Prêmio reúne veteranos da Boca paulistana
Tarde de dezembro. O
público chega devagar ao espaço Matilha Cultural no centro de São Paulo. Lá
teria início um evento que reuniu cineastas, atores, técnicos, pesquisadores e anônimos
que de alguma maneira gostam da antiga Boca paulista. Tratava-se da primeira
exibição pública do longa-metragem Rua do
Triumpho- o filme do veterano Mário Vaz Filho. Era também a segunda
produção do Instituto Ozualdo Candeias, entidade que reúne remanescentes da
Boca do Lixo paulista. “Fiquei 2015 todo montando e remontando esse filme. Deu
um trabalho do cão”, reclama Marinho.
Já o produtor Diomédio
Piskator é mais otimista. Presidente do Instituto, ele comemora que a primeira
produção da entidade (Memórias da Boca)
chega na quarta semana em cartaz no Cine Belas Artes. Piskator afirma que novos
projetos devem estrear em breve. “Fazemos tudo de maneira independente. Nossa
ideia principal é manter o pessoal ativo”. Misto de documentário e ficção, Rua do Triumpho é um trabalho que sofre
com o orçamento controlado. Mesmo assim, existem boas ideias e momentos
engraçados. Principalmente quando o foco do filme fica nos suvaquinistas. “Eram
aquelas pessoas que carregavam o roteiro debaixo do braço, mas não concluíam
nada. Os fazedores de filmes inacabados”, explica Mário Vaz Filho. Ele afirma
que conheceu diversos suvaquinistas na rua do Triunfo. Muitos não chegaram a
terminar nenhuma produção. “Agitavam, agitavam e acabavam não concluindo nada”,
diz rindo.
Rua
do Triumpho foi produzido sem nenhum recurso
público tendo como protagonistas remanescentes da própria Boca como Clery
Cunha, José Lopes (Índio), Zé da Ilha e Franco Lino. A aposta é que o filme
chegue a ser exibido no próprio Belas Artes. “Eles possuem um espaço legal pra
quem trabalha de maneira independente. Não temos por trás nenhum apoiador”, conta
Diomédio.
Após a exibição do
longa-metragem, aconteceu a segunda parte do evento. O Instituto Ozualdo
Candeias organizou a entrega da primeira edição do prêmio Francisco Cavalcanti,
destinado a personalidades do cinema paulista. O evento aconteceu no
restaurante e pizzaria Estrela da Ipiranga, local próximo ao Matilha Cultural.
Entre as personalidades que receberam a placa estão atrizes como Neide Ribeiro
e Débora Muniz. O cineasta Alfredo Sternheim e o professor e montador Máximo
Barro também foram homenageados.
Mas a plateia ficou em
êxtase quando o cineasta José Mojica Marins foi receber sua placa. O realizador
conhecido pelo personagem Zé do Caixão teve duas paradas cardíacas nos últimos
anos e ficou cinco meses internado na UTI do Incor (Instituto do Coração).
Mesmo com todos esses problemas de saúde, Mojica recebeu a placa e fez um
emocionante discurso. “Eu acho que todos que lutaram tem o seu devido valor.
Não importa se estão mortos, se estão afastados. Onde quer que seja, basta que
eles fizeram algo pelo cinema e eles precisam ser valorizados”. Aos 79 anos,
Mojica prossegue trabalhando nos seus projetos pessoais. Ele inclusive foi tema
da minissérie Zé do Caixão exibido no
canal pago Space. A filha do diretor, Mariliz Marins, explica que está
concluindo uma loja virtual para comercializar produtos referentes ao pai. “Os
fãs vão poder comprar camisetas e outros adereços referentes ao mitológico
personagem. Vamos inclusive vender uma cachaça Zé do Caixão”.
Organizador da premiação, Diomédio Piskator afirma que 2016 será um ano importante para o Instituto Ozualdo Candeias. Novas produções devem entrar em cartaz e a segunda edição do prêmio Francisco Cavalcanti será realizada. “Estamos concluindo o São Paulo Zero 15. É um longa-metragem composto por quinze episódios de ficção tendo a cidade de São Paulo como protagonista. São quinze diretores de gerações diferentes num único filme”. Ele espera que o longa-metragem estreie para o grande público no segundo semestre de 2016.
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