sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Grandes matérias esportivas do Jornal da República: “O Juventus dava de 3 a 0. Até que...” (19/11/1979)

PORTUGUESA 3, JUVENTUS 3


O Juventus dava de 3 a 0. Até que...



A torcida da Portuguesa estava indo embora. Mas aí a Lusa empatou – e quase venceu o jogo

 

FRANCISCO MALFITANI

 

Exatamente aos 14 minutos do segundo tempo do jogo Portuguesa e Juventus, ontem pela manhã, no Parque Antártica, boa parte da torcida lusa se levantou dos degraus de cimento da arquibancada e indignada, acenando com os braços, berrou: “Bamos embora, bamos embora”. É que o pequeno ponta-direita Mica, do Juventus, acabava de fazer 3 a o para o seu time levando ao desespero os manuéis e joaquins presentes, que descarregavam a sua raiva sobre os jogadores e dirigentes da Portuguesa.

Mas os que foram mais pacientes e não deixaram o estádio certamente não se arrependeram. Aos 26, aos 32 e aos 42 minutos, puderam vibrar intensamente com os três gols de sua querida “burra”, que aplicou no Juventus uma estilingada ao melhor estilo do “Moleque Travesso”.

Um corintiano, nas arquibancadas do Parque Antártica, pulava e gritava como o mais fanático torcedor da Lusa, no momento que esta empatou o jogo. “Isto é bom para este time do Juventus experimentar do seu próprio veneno. No ano passado eles desclassificaram o meu Corinthians, virando o jogo de 2x0 para 3x2”, disse ele.

Portuguesa e Juventus foi, de fato, um jogo de muitas emoções. No primeiro tempo, o time da Mooca dominou a partida, com Russo destruindo as jogadas da Lusa e Cézar construindo os melhores lances do Juventus. Já aos 7 minutos, o centroavante Tatá cabeceava na trave do goleiro Everton. Daí até os 29 minutos, quando Mica de pênalti, fez o primeiro gol da partida, as melhores chances de gol estiveram sempre com o Juventus.

Tocando a bola e se deslocando muito, o meio de campo e o ataque juventino deixavam maluca a defesa da Lusa. No segundo tempo, Enéas perdeu um gol cara a cara com Colonezi. Mas o Juventus continuava a mandar na partida.

Aos 14 minutos, Tatá, de cabeça, depois de um escanteio cobrado por Toninho Vanusa, fez 2 a 0 para o Juventus. E aos 16, Mica, num contra-ataque, fazia pular de alegria à torcida do Juventus, composta de pouco mais de uma dúzia de gatos-pingados.

Neste momento, quase a metade da torcida da Portuguesa se retirava do estádio, e o técnico João Avelino colocava Rui Lima e Cacá em campo, em lugar dos inoperantes Eudes e Zair.

Aí deu a louca no time da Portuguesa. As duas substituições, mas a vergonha de estar perdendo de 3 a 0 para o Juventus, fizeram o time de Enéas acordar e correr como nunca.

O Juventus se encolheu, mas a tática de jogar atrás já não dava mais resultados. O time estava sem pernas, neste encalorado domingo e não aguentava a pressão do adversário. Aos 26 minutos, Enéas fazia o primeiro gol da Lusa. Seis minutos depois, outra vez Enéas, de voleio na pequena área, fazia o segundo gol. Aí a torcida já se agitou nas arquibancadas. E quando, aos 42 minutos, o novato Cacá empatou o jogo empurrando a bola para dentro do gol, na saída de Colonezi, a “portuguesada” explodia de alegria.

Não parecia verdade, seu time tinha conseguido virar o jogo. A respiração de todos no estádio, no entanto, continuou presa até o apito final de Romualdo, pois ainda no último lance do jogo Cézar chutou uma bola na trave de Everton, que, batido, ainda viu no rebote Tatá chutar para fora com o gol aberto a sua frente.

“Chega” – desabafou um português ao final da partida – “mais um jogo como este, e lá na padaria não vão ter que arrumar outro para ficar no caixa, pois meu coração não aguenta”.

 

O JOGO FOI ASSIM:

Portuguesa: Everton; Edson, Daniel Gonzáles, Bolívar e Toninho; Luciano, Eudes (Rui Lima) e Enéas; Zair (Cacá), Caio e Faísca.

Juventus: Colonezi; Deodoro, Fagundes, Leiz e Bizi; Russi, Toninho Vanusa e Cézar; Mica, Tatá e Cuca.

Renda: Cr$ 241.430.000 com 4.582 pagantes e 848 menores.

Juiz: Romualdo Arppi Filho

Gols: Mica aos 29 minutos do primeiro tempo; no segundo tempo, Tatá aos 14, Mica aos 16, Enéas aos 26 e aos 32 e Cacá aos 42 minutos.

 

Publicado originalmente no “Jornal da República” em 19 de novembro de 1979, edição 72


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