O dia da posse
SUA EXCELÊNCIA,
BIRO-BIRO
O primeiro dia no ano
foi aguardado com ansiedade pelo corintiano Biro-Biro. Não que a troca de
calendário lhe representasse um alívio, como para a maioria dos brasileiros.
Mas porque, às 10 horas do 1º de janeiro, ele tomou posse na Câmara Municipal
de São Paulo. Entrou em campo o político Antônio José da Silva Filho.
Para garantir um sono
tranquilo e acordar cedo, o réveillon do camisa 5 terminou logo depois da
meia-noite. De manha, tomou apenas um gole de café, vestiu o terno cinza,
reuniu forças para enfrentar um antigo trauma – a gravata – e saiu do sítio
próximo à cidade de Arujá, cerca de 60 km de São Paulo. Uma hora e meia antes
da solenidade, Biro-Biro já caminhava pelos corredores do seu novo local de
trabalho. Não parecia à vontade. Para completar, estava sozinho. A mulher,
Luciene, teve de ficar em casa, cuidando do filho Diego, que não passava bem.
Ao entrar no plenário,
imediatamente procurou sua mesa. Ficou diante dela por alguns segundos até que
resolveu se acomodar. Os outros vereadores conversavam alegremente. Biro, no
entanto, continuava lá, isolado. Em cada cumprimento, o mesmo gesto: um simples
aperto de mão.
Depois da posse, ainda
participou das votações para a composição da mesa diretora, representando o
PDS. A maioria petista nas galerias vaiou o seu nome. Já no início da tarde,
sem ter almoçado e com uma forte dor de cabeça, Biro-Biro acabou saindo da
sessão antes do final. No dia 3, viajou para o Recife com a família. Mas esta
semana volta a São Paulo para tentar renovar contrato com o Corinthians. Quer
colocar uma cláusula que o libere dos treinos nos dias de expediente da Câmara.
O treinador Fescina já adverte, porém, que não quer saber de privilégios. “Ele
vai se dedicar a política no tempo que sobrar do futebol”, fuzila.
Enquanto tenta conciliar as duas funções, seus quatro assessores vão
organizando o gabinete. Eleito com 39.198 votos sem muito esforço, ele não
arrisca ainda traçar planos de trabalho. “Preciso pegar experiência”, admite.
Uma nova rotina de treinos e sessões, que começa em fevereiro, com o final do
recesso. Já seus colegas vereadores não acreditam que seja possível manter as
duas profissões. “Se continuar jogando, seu futebol vai decair”, prevê o
companheiro de PDS Éder Jofre. Mas Biro-Biro está confiante. “Acho que não vou
ter problemas”, resume.
Publicado originalmente
na revista Placar, edição 971, 20 de
janeiro de 1989.
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