Por Tony de Sousa
Rua do Triunfo, polo de produção cinematográfico entre as décadas de 1960 e 1980. Foto: Matheus Trunk
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Eligê levou-me à Boca
do Cinema e começou a me apresentar a uns caras para ver se eu arranjava um
emprego. Ele havia conseguido rearmar o esquema para continuar o filem dele,
mas o novo produtor não quis saber de ninguém da equipe inicial. Um desses
caras a quem ele me apresentou chamava-se Luiggi Nevada. Apesar desse nome meio
italiano, ele parecia mesmo era um alemão. Não um alemão puro. Tinha os olhos
bem azuis, a pele branca e o cabelo ruim. A pele do rosto bem estragada. Talvez
tenha tido catapora ou doença semelhante quando criança que provocou aquele
estrago em seu rosto. Eligê me apresentou a ele dizendo:
“Luiggi, esse é Antoninho Silva, está
morando comigo. Pessoa de confiança, viu? Queria
que você arranjasse um trabalho para ele.”
Luiggi me encarou de cima a baixo e perguntou:
“Você faz o que exatamente?”
“Bem, eu sou ator. Mas estou querendo trabalhar na
técnica...”
“Faz o seguinte: dê uma chegada no meu escritório e a
gente conversa.”
E me entregou um cartão. Fui no mesmo dia. Ficava em um
prédio no número 134 da Rua do Triumpho, no nono andar.
Assim que cheguei na sala indicava vi escrito na porta:
“SINDICATO DOS PRODUTORES CINEMATOGRÁFICOS. ENTRE SEM BATER”. A sala tinha
várias divisórias e Luiggi estava sentado atrás de uma mesa em uma dessas
divisórias. Pensei comigo: “se eu não arranjar um emprego numa fita por aqui,
onde mais posso arranjar? Afinal, estou no sindicato dos produtores!”
Luiggi me mandou sentar e foi logo perguntando:
“O que você fazia antes de ser ator?”
“Trabalhava num banco.”
“E antes do banco?”
“Servi a Aeronáutica por três anos.”
“Então você sabe o que é disciplina?”
“Sei.”
“Fez muito plantão?”
“Fiz.”
“Então não vai ter dificuldade com o trabalho que eu
tenho para oferecer.”
“Que trabalho que é?”
“Fiscal de porta de cinema”
“Como que é isso?”
“Os donos de sala de cinema costumam burlar os
produtores na bilheteria, fazendo um tal de rodízio. O que é isso? Eles pegam
os ingressos do pessoal que está entrando no cinema, e em vez de rasgar e jogar
na urna, levam de volta para bilheteria. Vendem de novo o mesmo ingresso que a
máquina já registrou. Tá entendendo?”
“E o que eu tenho que fazer?”
“Ficar plantado junto a catraca e olhar se o cara rasga
mesmo o ingresso e joga na urna.”
“Quanto tempo?”
“O tempo que durar as sessões. Geralmente elas começam
as 14 e vão até 22”.
“E quanto se paga por isso?”
Nevada falou o valor. Para facilitar vou falar quanto
correspondia em dólar. Uns vinte e cinco dólares por diária. Eu não estava em
condições de recusar a oferta. Disse:
“Ok. Quando começo?”
“Hoje mesmo.”
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Nevada mandou-me para o Cine Ipiranga, próximo a famosa
esquina da Avenida São João. Estava passando o filme Amor Cigano com Syd Magaldi. Adiantou-me uns trocados para lanche e
almoço e recomendou: “Faça de conta que você está de plantão no serviço
militar. Não arrede o pé da catraca. Se tiver que ir ao banheiro procure ir
após o início da sessão. Não entre na onda dos gerentes do cinema. Eles são
cheios de truques para desviar a atenção do fiscal. Uma vez mandei um fiscal
para um cinema de interior, e bem de horário de pico da sessão os caras
simularam uma batida de carro em frente ao cinema. E arrolaram o fiscal como
testemunha. Levaram o cara para delegacia e deram uma canseira nele. Só liberam
depois do término da última sessão. Então fique esperto! Não aceite presentinho
de gerente, aquela história de chamar para tomar um café...Cuidado!”
Segui as instruções de Nevada direitinho. Assim que
cheguei ao cinema, ainda cedo, faltando quase uma hora para o início da
primeira sessão, havia uma pequena multidão de fãs do Magaldi fazendo o maior
auê na porta do cinema. Lembrei-me da história que nevada havia contado e
comecei a suspeitar que aquilo fosse uma armação. As garotas perguntavam a todo
instante que hora que o Magaldi ia chegar. Nevada não havia me falado dessa
história do Magaldi aparecer no cinema. Ele era um tipo que cantava e dançava
umas músicas ciganas e fazia muito sucesso. Então eu ficava só esperando o
momento em que alguma daquelas garotas ia fingir que matava a outra e me
apontar como testemunha. O que era mais suspeito na atitude delas é que não compravam
ingresso. Ficavam do lado de fora fazendo barulho. Lá pras tantas, para minha
surpresa, o Magaldi realmente apareceu, vestido a caráter, acompanhado por um
séquito de seguranças. As garotas avançaram em cima dele, que mesmo sendo um
tipo avantajado de quase dois metros, ajudado por vários seguranças, levou um
tempão para se livrar delas e entrar no cinema. Quando finalmente conseguiu, o
gerente do cinema veio na direção dele cumprimenta-lo e fazer um pouco de média
e ele sem perda de tempo foi logo perguntando:
“Onde está o fiscal?”
O gerente apontou na minha direção. Ele veio
cumprimentar-me efusivamente, elogiou o meu trabalho, pediu que continuasse
alerta, e no final, quando estendeu a mão para se despedir, olhou para mim com
ar de interrogação.
“Escuta, a gente já se viu antes?”
“É possível! Andei fazendo umas peças de teatro. Umas
pontas nuns filmes.”
“Não, mas não é do teatro nem do cinema que eu te
conheço não. Deixa pra lá. Olha cara, faz o teu serviço direitinho que se essa
fita der certo, eu e o produtor Pedrinho Ronai vamos fazer outras e quem sabe
pinta um papel de ator pra você...”
“Pode deixar.”
Todo mundo no cinema ficou bobo com a atenção que o
cara me deu. Com o tempo que gastou conversando comigo.
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A segunda fita que Nevada me arranjou para fiscalizar
chamava-se Amor Bandoleiro. Segundo
ele, o produtor dessa fita era o mais importante do país. Luca Baeta. Eu levava
tão a sério o meu trabalho de fiscal que não cedia à tentação de ir dar uma
olhada na fita de vez em quando. Ficava grudado na catraca de olho nos
movimentos do porteiro. Sabia que o roteiro tinha sido escrito pelo grande
Leopoldo Serran. Ele e o José Louzeiro eram minhas referências de bons
roteiristas. Todos filmes que tinha roteiro deles eu gostava. Meu sonho era um
dia chegar a ser um roteirista tão bom quanto eles. Mas a fita, essa fita, Amor Bandoleiro eu só iria assistir
tempos depois, quando já não era mais fiscal de porta de cinema.
Dessa vez, quem apareceu para conferir se eu estava
fiscalizando direito foi o próprio produtor da fita, Luca Baeta. Me chamou num
canto, me cumprimentou pelo trabalho e pediu:
“Sei que não é sua função, mas queria que você
observasse se as pessoas que saem do cinema estão reclamando do som. O som desse
filme foi mixado na França. Está perfeito. Acontece que alguns donos de cinema,
deixam os projetores desregulados e povo bota a culpa na qualidade do som do
filme brasileiro.”
Eu tinha uma opinião sobre o assunto, mas minha humilde
condição de fiscal deixava-me temeroso de externa-la.
“O que você acha?”, ele perguntou.
Aí eu não tive dúvida:
“Para ser sincero, eu acho que existe as duas coisas.
Existe isso aí que o senhor falou, do som do projetor desregulado, até porque a
maioria dos filmes que eles exibem são filmes estrangeiros com legenda, e as
pessoas acabam não se ligando muito no som dos diálogos, mas existe também
filme brasileiro cujo som é mesmo uma porcaria!”
Ele olhou para mim meio espantado.
“O que você fazia antes de ser fiscal?”
“Trabalhava em teatro. Mas larguei tudo pelo cinema.”
“Faz o seguinte: aqui está o meu cartão. Me ligue se
perceber qualquer coisa.”
E me deu um cartão da Luca Baeta Produções
Cinematográficas. Pensei comigo: “Tá vendo Antoninho Silva, como Deus escreve
certo por linhas tortas? Na condição de um humilde fiscal de porta de cinema
você em pouco tempo entrou em contato com duas figuras importantes do mundo
artístico. Syd Magaldi e Luca Baeta. Se continuar assim não duvido que vá parar
em Hollywood.”
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Luiggi Nevada me explicou que o trabalho de fiscal de
porta de cinema era uma coisa meio sazonal. Usou esse termo. Eu entendi o que
ele queria dizer, mas achei que ele não sabia direito o significado dessa
palavra. “É melhor você ir procurando outra coisa. Não é sempre que tem fita
pra fiscalizar. Algumas distribuidoras têm seus próprios fiscais. Assim como há
produtor que tem fiscais contratados fixos, com registro em carteira. Mazzaropi
é um deles. Mas seu negócio não é ser fiscal a vida inteira, né? Sei que você
tem outras ambições.”, e me mandou fiscalizar o reprise de Guerra nas Estrelas, de George Lucas que estava passando no Cine
Belas Artes. Eu já conhecia a fita, tinha assistido na estreia, achando legal e
tudo mais.
Segui o mesmo esquema rígido das outras vezes. Me
plantei ao lado da catraca e não desgrudava os olhos dos gestos do porteiro.
Fiquei assim um tempão, e tudo corria na santa paz, sem contratempos. Até
divaguei com um pensamento idiota do tipo “Já pensou se o George Lucas me
aparece aqui”. E terminava com o grande produtor e diretor americano me
convidando para ir “pros esteites” trabalhar com ele. Estava nessa divagação
idiota quando vi de repente, na fila que se formava lá fora para comprar
ingressos, a figura inconfundível de Linda Lindiane. Aquela garota de pele de
porcelana, cabelos encaracolados, franjinha rente à testa, meias três quartos,
olhar doce e penetrante. Era minha fã no teatro. Tinha ido assistir O Último
Trem três vezes “só pra me ver”. Afastei-me rapidamente da catraca antes que
ela percebesse que eu estava ali e entrei meio atordoado no banheiro. Fiquei lá
um tempão fazendo hora para ver se quando saísse Linda Lindiane já tivesse
entrado na sala de exibição, mas para minha sorte ou azar, assim que botei os
pés de volta no saguão de entrada, um imã invisível a arrastou na minha
direção. Logo que me viu veio correndo me abraçar.
“Puxa! Que coincidência! Eu estava mesmo pensando em
você! Foi você que indicou esse filme, lembra?”
“Foi?”
“Nossa! Não lembra? Você falou de um jeito! Parecia até
um especialista no assunto, um entendido, um erudito!”
“Assim você me deixa sem graça.”
“Verdade. Você falou de um jeito muito legal. Não só
desse filme, mas de outros. De coisas que só você consegue ver num filme. Acho
que descobri o seu segredo. Você assiste ao mesmo filme várias vezes, pelo
jeito. Sabe, você devia mesmo fazer cinema. Falar nisso, como andam seus
projetos? Você tinha largado o teatro para tentar o cinema...ah, se você não se
importa, vamos entrar e procurar um lugar pra sentar.”
Eu olhava para o porteiro que estava a uma certa
distância de onde nos encontrávamos e ele parecia bastante satisfeito com a
minha ausência. Devia estar juntando um monte de ingressos na mão para
repassá-los de volta à bilheteira. O tal do “rodízio”. Lindiane percebeu meu ar
de preocupação e olhadas na direção da porta de entrada.
“Você está esperando alguém?”
“Não, não.”
“Desculpe, eu não gosto de sentar nem muito na frente
nem muito atrás, nem nas laterais. Gosto do meio. Vamos entrar logo e ver se
achamos um lugar.”
Ela não era do tipo que usava perfumes fortes, mas
parecia ter acabado de sair do banho e cheirava a sabonete. Me digam, o que
vocês fariam no meu lugar? Não me venham com demagogia do tipo “cumprimento do
dever” ou algo do gênero.
Sem muito esforço fui deixando que ela me arrastasse
para dentro da sala de cinema e em pouco tempo estávamos grudados um no outro,
esquecendo que em volta havia uma enormidade de pessoas e um filme sendo
exibido.
Luiggi Nevada chegou assim que a sessão começou e ficou
um tempo esperando para ver se eu aparecia. Quase uma hora. Isso me disse
quando acertou minhas contas e deixou claro que se dependesse dele, de fiscal
de porte de cinema eu não trabalharia mais. E espalhou para todos os caras que
contratavam fiscais que eu não era pessoa de confiança.
9
Com os trocados que recebi pelo trabalho de fiscal de
porte de cinema, aliviei meu acerto de contras com Eligê, mas logo ele voltou a
pegar no meu pé para encontrar um outro emprego. Foi quando fiquei sabendo que
a MM Produções estava contratando gente para a produção de um seriado para
televisão sobre o Marechal Rondon. Esse episódio eu já narrei no livro O
Perseguidor de Fantasmas e aqui vou contar apenas um fato que não está nele.
Meu trabalho era organizar pilhas e pilhas de recortes
de jornais e revistas em arquivos. Só tinha horário para entrar. A hora de sair
dependia do humor do meu patrão Mário Mago. Ele havia combinado me pagar um
salário mínimo por mês no período de preparação da produção e assim que
começassem as filmagens, pagaria a tabela do sindicato de acordo com a função
que eu fosse exercer.
Eu estava nesse serviço insano de organizar essas
pilhas de recortes que Mister M me trazia todos os dias, quando entra no
escritório um cara quase tão gordo quanto meu patrão. Para vocês terem uma
ideia, Mister M ou Mário Mago deviam pesar cento e oitenta quilos. Esse outro
gordo que entrou no escritório era daquele tipo que afina em cima e embaixo. E
tinha a barriga um pouco saliente. Ficou me encarando um tempo e perguntou:
“Você é estudante do curso de cinema da ECA, meu filho?”
“Não.”
“Mas parece.”
“Eu sou autodidata.”
“Vocês metidos a intelectuais têm todos a mesma cara.
Já que você parece um menino estudado, me responsa essa pergunta: quem inventou
o cinema?”
“Pelo que eu sei não foi apenas uma pessoa que inventou
o cinema. Foram vários inventores.”
“Quem?”
“Thomas Edison, Os irmãos Lumière, Goerge Mélçiés,
Griffith, Edwin Porter...”
“Errado!”
“Quem que o senhor acha que foi?”
“Ninguém! O cinema ainda não foi inventado, meu filho!
Isso aí que vocês chamam de cinema não é cinema.”
“O senhor fala dos filmes brasileiros?”
“Não, não. Qualquer desses estrangeiros que passam por
aí também não é cinema.”
“Puxa, e eu comprei uma briga danada com a minha
família por causa do cinema e ele ainda não foi inventado.”
“Não, não foi.”
“Então eu vou voltar para o meu emprego no Banco, e
quando inventarem o cinema...”
“Não, não precisa fazer isso, meu filho. Aqui no Mario,
você vai fazer cinema.”
“Como assim? Seu Mario vai inventar o cinema?”
“Não! Quem inventou o cinema fui eu! O Mario vai usar o
meu equipamento.”
Mario Mago veio lá de dentro com seu sotaque italianado
e foi logo falando:
“Ah Brimo! Deixa o menino trabalhar, Brimo!”
“Eu tô explicando aqui pra ele quem inventou o cinema.
Pergunte pro seu patrão sobre o aparelho que eu inventei. Vai ser uma revolução
ou não vai, Mário?”
“Sim, claro. Agora deixe o Antoninho trabalhar. Venha
aqui tomar um café.” Os dois seguiram em direção a sala de Mister M.
Na saída, Brimo Carbone passou pela mesa onde eu estava
trabalhando e deixou um cartão da Brimo Carbone Produções:
“Apareça no meu estúdio que eu vou te mostrar o
equipamento que vai revolucionar o que vocês chamam de cinema.”
Um dia fui lá conhecer. Na Barra Funda. Uns galpões
cheios de traquitanas, câmeras antigas, refletores e latas de filmes. Apesar de
estar muito ocupado, ele parou tudo para me mostrar o tal aparelho que iria
revolucionar o conceito de cinema. Por mais que me explicasse, não consegui
entender como funcionava. O curioso é que durante muito tempo, ao longo dos
anos, ele sempre me telefonava para contar coisas, novas invenções, como se eu
fosse alguém importante, uma espécie de historiador de cinema que iria revelar
ao mundo o gênio incompreendido de Brimo Carbone.
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Depois da experiência com Mário Mago, decidi que
deveria partir logo para a práxis. Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão,
como dizia Glauber Rocha. Mas cadê a câmera? Eu havia visto umas câmeras em
exibição numa loja da Galera Nova Barão, na região do centro, entre as Ruas
Sete de Abril e Barão de Itapetininga.
Essa loja pertencia a dois irmãos de origem árabe,
Salim e Saul. Salim era um tipo meio encorpado, puxado para o moreno, e tinha
estatura média. Já Saul era magro, alto, rosto anguloso e pele puxando para o
branco.
Fui falar com eles. Salim, o mais velho, que dava a
palavra final nos negócios da loja, explicou: “Essas câmeras não são nossas.
Estão aí em consignação. Algumas eu tenho autorização para usar, outras não.
Mas estou pensando em adquirir uma para fazer uns trabalhos. Uns documentários.
Talvez aquela ali (e me apontou uma câmera Mitchell seminova). Mas, por
enquanto, não posso emprestar, nem alugar.” Havia várias outras câmeras, a
maioria câmeras Super-8 e câmeras fotográficas. Umas Nikon, com cada lente de
cair o queixo.
“Escuta, vocês não me aceitariam como estagiário ou
algo do gênero?”, perguntei.
Salim se adiantou ao irmão e respondeu:
“Olha, na verdade, nosso negócio é bem pequeno. Eu e
meu irmão tocamos isso aqui numa boa. Por enquanto, não estamos precisando. Mas
passe aí outra hora, eu tô com umas ideias...Você faz o quê, exatamente?”
“Estou tentando fazer cinema. Já participei de alguns
trabalhos na Rua do Triumpho. Pequenas participações como ator, fui assistente
num filme por uma semana, mas agora quero mesmo é aprender a técnica. Lidar com
a câmera, para ser mais exato.”
“Então passe aí outra hora e vamos conversar.”
E eu passei a ir lá quase todo dia. Ficava um tempão
namorando as câmeras. Havia umas Super-i8 bem sofisticadas. Pareciam até
câmeras profissionais. Uma daquelas para aprender a fotografar, enquadrar,
fazer movimentos, já estava bom. Até que Salim me chamou um dia para tomar um
café no Massadoro, uma lanchonete e restaurante que ficava lá perto e tinha o
melhor café expresso do pedaço.
“Escuta, acho que vai pintar uma oportunidade aí pra
você. Meu irmão quer ir morar no litoral e eu estou pensando em incrementar um
pouco meu negócio. Vou contratar uma pessoa para tomar conta da loja e alguém
pra vender documentários em fábricas. Comprei uma câmera 16 milímetros, e se
você quiser, eu te ensino a lidar com ela, e você pode ser meu assistente. Só
que já te adianto: não vou poder pagar nada no início. Se a coisa for pra
frente, os documentários começarem a render alguma grana, eu passo a te pagar.”
Fiquei super feliz por um lado, pois era tudo que eu
queria naquele momento, mas muito preocupado pelo fato de Eligê continuar no
meu pé para pagar o aluguel da casa que eu dividia com ele.
Publicado originalmente em Sousa, Tony. Boca do Cinema. São Paulo: LCTE Editora, 2012.
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