terça-feira, 13 de julho de 2021

VSP comenta o cinema brasileiro atual: "Entre Irmãs" (2017)

 Entre Irmãs” *** (Brasil, 2017, ficção, direção: Breno Silveira)

O cineasta Breno Silveira vem construindo um tipo de trabalho recorrente em sua obra cinematográfica. São filmes acadêmicos muito bem produzidos que muitas vezes desaguam para o melodrama. Este já é o quinto longa-metragem de sua filmografia como realizador: “Entre Irmãs”, lançado originalmente 2017 e lançado como minissérie no ano seguinte na TV Globo. Trata-se de um trabalho impecável quando falamos em padrões técnicos seja na direção de atores, fotografia, reconstituição de época, música e som. É um filme acadêmico de produção enxuta com um elenco estrelar. “Entre Irmãs” é baseado num romance da autora Frances de Pontes Peebles e reconta a trajetória de duas irmãs no Pernambuco dos anos 1930: Luzia (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano). As duas moram com a tia num sítio no agreste pernambucano até que precisam se separar. Luzia segue um bando de cangaceiros e Emília se casa chegando na alta sociedade recifense.

As duas histórias seguem paralelas muito diferentes mas de maneira melodramática. Na vida instável dentro do bando de cangaço, Luzia inicia um romance com o líder do grupo, o cangaceiro Carcará (Júlio Machado) e vai se tornando uma espécie de Maria Bonita do grupo. Já Emília casa-se com o jovem advogado Degas (Rômulo Estrela) que não tem grande paixão por ela. As duas estão submetidas a histórias problemáticas. As histórias desenvolvem-se de maneira eficaz. Um dos personagens que mais chama atenção é o sogro de Emília, o médico cientificista Doutor Duarte (Cláudio Jaborandy, excelente) que defende a frenologia, pseudociência que investiga o tamanho dos cérebros das pessoas. Essa foi uma linha de pensamento muito desenvolvida no mundo e principalmente no Brasil do Século XIX. Esse pensamento baseou muitas teorias racistas e preconceituosas elaboradas pelo médico italiano César Lombroso e defendida por inúmeros teóricos brasileiros como o médico Nina Rodrigues (1862-1906). A atriz Letícia Colin também tem uma participação marcante na película como uma mulher mais madura que Emília e amiga de infância de Degas.

Entre Irmãs é um tanto longo. São quase três horas do longa-metragem que conduz um melodrama ás vezes muito esquemático, meio novelão. Mas Breno Silveira sabe dirigir atores e vem tornando-se um realizador acadêmico com talento inegável. É um filme que atinge o grande público e demonstra a segurança de Silveira em saber contar uma história. O melodrama parece ser seu gênero preferido desde seu primeiro longa como diretor: Os 2 Filhos de Francisco (2005), filme baseado na história da dupla Zezé Di Camargo e Luciano que teve mais de 5 milhões de espectadores em seu lançamento.


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