terça-feira, 31 de julho de 2012

A primeira vez a gente nunca esquece: o diretor Ody Fraga



Por Alexandre Aldo Neves, especialmente para o VSP

O cineasta, roteirista, teatrólogo, poeta e intelectual Ody Fraga e Silva nasceu em Florianópolis em 15 de Outubro de 1927. Desde muito cedo, Ody enveredou-se pelo mundo maravilhoso das artes e aos dezenove anos já fazia parte de um grupo de teatro amador na ilha catarinense. Incentivado pelo divulgador do teatro brasileiro Paschoal Carlos Magno, Ody e seu grupo se muda para o Rio de Janeiro e se especializa em teatro infantil. Chegou inclusive a realizar a adaptação de Pinóquio e ingressou no SNT (Serviço Nacional do Teatro). 

Na conturbada década de 1960, Ody passa a residir em São Paulo, onde realiza alguns trabalhos para a extinta TV Tupi e escreve seu primeiro roteiro cinematográfico: Conceição (uma trama policial encomendada por Hélio Souto). Em seguida, escreve mais dois roteiros sob encomenda: O Cabeleira (para Milton Amaral) e Amor na Selva (para Ruy Santos).

Seu grande potencial criativo e a ousadia o conduzem à direção de seu primeiro filme de longa-metragem: ERÓTIKA em 1962. A produção não chegou a ser finalizada em função de uma série de contratempos durante as filmagens, contudo, nem tudo estava perdido! Em 1967, o estreante e, também, ousado produtor Antonio Polo Galante, dentre outras coisas, acabou comprando o filme inacabado e resolveu lançá-lo no circuito exibidor.

Galante rodou algumas sequências de um show de strip-tease numa boate de São Paulo e o novo longa estava pronto: VIDAS NUAS.

Com uma atmosfera tensa e angustiante, muito próxima a do filme Noite Vazia (de Walter Hugo Khouri, outro antípoda do cinema paulista), a obra narra o entrelaçamento de relações conjugais vazias e retocadas com certa dose de cinismo e hipocrisia.  A frase publicitária não me deixa mentir: “dominados pelo desejo, sedentos de amor e carinho, eles transformaram suas vidas em um inferno sensual”.

Nesse sentido, há um aspecto muito interessante a ser destacado: a maneira como o diretor optou por focalizar a fria e pálida noite paulista e seus bares, repletos de cabeças e corações vazios, transformando-os num dos personagens centrais da trama.

VIDAS NUAS (a primeira vez de Ody) merece ser revisto, relido e revisitado.  

Vidas Nuas” (1962 – 67).
Direção: Ody Fraga
Produção / finalização: Antonio Polo Galante e Sylvio Renoldi.
Elenco: Francisco Negrão, Alfredo Scarlatti, Maria Alba, Nelcy Martins e Lisa Negri. 

Alexandre Aldo Neves é geógrafo e pesquisador de cinema brasileiro. Em 2010, ele defendeu mestrado sobre o assunto (A Paisagem Pantaneira Pela Ótica do Cinema Brasileiro) na Universidade Federal da Grande Dourados, Mato Grosso do Sul.

3 comentários:

fernando fonseca disse...

Olá Mateus, sou amigo do Alexandre e tô te enviado baixo o link do meu blog:http://www.chiadosecanudos.blogspot.com.br/...depois dê uma conferida, também sou um apaixonado pelo cinema da Rua do Triunfo. Um abraço.

Rodrigo 1176 disse...

Oi Matheus, gostaria de saber se você tem conhecimento se o Canal Brasil irá exibir novos filmes da boca dos anos 70/80 ainda este ano ,pois até agora, nenhuma novidade entrou na grade de 2012.Valeu !

Matheus Trunk disse...

Prezado Fernando: confesso que conheci seu blog há pouco tempo e tem conteúdo excelente. Devo aparecer mais por lá.

Rodrigo: não tenho conhecimento disso. Eles andam repetindo muito as mesmas coisas, o que é meio chato. Eles poderiam tentar pegar novos filmes. Abraço e apareça sempre por aqui.