segunda-feira, 28 de julho de 2014

Perfil de um diretor: Fauzi Mansur


Fauzi Abdalla Mansur, atualmente com 33 anos de idade, brasileiro de descendência árabe, é diretor de cinema desde 1969.

Antes de dirigir seu primeiro filme, tinha tido experiência em teatro como ator e como técnico. Entrou efetivamente para a direção de sétima arte fazendo assistência de direção para Carlos Coimbra no filme Madona de Cedro.

Em 1959, sua estreia foi em Deu a louca no cangaço, produção de Nelson Teixeira Mendes. Funcionou como co-diretor. Ainda no mesmo ano, com o mesmo produtor, dirigiu sozinho 2.000 Anos de Confusão. Ambas comédias de censura livre e sem grandes compromissos. Em 1970, conservando o mesmo gênero, fez A Ilha dos Paqueras.

Aí, Fauzi parou para pensar. Sua sedimentação como técnico já estava feita. Havia provado a si mesmo e à classe, ser capaz de dirigir. E bem. Mas, como sempre acreditou no cinema como veículo de cultura, de informação, além de diversão, resolveu partir para algo mais sério, que tivesse uma mensagem, alguma coisa para dizer. Afinal, queria que o seu cinema cumprisse com os propósitos próprios dessa arte.

E, em 1971, Fauzi Mansur dirigiu o seu elaboradíssimo trabalho: Uma Verdadeira História de Amor, considerada por muitos de seus colegas a sua obra máxima. Depois de Uma Verdadeira História de Amor, o diretor só teve trabalhos brilhantes, sucessos de bilheteria e público, obras dignas de aplauso de um mestre.

Em 1972, viria a ter Sinal Vermelho- As Fêmeas em que lançou o mito Vera Fischer, sucesso absoluto de bilheteria.

A primeira vez que Fauzi teve problemas com a Censura (que lhe resultou em cortes de quase um terço do filme, obrigando-o a enxertar uma estória paralela – o que, por ironia, veio a enriquecer ainda mais a obra), foi em 1974, quando dirigiu A Noite do Desejo.

Sedução, qualquer coisa a respeito do amor, aconteceu em 1974, e lhe deu quatro prêmios no Festival de Cinema do Guarujá (melhor diretor, melhor filme, melhor atriz – Sandra Bréa, e melhor ator coadjuvante Ney Latorraca).

Finalmente e 1975, ele termina de rodar seu último trabalho, Ensaio Geral- A Noite das Fêmeas, para lançamento neste ano. Segundo os “experts”, promete ser o ponto mais alto do cinema em 1976.

Em 7 anos de carreira, ele conseguiu um currículo de 7 filmes, todos de pleno agrado. Efetivou-se como um grande diretor. Um dos maiores do Brasil.

- Partindo do princípio de que cinema é cultura e informação, o que você propõe em seus filmes?

- Sou uma pessoa muito preocupada com o homem. Com o seu estado de espírito, o seu “modus vivendi” em função de uma sociedade falha e injusta que ele mesmo criou. Em meus trabalhos, dentro do que a atual estrutura permite, coloco em evidência esses problemas de desencontro psicológico. De deslocação, entende?

- Quais desses problemas de deslocação você já abordou?

- O poder do dinheiro, o amor atrofiado, as aspirações (muitas vezes irrealizáveis) das diversas classes sociais, a ambição, a violência. A maioria desses problemas, como uma resultante de pressão psicológica que a cidade grande impinge ao indivíduo. Talvez a crítica mais direta que fiz tenha sido em A Noite do Desejo, e por isso mesmo o filme está interditado pela Censura em todo o território nacional, e depois de uma curta carreira.

- O que representa a pornochanchada?

- É um mal necessário. Não sou contra. Pelo menos está evidenciando o cinema brasileiro. Não vê o que se publica sobre cinema atualmente? É falando mal- via de regra – mas que publica, publica.

- Você faria pornochanchada?

- Não, mas co-produzi uma, e tive resultado satisfatório. Mas não só de lucros vive o cineasta brasileiro. Também de satisfação profissional, também da sensação de poder ser útil a uma coletividade. Nunca faria uma pornochanchada, porque não é do meu feitio. Ela deve existir, como existem os outros estilos, formas e tendências, isso para uma maior diversificação, e para que – evidentemente o público tenha mais opção.

- A pornochanchada acaba?

- Não acaba porque a cada dia tem alguém completando 18 anos, e ávido para ver esse tipo de filme. O que pode acontecer – e isso tem que acontecer – é uma filtração, um aprisionamento o tratamento técnico e artístico, um melhor nível, enfim. Mas não vai acabar, não.

- E o filme livre, como fica?
- Parece que está abrindo um mercado para o filme livre. Foi feito no Rio uma série com o Renato Aragão que logrou êxito. Agora, a Brasecran está com o Pedro Bó. É uma fatia do mercado que tem que ser – por merecimento – desse gênero de filme.

- O cinema brasileiro se emancipa ou não?

- Para a gente conseguir essa tão falada emancipação econômica, acho que a forma mais rápida e eficaz é conseguir ganhar o mercado externo. Se ficarmos só com o interno – ainda assim com restrições pelo público – essa emancipação pode chegar, mas só a médio ou a longo prazo.

- Quantitativamente, crescemos ou não este ano?

- Em número de filmes, não. O negativo subiu astronomicamente. Você sabe, o produtor sofre com cada aumento de matéria-prima. O ingresso, que passa a ser controlado pela Sunab, não sei se é um bom negócio. E a extinção do INC (Instituto Nacional de Cinema) deixa uma incógnita. A gente não sabe se o órgão sucessor vai ser mais, ou menos eficiente. Mas haverá uma retratação nas produções esse ano, não tenho dúvida.

Fauzi Mansur sempre esteve um olho clínico muito apurado. Sempre soube descobrir valores. Foi com ele que Vera Fischer teve seu primeiro trabalho (Sinal Vermelho – As Fêmeas); foi com ele que Claudete Joubert se iniciou em cinema (no mesmo filme); foi com ele que Roberto Bolant fez seu mais importante filme (Uma Verdadeira História de Amor); foi com ele que Suely Fernandes estreou no cinema (A Ilha dos Paqueras).

- É uma pena que a Suely não tenha tido uma carreira constante. É uma grande atriz, um bonito rosto, um bonito corpo mas que anda afastada por problemas particulares.

Fauzi sempre teve o maior capricho de escolher atores. Já dirigiu os maiores nomes do cinema e/ou televisão do Brasil. Na sua última produção, Ensaio Geral- A Noite das Fêmeas, teve mais uma vez um elenco de primeira: Carlos Bucka, Antonio Fagundes, Dionísio de Azevedo, Nádia Lippi, Maria Izabel de Lisandra, Kate Hansen, Ruthnéia de Moraes, Sérgio Hingst, Francisco Curcio e Hélio Souto, que volta às telas depois de seis anos de afastamento.

- Você coloca em seus filmes atores conhecidos para poder ter uma maior renda?

- Não, absolutamente. Exceto Mazzaropi, ator nenhum do atual cinema brasileiro traz público. Nomes conhecidos são, em geral, bons atores e bons profissionais. Coloco-os, para ter uma melhor qualidade artística. E esses atores me permitem associar a técnica à arte, numa unidade muito positiva. Além da maleabilidade que eles têm, ganha com vários anos de trabalho.

A produção de Ensaio Geral- A Noite das Fêmeas, filme que conta a estória de um crime nos bastidores de um teatro, e na sua solução misturam-se a realidade à fantasia, foi feita por J. D`Avila Produções Cinematográficas, para a Brasecran distribuir.

Publicado originalmente na revista Cinema em Close Up em 1975

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Exclusivo: um conto raro de Hiroito Joanides


O franzino e magricelo Hiroito Joanides (1936-1992) foi um dos homens mais temidos da criminalidade paulista no início de 1960. Preso na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru), Joanides escreveu e publicou sua biografia (Boca do Lixo, em 1977). A obra literária é um retrato fiel ao submundo do lenocínio e das drogas na capital paulista do final dos anos 1950 e início dos 60. Personagens da marginalidade como o delegado Minervino, os malandros Quinzinho e Nelson da 45 (O Judeu) são descritos sem romantismo. O livro fez bastante sucesso. Tanto que Hiroito chegou a dar palestras em inúmeras universidades. Em 1978, a editora Edições Populares publicou o livro Chame o Ladrão com contos policiais inéditos de diversos escritores paulistas (Ignácio de Loyola Brandão, Flávio Moreira da Costa, Sílvio Fiorani, Fuido Fidélis, Marcos Rey, Álvaro Alves de Faria, Paulo Rangel, Ewelson Soares Pinto, Humberto Mariotti, Wander Pirolli, Socorro Trindad, Edla van Steen, Mafra Carbonieri e Hiroito de Morais Joanides). Nas linhas abaixo está na íntegra o conto publicado por Hiroito no livro: Um Caso de Honra, baseado em fatos reais. O antigo rei da Boca chegou a dizer em entrevistas que publicaria outros livros sobre seus anos na marginalidade. Isso não chegou a acontecer. Após ser solto, Hiroito chegou a estudar história na USP (Universidade de São Paulo), mas acabou retornando ao submundo. Foi preso diversas vezes. Bastante intelectual, Joanides era admirador de diversos autores estrangeiros como Albert Camus. O nome de Hiroito ainda é lembrado em certos locais de São Paulo. Em lugares com muito passado e nenhum futuro.

Um caso de honra

Por Hiroito Joanides

O primeiro golpe veio por trás, à traição. “Na escama”, como se diz na gíria. A faca, simples barra de ferro arrancada do vitrô da cela e pacienciosamente afiada no chão de pedra, porém eficiente, penetrou fundo, do lado esquerdo, em busca do coração. Ademirzão voltou-se rápido, ação instintiva, agarrando o pescoço do atacante “escamoso”. Foi quando a segunda faca adentrou-lhe o vazio da barriga.

No sombrio corredor do Pavilhão Oito da Casa de Detenção, por sobre o tropel dos que fogem à cena explode no ar ruído metálico de uma porta batendo: a saída do pavimento fora fechada, ligeiro, pelo guarda experiente, postado de fora. Medidas de rotina. Em nome da segurança cortava-se a única via possível de fuga a quem quer que fosse atacado.

Mas para Adermizão não havia uma chance de fuga, estava cercado. O seu braço direito, que agarrara o primeiro atacante, rasgava-se agora sob o fio do punhal que empunhava um terceiro. Na roda de morte, enquanto a arma de quarto agressor se metia em seu peito outro mais lhe furava, rasgando, o pescoço. Perdida em sangue a força da vida, apenas os golpes que se sucediam em seu corpo taurino mantinham-no em pé. Por fim, descamba por terra, um metro e noventa ferido de morte.

No comprido corredor, em “U”, do terceiro pavimento, o vozerio de ainda há pouco, de centenas de sentenciados que ali transitavam, se fizera silêncio, silêncio de espanto. Postados de longe, detrás a mesmice das pesadas portas de aço, em fileira e então abertas, olhos habituados ao sangue se assombravam com a violência da cena, a eles próprios inaudita.

Em torno àquele corpo negro, caído, já sem vida, onze homens, braços armados, disputavam, embolados, aos empurrões, o privilégio de esfaqueá-lo outra vez mais ainda, por vezes se ferindo na ância assassina. Nos rostos jovens das onze bestas-feras, produtos do sistema penitenciário, rostos de homens sofridos, sós, esquecidos, números apenas, a mesma expressão de ódio incontido, curtido de há muito. Curtido desde o tempo do Juizado de Menores.

Ademir de Souza, noventa quilos de músculos, fereza e depravação, nascido numa favela qualquer, era filho do Estado. De pais desconhecidos, fora criado, desde os doze anos, pelo Juizado de Menores. De onde sempre fugia, para retornar logo após alguns furtos e assaltos. Do porte avantajado e força desmedida, lhe sobrara o cognome Ademirzão, e , dos anos que passara no Instituto de Reeducação de Mogi Mirim, lhe ficaram o título de “estuprador-oficial do Juizado de Menores”. Título pelo qual os mais chegados, nas rodas carcerárias, costumavam chama-lo, por gozação, claro, mas muito merecidamente. Desse merecimento, mais de uma centena de sentenciados da Casa de Detenção, que haviam passado por Mogi Mirim quando menores, traziam na lembrança, e no corpo, o atestado comprobatório.

Nos tempos de Mogi Mirim, Ademirzão sempre fora o mais forte, feroz e obsessivamente devasso. Do que sempre se valiam alguns carcereiros para a conservação do bom andamento da disciplina interna. Ademirzão era usado como instrumento de cura na revolta deste ou daquele garoto mais bagunceiro e indisciplinado. “Quebra-moral”, como diziam os carcereiros, ou, “vergonhoterapia”, como por perto os psicólogos haveriam de nomear o método.

Quando um qualquer moleque que por lá aportasse visse a se mostrar desordeiro e valente – vazão natural de uma infância em abandono – perturbando com isso o ambiente e a doce paz de carcereiro em serviço, bastava numa noite qualquer transferi-lo para ao xadrez do Ademirzão. Ao amanhecer, o moleque valente e xucro estaria já “ domado”, montado que fora. No pescoço, a dor do aperto do braço rijo e forte, que traz à vista a névoa que o desmaio apaga. No mais, a dor da carne que fora violada. E, na sede volitiva, mais forte que o ódio, a vergonha que inibe as revoltas antigas.

Agora, no silente corredor do Presídio, o ápice do horror. Sem prévia combinação, sem palavras, num tácito e insano entendimento alguns daqueles homens em fúria, cinco, se puseram ao trabalho de esquartejo do corpo. Os seis outros, cabisbaixos e arfantes, sujos, banhados de sangue, satisfeitos talvez, se afastavam sem pressa, nos braços pendidos o aço sem brilho da faca em vermelho.


Em posições esquisitas, agachados em torno ao cadáver, dois deles com as facas tentavam arrancar-lhe o braço na altura do ombro. As armas rangiam no osso. Dos três outros, enquanto um segurava, puxando, a cabeça do morto, os demais trabalhavam com as facas no grosso pescoço, buscando arrancá-la. Intento perdido, a rijeza do osso impedia o trabalho. Desistem. Cansados, e em silêncio, caminham em rumo suas celas. Final de vingança. No chão de azulejo, o “estuprador-oficial do Juizado de Mogi Mirim”, com o braço retorcido por sobre a cabeça, parecia saudar, o Inferno talvez.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Perfil de um diretor: Clery Cunha


Clery Leite da Cunha, pseudônimo artístico de Clery Cunha. Radialista e cineasta, nasceu em 22 de junho de 1939 em Leopoldo Bulhões, Estado de Goiás. Completando seus estudos no Ateneu Dom Bosco, de Goiânia, transferiu-se para São Paulo, onde iniciou suas atividades artísticas numa escola de desenho publicitário; fundou um grupo amador, União Teatral Juvenil, mais tarde Jaguar Tele Equipe, apresentando-se em vários clubes da Capital. Ainda no teatro, participou de duas montagens profissionais, “Antigone-América” de Ruth Escobar e “Sorocaba Senhor” de Antonio Abujamra. Inaugura-se a TV Cultura – Canal 2 (na época Emissora Associada) onde se destacou de sobremaneira como assistente de produção e ator do programa “Enquanto a Cidade Dorme”, de saudoso Dr. João Amoroso Neto, além de participar de vários tele-teatros daquela emissora; depois, produziu e dirigiu a série “Juventude Sem Rumo” para a televisão, excursionando por várias capitais do Brasil. Atraído pela sétima arte, figurante nos filmes: “Conceição”, “Convite ao Pecado”, “Carnaval Sangrento” e “Lampião, o Rei do Cangaço”. Como ator-coadjuvante, participou dos filmes: “Um Pistoleiro Chamado Caviúna”, “Essa Nêga Chamada Tereza” e “O Exorcista de Mulheres”, mas sua grande chance e seu primeiro trabalho importante foi através de Konstantin Tkaczenko, que lhe confiou a assistência de direção do filme “Idílio Proibido”, seguindo-se nessa atividade nas películas “As Mulheres amam por Conveniência”, “Maridos em Férias”, “A Virgem” e “Como Evitar o Desquite”. Como Diretor-Assistente fez “Macho e Fêmea”, estreando como Diretor em “Os Desclassificados”. Em seguida, dirigiu “A Pequena Orfã”.

Publicado originalmente na revista Cinema em Close Up em 1976.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Perfil de um diretor: Ody Fraga



Ody Fraga e Silva é diretor de Cinema. Nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, há quarenta e sete anos. Casado, recasado e deslumbrado matrimonial, tem sete filhos. Não consegue precisar exatamente quando adoeceu do “Mal de Cinema” e efeitos correlatos. Começou escrevendo, o que faz até hoje. Conseguiu ser conhecido no meio, o que o levou a dirigir. Fez teatro e televisão. Começou por onde normalmente se começa, aprendendo. Não sabe se o que está realizando é bom, mas insiste em que continua aprendendo. Em teatro, viveu o épico momento do “desemburrecimento”. Levou o teatro até a televisão, com Cacilda Becker, Glauce Rocha, Walmor Chagas. Quando se infiltrou definitivamente em Cinema, aí por 1960, dirigindo Vidas Nuas, constatou uma precariedade técnica que não difere muito de hoje. As mesmas ilusões e desilusões, o mesmo heroísmo do material humano. Acredita que não se começa a carreira pelo primeiro filme. O primeiro é sempre o contacto com a verdade. Como dinheiro para produção só se consegue depois de ser conhecido como diretor, Ody enfrentou grandes problemas para o seu primeiro, mas lembra que a sorte e sua vivacidade em muito contribuíram para superar tudo. Vidas Nuas saiu, ninguém sabe como, porém saiu. O resultado artístico satisfez e o financeiro foi mais ou menos. O produtor (quem?) que o diga. Acha que todo diretor sofre influências. Particularmente não foi e nem é influenciado por um realizador em específico, mas por um certo estilo de cultura dominante em sua formação. É catarinense e isso já implica num arraigado comprometimento cultural, o alemão. Fez vários cursos, de Cinema e paralelos. Prefere não enumerá-los. Acha desnecessário, por vivermos numa época de informações e formações empíricas. Acredita em absorver em sua própria vivência o lastro suficiente, o que é mais importante. Diplomas são papéis. Não define seu estilo porque definição só se consegue pela filmografia em conjunto, quando esta já for amadurecida. Seus últimos filmes são Macho e Fêmea, com Vera Fischer e Mário Benvenutti, e “As Regras do Jogo”, com Nadir Fernandes, Marisa Woodward e o mesmo Mário Benvenutti do anterior. Em qualquer momento discorre segura e honestamente sobre Cinema Nacional. “Antes de mais nada, o que é Cinema Nacional? Há filmes brasileiros que são mais estrangeiros que os importados. Por nacional, deve-se entender a manifestação artística que represente o comportamento cultural de um povo, de uma nacionalidade. Não temos, em termos sócio-culturais, um verdadeiro Cinema Nacional, devido ás implicações financeiras que um filme comporta. No geral, o filme é um produto que deve dar lucros, é igual em qualquer parte do mundo. A diferença entre um produto e outro encontra-se no apuro tecnológico e nos recursos financeiros aplicados em sua feitura. Marginalmente, em todos os países do mundo, há gente tentando fazer o seu Cinema Nacional. E como sofrem...” Ody vai continuar fazendo Cinema. Vive disso. Quanto ao futuro da nossa Sétima Arte, simplesmente diz “será”.

Publicado originalmente no anuário de 1976 da revista Cinema em Close-Up.