Roveda
é das pessoas que não gosta que denominem a região da rua do Triunfo como Boca
do Lixo. Ele prefere nomear o local como Boca do cinema paulista. Ele conviveu
diariamente do ambiente no final da década de 1960 até o início dos anos 1990.
Aqui ele dá um depoimento sobre uma das personalidades mais interessantes do
ambiente: o roteirista Rajá de Aragão.
O Rajá fez muitos roteiros pro Tony, era o
braço-direito dele na parte de roteiro. Ajudava muito no acabamento, letreiro de
apresentação. Era competente no que se propunha a fazer. Ele tinha uma certa
noção de cinema, né? Foi ex-presidiário, foi uma babaquice de ser bookmaker aqueles caras
de corrida de cavalo que são perseguidos. Ele era ligado a jockey, bookmaker,
aquela coisa de corrida de cavalo. Então, existia uma perseguição da polícia,
eu sei que de vez em quando algum parava em cana. E ele foi um que parou em
cana. Mas uma puta experiência, uma vivência no submundo, essa coisa toda. Ele
tinha vivência e passava muito. É importante quem escreva um roteiro se
propunha a escrever sobre assuntos em que ele entenda e conheça. Que ele tenha
uma noção, intimidade com o material. Ele viveu, o cara que vai fazer. Tony
Vieira viveu no mundo noturno de São Paulo, na noite. Então, retratar isso a
linguagem, comportamento até a gesticulação ele vivia isso. Isso se chama
tarimba. Fica ruim o cara estar navegando num mar que não tem intimidade. (...) Acho que um dos problemas do cinema nacional não ter deslanchado até hoje é isso. O camarada muitas vezes prepara um argumento ou roteiro sobre algum assunto que ele desconheça. Aí tudo acaba dando em água de batata. Acho que os profissionais que deram mais certo foram aqueles que procuraram falar do universo que conheciam. Quando conseguiram ter alguma relação direta com o assunto.
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