Ouvi falar pela primeira vez
com o Rubens Francisco Lucchetti aos 14 anos quando assisti O Estranho Mundo
do Zé do Caixão em VHS. Foi na locadora Vídeo Factory que ficava na avenida
Rebouças. Somente com mais tempo e com a leitura do livro Maldito que
aprendi a importância dele na obra e na trajetória profissional de José Mojica
Marins, o Zé do Caixão. Lucchetti produziu mais de 20 roteiros para o cinema,
trabalhando especialmente com Mojica e Ivan Cardoso.
Com Zé do Caixão os dois formaram
uma dupla inusitada: um autodidata e um intelectual, um homem do povo e um
erudito. Conheci seu Lucchetti pessoalmente pela primeira vez em 2008 na cidade
de Altinópolis, interior de São Paulo. Eles iriam abrir um museu do cinema
brasileiro nesse pequeno município. O projeto acabou não acontecendo. Desde
então, tivemos uma aproximação bem bacana. O melhor momento foi quando pude
numa tarde de 2015 quando fui na sua residência em Jardinópolis, outra pequena
cidade do interior de São Paulo. Passamos uma tarde bastante proveitosa
conversando sobre os bastidores e as dificuldades da produção cinematográfica
nacional. Lucchetti era uma pessoa extremamente afável, generosa e inteligentíssimo.
Sempre acompanhado por seu filho Marco Aurélio, um escudeiro fidelíssimo ao progenitor.
Lucchetti poderia ser muito mais bem utilizado pelo seu nível de conhecimento. A biblioteca que mantinha na sua residência era extraordinária. Pode-se dizer que diversas faculdades Brasil afora não possuem 10% das obras que ele cuidadosamente mantinha. Lucchetti era muito inteligente para criar histórias macabras, temas de suspense, mesmo contos de detetive, terror. Algo muito diferente da maioria dos escritores brasileiros. Seu estilo era o chamado “pulp”, com clara influência de autores norte-americanos e europeus. Rubens Francisco Lucchetti morreu semana passada aos 94 anos de idade deixando uma vasta obra literária, muitos filmes e diversos projetos não realizados. Existiu inclusive uma negociação dele com a família Barreto uma superprodução sobre o ciclo do café em Ribeirão Preto. Fico sempre pensando no que poderia ter sido esse longa-metragem com um bom orçamento e com tempo. Quando lancei meu primeiro livro, O Coringa do Cinema, mandei um exemplar para o seu Lucchetti por correio. Logo veio a surpresa, dias depois ele não tinha somente lido o livro como ainda fez um post generoso elogiando meu trabalho como se eu fosse algum jornalista reconhecido ou importante. Grande e generoso Lucchetti.
Lucchetti sempre trabalhou num cinema improvisado e precário. Muitas vezes não recebeu o dinheiro prometido por produtores inescrupulosos. Outras não colocaram o seu nome com o devido crédito. Coisas do cinema brasileiro. Perguntei uma vez a seu Lucchetti: “Que conselho o senhor daria para quem queria seguir a carreira de roteiro do cinema brasileiro?”. “Não siga porque no Brasil os bons sempre naufragam, sempre afundam”. Parece que Lucchetti tinha razão.
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