBERTO- Collor
visitou várias vezes o senador e sempre falava que não era politicamente
interessante, naquela altura, negar a candidatura Covas. Ele dizia que o senador
deveria se comportar já como se fosse candidato, acenando, cumprimentando o
povo como candidato. E o senador Covas ouvia naquelas colocações do governador de
Alagoas olhando assim, com aquele olhar vago escondido por trás dos óculos, um
cigarro apagado entre o nariz e o lábio superior...Ele estava fazendo um
esforço olímpico para deixar de fumar. E ficava assim – cheirando o cigarro e
olhando o governador. Collor ainda visitou o senador várias vezes, tentando
convencê-lo disso. Até que, numa dessas visitar no apartamento do senador aqui,
na 309 Sul, ele disse: “Olha, governador, deixe eu lhe dizer...Na verdade, eu
não em sinto preparado para presidir o Brasil. Antes de ser presidente, eu
preciso ser o governador de São Paulo”.
PLAYBOY- E o Collor respondeu?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não,
ele respeitou a autocrítica do senador. Depois eu comentei com ele: “Governador,
uma liderança nacional como o senador Covas, líder do PMDB na Constituinte,
respaldado por 8 milhões de votos, diz agora que não se sente preparado para
presidir o Brasil? Se bem ele mesmo acredita nas suas possibilidades, como é
que nós vamos fazer isso?”.
PLAYBOY- Secretário, quem
é que tem olho de águia na política brasileira?
CLÁUDIO HUMBERTO- O
presidente Collor, Brizola, Antônio Carlos Magalhães, Orestes Quércia...São
pessoas que tem o olhar da determinação, dotadas de uma força interior muito
acentuada, firmes em seus objetivos.
PLAYBOY- E quem tem olhar
de peixe morto?
CLÁUDIO HUMBERTO- O
senador Mário Covas, sem dúvida. O deputado Lula...Para ser vitorioso em
política, é preciso ter tesão. E essas pessoas não têm. Não entusiasmam, não
empolgam, não lideram, não trazem atrás de si a força das multidões. É o caso
do presidente do PT: ele, na minha opinião, foi um fenômeno mais partidário do
que de massas.
PLAYBOY- Mas o Lula fez
comícios com milhares de pessoas, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
CLÁUDIO HUMBERTO- O
senador Covas, o doutor Ulysses. No entanto, deu no que deu.
PLAYBOY- O porta-voz tem
olho de quê?
CLÁUDIO HUMBERTO-
Porta-voz não tem ambição política. Nunca teve.
PLAYBOY- Mas tem olho.
CLÁUDIO HUMBERTO- Meu
projeto político é o do Presidente. Sempre foi e sempre será. Eu estarei, politicamente,
onde ele estiver.
PLAYBOY- O deputado Ibsen
Pinheiro foi chamado pelo senhor de mentiroso. Hoje, ele é presidente da
Câmara. Algum motivo de arrependimento?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não. O
deputado cometeu uma injustiça com o presidente Collor e com seus próprios
colegas, dizendo na época que o governo praticava a política do “toma-lá-dá-cá”.
O deputado foi infeliz na sua acusação e eu tinha o dever de registrar a
indignação do governo e do Presidente. Não o conheço de perto, mas posso dizer
hoje que há um número apreciável de pessoas dignas do meu respeito e admiração
que o consideram um homem sério.
PLAYBOY- Secretário, não
foi muita presunção e arrogância sua recomendar que o presidente da OAB
voltasse ao colégio?
CLÁUDIO HUMBERTO- Presidente
em exercício da OAB. Ele, de fato, era o vice-presidente. E era analfabeto.
PLAYBOY- Analfabeto, um
presidente de OAB?
CLÁUDIO HUMBERTO-
Analfabeto jurídico. A portaria contra os excessos da TV é determinada pela
Constituição e recomendada no Estatuto da Criança e do Adolescente, votado pelo
Congresso. Então, esse sujeito é um ignorante que, em entrevista, acusou o
governo de fazer o país retornar às trevas do autoritarismo. Aquele idiota não
podia acusar o governo dessa forma...Esse idiota não poderia reivindicar para
si o caráter de democracia mais do que alguém como o presidente Collor, eleito
pelo povo, com dezenas de milhares de votos.
PLAYBOY- O deputado Delfim
Netto, outro bom frasista, diz que o país não tem porta-voz. Tem, na verdade,
um porta-desaforo.
CLÁUDIO HUMBERTO- É uma
boa frase. Mas o Presidente tem um porta-voz que eventualmente não leva
desaforo para casa. Deixa no serviço.
PLAYBOY- Um dos desaforos
mais comuns no eixo Rio-São Paulo, secretário é que o Brasil se livrou de um governo
maranhense para cair num governo alagoano.
CLÁUDIO HUMBERTO- É um
preconceito descabido. Até porque o Presidente, embora tenha vindo de Alagoas,
nasceu no Rio e tem cara de alguém do Sul Maravilha. Eu senti isso, antes de iniciar
a campanha, num jantar oferecido a ele pelo presidente da Federação do Comércio
de São Paulo, Abrahão Szanjman. Num grupo de que fazia parte o anfitrião, o
senador Franco Montoro, o empresário Laerte Setúbal e o banqueiro Olavo
Setúbal, ouviu-se esse comentário: “Pena ele ser nordestino”. E um outro
observou: “É, mas tem cara de paulista”.
PLAYBOY- E o porta-voz?
Se o senhor tivesse cara de sueco, alto, loiro, de olhos azuis, poderia esperar
um tratamento mais simpático da imprensa?
CLÁUDIO HUMBERTO- Veja
bem, eu não me queixo da imprensa. O fato de ser mulato, e não loiro de olhos
azuis, e o sotaque não ser marcadamente paulistês ou carioquês talvez fosse uma
dificuldade no início. Mas isso foi superado com a nossa vitória.
PLAYBOY- O governo
exaltou o relator da Constituinte e o presidente da CVM e convocou um e outro
para ministro da Justiça e presidente da Petrobrás. Mais tarde, Bernardo Cabral
e Motta Veiga deixaram seus cargos com fama de incompetentes. O governo é ruim
de avaliação?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não. Houve
uma decepção quanto ao ex-presidente da Petrobrás. Ele seria demitido e, na
verdade, antecipou-se em algumas horas à decisão de demiti-lo por absoluta
incompetência.
PLAYBOY- Livrou-se da
fritura?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não há
fritura nesse governo. O presidente simplesmente demite, quando não lhe agrada
o desempenho de alguém. Ele não submete ninguém a nenhum tipo de desgaste.
PLAYBOY- Mas o que dizer
de um governo que convoca um “incompetente” para dirigir a maior estatal
brasileira?
CLÁUDIO HUMBERTO- Pois e,
mas não era assim que ele parecia...Por exemplo, a imprensa me vendeu o
ministro Bernardo Cabral como um dos maiores juristas da história desse país,
porque era o relator da Constituinte, onde exercia influência e liderança.
Empossado o ministro, a imprensa passou a dizer que não era exatamente aquilo.
Que os relatores da Constituinte, de fato, eram os deputados Konder Reis e
Nelson Jobim...
PLAYBOY- Mas, espera lá,
secretário, não é a imprensa que nomeia ministro. É o Presidente...
CLÁUDIO HUMBERTO- Não estou
dizendo isso. Digo que a mesma imprensa que vendeu esse peixe passou a fazer
esse tipo de cobrança. Ora, foi a imprensa que convenceu a todos os brasileiros
que ninguém conhecia mais a Constituição do que o relator. Esse presidente da
Petrobrás, com uma reputação construída à base de suas amizades no meio
jornalístico, revelou uma vocação irresistível para o estrelismo e uma
irremovível incompetência para a condução de uma estatal daquele porte.
PLAYBOY- Ainda existem
cicatrizes da campanha eleitoral em relação aos jornalistas?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não
consigo esquecer a cena de Collor chegando ao aeroporto, para embarcar rumo ao
segundo e último debate com o candidato do PT, e sendo recebido por um “corredor
polonês” de jornalistas cantando o “lula-lá” do candidato petista. Na saída de
uma entrevista na TV Record, em São Paulo, os repórteres não se contentaram em
cantar a música e o nome de Lula – chegaram a chutar as portas do táxi que
levava Collor.
PLAYBOY- Essa atitude
cessou com a eleição?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não. Um
mês depois, 17 de janeiro, o Presidente embarcou na base aérea de Brasília para
uma viagem de fim de semana ao Cone Sul e foi recebido com vaias pelos repórteres.
Estou convencido de que é preciso lembrar sempre que isso ocorreu.
PLAYBOY- Lembrar para
quê?
CLÁUDIO HUMBERTO- Como
uma lição, para que numa outra eleição esse comportamento vergonhoso não se
repita. Quando fui conversar com o jornalista Ricardo Kotscho, assessor de
imprensa do PT, ele me contou que se organizou uma entrevista logo que ficou
confirmada a passagem de Lula para o segundo turno. E o Kotscho me disse que
ficou envergonhadíssimo quando chegou ao local da entrevista, junto com Lula, e
foi recebido pelos jornalistas, de mãos dados, cantando o “lula-lá”.
PLAYBOY- Isso aconteceu
porque Collor era o candidato dos patrões da imprensa e Lula o dos
trabalhadores da imprensa?
CLÁUDIO HUMBERTO- De
forma alguma. A questão não foi de classe. Até porque, na maior parte dos
casos, o comportamento da reportalhada era autorizado ou coincidia com a postura
dos patrões.
PLAYBOY- Mas a grande
imprensa apoiou Collor até em editorial.
CLÁUDIO HUMBERTO- Ah,
sim, mas quem lê o editorial é o dono do jornal e o homenageado. Mais ninguém.
Na presunção de que a candidatura tinha o apoio do doutor Roberto Marinho, os
jornais concorrentes cruzavam os braços e deixavam que essa reportalhada, que
cantava o “lula-lá”, disse o tom. Mas sei de esforços importantes em alguns
jornais. Preocupado com a questão de espaço e conteúdo. O Estado de S. Paulo,
por exemplo, manteve uma vigilância severa. O mesmo comportamento tiveram O
Globo e o Jornal do Brasil.
PLAYBOY- Quem não teve?
CLÁUDIO HUMBERTO- A Folha
de S. Paulo, por exemplo. Ali todos eram levianos. A leviandade era comum a
todos os setores do jornal. Nenhum candidato foi mais cruelmente atacado do que
Fernando Collor. Todo esse conjunto de ofensas eram produzido não com base em
informações, mas na leviandade que balizava o comportamento juvenil da Folha.
Ela chegou a comparar o candidato com Mussolini. Fez uma matéria de página
inteira sustentando a teoria de que o pai do candidato era uma pessoa violenta
e que aquilo era hereditário. Ouvia psiquiatras, traçava o perfil patológico do
candidato...
PLAYBOY- Foi por isso que,
em março do ano passado, a Polícia Federal invadiu a Folha?
CLÁUDIO HUMBERTO- A Polícia
Federal não invadiu. O que aconteceu foi que o departamento comercial da
empresa Folha da Manhã (que edita a Folha) estava enganando seus
clientes (segundo a Polícia Federal, a Folha da Manhã estava cobrando em
cruzeiros faturas imitidas em cruzados novos. A empresa alegou que essa medida
do recém-inaugurado Plano Collor permitiu mais de uma interpretação, como de
fato, aconteceu no mercado publicitário). Um deles se queixou à Receita
Federal e ela foi lá verificar. Agiu como no caso de maus comerciantes que
tentavam ludibriar seus clientes. A decisão de ir ao jornal foi exclusiva da
Receita. Eu, pessoalmente, fui informado pela sucursal da Folha em
Brasília...
PLAYBOY- Não tinha o dedo
do Planalto nessa decisão?
CLÁUDIO HUMBERTO- De
forma alguma. A única coisa da qual não podemos ser acusados é de burrice. A
maior parte desse primeiro período de governo eu tratava esse pessoal da Folha
com idêntica atenção e cordialidade. Só que eles não estão interessados em
informação. Eles se interessam, como me disse certa vez o Gilberto Dimenstein,
diretor da sucursal de Brasília, em pôr em prática o que eles chamam de “marketing
da porrada”...Ou seja, uma preocupação obsessiva em bater todos os dias em alguém
– preferencialmente o presidente da República.
PLAYBOY- O “marketing da
porrada” não é também um recurso do porta-voz?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não, o
porta-voz não toma a iniciativa de bater. O porta-voz não bate, rebate.
PLAYBOY- Secretário, como
é que o senhor reagiu à carta aberta do diretor da Folha, Otávio Frias Filho,
ao presidente da República?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não
reagi. Repito o que disse quando me perguntaram sobre a carta: ao governo,
resta aguardar o pronunciamento da Justiça. Uma análise adequada do seu
conteúdo deve ser feita a partir do ponto de vista clínico, não político.
PLAYBOY- Mas é uma grande
carta. Não há um único ponto, nela, que lhe tenha agradado?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não
gostei de nada da carta.
PLAYBOY- A sociedade
civil reagiu com muita força ao documento, solidarizando-se com o jornal. Isso
não preocupa o governo Collor?
CLÁUDIO HUMBERTO- Isso
parece ser mais uma obra de marketing político...
PLAYBOY- Secretário, e o
fato de que a Gazeta de Alagoas, o jornal do irmão do presidente, tenha
publicado no mesmo dia a mesma nota que levou a Folha à Justiça, sem ter
sofrido nada? Isso não desmoraliza o processo do governo contra o jornal?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não.
Isso apenas demonstra que, na Gazeta de Alagoas, não há censura prévia.
O processo é contra a Folha porque a coluna pertence à Folha e
foi distribuída pela Folha.
PLAYBOY- A Folha alega
que seus repórteres não são atendidos, no Planalto, nem por escrito.
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu
concedo briefings coletivos, com a participação inclusive dos jornalistas da Folha.
Agora, eu almoço e janto com pessoas inteligentes – e escolhe as minhas
companhias.
PLAYBOY- Mas o único
grande jornal que Collor não recebeu, para entrevista, sobre o primeiro ano de
governo, foi a Folha.
CLÁUDIO HUMBERTO- É mentira.
Nós convidamos o jornalista Newton Rodrigues, articulista da Folha, para uma
conversa no Palácio. O que aconteceu é que, após esse encontro, o jornal suspendeu
a sua coluna e o demitiu. Foi deplorável. O relato do telefonema, através do qual
ele foi demitido pelo diretor do jornal, é que é terrível. Nesse telefonema,
aos gritos, o diretor do jornal dizia ao Newton Rodrigues que o jornal estava
em guerra contra Collor e que queria
destruir o Presidente.
PLAYBOY- O senhor nunca
pediu a cabeça de um repórter?
CLÁUDIO HUMBERTO- Nunca.
PLAYBOY- Nem a do
colunista político Ricardo Noblat, que escrevia no Jornal do Brasil?
CLÁUDIO HUMBERTO- Olha,
esse aí caiu de podre. Passou a campanha inteira xingando o Presidente, errando
pra burro. Por volta de março de 1989, numa roda de amigos, ao comentar a
candidatura Collor, o Noblat disse que o Collor era uma brincadeira...Não era
uma candidatura séria. Tanto não era, garantiu que até novembro não teria
necessidade de grafar uma única vez o nome Collor em sua coluna, porque haveria
algo mais importante a fazer.
PLAYBOY- E não escreveu?
CLÁUDIO HUMBERTO- Quinze
dias depois, Collor chegava pela primeira vez ao topo da pesquisa do Ibope. E
aí ele teve que escrever, com muita raiva. Quando foi cobrado, por um colega, o
Noblat respondeu: “É, mas esse Collor me paga. O que é que eu ou dizer aos meus
leitores?” No final da campanha, o Noblat foi demitido, não sei por que, mas
imagino que por incompatibilidade dentro do jornal.
PLAYBOY- Os chargistas já
retrataram o porta-voz com cara de porco, cachorro, frigideira...O senhor acha graça?
CLÁUDIO HUMBERTO- Eu acho
uma glória. Recorto todas as charges. Algumas são de mau gosto. Mas acho o
Chico Caruso o mais genial dos chargistas brasileiros. Absolutamente genial. Só
não gosto quando ele me retrata.
PLAYBOY- E o senhor ainda
conseguiu um lugar cativo, todos os domingos, na coluna do Tutty Vasquez, a
revista do JB...
CLÁUDIO HUMBERTO- Esse
rapaz, o Alfredo Ribeiro, que escreve como Tutty...Nunca consegui achar graça
no que ele faz. Ele, coitado, foi responsável pela pior fase da coluna “Informe
JB”. Quando aquele rapaz assumiu, quase acabou com a coluna.
PLAYBOY- Mas o Tutty é um
dos maiores sucessos do JB aos domingos.
CLÁUDIO HUMBERTO- Continua
sendo publicado? É? Eu acho que não.
PLAYBOY- O que o senhor
lê?
CLÁUDIO HUMBERTO- Antes,
tinha um hábito da leitura mais acentuado pelo Jornal do Brasil. Hoje,
em função de minhas atribuições, leio também O Globo, O Estado, o
Correio Braziliense e quando não tenho alternativa, a Folha.
Gosto da revista Imprensa e da PLAYBOY. E leio todas as semanais, embora acho
que todas passam atualmente por um mau momento.
PLAYBOY- E televisão?
CLÁUDIO HUMBERTO- Vejo
tudo. Vejo até a TV Nacional. Sou absolutamente tarado por TV. E considero que
a TV Globo é a melhor televisão que se faz no planeta.
PLAYBOY- No planeta?
CLÁUDIO HUMBERTO- Conheço
o mundo inteiro e, seja onde for, tenho sempre a curiosidade de sintonizar as emissoras.
E posso assegurar que a televisão feita no Brasil é, sem dúvida, a melhor do
mundo. O padrão de qualidade imposto pela Globo acabou puxando as outras redes.
Não há nenhuma rede de televisão importante nos Estados Unidos que faça uma TV
melhor, por exemplo, que o SBT. O programa do Jô Soares, um show de
inteligência, foi o melhor acontecimento da TV. Acho que o Jô e o Boris Casoy
representam talvez os dois marcos mais importantes da televisão brasileira nos últimos
dez anos.
PLAYBOY- E livros?
CLÁUDIO HUMBERTO- O
último que li, há alguns dias, foi Fábrica de Mentiras, do Gunther Walraff,
contando os bastidores da imprensa marrom na Alemanha. Identifiquei ali muita
semelhança entre o Bild e certos jornais daqui...
PLAYBOY- E o seu livro,
secretário, quando sai?
CLÁUDIO HUMBERTO- Acho
que não sai, não. Eu até gostaria muito de escrever, mas isso certamente
alteraria meu relacionamento com o Presidente. Estaria preocupado em sair de um
encontro e fazer anotações. Isso me faz mal só em pensar. Tenho muito orgulho
da confiança que o Presidente tem em mim e não gostaria que isso fosse
perturbado pela decisão de escrever um livro. Por isso, não tenho essa pretensão.
PLAYBOY- E o futuro?
Quais os seus planos quando acabar o governo?
CLÁUDIO HUMBERTO- Não imagino
nada. Eu perdi a capacidade de planejar o meu próprio futuro. Serei o que o
Presidente desejar que eu seja.
PLAYBOY- Então eu mudo a
pergunta: qual será o futuro de Collor, ao final do mandato?
CLÁUDIO HUMBERTO- Até
agora essa questão não me tinha sido colocada...Como brasileiro, orgulhoso do
Presidente que tenho, gostaria de vê-lo reeleito.
PLAYBOY- Mas isso é
vedado pela Constituição.
CLÁUDIO HUMBERTO- Pois é,
mas é o que eu gostaria. No caso de um governo parlamentarista, gostaria de
vê-lo primeiro-ministro.
PLAYBOY- E ele gostaria?
CLÁUDIO HUMBERTO- Aí eu não
sei, tem que perguntar a ele. Ele nunca disse isso. Isso é o que eu gostaria
que acontecesse.
PLAYBOY- Encerrado o
mandato do Presidente e de volta à redação do jornal, qual a manchete que o
jornalista Cláudio Humberto daria para definir o governo Collor?
CLÁUDIO HUMBERTO- “Esse
homem mudou o Brasil”.
PLAYBOY- Secretário,
depois de um início colorido, o Presidente exibe uma totalidade arroxeada ao
completar um ano de mandato. Qual será o tom dominante ao final do governo, em
1994?
CLÁUDIO HUMBERTO- Azul.
PLAYBOY- O senhor acha
que a PLAYBOY bateu?
CLÁUDIO HUMBERTO- Se
bateu, levou.
PLAYBOY- E o que o senhor
achou da experiência de ser entrevistado por PLAYBOY?
CLÁUDIO HUMBERTO- Uma
sensação muito agradável. Essa maratona de quase nove horas de entrevistas me
levou a refletir sobre minha vida, coisa que não fazia há mais de um ano,
porque não tinha tempo para isso. Recordei fatos, alguns dolorosos, mas a
maioria deles gratificantes. Ao ser entrevistado por PLAYBOY tive, pela primeira
vez, a sensação de ser alguém que conquistou a notoriedade. E isso me orgulha
muito.
PLAYBOY- Secretário,
assim PLAYBOY vai ficar com aquilo dolorido...
CLÁUDIO HUMBERTO- E roxo.
Publicado originalmente na
revista Playboy em junho de 1991
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