Nunca foi fácil entender
o que ele falava. A voz parecia estar engolida. Mas ele colecionou aventuras e
histórias. Nos tempos da Boca era um profissional dedicadíssimo. Pio Roberto
Zamuner nasceu na Itália e veio para o Brasil fazer não sei o quê. Sei que
antes de entrar no cinema ele consertava geladeiras. Sua trajetória é intensa e
marcante. Ele era o diretor de fotografia que muitas vezes carregava nas costas
os iniciantes. Odiava atores, dizia: “Estrela só existe no céu”. O elenco sofria
nas suas mãos. Hoje teria assédio moral, processo, o escambau. Na época não
existia nada disso. Pio tinha lá seus vícios etílicos. Mas isso não prejudicava
seu rendimento. Parece que o incentivava mais.
O italiano trabalhou com
os melhores diretores paulistas da sua geração: Anselmo Duarte, Carlos Coimbra,
Walter Hugo Khouri e muitos outros. Era excelente técnico e entendia tudo de
cinema. Não sei exatamente como ele como se iniciou sua proximidade com
Mazzaropi. Mas ele dirigiu 15 longas-metragens com o ator e produtor. Todos
sucessos de bilheteria. Tem seus altos e baixos mas a crítica era impiedosa.
Pio era polivalente: não só dirigia como fazia a fotografia e operava câmera.
Mazza era o único produtor que trabalhava com som direto e usava as câmeras
Mitchell que eram tidas como o topo de equipamento. Pio sabia fazer tudo isso.
O Mazzaropi tinha a mania de lançar seus filmes no dia 25 de janeiro (data do
aniversário da cidade de São Paulo) e no Cine Art Palácio. As autoridades bem
que podiam colocar uma foto ou placa em homenagem a Mazza e ao Pio. Mas no
Brasil querem que tudo seja esquecido mesmo. A gente vai perdendo as
esperanças. Eu fui no velório do Pio. Não deviam ter mais de dez pessoas. Pio
morreu em 2012. Até hoje nunca fizeram um book, catálogo, livro, mostra,
retrospectiva ou qualquer coisa sobre ele. Nada.
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