quarta-feira, 6 de maio de 2020

Semana “Placar Mais” no VSP: "Sua excelência, Biro-Biro" (Placar, 20 de janeiro de 1989).


O dia da posse

SUA EXCELÊNCIA, BIRO-BIRO


O primeiro dia no ano foi aguardado com ansiedade pelo corintiano Biro-Biro. Não que a troca de calendário lhe representasse um alívio, como para a maioria dos brasileiros. Mas porque, às 10 horas do 1º de janeiro, ele tomou posse na Câmara Municipal de São Paulo. Entrou em campo o político Antônio José da Silva Filho.


Para garantir um sono tranquilo e acordar cedo, o réveillon do camisa 5 terminou logo depois da meia-noite. De manha, tomou apenas um gole de café, vestiu o terno cinza, reuniu forças para enfrentar um antigo trauma – a gravata – e saiu do sítio próximo à cidade de Arujá, cerca de 60 km de São Paulo. Uma hora e meia antes da solenidade, Biro-Biro já caminhava pelos corredores do seu novo local de trabalho. Não parecia à vontade. Para completar, estava sozinho. A mulher, Luciene, teve de ficar em casa, cuidando do filho Diego, que não passava bem.

Ao entrar no plenário, imediatamente procurou sua mesa. Ficou diante dela por alguns segundos até que resolveu se acomodar. Os outros vereadores conversavam alegremente. Biro, no entanto, continuava lá, isolado. Em cada cumprimento, o mesmo gesto: um simples aperto de mão.

Depois da posse, ainda participou das votações para a composição da mesa diretora, representando o PDS. A maioria petista nas galerias vaiou o seu nome. Já no início da tarde, sem ter almoçado e com uma forte dor de cabeça, Biro-Biro acabou saindo da sessão antes do final. No dia 3, viajou para o Recife com a família. Mas esta semana volta a São Paulo para tentar renovar contrato com o Corinthians. Quer colocar uma cláusula que o libere dos treinos nos dias de expediente da Câmara. O treinador Fescina já adverte, porém, que não quer saber de privilégios. “Ele vai se dedicar a política no tempo que sobrar do futebol”, fuzila.


Enquanto tenta conciliar as duas funções, seus quatro assessores vão organizando o gabinete. Eleito com 39.198 votos sem muito esforço, ele não arrisca ainda traçar planos de trabalho. “Preciso pegar experiência”, admite. Uma nova rotina de treinos e sessões, que começa em fevereiro, com o final do recesso. Já seus colegas vereadores não acreditam que seja possível manter as duas profissões. “Se continuar jogando, seu futebol vai decair”, prevê o companheiro de PDS Éder Jofre. Mas Biro-Biro está confiante. “Acho que não vou ter problemas”, resume.

Publicado originalmente na revista Placar, edição 971, 20 de janeiro de 1989.

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