Estudiosa das eleições paulistas, a cientista política Vera Lúcia Michalany Chaia é professora titular dos cursos de bacharelado, mestrado e doutorado de Ciências Sociais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). A professora Vera também é autora dos livros A Liderança Política de Jânio Quadros 1947-1990 (Humanidades, 1992), até hoje a maior referência no estudo da trajetória política do ex-presidente Jânio Quadros (1917-1992) e Jornalismo e política: escândalos e relações de poder na Câmara Municipal de São Paulo (Hacker, 2004). Nesta breve entrevista, ela pondera os resultados das eleições municipais da cidade e elogia a candidatura de Guilherme Boulos do PSOL. “A formação de uma coalizão teria sido importante para fortalecer a candidatura do Boulos, com mais chance de disputar o segundo turno e mobilizar um eleitorado maior”.
VSP-O
que mais despertou a atenção da senhora nas eleições de 2020?
Vera Chaia- As eleições
municipais, na atual conjuntura foi muito diferente das eleições passadas.
Os encontros presenciais foram minimizados, os comícios que envolviam
centenas de participantes foram abolidos nesta fase da pandemia, devido a
possibilidade de contaminação do coronavírus.
A maior parte dos
atuais candidatos que disputam a prefeitura de São Paulo já são conhecidos dos
eleitores: Bruno Covas (PSDB), atual prefeito; Celso Russomanno (Republicanos),
jornalista da TV Record; Márcio França (PSB), ex-governador do estado de São
Paulo; Guilherme Boulos (PSOL), que disputou as últimas eleições presidenciais;
Jilmar Tatto (PT), ex-secretário de Transportes; Orlando Silva (PCdoB),
deputado federal, Arthur do Val, o Mamãe Falei (Patriota) youtuber e deputado
estadual, Andrea Matarazzo (PSD) e Joice Hasselmann (PSL), deputada federal e
jornalista.
VSP- A senhora acredita que as eleições
em São Paulo eram de mudança ou continuidade?
VC- Nas eleições em São
Paulo tivemos candidatos que defendiam a mudança, como Guilherme Boulos, e
candidatos que representavam a continuidade, como Bruno Covas.
VSP- Apesar de derrotado nas urnas, Guilherme Boulos e o PSOL apareceram
bastante. Boulos teve dois milhões de votos e o PSOL passou de dois para seis
vereadores. Qual é a avaliação da senhora sobre Boulos e o PSOL?
VC- Embora não tenha
ganho as eleições, considero que Boulos e o PSOL saíram vitoriosos, pois além
de ter conseguido aglutinar em torno de sua candidatura setores de esquerda
e setores progressistas, teve apoio das lideranças políticas mais
representativas na atual conjuntura política, como Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), Ciro Gomes (PDT), Flávio Dino (PCdoB) e Marina Silva (REDE). Destacamos
também o crescimento da representação do PSOL nas Câmaras Legislativas por todo
país.
VSP-
O deputado Celso Russomanno candidatou-se pela terceira vez a um cargo
executivo sem sucesso. Como será o futuro dele na avaliação da senhora?
VC- O deputado federal Celso
Russomanno poderá se candidatar a cargos legislativos, mas não terá força
política para concorrer de novo para eleições para cargos executivos. Também
deve continuar atuando como jornalista na Rede Record.
VSP- O Partido dos Trabalhadores decidiu
ter uma candidatura própria sem apoiar Boulos desde o primeiro turno. Na
avaliação da senhora isso alterou o quadro?
VC- A formação de uma
coalizão teria sido importante para fortalecer a candidatura do Boulos, com
mais chance de disputar o segundo turno e mobilizar um eleitorado maior. Desde
o início, era perceptível que o candidato do PT, o ex-secretário Jilmar Tatto,
não tinha condições de vencer.
VSP- A figura mais fleumática e recatada do Bruno Covas chamou atenção. Qual a
avaliação que a senhora faz da candidatura dele?
VC- Bruno Covas além de
defender a sua reeleição, representava a continuidade e passou uma imagem de
político contido, pragmático, e sem emoção.
VSP- O Márcio França conseguiu a terceira posição. Apesar de filiado ao PSB,
ele teve momentos mais próximos dos tucanos e outros dos petistas. A senhor
acredita que ele é um candidato de centro? Qual será o futuro dele?
VC- Márcio França ainda
deve disputar cargos executivos em outras eleições, pois possui um potencial de
liderança política grande. Quando disputou as eleições para o governo de São
Paulo, não contou com o apoio do PSOL, daí a resistência em apoiar Boulos no
segundo turno das eleições municipais. Mesmo assim, parte do PSB e o próprio
PDT que eram da coligação de França declararam apoio à candidatura do Boulos.
VSP-
A senhora é a autora de uma obra de referência nas Ciências Sociais referente
ao ex-presidente Jânio Quadros. A senhor vê algum político atual ser parecido
com ele? Ou ter traços dele?
VC- O Jânio Quadros era
autoritário, centralizador, crítico da democracia, fazia uso dos partidos
políticos somente para disputar eleições, além de ter uma postura ambígua no
seu comportamento político enquanto governante. Podemos encontrar traços no
estilo de liderança de alguns políticos. Difícil precisar algum político. Jânio
era único na sua postura e na sua atuação.
VSP- Na opinião da senhora, quais eram
os pontos mais fortes do Jânio que os políticos de hoje não tem mais?
VC- Jânio era muito bem
informado e atuava com muita ironia e perspicácia. Ele tinha resposta para
todas as situações.
VSP- Prever o futuro é difícil. Qual é a expectativa da senhora do futuro
governo Covas e da atual legislatura da Câmara de Vereadores?
VC- Bruno Covas alcançou um voo próprio, se distanciando um pouco de João Doria. Deve contar com a maioria dos parlamentares da Câmara Municipal de São Paulo.
Um comentário:
Excelente !
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