terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Memórias do setorista da Boca VI: Castor Guerra








Alto, corpulento, desajeitado. Era um autêntico boa pinta. Ele chegou na rua do Triunfo por acaso. Estava perdido no mundo. Ele vinha do bairro do Imirim, zona norte da capital paulista. Naquela época, ele  namorava uma moça que queria ser atriz. Foi através dela que Castor José Guerra conheceu o cineasta Luiz Gonzaga dos Santos. Na época, Luiz fazia um curta-metragem na aldeia de Carapicuíba, cidade da região Oeste da Grande São Paulo. O intelectual Gonzaga queria retratar nesse filme a coroação do bandeirante Amador Bueno em 1641. O problema é que o exibidor queria que o curta tivesse conteúdo erótico. Gonzaga contava que o diálogo tinha sido algo assim:

- Lançamos seu filme. Mas ele precisa de mulheres nuas com apelo sexual.

- Mas como? Meu filme tem conteúdo cultural. É a história de São Paulo. Fala de Amador Bueno, o bandeirante que foi exilado no Mosteiro de São Bento...

- Não queremos saber de Amador Bueno, de bandeirante, de São Bento, nem de conteúdo cultural. Queremos dinheiro. Faz um enxerto.

Não teve e parece que Gonzaga nunca lançou o filme comercialmente. Mas foi a partir desse trabalho que Castor Guerra começou a aparecer no quadrilátero cinematográfico. Seus primeiros papéis em longas-metragens foram nas produções do ator, cineasta e produtor Tony Vieira da MQ Produções.


Tony destacou-se na rua do Triunfo por seus faroestes e filmes policiais. O trio de aventureiros era composto por Tony, a musa Claudete Joubert fazia o papel de mocinha e o comediante Heitor Gaiotti o papel cômico. Castor sempre fazia figuração ou papel secundário. Não fazia corpo mole. Podia ser papel quase inexistente e muitas vezes sem falas. Não tinha problema: o grandalhão Castor estava lá. Seu primeiro pagamento em cinema foi uma Crush e um sanduíche. Depois prosseguiu trabalhar com diversos diretores como Cláudio Cunha, Edward Freund, Fauzi Mansur, Francisco Cavalcanti, Jean Garrett, Pio Zamuner. Muitas vezes o corpulento ator conseguia trabalho nos bares da Boca no Soberano e no Ferreira. Castor esteve no longa-metragem "O Grande Xerife" (1974) de Pio Zamuner protagonizado pelo ator, comediante e produtor Amácio Mazzaropi. Ali ganhou um cachê de protagonista por um erro. Daí conseguiu morar um tempo no Rio graças ao Mazza e a PAM Filmes. Tem gratidão eterna a Mazzaropi.

De qualquer maneira, Castor fez mais de 40 filmes. Um número que muito artista global nunca conseguiu. Mesmo assim, o corajoso ator barbudo continua desconhecido do grande público e buscando novas oportunidades. Quem sabe ele ainda não fica famoso? Nunca é tarde!

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