quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Playboy entrevista Otávio Mesquita (março de 2012)

Playboy entrevista Otávio Mesquita (março de 2012)



Uma conversa franca com o apresentador, que completa 25 anos de televisão neste mês, sobre seu “arquirrival” Amaury Jr., jogos de pôquer com milionários, sabonete íntimo feminino, a fama de “mala” e a bunda de Silvio Santos

 

Otávio Mesquita é praticamente autossuficiente na função de entrevistado. Dono de histórias colecionadas ao longo de 25 anos na televisão (completados neste mês de março), ele por vezes parece conversar consigo mesmo. Sentado na cadeira de seu escritório em São Paulo, puxa o gravador para perto de si, imita pessoas, solta frases de efeito e conta histórias que parecem ensaiadas. Não é para menos: entrevista é algo que Mesquita conhece muito bem. Ele já entrevistou gente bêbada em bailes de Carnaval, socialites em festas badaladas e celebridades que haviam acabado de ser acordadas – por ele.

 

Filho de um corretor de imóveis e de uma microempresária, Otávio Zaneti Mesquita nasceu há 52 anos em Guarulhos, na Grande São Paulo. Seus pais se separaram quando ele tinha 12 anos, o que fez com que ele e os dois irmãos fossem alvo de chacota no colégio. “Naquela época não era divórcio, era ‘desquite’, e ser filho de desquitados nessa sociedade idiota era motivo pra bullyng”, lembra. Sorte que os tempos mudaram – o próprio Mesquita se divorciou três vezes (ele foi casado com a atriz Elisabeth Blanch, com a jornalista Janaína Barbosa e com a atriz Vanessa Machado) e hoje está no quarto casamento com a publicitária Melissa Wilman.

 

Aos 12 anos ele arranjou seu primeiro emprego: empacotador de supermercado. Quando terminou o colégio, formou-se em comunicação social na Faculdade Objetivo – instituição que, ironiza ele, “era tão boa que fechou no ano seguinte”. Durante a faculdade, trabalhou em um hotel em São Paulo. Sua função era despertar os hóspedes, recepciona-los na área do café da manhã. Mas Mesquita não durou muito no ofício: foi demitido por dormir com uma das hóspedes. Com bom papo e tato para vendas, acabou contratado como contato publicitário de um jornal de Guarulhos. De lá seguiu para a TV Bandeirantes, também como contato publicitário, mas já com a ideia, de um dia, passar na frente das câmeras. Seu plano era ser famoso. E foi no Carnaval de 1984, no Rio de Janeiro, que surgiu a oportunidade. Um dos repórteres do canal faltou à cobertura de um baile, e Mesquita foi chamado às pressas para substituí-lo. Quando as câmeras começaram a transmitir, no lugar do texto que havia decorado, Mesquita improvisou: fez gracinhas, falou das mulheres do lugar, entrou no meio do salão. “Tudo o que um repórter sério não deveria fazer”, resume. Indignado, o diretor do programa nem esperou que ele voltasse a São Paulo para demiti-lo. Para sua sorte, porém, um dos donos da emissora havia assistido á transmissão e achou tudo muito engraçado. Mesquita foi recontratado. Com esse jeito fanfarrão, realizou a cobertura dos carnavais seguintes, “só fazendo merda”, como descreve, até ser convidado pela TV Manchete, em 1987, para ter seu próprio programa: Perfil. Desde então já passou por grande parta das emissoras brasileiras: Band, Manchete, RedeTV! e SBT. Um dos maiores sucessos de sua trajetória foi o quadro Bom Dia Legal, parte do programa Domingo Legal, na década de 1990, em que invadia a casa de famosos para acordá-los. Atualmente Mesquita apresenta o programa Claquete, nas madrugadas da Band, o qual segue a fórmula criada no Perfil: cobertura de eventos e reportagens curiosas em que ele é protagonista e entrevistador.

 

Além da televisão e dos três filhos (John e Luiz Otávio, ambos de 19 anos, e Pietro, de 2), outra grande paixão do apresentador é o automobilismo – ele já competiu em diversas categorias nacionais de turismo, como a Stock Car, foi campeão da categoria Itaipava GT4 no ano passado e hoje corre na Porsche Cup.

 

Otávio Mesquita recebeu a repórter Camila Gomes para esta entrevista em sua casa de três andares no bairro do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, cuja decoração chama atenção por causa de um item excêntrico: um enorme carro de Fórmula 1 original, amarelo, pendurado na parede da sala. A Jordan 2003 pela qual o apresentador pagou “cento e poucos mil dólares” pertenceu ao piloto italiano Giancarlo Fisichella. Quando resolveu construir a casa, Mesquita chamou o arquiteto e pediu que houvesse uma parede alta o suficiente para o carro. “Minha mulher na época (Janaína Barbosa) não gostou da ideia, achou brega e disse: ‘Escolhe, ou o carro ou eu’. O carro está aí até hoje”, conta rindo.

 

Mesquita acaba de voltar de Salvador, onde fez mais uma cobertura de Carnaval – a última de sua vida, garante.

 

Qual foi a coisa mais surpreendente que você viu em todos esses anos de carnaval?

Uma vez entrei em um camarote que tinha um bando de moleques riquinhos, filhos de árabes. E tinha uma moça que estava apoiada assim (apoia-se na mesa e empina a bunda), enquanto um dos caras estava lá por trás dela, de pé! E eu entrevistei o cara assim, mas mostrando só a cara dela. E eu perguntava: “Que dança é essa que você tá fazendo?!?”, e o cara lá se mexendo. Eu ria tanto, estava achando aquilo tão sem noção... (Risos.) No fim essa cena não pôde ir ao ar, por motivos óbvios.

 

As transmissões ao vivo devem dar margens para muitas saias-justas...

Muitas! Uma vez o Ricardo Amaral deu um dos maiores foras dele ao vivo. A gente estava transmitindo o Baile das Pantera, eram 30 moças no concurso, e nós íamos fazendo comentários sobre elas. De repente entra uma menina gostosérrima e eu pergunto: “E aí Ricardo, o que você achou da candidata número 26?” E ele responde ao vivo e em rede nacional: “Ah, esta candidata não me fala ao pau!” (Risos.)

 

Foi numa dessas transmissões que aconteceu a famosa história com Cristina Prochaska?

Pois é, era final de um Carnaval da década de 1980, todo mundo bêbado. Eu e a (então apresentadora) Cristina Prochaska estávamos prestes a encerrar a transmissão quando uma mulher louca subiu em uma mesa atrás da gente e começou a dançar com os peitos de fora. Quando ela percebeu que a câmera estava filmando, arrancou também a parte de baixo da fantasia. Ficou nua em pelo! E a transmissão era ao vivo! Quando o diretor viu aquilo, gritou pro câmera dar zoom na Cristina pra tirar a moça do enquadramento: “Fecha na Prochaska!” O cara entendeu que era pra fechar a imagem na xoxota da moça! E foi dando zoom lá. Tinha um monitor ao nosso lado. Quando eu vi aquele “prochaskão” na tela, eu ria tanto que quase mijei nas calças. O diretor gritava: “Eu quero que feche na Prochaska!” Até que o câmera respondeu: “Mais que isso, só se eu entrar lá dentro!” (Risos.)


Dava pra se divertir nos bastidores depois da cobertura?

Não. Eu era muito focado e ficava acabado no final da noite. Mas nos bastidores tinha de tudo. Mulheres que queriam ser entrevistadas e vinham me fazer propostas indecentes, por exemplo.

 

Essas propostas de “suborno” não eram tentadoras?

Não, porque ali era trabalho. E eu não bebia uma gota de álcool enquanto estava trabalhando. Aliás, eu quase não bebo. Só gosto de tomar vinho, socialmente.

 

É divertido entrevistar gente bêbada?

Ah, sim, é muito mais divertido! Por isso eu me divirto tanto quando entrevisto o Amaury Jr. (risos).

 

É real a rivalidade entre você e Amaury Jr.?

Acho a concorrência saudável. E eu não tenho nenhum problema com o Amaury. Mas às vezes acho que a recíproca não é verdadeira. Eu costumava fazer um show de comédia stand-up em que eu falava, entre outros assuntos, sobre essa história de as pessoas me confundirem com o Amaury na rua. E no final eu fazia uma piada: “Sabe o que o Amaury tem mais do que eu? Ele tem mais é que se fuder!” Eu falava isso brincando, mas parece que isso chegou aos ouvidos dele e ele ficou chateado.

 

Ele chegou a tirar satisfação com você?

Não, não. O Amaury é uma pessoa que eu sempre admirei. Mas é claro que, quando você tem um programa no mesmo estilo e na mesma faixa horária, você vira concorrente. E nós brigávamos pelas pautas, pela exclusividade das festas que a gente cobria. Mas socialmente a gente se dá bem. A única bronca que eu tenho é que eu queria ser mais amigo dele e não consigo. Convido pra ir ao meu casamento e ele não vai, faço festa e ele não vem.

 

O seu programa é melhor que o de Amaury Jr.?

É mais jornalístico. O programa dele é mais comercial, de eventos, festas e essa parte social ele faz muito bem. Mas minha audiência média é maior, eu tenho mais share. São públicos diferentes. O Amaury tem um público mais velho, acima de 50 anos. Ele faz mais festas do que eu, mais merchandising. E ele está mais rico do que eu também.

 

Você já aceitou muito jabá para cobrir eventos?

Essa palavra é muito pejorativa. Não existe jabá. O que existe é o que a gente chama de cobertura “publieditorial”. Os caras pagam pelo espaço no programa. Agora, como pessoa física, nunca.

 

Na época em que você invadia a casa dos famosos para acordá-los, no Bom Dia Legal, era tudo encenação?

Era tudo combinado, mas de uma maneira maluquinha. Para acordar um artista, eu tinha de combinar com a mulher dele, então ele ficava sabendo, claro, mas o que acontecia era: se eu combinei de acordá-lo às 10 da manhã, eu chegava mais cedo, a empregada abria a porta pra mim, já que eu estava autorizado a entrar, mas, assim que ela saía da sala, eu subia para o quarto e acordava a pessoa. Então a maioria das pessoas era acordada mesmo, não era encenação. Fazia muito sucesso esse quadro. Eu cheguei a dar 27 pontos de audiência quando fui acordar o Zezé di Camargo.

 

Alguém chegou a se irritar de verdade?

Uma vez eu fui acordar o Maguila e ele ficou bem puto. Ele acordou assustado e quase subiu em cima de mim para dar porrada. E teve um ator que eu fui acordar e que estava dormindo de barriga pra cima, peladão, e devia estar com vontade de fazer xixi porque estava de pau duro! (Afasta muito as duas mãos.) E ele tinha uma piroca deste tamanho! (Risos.) Eu comecei a rir, foi um negócio maluco e não deu para aquilo ir para o ar.

 

Quem era o cara?

Isso eu não posso dizer. Era um ator da Globo, e ele me pediu para nunca contar essa história.

 

Esse programa o deixou com certa fama de “mala”. Isso o incomoda?

Essa imagem ficou em função desses programas na década de 1990. Pessoas que não me conhecem acham que eu sou aquele Otávio. Tem gente que não gosta do meu jeito de ser, acha que eu sou meio “entrão”. Mas eu sou um cara bem-humorado. E o bom humor irrita as pessoas. Cago e ainda pra quem me acha chato.

 

O que você de ver os caras do Pânico, que agora são da mesma emissora que você, fazendo essas mesmas brincadeiras, hoje? Há semelhanças entre o programa naquela época e o Pânico de hoje?

Eu acho bacana. Grande parte do que o Pânico faz hoje eu fiz na década de 1990. Hoje eu vejo e percebe que todo mundo ali tem um pouco de Otávio Mesquita. Eu brinco com isso, sou amigo deles e de vez em quando mando uma mensagem, como: “Fiz isso também, mas vocês fizeram melhor do que eu”.

 

Luciano Huck começou a carreira na TV como seu repórter. Como foi isso?

Foi em 1994. Eu lia a coluna que ele escrevia no Jornal da Tarde (de São Paulo), sobre baladas, e achava legal. Combinei com o diretor do meu programa de chamar o moleque e fazer um teste com ele. Quando ele chegou, entrou na minha sala com o cabelo curtinho e aquele puta narigão. Eu falei: “Tu é feio pra cacete, hein? Você pode ser bom escrevendo, mas não sei se vai dar certo na televisão”. Fizemos um piloto com ele, e ficou fantástico. Coloquei no ar e foi um sucesso. Tanto que, pouco depois, eu o chamei e disse: “Eu vou perder você em menos de um ano”. E foi dito e feito. Sete meses depois ele foi chamado para fazer um programa na TV Gazeta. Isso pra mim é uma honra. Sempre vi no Luciano um talento incrível.

 

Tem alguma coisa da qual você se arrepende nesses 25 anos de carreira?

Talvez tenha um arrependimento: eu deveria ter ido para a Globo quando recebi um convite deles em 1998.

 

E não foi por quê?

Por questões financeiras. O salário era baixo. Foi a Marlene Mattos que me chamou. Era para participar de um quadro no programa da Xuxa fazendo perguntas capciosas para os entrevistados. Eu cheguei a ter uma reunião lá, mas acabou não fluindo por questões financeiras. Naquela época eu ganhava bem no SBT, ganhava o equivalente a 100 000 dólares quando o dólar estava supervalorizado. A melhor fase financeira da minha vida foi no SBT, foi lá que eu fiz meu pé de meia.

 

Como foi trabalhar com Silvio Santos? Ele é mesmo um carrasco com os funcionários dele?

Não acho. Comigo ele sempre foi ótimo. Ele é um cara muito engraçado. Inclusive, eu fui o único cara que pegou na bunda do Silvio Santos na história da televisão. Foi quando ele foi homenageado por uma escola de samba no Rio de Janeiro. Na hora de subir no carro alegórico, que era alto, eu estava lá e fui ajuda-lo, junto com os seguranças. Peguei bem na bunda do Silvio para levantá-lo e gritei: “Gente, estou vendo a porta da esperança” (Risos). Ele ria como uma criança.

 

E como é a bunda do Silvio Santos?

Ah, é bem durinha, firma... É uma bunda muito boa de pegar (risos).

 

Se a Globo te chamasse hoje, então, você iria sem olhar para trás?

Depende. Eu sou profissional, teria de analisar a proposta. Hoje minha situação na Band é muito bacana. Então eu prefiro ficar na minha, não tenho mais idade pra ficar mudando de uma emissora pra outra. Meu programa está no ar há tanto tempo que dá 2 pontos de audiência e fatura 2 milhões e meio por mês. Não adianta só dar audiência. O João Kléber, por exemplo, dava audiência, mas não faturava um cacete, então não serve.

 

O que existe de melhor hoje na televisão brasileira?

Eu quase não vejo televisão. Eu brinco que sou pago pra fazer televisão e que, se quiserem que eu assista, têm de pagar mais. Quando eu assisto, são os canais a cabo que mais me apetecem como o History Channel, o Animal Planet, o Speed, que é um canal de corrida e os de esporte.

 

Não é curioso que a maioria das pessoas que fazem televisão no Brasil não assista aos canais abertos?

Tem uma justificativa pra isso: quem vê televisão? É o povão, é a grande massa. Então a nossa finalidade é fazer produtos populares para ter audiência. É por isso que a Globo tem coisas como o Zorra Total, por exemplo. As pessoas não querem ver programas de música erudita. Tem agora o Mulheres Ricas, que eu acho um programa muito engraçado. Se você for ver esse programa com uma postura crítica, você vai vomitar. Mas, se você assistir como diversão, você morre de dar risada. Esse programa dá uma puta audiência porque os caras acertaram a mão. Isso é saber fazer televisão.

 

E o que tem de pior na TV brasileira?

Ah, tanta coisa... Os reality shows, por exemplo.

 

O Big Brother Brasil, por exemplo?

Não vi nem um capítulo. A única coisa boa do Big Brother é o Boninho, que eu acho um cara muito inteligente. Ele está tentando salvar um produto que, na minha opinião, já era. Acho o fim da minha.

 

Você é amigo de Marcelo de Carvalho, um dos donos da RedeTV! e marido da Luciana Gimenez, mas há alguns anos vocês se processaram mutualmente por danos morais. Que história foi essa?

Quando eu recebi um convite para ir para Band, em 2004, saí da RedeTV!. o Marcelo ficou puto com isso e mandou uma carta para dez amigos meus, todos gente importante, acabando comigo. E eu fiquei muito chateado com aquilo e o processei por calúnia e difamação. Daí a revista CONTIGO! (da Editora Abril, que publica PLAYBOY) em entrevistou sobre o caso, e eu o chamei de “moleque”, então me processou também. Foi uma briga de criança, a gente começou a ter essa discussão jurídica que foi crescendo. Eu acabei ganhando a ação em primeira instância, ele iria recorrer, até que eu liguei pra ele e falei: “Vamos parar com essa merda? Nós não temos idade pra isso. Eu te admiro, nós ainda vamos precisar um do outro no futuro e eu não quero receber nada de você”. Aí a gente se encontrou, deu risada e acabou com isso.

 

Você vive indo para Miami, joga pôquer e golfe com milionários, é amigo do (publicitário e apresentador) Roberto Justus e está sempre na revista Caras. Parece a vida dos sonhos de qualquer playboy.

Minha vida é zero de playboy. Parece, mas não é. Primeiro porque o que eu tenho é fruto do meu trabalho. Eu vou pra Miami em família uma vez por ano. Normal. Todo mundo tem de ter um esporte. Os meus são automobilismo e golfe. O golfe, está se popularizando, e no automobilismo eu tenho meus patrocinadores.

 

Com quem você já joga pôquer?

Ali está uma coisa interessante. (Aponta para um cheque de 400 reais de Rubinho Barrichello enquadrado na parede.) É de quando o Rubinho perdeu pra mim. Além dele, eu jogo com o Felipe Massa, o Cacá Bueno. Já joguei com o Ronaldo Fenômeno, que levou uma traulitada. E a Lucília Diniz. Olha aqui o que eu ganhei da Lucília. (Mostra uma caixa cheia de fichas de pôquer com o rosto dele estampado.)

 

Já perdeu muito dinheiro no pôquer?

Não jogo fortunas. A gente joga pra brincar. Se perder 1 000 reais, é muito.

 

De onde vem a maior parte da sua renda?

Vem da minha carreira como garoto de programa (risos). Eu diria que é 50% da televisão, 25% do automobilismo e os outros 25% são projetos de mídia alternativos. Eu faço business to business, coloco pessoas em contato para fazer grandes negócios. Claro que não dá pra citar nomes porque envolvem grandes empresas e eu ganho comissões. Você disse certa vez que seu sonho de consumo era ter um helicóptero. Já conseguiu realizá-lo? Não, e pelo jeito não vou realizar. Prefiro alugar um quando eu preciso. E tenho sorte de ter muitos amigos que tem helicópteros, o que me ajuda um pouco.

 

Alguma vez você já desconfiou que uma mulher estivesse mais interessada no seu dinheiro do que em você?

Sempre me passou pela cabeça isso, mas, nos três casamentos que eu tive...

 

Não foram quatro?

Ah, sim, quatro...E depois do primeiro eu sempre tive a preocupação de proteger meu patrimônio, então sempre casei com separação total de bens e pacto pré-nupcial, mas, mesmo assim, no meu segundo casamento, com a Vanessa (Machado) e no terceiro com a Janaína (Barbosa), mesmo sem a obrigação de dar a elas absolutamente nada, em ambos os casos eu dei um apartamento, pensão durante um ano e um carro pra cada uma. E não porque eu precisasse fazer isso, mas porque eu me considero um bom caráter. A Vanessa, por exemplo, quando casou comigo tinha 21 anos, então a gente se separou e fiz questão de ajudá-la.

 

Falando nisso, você sempre se relacionou com mulheres bem mais jovens... É mais fácil agradá-las quando elas não têm tanta experiência da vida?

Teoricamente, sim, mas eu não costumo agradá-las com presentes, mas com atitudes. Sempre fui um cara romântico. Pedi a Melissa em casamento com um bilhete levado por um pombo-correio.

 

Você já foi casado quatro vezes. Em todas achou que era para sempre?

Sim. Ninguém se casa para se separar. Mas a vida da gente vai para caminhos que a gente não sabe. E minha profissão é muito complicada. No meu primeiro casamento eu era um pouco mais louquinho, tanto é que acabei assumindo um filho fora do casamento. Mas a hoje a Melissa tem um homem-padrão, porque todas as merdas que eu tinha que fazer eu já fiz.

 

Você tem dois filhos da mesma idade (19 anos), mas de mulheres diferentes. Conte essa história.

Foi na época em que eu era meio doidinho, muito moleque, imaturo, irresponsável. Eu tive um filho no meu primeiro casamento e, quando me separei, descobri que eu tinha outro filho da mesma idade (ambos tinham 2 anos da época) de outra mulher com quem eu fiquei uma vez só.

 

É verdade que esse deslize aconteceu em uma despedida de solteiro?

Não. Foi em uma época próxima disso. Foi uma falha minha, e eu me arrependo muito, não pelo meu filho, claro, mas porque fui muito babaca e dei uma escorregada. Mas, quando vi que era mesmo meu filho, foi o melhor presente que eu tive na vida.

 

Você foi muito mulherengo quando era solteiro?

Eu era pegador, mas sempre fui uma pessoa correta. Nunca saí com garotas de programa, por exemplo.

 

Você nunca se relacionou com prostitutas?

Não que eu saiba (risos). Nada contra, mas nunca paguei uma mulher porque não consigo fazer sexo só por transar. Não sou santo, mas não é meu estilo.

 

Como foi sua primeira vez?

Na verdade, eu tive duas primeiras vezes...

 

Uma com homem e outra com mulher?

(Risos.) Não, eu nunca tive relações homossexuais, se você quer saber. Mas não sou nem um pouco homofóbico, adoro os gays, comecei minha carreira fazendo a cobertura do Gala Gay.

 

Mas é de se imaginar que você tenha levado muitas cantadas de homens na época dos bailes gays, não?

Fui assediado, mas todo mundo sabe que eu não sou gay, então é um assédio carinhoso.

 

Mas voltemos à sua primeira vez.

Eu tinha 14 anos, estava jogando bola, e a bola caiu no quintal de uma vizinha. Quando fui buscar, vi que era uma mulher linda. Ela tinha 48 anos, mas era professora de educação física e tinha um corpão. Eu estava muito suado, e ela me ofereceu um copo d´água e perguntou se eu não queria tomar banho antes de ir pra casa. Eu aceitei. E quando terminei, eu entrei no quarto e ela começou a enxugar a minha cabeça e meu corpo, e eu fui deixando. E assim foi. Mas tudo foi com muito carinho, sem sacanagem. Foi a primeira mulher que eu vi nua, o primeiro sexo, o primeiro orgasmo e a primeira paixão da minha vida. Fiquei um ano apaixonado, até repeti de ano por causa disso. Mas minha mãe descobriu e foi uma cagada. E nunca mais a vi. Agora, corta a cena, pula para 2008: eu estava no shopping e vi uma senhorinha de uns 80 anos vindo na minha direção, mas não a reconheci. De repente ela chegou perto de mim, segurou na minha mão e me chamou pelo apelido de infância – Mesquitinha. Quando entendi que era a primeira mulher, meu olhou encheu de lágrimas e eu dei um abraço nela, um dos abraços mais ternos da minha vida (Otávio fica emocionado).

 

Essa história é real? Está parecendo coisa de filme...

É claro que eu contei a você de uma maneira um pouco mais poética, mas aconteceu. Eu não inventaria uma bobagem dessas.

 

Por que você disse que teve duas primeiras vezes?

Porque com ela só transei duas ou três vezes. Com a segunda menina é que foi mais sexo mesmo. Era uma namoradinha de São José dos Campos (no interior de São Paulo). E foi aí que realmente começou minha vida sexual.

 

Em entrevista à CONTIGO!, você disse que sua cor favorita é “azul Viagra”. Você gosta tanto assim?

(Risos.) Claro, já experimentei e acho ótimo! Quando você chega aos 50 anos não dá pra dizer que tem a mesma atividade sexual de um moleque de 20. Mas já broxei aos 20, aos 30, aos 50, e isso não faz de mim mais ou menos homem. Esses medicamentos dão uma força. Não é sempre que eu uso, mas, nas vezes em que recorri a eles, por curiosidade ou pra me divertir mais com a minha mulher, foi ótimo! E acho que os homens têm de parar com essa hipocrisia de dizer que não compram, que não usam.

 

É verdade que você costumava frequentar um clube liberal no Caribe?

Não, eu fui fazer uma matéria lá quando trabalhava no SBT, chamava-se Hedonism e ficava em Negril, na Jamaica. E é muito divertido, um negócio maluco. Eu estava casado com a Vanessa, ela foi comigo, mas a gente não fez troca de casal. Eu fiquei lá vendo, namorei com a minha mulher, mas não tive essa experiência de troca de casais, entendeu?

 

Nem lá nem em lugar nenhum?

Não, acho que isso acaba um pouco o respeito entre o casal. Quando eu era solteiro já fiz algumas festas assim, já participei... Quem é que não participou, né? E era bacana. Mas acho que respeito entre o casal acaba indo pro espaço. Esse é o grande problema de fazer ménage à trois com a namorada...

 

Então só vale se for com a mulher do outros?

Não, é que... Teoricamente, o sonho de todo homem é ter uma namorada que tope qualquer parada. Até o dia em que ela fale: “Agora eu quero transar com outro cara”. Como nós somos machistas, isso acaba fodendo a relação. Lamentavelmente, é assim que funciona. E ninguém tem coragem de dizer isso.

 

Um de seus filhos, John Blanch, é um pianista clássico de sucesso. Quando o apresentam, costumam dizer que “nem parece filho do Otávio Mesquita”. Não é chato isso?

Pois é, você viu a entrevista que o Jô Soares fez com ele? O Jô tirou muito sarro de mim. Mas isso aí é uma brincadeira porque eu não tenho essa característica do meu filho, que é ser uma pessoa centrada, séria. Ele tem muito da mãe (a atriz espanhola Elisabeth Blanch). Mas pra mim é um orgulho. (Faz uma pausa na entrevista para mostrar o vídeo no YouTube da entrevista de Jô Soares com seu filho. Seus olhos se enchem de lágrimas.)

 

Parece que você se emociona com frequência...

Eu sou um cara emotivo mesmo, choro à toa. Quando eu estou nervoso e brigo com alguém, meus olhos se enchem de lágrimas. Uma vez discuti com um diretor da Bandeirantes e acontecei isso. É péssimo!

 

Você já fez análise?

Tentei duas ou três vezes, mas não consigo. É engraçado, parece que é errado dizer que você é de bem com a vida. Já tentei terapia de casal também, mas não dá certo, eu sempre acho que está tudo bem.

 

Você é feliz demais para terapia?

Acho que sim. Vou usar essa frase a partir de agora: “Sou feliz demais para terapia” (Risos.) Nada contra os terapeutas, mas eu sou bem resolvido. Não tenho grandes grilos e lido bem com eles.


Você é um cara vaidoso?

Eu não sou escravo da vaidade, mas eu me cuido. Outro dia eu fui entrevistar o (José Luiz) Datena e comentei com ele que os pelos do peito dele estavam grandes, saindo pela camisa, que ele precisava aparar. Ele disse que isso era coisa de veado; daí comentei com ele que eu tenho um amigo (não disse pra ele que era eu) que inclusive apara os pelos da bolsa escrotal. Ele falou: “Você depila o saco!” (Risos.) Eu tenho uma maquininha e me aparo todo. Quando menos peludo você estiver, mais cheiroso vai estar. E eu sou aqueles sabonetes íntimos femininos, tipo Vagysil e Dermacyd, porque não existem versões para homens. Eu sou superpreocupado, faço unha do pé e da mão.

 

E o Botox, você usa?

Já usei, mas fiquei parecendo o Jack Nicholson, e parei.

 

Um dos seus grandes amigos é Roberto Justus. Você e ele trocam dicas de beleza?

Isso é lenda, né? Essa história de que ele faz escova é uma bobagem que a (Adriane) Galisteu colocou no ar depois que eles se separaram. Aliás, não acho legal uma pessoa que foi casada ficar tirando sarro do ex-marido. Achei isso muito deselegante da parte dela.

 

Estou vendo que tem uma tatuagem de estrela, meio feminina, no pulso direito. Por que isso?

Num dos meus casamentos, a pessoa tinha uma estrelinha dessas e quis que eu fizesse uma igual. Um dia eu fui fazer uma matéria sobre tatuagem e resolvi fazer essa para ver como era a dor. Se arrependimento matasse, eu estaria morto.

 

Hoje em dia, o que você faz para se divertir?

Tenho uma vida caseira. Eu tenho aqui em casa a minha piscina, tenho uma mesa de sinuca, uma mesa de pôquer que mandei fazer com o meu nome, tenho os charutos que adoro degustar e, como adoro vinhos, tenho uma adega.

 

Quando era mais jovem, você teve experiências com drogas?

Eu posso dizer para você que já experimentei todas as drogas por curiosidade. Mas eu nunca me adaptei a nenhuma. Como eu tinha amigos que fumavam maconha, eu experimentei, mas não senti anda. Eu só ria e achei uma merda porque fiquei mais bobo do que já era. Cocaína eu vi uma vez só, sentei o cheiro e o gosto e aquilo em deu ânsia. E vi amigos meus se acabarem nela, então fiquei com asco. E ácido eu experimentei uma vez, quando tinha 20 e poucos anos.


E foi divertido?

Eu vi o Banco do Brasil derreter (risos). Foi uma viagem maluca. E foi terrível porque não passava nunca. Eu já morava em São Paulo e experimentei sem saber o que era. Mas disseram que ia dar um baratinho, tomei com uns amigos e fiquei 72 horas acordado. A gente acabou indo para o Cemitério do Araçá (em São Paulo), e eu me perdi lá dentro. Quando percebi já eram 8 da noite, eu perdido lá meus amigos me esperando lá fora. Comecei a gritar por ajuda e, na minha viagem, todos os mortos saíram de suas covas e vieram me ajudar. Um deles me mostrou o caminho, e eu consegui encontrar a saída. Por isso acredito em zumbis e ETs.

 

Você teve experiências com extraterrestres também?

Só com algumas namoradas que eu tive, que eram tão malucas que só podiam ser ETs (risos).

 

Publicado originalmente na revista “Playboy” em março de 2012

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